04

Elisa Andrade

Alguns minutos haviam se passado desde que o último paciente deixou a minha sala. Então, tratei de fazer as últimas anotações já que não tinha mais ninguém para atender e precisava deixar o relatório para que Jaqueline enviasse os e-mails, porém, toda a minha atenção foi direcionada para a porta que foi aberta e Augusto surgiu em minha frente.

Ele deu alguns passos e se deteve ao ficar perto da minha mesa e assim que seus olhos ficaram cravados nos meus, disse:

— Vamos, assim podemos almoçar juntos e ir logo depois para o meu apartamento — ele ostentava um olhar malicioso, o que me causou certo incomodo.

— Ainda não terminei e sinto muito, mas, vou ficar com a minha tia.

— Você como sempre cheia de desculpas — não passou despercebido por mim, a raiva em suas palavras, mas, eu já estava por um fio e ele havia acabado de dar o puxão que fez arrebentá-lo. Num pulo me levanto.

— A questão aqui é que a minha vida não gira somente em torno de você. A minha família, aqueles que me acolheram no momento mais difícil da minha vida, sempre estão em primeiro lugar e já que você parece tão insatisfeito, é melhor procurar alguém que o tenha como centro de tudo, porque isso, eu nunca vou fazer.

— ESQUECEU QUE ESTAMOS NOIVOS? — vocifera num tom altíssimo.

— Mas isso não quer dizer que você seja o meu dono — digo enraivecida, já estava cansada de ele se achar o último biscoito do pacote.

— Você sabe quantas mulheres, dariam tudo para estarem no seu lugar?

— Se você tem tanta opção deveria fazer bom proveito — digo pegando o notebook e então prossigo. — Agora mais do que nunca, eu tenho certeza que você não é o homem com quem desejo passar o resto da minha vida.

Ele esboçou um sorriso sarcástico e disse.

— Você deveria agradecer, porque outro jamais teria aguentando tanto tempo ao lado de alguém cheia de frescura, um homem quer uma mulher fogosa ao seu lado e não uma boneca de porcelana que não se pode tocar que a qualquer hora vai se quebrar — suas palavras fizeram a raiva explodir dentro de mim.

— OBRIGADA POR ME MOSTRAR A SUA VERDADEIRA FACE. UM RELACIONAMENTO NÃO GIRA SÓ EM TORNO DE SEXO E SIM COMPANHERISMO. ANDAR JUNTOS NA MESMA DIREÇÃO, COISA QUE NÃO ACONTECE ENTRE NÓS DOIS. ENTÃO... — faço uma pausa e retiro o anel que estava no meu dedo anelar da mão esquerda e coloquei em cima da mesa. — Esteja livre para procurar alguém que seja perfeita para você, aliás, uma mulher que seja um objeto para satisfazer os seus desejos carnais. Agora me dê licença que preciso ficar com quem realmente merece a minha atenção.

Assim que passei em sua frente, ele segurou o meu braço e um gemido alto escapou da minha boca.

— Ainda não terminamos — diz num tom ríspido.

— Você vai me soltar ou quer que eu grite e faça um escândalo, não vai pegar nada bem para o renomado Dr. Augusto Salazar, ser visto por todos como um agressor de mulheres.

Ele me soltou de imediato e a raiva estava visível em seu olhar. Dei alguns passos e assim que cheguei perto da porta, ouvi novamente a sua voz.

— Você ainda vai implorar para voltar para mim.

— Cuidado, porque sonhar acordado pode fazer você levar um baita tombo.

Dei de ombros e deixei o ambiente, suspiro fundo ao chegar ao corredor. Não era de hoje que já havia percebido a bipolaridade de Augusto. Era como se fossem duas pessoas ocupando o mesmo corpo. Um lado sombrio, que ele tentava esconder, mas que hoje não conseguiu controlar.

Depois de falar com Jaqueline, segui para o quarto em que a tia Alessandra estava. Apesar do ocorrido, eu estava aliviada por finalmente sair de um relacionamento que não tinha futuro, contudo, assim que cheguei ao cômodo, a minha tia mantinha sua atenção no grande telão, o que me incitou a olhar na mesma direção e para minha total surpresa, na tela havia a imagem do homem que fez todo o meu corpo estremecer de uma forma nunca sentida antes. Todavia, seu nome havia me chamado atenção, mas até então, nunca tinha visto qual era de fato a aparência de Fernando Torres Mendonça.

Cinco dias depois...

Tia Alessandra chegou hoje à tarde em casa, tanto ela, como o tio, Alberto, perguntaram por Augusto, mas achei melhor ainda não dar a notícia do nosso rompimento. Assim que ela estiver melhor, eu contarei aos dois e embora saiba que eles têm um grande apreço por ele, não é por isso que vou continuar num relacionamento se este não é o meu desejo.

Depois que termino de jantar, resolvo ir para o meu quarto e sendo domingo, nada melhor que fazer uma bela maratona de séries na N*****x. Após, longas passadas, cheguei ao cômodo e fui ao banheiro escovar os meus dentes, assim que termino, retorno para o quarto, ligo o ar condicionado e me jogo em cima da minha cama. Depois de puxar o cobertor, ligo a televisão e começo a procurar a minha primeira opção.

Fernando Mendonça

Enquanto tomo meu banho, mantenho meu olhar fixo na babá eletrônica que coloquei no suporte da parede à minha frente.

Como é de rotina, hoje Sam foi visitar os seus familiares e sempre aproveito o domingo para passar o dia todo com o meu filho. Assim como havia dito a Elisa dias atrás, desde ontem ele está um pouco manhoso e ao olhar em sua boca, vi que um dos dentes já havia rasgado, no entanto, após passar um longo tempo na sala, onde ele estava cercado de brinquedos e não parava de engatilhar de um lado para o outro, depois do banho e de ter tomado metade da mamadeira, acabou caindo num sono profundo. Aproveitei e fiz um lanche rápido e agora aqui estou eu, tomando um banho gelado, já que uma hora ou outra sempre me pego pensando na mulher que há cinco dias não sai da minha cabeça, fazendo a temperatura do meu corpo se tornar elevada e a única solução era uma boa ducha de água fria. Minutos depois, terminei e fui até o meu closet, pequei um conjunto de moletom e com passos largos, saí do quarto indo até o de Davi, embora estivesse exausto de tanto brincar, achei estranho que ele não tivesse acordado ainda.

Chego ao ambiente e caminho até o berço e quando meu olhar caiu sobre ele, meu sangue gelou enquanto meus batimentos cardíacos dispararam. Apressadamente, uma de minhas mãos foi de encontro a sua testa que estava suada, constando que ele estava com febre, quando fui puxar a minha mão, seus olhos se abriram e logo ele começou a choramingar. Fui até a caixa que continha os remédios indicados pela Dra. Andrade e coloquei a quantidade indicada na seringa, fui até onde ele estava, o peguei em meus braços e me sentei na cama ao lado e lentamente fui introduzindo o líquido em sua boca, como ele estava demorando a engolir, fui assoprando de leve o seu rosto, provocando um sustinho, o que o levou ao reflexo de engolir. Feito isso, ele continuou chorando baixinho, minutos se passaram, a febre baixou um pouco, no entanto, ele ainda estava inquieto, o que me deixou preocupado e desnorteado. Comecei a andar em círculos com ele em meus braços, o acalentando, mas de nada adiantou. De repente olhei para o meu celular em cima da cama e sem que eu me desse conta, já estava com o aparelho em mãos e tudo que veio em minha cabeça foi Elisa Andrade. Um dos meus dedos deslizou pela tela e ao encontrar o nome dela, já que havia adicionado o seu contato, não hesitei em ligar. Um, dois, três, quatro, cinco toques e assim que ia desligar, o som da sua voz suave ecoou do outro lado da linha.

— Boa noite, com quem falo?

— Boa noite Elisa, aqui é Fernando Mendonça.

O silêncio se fez presente por uma fração de segundo e logo depois foi rompido pelo choro do meu filho, seguido da voz dela carregada de preocupação.

— Aconteceu alguma coisa com o pequeno Davi?

— Assim como você disse, um dos dentinhos rasgou sua gengiva, além da febre que agora já baixou, ele não para de chorar e não sei se devo levá-lo direto ao hospital.

Novamente ele começou a chorar e dessa vez ainda mais alto, aumentando assim o meu desespero, porém, meu coração bateu forte como se fosse sair pela minha boca e engoli em seco ao ouvir as palavras que foram ditas por ela.

— Claro! Os dentinhos, eu estou indo aí, apenas me passe o seu endereço que logo chego.

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