— O sequestrador do meu irmão é seu pai? — A voz do Nicholas explodiu abatendo violentamente a minha consciência, ele anulou a passos largos nossa distância, cravando aquele mar turbulento sobre mim.
— Eu...
Eu mal havia digerido a descoberta, só pensava no quanto fui inocente por não ter aberto essa hipótese com o currículo maléfico do demônio. Cambaleei escorando-me na mesa, sentindo meu corpo pesar ao mesmo tempo que lembrava do vídeo, do Hélio na universidade, do David ferido.
Muita coisa batendo forte, muita coisa ferindo a minha existência. Desgraçado!
— Aurora, tem certeza? — Ouvi Athos perguntar. Encolhi os ombros e baixei a cabeça.
— É seu pai nas fotos?
Só assenti drasticamente, aceitando o fardo.
Não demorou muito e todos foram atraídos para o espaço que estreitou em meio a tanta conturbação. O pai de David, com seu português arrastado bombardeou todos indagando suas dúvidas. Revoltado, claramente evitando contato comigo. S
Foi árduo deixar aquele apartamento com tantos pesares sobre as costas. Enunciar que aceitei todas as desconfianças sem revolta era mentira, foi difícil engolir a maneira ácida e desalmada que Nicholas me tratou diante da dor que partilhamos. Ele estava comigo na adega, presenciamos juntos o impacto do vídeo, a dor, o sentimento de impotência diante do espancamento. Como ele pôde me punir daquela maneira? Como a família Queen pôde ser tão cruel comigo? Entendo que como pais estavam desorientados em meio ao sofrimento e incertezas, em todo o caso, não merecia ser julgada como uma criminosa, ser incluída no mesmo bando bárbaro.A entrada na delegacia, como a saída do apartamento de David, foi um tumulto total, muitos repórteres querendo informações das mais variadas vertentes. O delegado que cuidava do caso nos interrogou com gentileza. Ao contrário do que pensei, não houve acusações, e sim a busca de um por que, o que era gritante — dinheiro. O que mais seria? Hélio ambicionav
36 horas depois...Despertei com água fria, chutes e socos, ainda assim o ruído de ferro que percorria o piso cimentado era capaz de ensurdecer qualquer espécie viva e me causou alguns transtornos. Raciocinar estava penoso, as drogas injetadas faziam do meu corpo um fardo e até respirar era um ato doloroso. Esforcei-me em abrir os olhos, negado, não conseguia mover as pálpebras inchadas. Uma ânsia, a mesma que vivia constantemente contorcendo meu estômago, deu as caras e o vômito veio, soluçado, cuspido, quase sufocante.— Olha aí, vomitou de novo. — A voz debochada do infeliz do garçom soou ao meu lado. — Melhor dar água para ele, chefe.— Depois, agora confira o parâmetro, tem algo estranho. — Essa voz também era inconfundível. Hélio parecia nervoso, aliás, todos no cômodo inspir
— Mãe, o que houve? — Saltei da cama quando a porta bateu com violência, dona Ana entrou e logo se mostrou ofegante. — A senhora está pálida, meu Deus, David. Aconteceu alguma coisa com ele?— Acharam ele.— Acharam o David — vociferei. — Preciso ir até ele — falei, tentando controlar a explosão dentro de mim. — Mãe, ele foi para o hospital? — perguntei, já me desfazendo do pijama, colocando a primeira calça e camiseta que vi na cômoda, sentei-me para calçar o tênis. Contudo, um silêncio me incomodou, fitei a mulher que permaneceu intacta, não entendi o motivo daqueles olhos estarem tão turbulentos se o David finalmente estava a salvo. — Mãe, qual o problema?Ela caminhou lenta demais, estranha demais, ajoelhou-se diante de mim e mirou nos meus olhos.— Aurora, presta atenção — murmurou cautelosa. E meu mundo ruiu.O David estava bem, não é?— Aconteceu alguma coisa com o David? — gritei desesperada. — Fala, mãe.— A Mel informou que o David foi levado ao hospital muito debilitado e g
— Não... Athos, por favor...— Aurora, olha… — Voz mansa, feição exausta e olhos temendo muita coisa. — Infelizmente não posso fazer nada, eles ordenaram seu afastamento e como policial eu tenho que acatar. Desculpe.Convenci-me que o caminho não era permanecer, nada que falasse ou fizesse os convenceria da minha inocência, pelo contrário, só agravaria a situação. Dei as costas disposta a seguir, mas o ardiloso almejava por mais.— Como não saquei assim que pus os olhos em você, que tipo de pessoa era, estagiária? Não entendo como meu irmão caiu num golpe tão manjado — articulou venenoso, amargo, ácido. Voltei e o encontrei aguardando a retórica que previu ser no mesmo tom ácido. Teria feito, mas me peguei tentando compreender o porquê do ódio. Desde o primeiro momento Nicholas demonstrou recusa, não entendia. A exaustão tomou meu corpo e não aguentava mais tantos golpes.— Não está rolando uma investigação? Minha inocência será provada.— Esperamo
45 dias depois…— Marcos, não vou permitir que a Aurora adoeça naquele quarto, ela não come, só dorme a base de remédios, não… não com ela.— Ana, as coisas não estão fáceis no salão e… — … o movimento voltará, cedo ou tarde, o que eu não posso permitir é que esse vínculo com o sequestro destrua a imagem da minha garotinha, você assistiu o programa sensacionalista de ontem, as barbaridades que falaram dela. O muro do prédio foi pichado, chamando minha filha de golpista. Tem condição? A única forma é tirá-la do país, e darei meu rim por isso.— Mãe!Eles giraram, encontrando-me estática no corredor.— Filha, precisamos conversar.Há algumas semanas recebi das mãos do advogado da família Queen u
Alguns dias depois…— Pronta?— Ahã! Fechamos a mala.— Vou sentir saudades, Aurora. — Raica me puxou para o abraço mais doloroso de todos, o da despedida. — O que farei sem a minha melhor amiga?— Como diria a Dory: “continue a nadar…” — Ri, mas o choro estava entalado na garganta. — Vou te ligar sempre que possível, viu? E quando tiver uma brecha nas aulas, volto para o Brasil para a gente almoçar e falar muita besteira no Chill, tá bem?— Sim. — Seus lábios tremeram. — Tudo aconteceu tão rápido, que nem acredito.— Nem eu — disse sem emoção. — O processo de admissão foi todo on-line, e os Estados Unidos é logo ali, né.Dei de ombros.— Aurora, sei que não está feliz, sei que não se recuperou totalment
Caros leitores,Preparem-se para mergulhar em uma das minhas criações mais intensas e envolventes até hoje. Se você aprecia um romance ardente, de pegar fogo, linguajar improprio e um put@ desejo de querer se enfiar dentro dessa história, significa que chegou no lugar certo.Um beijo da sua autora, Darlla VI ♡XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXCom as vozes de Aurora Baker:— Chegamos! — disse minha mãe com empolgação, assim que estacionou em frente ao prédio azul.— Sim, chegamos — murmurei e virei para olhar através do vidro o prédio todo espelhado do lado de fora, calculei rapidamente quantos andares poderia ter o edifício luxuoso, talvez uns trinta, já que, mesmo me esforçando, ficou impossível ver seu topo.— Calma, bebê da mamãe, vai dar tudo certo.— Sim, vai. — Inspirei e joguei as costas para trás, ao encontro do banco. — Meu primeiro dia de estágio — lembrei num fio de voz o motivo célebre de eu estar ali.Dona Ana leu cada sinal que meu corpo transm
— Oi… — respondi confusa, tentando reconhecê-lo.— Você não se lembra de mim? Sou eu, Lucca! Estreitei os olhos, buscando seu rosto na memória. Não, não lembro!— Eu… — Tentei disfarçar a resposta que piscava na minha mente.— No dia da entrevista, no prédio da seleção, nos falamos brevemente na sala de espera — ele esclareceu. E eu quase gargalhei, pois realmente foi breve esse primeiro contato. Não lembro desse cara e sou péssima em memorizar fisionomia.Droga!— Claro! Como sou distraída. — Sorri, mentindo descaradamente.— Como vai?— Ansioso! Você não?Pude sentir sua empolgação, assim que ele colou as palmas das mãos e as esfregou freneticamente.— Sim, estou muito ansiosa.— Estou sentado bem ali. — Ele apontou para a primeira fileira. — Quer me fazer companhia?Condenei o lugar, primeira fileira não estava nos meus planos, geralmente quem se senta nos primeiros assentos é obrigado a expor suas opiniões, e francamente, pretendia me manter invisível tempo suficiente para não com