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Capítulo Dois

Elisa Andrade

Acordei logo nas primeiras horas da manhã, mas ainda me encontrava desorientada com o ocorrido do dia anterior, onde a minha tia acabou escorregando no banheiro e o impacto ao cair no chão foi tão forte, que ela acabou fraturando duas costelas. Quando ouvi os seus gritos, entrei em pânico, mas ao chegar ao banheiro e ver o estado que ela se encontrava, agradeci a Deus por meu tio ter acabado de chegar em casa e sendo um dos melhores cirurgião torácico do país, prestou de imediato os primeiros atendimentos, enquanto uma ambulância foi acionada para que ela fosse conduzida para o hospital São Domingos, que pertence há décadas a nossa família. A pedido da tia Alessandra, que terá toda uma recuperação pela frente, eu irei assumir o seu lugar como pediatra do hospital.

Vindo de uma família onde todos eram médicos, eu acabei seguindo o mesmo caminho. Talvez porque no fundo também houvesse um grande vazio dentro do meu peito por ter me sentido tão incapaz, ao ponto de não fazer nada enquanto os meus pais agonizavam dentro do carro. Uma noite que jamais será esquecida por mim e que se tornou um grande tormento que vem me acompanhando durante 20 anos da minha existência, no entanto, eu fui abraçada pelos meus tios que sempre me amaram como a filha que nunca tiveram. Assim como a tia Alessandra, escolhi a pediatria, mas após concluir o curso superior em medicina, passei alguns anos como médica generalista, que é o médico com a especialização em Clínica Geral ou Saúde da Família, antes de optar pela pediatria. Estava pensando em abrir o meu próprio consultório, mas mediante ao ocorrido, não poderia dizer não ao pedido da pessoa que tanto amo e que sei que só estaria tranquila sabendo que eu estava cuidando dos seus pacientes, os quais ela trata todos como se fossem os seus próprios filhos.

Deixo os pensamentos de lado ao entrar no estacionamento do prédio, minutos depois, já estava dentro do elevador e em questão de segundos, cheguei ao terceiro andar, assim que a porta foi aberta, dei algumas passadas e logo me detive ao ouvir a voz que mesmo estando de costas, sabia de quem se tratava. Virei-me e o homem logo tratou de reduzir a distância e seus olhos esverdeados buscaram os meus.

— Bom dia amor — disse exibindo um largo sorriso e tratei de retribuir.

— Bom dia, Augusto — ele deu mais alguns passos colando o seu corpo ao meu e antes que eu tivesse qualquer reação, suas mãos ficaram fixas em minha cintura e ele por sua vez, deu um beijo rápido em minha boca e logo foi repreendido por mim.

— Você sabe que aqui não é lugar para isso.

— Elisa, você é dona desse hospital e ninguém vai reprender tal ato.

— Por isso mesmo, quem quer impor respeito ou regras, tem que segui-las.

— Está bem amor, não é para tanto. Estou feliz que agora ficaremos mais tempo juntos...

Ele continuou falando enquanto eu tinha a cada dia mais certeza que nós dois pertencíamos a mundos bem diferentes. A princípio, sendo Augusto filho dos melhores amigos dos meus tios e alguém com quem acabei convivendo desde a minha infância, eu acreditava quê o que sentia era amor, que ele era o homem com quem casaria e formaria uma família. Mas, o tempo passou, eu me tornei uma mulher e embora ele tenha sido o meu primeiro namorado e único até agora, aquele que roubou o meu primeiro beijo e o qual me entreguei, eu achei que fosse sentir algo mais profundo, algo que não aconteceu e desde então, foram poucas as vezes que transamos, já que eu sempre inventava uma desculpa para chegar ao ato. Todos acham que em breve anunciaremos a data do nosso casamento, mas não me vejo passando a vida toda ao lado de alguém que hoje vejo com outros olhos, Augusto sempre coloca suas vontades acima dos outros.

Fernando Mendonça

Acordo com o som estridente do toque do despertador. Levanto rapidamente, indo em direção ao banheiro, minutos depois já estava de banho tomado e arrumado e segui para o quarto do meu filho. Quando cheguei ao ambiente, ele não estava no berço e pelo barulho vindo do banheiro, sabia que Sam estava dando banho no sapeca. Aproveito para pegar sua bolsa verde dentro do closet e começo a colocar dentro dela tudo que ele vai precisar, desde fraldas descartáveis, lenços umedecidos e todos os seus documentos, não demorou muito para Sam aparecer com o sapeca nos braços enrolado em uma toalha.

— Pa... Pa... — começou a balbuciar tentando chamar a minha atenção.

— Bom dia Sam.

— Bom dia filho, hoje o nosso pequeno acordou cedo. Assim que terminar de arruma-lo, vou preparar a mamadeira para você levar.

— Deixe que eu o apronto, assim será mais rápido.

Ela me entrega Davi e enquanto caminha rumo à porta, o coloco em cima do trocador, enxugo bem o seu corpinho, passo a pomada e um hidratante, logo depois coloco a fralda e o visto com a roupa que ela já havia escolhido. Já pronto, os olhos azuis gigantes ficam grudados nos meus, o pego no colo dando um beijo em sua cabecinha cheirosa, enquanto uma de suas mãos alisava o meu rosto, caminho até a cama e pego a bolsa, instantes depois, deixei o quarto e já me encontrava me livrando do último degrau quando Samanta surge com a bolsa térmica que continha água, a mamadeira e em sua outra mão, o recipiente que tinha a garrafa com água. Saio da casa e encontro o meu carro em frente à porta, já que hoje Pedro, o meu motorista, iria conduzir o veículo. Abro a porta do carro e o ajeito no bebê-conforto, enquanto Sam coloca as bolsas no banco da frente.

— Pegou todos os documentos dele?

— Sim — confirmo. Acomodo-me no banco de trás ao lado de Davi e o homem com as mãos no volante, coloca o automóvel em movimento. Enquanto os minutos vão se passando, aproveito o trajeto para ir respondendo alguns e-mails, como havia acordado cedo, o meu garotinho acabou dormindo todo o percurso. Sou despertado dos meus pensamentos quando o veículo para e a porta ao meu lado é destravada, no exato momento que ele desperta choramingando, o que indicava que estava com fome, já que Davi sempre foi um bebê muito quieto e só chorava quando estava com faminto ou doente. Em pouco tempo o gulosinho devora o mingau, então deixamos o carro e com destino ao terceiro andar, onde ficava o consultório da Dra. Alessandra Andrade.

Momentos seguintes...

Nesse momento eu estou na sala de espera do consultório, aguardando que o primeiro paciente seja chamado, já que Davi será o segundo.

— Senhores! — fala a secretaria da Dra. Andrade, chamando a atenção de todos, então prossegue.

— Não sabemos ainda por quanto tempo, mas, a partir de hoje quem irá atender vocês será a Dra. Elisa Andrade. Pois, ontem a Dra. Alessandra sofreu um acidente e está em recuperação devido ao fato de ter fraturado algumas costelas.

O ambiente que tinha uma faixa de dez pessoas, incluindo as crianças, foi envolvido pelos sussurros devido à notícia do ocorrido e não demorou muita para que a primeira paciente fosse chamada. Quase uns quarenta minutos se passaram, até que ouço o nome do meu filho.

— Davi Mendonça.

Levanto-me e já sabendo o caminho, com passadas largas atravesso o pequeno corredor e ao parar em frente à porta, levo uma das mãos até a maçaneta, abrindo-a, fecho-a em seguida e é no exato momento que a mulher que estava de cabeça abaixada, a levantou e nossos olhares se encontraram. Imediatamente senti uma corrente de eletricidade percorrendo meu corpo. Um arder em minha pele, como se estivesse me queimando aos poucos. Minha respiração ficou acelerada, meu coração batia tão descompassado, ela era tão linda, que fez com que eu a olhasse quase paralisado. O seu rosto parecia ter sido entalhado em mármore raro, lábios carnudos e a sua pele era branca como a neve, fazendo um belíssimo contraste com o seu cabelo loiro e seus deslumbrantes olhos azuis.

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