Um ano depois...Rafaela AlencarDesvio o olhar do pedaço de bolo a minha frente e meus olhos buscam o rosto do homem sentado a certa distância de mim e enquanto leva a xícara de café em direção a sua boca, mantem sua atenção no seu jornal impresso, que estava sobre a mesa. O silêncio era predominante e tem sido assim durante cada refeição que fazemos juntos, o que de nada lembra como era a nossa vida um ano atrás. Continuo com o olhar cravado em sua direção e os meus pensamentos voam e como em um filme, tudo que a gente viveu desde o dia em que nos conhecemos, até hoje, foi passando pela minha cabeça como flashes.Conheci Anthony quando tinha apenas 16 anos, o meu pai havia sido transferido da empresa em que trabalhou por anos, em Recife, para a matriz que ficava em São Paulo. Eu sabia que minha vida mudaria para sempre, deixei para trás a casa que sempre tive como lar e os meus amigos da escola. Porém, no meu primeiro dia de aula, na escola nova, jamais imaginei que iria
Anthony AlencarEstou em meu escritório e meu olhar vai de encontro ao relógio em meu pulso e ao ver as horas, constato que ainda faltam 30 minutos para que a primeira reunião seja iniciada. Desvio os meus olhos do objeto, indo de encontro ao porta retrato em cima da minha mesa, pego-o em seguida e um esboço de um sorriso acabou surgindo em minha face.Fico contemplando a bela imagem a minha frente, onde a minha mulher se encontra sentada no jardim com uma das mãos segurando um par de sapatinhos rosa, que está sobre sua enorme barriga totalmente exposta. Sei que tenho agido como um escroto e que meus atos tem feito a pessoa que mais amo nesta vida, sofrer, mas toda vez que nossos olhos se encontram, eu vejo a tristeza profunda dentro dos seus e isso me mata um pouco a cada dia. Jamais irei me perdoar, porque de alguma forma, tudo que aconteceu foi minha culpa.Nos dois últimos anos, antes daquela tragédia acontecer, eu acabei dedicando muito mais tempo ao trabalho do que a pessoa,
Rafaela AlencarAbismada, pois me negava acreditar que era uma criança que havia sido retirada daquela caixa. Meu olhar continuava fixo naquela direção e por uma fração de segundos, foi desviado para o rosto do homem que destravou a porta e antes de deixar o veículo, sentenciou.— Felipe, ao meu sinal pode entrar.A porta foi fechada e mantive meu olhar em cada movimento a minha frente e assim que ele levantou a mão e ao lado de Marcelo, que segurava a criança, passaram pelo portão. O carro foi colocado em movimento novamente e só parou ao chegar em frente ao jardim. — Eu vou pegar um guarda chuvas senhora — disse o homem, deixando o veículo, alguns segundos se passaram, eu estava desinquieta e antes que ele voltasse, resolvi deixar o automóvel indo debaixo do chuvisco em passos apressados até a guarita, onde a cada passada, as pequenas gotas de água caiam sobre mim. Quando cheguei ao local, o bebê estava chorando, devia ser pelo desconforto do frio. Anthony estava olhando p
Rafaela AlencarEnquanto eu dava o mingau da pequena Luísa, esta que por não saber o seu nome, acabei por chamá-la assim, pois o considero um nome lindo, já que significa guerreira, o que combina muito com ela, pois pelas pequenas marcas em seu corpinho e o estado de suas roupas, era evidente que não estavam cuidando bem dela, o que me veio à constatação de que ela era uma pequena sobrevivente. Continuo com o olhar fixo em cada movimento seu e logo me vem às lembranças de quando acordei. Há muito tempo eu não havia dormido tão bem e quando despertei, foi justamente ao sentir um toque suave em minha face, meus olhos se abriram, me deparando com o par de olhos azuis direcionados para mim, enquanto sua mãozinha direita alisava o meu rosto. Fiquei ainda alguns minutos deitada ao seu lado e logo em seguida, me levantei e ao pegar alguns utensílios que iria usar, segui com ela para o meu quarto. Enquanto tomávamos banho, pude observar todo o seu corpinho, o que me fez sentir um apert
Uma hora depois...Anthony AlencarInquieto! Era assim que eu estava desde que a encontrei naquele estado e minha reação foi logo ligar para a Dra. Roberta e desde então, minutos se passaram e agora me encontro em nosso quarto, pois fiz questão de trazê-la e assim acomodá-la em nossa cama. Deixo os pensamentos de lado e concentro minha total atenção na mulher que está examinando a minha esposa há alguns minutos. Como ela estava com quase 40 graus de febre, a médica assim que chegou, administrou um antitérmico injetável para baixar a alta temperatura do seu corpo e então continuou examinando-a, buscando sinais de alerta para formular um diagnóstico preciso. Depois de um tempo, a Dra. ROBERTA se afastou e virou-se em minha direção.— Daqui a pouco a febre irá baixar. Contudo não tem nada fisicamente que explique o motivo dessa temperatura tão alta, contudo, acredito que talvez, tenha acontecido algo que a fez ficar nesse estado, provocando o que chamamos de febre psicogê
Rafaela AlencarAnsiosa!Essa palavra simplesmente me define, já que após ter dormido longas horas no dia anterior, com a medicação e a notícia que recebi. Era como se minhas energias tivessem sido renovadas e a felicidade era tanta, que não cabia dentro do meu peito. Como Anthony havia dito, a febre se foi e enquanto meu marido dormia profundamente, eu me vi agoniada querendo que a noite desse lugar ao dia e assim chegar o momento de trazê-la de volta. A euforia era tanta, que só voltei a dormir quando já estava amanhecendo, para ser mais clara, eu tirei um cochilo rápido, porque quando acordei, já me deparei com meu marido entrando com uma bandeja em suas mãos, repleta de coisas deliciosas. Só tive tempo de ir ao banheiro fazer minha higiene pessoal e quando retornei, tomamos o café da manhã juntos e ao contrário de meses, semanas e dias atrás, meu esposo tinha um largo sorriso no rosto e me olhava com tanta paixão, que fez meu coração pular de tanta alegria. Se a felicid
14 de DezembroRafaela AlencarUma semana se passou e tem sido os melhores dias da minha vida. Luísa, minha gotinha de amor, emana tanta luz que aos poucos toda aquela sensação de vazio que estava sentindo está se esvaindo. Ao longo da semana, tivemos a visita de uma assistente social, a qual, pelas suas feições, parecia satisfeita com tudo que tinha visto.Cada minuto, hora e dia ao lado dela tem sido um eterno aprendizado e ter a oportunidade de ser mãe, de cuidar e proteger alguém que só precisa de amor, é uma grande dádiva, pois ser mãe é muito mais do que gerar uma criança em seu ventre. Ser mãe é um sentimento que atravessa o seu corpo e deixa marcada a sua alma.Hoje foi a sua primeira consulta na pediatra, fiquei feliz ao saber que o seu tamanho e peso estavam na medida ideal para uma criança de nove meses. Assim como aproveitei e, pela recomendação da pediatra, por não sabermos como estava à parte da vacinação, iremos regularizar com doses de reforço. Desvio o olhar da
Último Capítulo24 de DezembroRafaela AlencarSempre ouvi dizer que para aqueles que têm amor, sempre haverá esperança e depois de uma grande tempestade, um dia lindo surgirá. Quando criança, eu sempre esperava ansiosa pelo mês de dezembro, pois sabia que com a chegada do Natal, eu iria ganhar vários presentes.Os anos se passaram e em 2020, eu deixei de acreditar que essa data era algo especial. Porém, foi preciso uma longa jornada para que o espirito natalino pudesse, novamente, florescer em meu coração, restaurando a minha fé e compreendendo que jamais devemos nos entregar à escuridão. E o caminho da luz sempre será o melhor a seguir. Eu briguei com Deus e culpei o mundo pela minha grande perda, mas, o criador tinha planos maravilhosos para mim e eu só precisava entender que tudo nesta vida tem um propósito maior.Alice foi um pequeno anjo que tinha a missão de me fazer sentir cada etapa de uma gestação. De amar sem antes conhecer, porém, a sua partida deixou muita dor, ma