Ponto de vista de Saeed.
— Esse é meu trinta vídeo-diário. A rotina sempre a mesma, e isso já tá entediante... — disse sentado em frente à câmera, articulando e gesticulando com uma bolinha de pano e areia nas mãos — ganhei essa bola de Al’ab. Ele diz que vai me ajudar com tédio e stress. Aquela idéa de ser o primero a fica acordado não parece mais legal. Lea não é má companhia, ela só não tem muito assunto para conversa com Saeed, e quando conversa ela diz não me entende muito bem por causa do meu sotaque árabe. Por todo tempo tem prestado atenção no espaço e não vejo a Terra mais, faz já uma semana... Pensar que dexamos nosso planeta atrás é triste, mas sabemos que não tem muito de ser feito. É isso pelo hoje, desligando.
— Gravando o seu vídeo-diário de hoje, Saeed? — questionou Lea da porta me observando com uma toalha de rosto branca sobre seu pescoço.
— Sim, sim Lea. Mas já terminou. — Respondi acanhado.
— Legal! Estava fazendo alguns exercícios. Não me interesso muito por coisas fitness, mas já cansei da minha rotina, então decidi mudar um pouco. — disse Lea usando a toalha de rosto mais uma vez para enxugar o suor em seu rosto. — Desfrute um pouco mais de sua solidão! Vou tomar uma ducha e depois gravar o meu vídeo-diário. — Disse Lea esquivando-se de minha companhia.
— Tudo bem... — disse desanimado — Já me acostumou com ela... Eu acho...
***Ponto de vista da Léa.
— Vamos ao meu vigésimo quarto vídeo-diário... Pois é, eu fiquei alguns dias sem gravar, pois o assunto era sempre o mesmo. Estava cansada da mesmice. Um dia desses os macacos estavam insuportáveis e jogaram fezes em mim. Claro, eu fiquei extremamente furiosa, mas entendo que eles são apenas macacos, eu sei Ami, você vai discordar de mim nisso — disse deitada na cama de frente para a escrivaninha onde a câmera ficava, com as pernas para o alto, alongando-me — Isso é muito solitário e um tanto deprimente. Eu acabei ficando acordada com um jovem árabe que tem um sotaque e um português que só o Gorilla entende. Ele gosta de conversar, mas entendo pouco do que ele fala, e nada é pior do que a Terra… — abaixei as pernas para me sentar corretamente. — Dormir lá mais de três horas era raro e perigoso, pois os mortons conseguiam invadir nossos sonhos de alguma forma... — dei uma pausa pensando no que mais gostaria de falar, tentando tirar da mente as lembranças tumultuosas que vinham da Terra... — Já ia me esquecendo! Comecei a me exercitar para ajudar na distração. Eu sei que Lisa vai se surpreender com essa notícia e eu gostaria de sugerir as mesmas doses de exercícios para Gorilla! Quem sabe ele não perde alguns quilinhos! — Disse rindo, ajeitando-me sentada na cama. — Bom, não tenho mais nada de novo a dizer, então até a próxima! Desligando.
— Só mais seis meses, Lea... Só temos que aguentar mais seis meses… — pensei em voz alta — Depois dormiremos e descansaremos por algum tempo enquanto os outros trabalham — falei após ter desligado o computador e deitado em minha cama.
***Ponto de vista de Saeed.
— Passaram mais de seis mês… dez hienas morreram. Não sabem exatamente que tipo de doença matou elas, mas sabe que ficaram doente. Sobrou só duas, e cuidamos muito delas, pois é provavelmente as últimas da espécie. — Disse ao iniciar minha vídeo-gravação do dia, desta vez, cedo pela manhã, ou melhor, ao acordar, sentado em minha cadeira. — Demorou seis mês, mas consegui ter um boa amizade com Lea. Ela parece me entende melhor agora, ou simplesmente me dá mais atenção. Afinal, quem gostar de passar tanto tempo sozinha? Até Saeed é melhor que a solidão — disse me auto menosprezando com um sorriso falho no rosto. — Saeed tá cansado de cuidar da sujeira de tantos animal. Fica calmo Hector, Saeed não tá falando de você! — ri um pouco com isso — Saeed tá falando de animal de verdade, mais de oitenta espécie, com pelo menos um casal de cada. Já imaginou o tanto de sujeira?! — Disse coçando a cabeça e cerrando os olhos com força. — Ainda tá bem longe de Netuno planeta, e tô bem ansioso para sabê como vai ser essa experiência “inter estrelar”. Desligo.
— Vídeos e mais vídeos… já está me cansado disso. Praticamente nada novo pra gravar… Tenho pena de quem vai assiste a esses vídeo-diário! — Ri sozinho por um momento — Bom, de volta a trabalho! — Disse em alto e claro som, sem vergonha das paredes do meu dormitório.
— Falando sozinho novamente, Saeed? — perguntou Lea encostada em minha porta, somente observando-me, quase aos risos.
— De novo, Lea? — perguntei constrangido…
— Como você acha que estou te entendendo melhor? — disse Lea rindo da minha timidez.
— Droga, você tá ouvindo eu todo esse tempo? — perguntei rosado de vergonha.
— Relaxa garoto… — disse ela limpando o riso do rosto — o painel está acusando grande movimentação na ala dos cavalos. Preciso da sua ajuda caso eles tenham se soltado de alguma forma…
— Então vamos logo! — levantei bruscamente, apanhei a camiseta que estava na beira da cama e segui Lea.
— Não vejo como eles podem ter fugido… — disse Lea suspeitando de algo. — Você tem assistido as gravações das câmeras das alas dos seus setores? — Questionou-me ela, deixando-me em situação delicada.
— Eu… Eu? Claro! Saeed vê sempre que lembra… — disfarcei o olhar.
— Saeed? Tem certeza? Porque estou achando estranho esses animais fugirem das jaulas que ficam fechadas com trincos. — disse Lea séria e firme.
— Talvez eu tenho passado alguns dias sem ver. Mas eu vai acompanhar melhor isso. — disse desanimado.
— Não... Nós vamos! Veremos esses vídeos juntos. Aí poderemos ver o que está acontecendo aqui.
— Tudo bem, Lea. — falei desta vez completamente desanimado, suspirando após derrubar os ombros. Andamos todo o caminho até a ala dos cavalos. O resto do caminho fomos em silêncio. Estava chateado pelo fato de não estar acompanhando meu departamento como deveria. E agora Lea teria que me ajudar a fazê-lo. Decepcionante, mas tudo bem. Após a boa caminhada chegamos ao local e encontramos… Nada!
— O que...? — disse Lea sem palavras. — o que houve? Mas o… o painel estava acusando sim grande movimentação nesta ala! — disse Lea indignada, sentindo-se tola.
— É Lea, parece que sistema ou cavalos pregaram uma brincadeira nagente. — disse tirando sarro do acontecido.
— Rá, rá, rá… — Lea soltou um riso sarcástico — deve ter alguma coisa por aqui... Vamos procurar, Saeed. Fique atento!
Andamos pelo setor, lenta e cuidadosamente procurando por qualquer coisa, e nada em específico.
— Lea, vamo lá. Não tem nada aqui… — disse tentando convencê-la a parar com aquela paranoia. — Não precisa provar nada…
Nesse momento, logo depois de ter dito isso vi ela, Lea, furiosa comigo de uma forma que nunca tinha visto.
— O que?! — ela saiu de onde estava, e veio em minha direção, louca de braveza. — eu não tenho, mas vou te provar que havia sim algo aqui! — ela passou por mim com passos largos, bufando. — Venha! Vamos até a cabine de navegação!
— Calma Lea... Fica calma! — disse completamente inocente — nós vai até lá.
Então ouvimos algo correr por trás de nós, esbarrar pelos baldes de ferro de comida vazios e correr por um dos corredores da nave. Lea se pôs atrás de mim após o barulho. Não vimos nada, apesar de ter ouvido, então ela me puxou e começou a falar: — Eu disse! Eu disse! Eu sabia que não estava ficando louca!
— Está bem… Mas o que era? Será algum outro animal foge e não sabemos? — perguntei mais curioso do que preocupado.
— Vamos atrás ver o que é. Vamos Saeed, rápido! — correu Lea puxando-me pelo braço esquerdo.
Corremos pelo corredor e não vimos nada. Nenhum animal por lá. Mais adiante havia uma bifurcação no corredor, um caminho levava para a próxima ala de animais e o outro para o setor de exercícios, que ficava no mesmo sentido da sala de comando.
— E agora? O que nós vai fazer? — perguntei.
— Saeed, você pode ser mais útil do que isso! Tenha mais atitude! Vá para a sala de exercícios que eu vejo a próxima ala de animais… — senti Lea me dando outra bronca.
— Ok, ok, Lea. Saeed tá entendendo… até daqui a pouco… — disse chateado com olhar de desprezo.
— Saeed, não quis te... — ouvi a voz de Lea tentando consertar as coisas enquanto eu andava.
Olhei para trás, não disse nada e prossegui. Fiquei mesmo chateado. Talvez eu venha a aprender algo com isso, mas por hora? Fiquei chateado. Busca? Eu não prossegui com a busca… Sentei em um dos aparelhos de exercícios e fiquei murmurando sobre minha existência e capacidade de tomar atitudes responsáveis e proativas.
— Não há nada de mais aqui. Não entendo por que ela insiste em…
— O quê?! — Ouvi barulho de algo se mexendo no canto da sala, esbarrando em algumas barras, mas não pude ver exatamente o que era, vi apenas que era algo bege.
— Saeed, encontrou algo? — ouvi repentinamente a voz de Lea atrás de mim.
— Sim, tá ali! — virei-me para apontar no canto de onde vinha o barulho e não havia mais nada!
— Não tem nada ali Saeed… só umas barras caídas… — disse ela vasculhando as barras.
— Mas o animal que estamos procurando que faz essa bagunça aí… — Lea parou e olhou para mim.
— Está certo. Onde está? Onde está o animalzinho, Saeed? — perguntou ela, praticamente me pressionando.
***Ponto de vista do Saeed.
— Não sei se eu vai achar tempo para gravar depois das tarefas chatas, então eu grava agora:
— Já viajamos em média duzentos e cinco mil quilômetros e meio. Hector, sua função aqui é simples, você só vai tê que acompanhar a navegação quando não tiver realizando as outras tarefas. O computador de bordo já faz tudo, é só acompanhar mesmo. Os animais são tranquilo, o chato é ficar limpando a sujera deles, mas assim como eu, você não vai ter saída, TEM QUE FAZER! Ah! E tenta não ser tão estúpido com Lisa. Ela tem culpa nenhuma que você ainda tá vivo... Dois dias depois do fato do animal solto e ele continua por aí. A gente não encontramos ele ainda. Ele é muito rápido e esperto. Quase acreditamos que foi um macaquinho, mas ele não faz nenhum barulho, então deixamos essa idéa. Falta um dia para a gente entrar na hibernação e trocar com você Hector e Lisa. Estamos preocupado com isso, embora esteja bem atentos e empregando muito trabalho diário para encontrá-lo. Hector e Lisa, se não o encontramos, a tarefa fica pra vocês! Desligando.
— Não é verdade... — falei comigo mesmo — Não estamos fazendo possível pra encontra esse animal... Lea já desiste de procurar. Ela disse quando ele tiver realmente com fome vai dar a cara. Eu não sei o que pensar… sou só um piloto, nada de mais. Vamos recebe o Hector e a Lisa em três hora. Vamos preparar tudo pra que eles saiba por onde começa. Uma hora depois que acordam, a gente hibernamos.
Ponto de vista da Léa.— Olá novamente! Este, bem provavelmente, será meu último vídeo-diário antes da hibernação, então vou aproveitá-lo para dar algumas orientações... Essas são para Lisa: Dirceu, o cavalo marrom está doente. Não sei bem o que ele tem, mas tenho o medicado de acordo com os sintomas. Cuide dele, por favor, ele é muito bonzinho. Você não terá dificuldades para os exercícios diários, então mande ver! — após uma pequena pausa, prossegui — vou deixar uma nota para você, escrita em papel, o velho e antigo, que ainda nos serve bem — disse seguido de risos — essa informação é para você Lisa! E, Hector, não se intrometa! — disse franzindo a testa. — Acredito que seja só iss
Ponto de vista de Isabela.— Lisa! Lisa, sua vagab... Ahn? Ela entrou na sala das câmaras. — disse Hector após notar a porta forçada.— Eddie! Isa? Despertaram tão cedo? — disse Hector ao vê-los despertando ainda, com voz arrastada como a de um bêbado.— Hector? — disse Eddie entre tosses e gemidos — onde está Lisa?— Ela estava indisposta e preferiu hibernar antes que despertassem — disse ele em tom contestável, após olhar para sua câmara.— Suponho que você fosse logo em seguida, não Hector? — questionou Isa duvidosamente.— Não. Tenho alguns assuntos para resolver aqui ainda. — disse Hector deixando a sala.— Eddie, algo está errado! Vamos atrás dele. — disse caindo de minha câmara, voltando a mexer meu corpo lentame
Cinco anos e oito meses depois...Ponto de vista de Rick.Este era finalmente o último turno desta nossa jornada. Depois de passarmos por aquele portal nossas vidas teriam destinos inimagináveis. Confesso que isso me preocupava muito, não saber o que estaríamos fadados a passar, nem onde estaríamos indo. As vidas daqueles humanos, e provavelmente últimos de nossa espécie estavam sob minha direção, sob minha responsabilidade. Eles não somente acreditavam em minhas palavras, eles confiavam em mim. Não poderia falhar, nem desperdiçar sua fé.— Rick, com todo esse tempo aqui no espaço ainda não enjoei de admirar as estrelas e esse vasto universo... — falou Ami contemplando a grandeza do sol a anos luz de nós.— Isso é bom, Ami! — disse com sorriso
Ponto de vista de Joel, Terra, pouco depois da divisão de equipes em Belácia. — Isabela! Suba até aqui! — gritei. — A caminho Joel! — concordou ela. Para que chegasse até mim ela teria que escalar três andares de construção demolida com um tigre vermelho, mas para aqueles dois não parecia haver dificuldade alguma. Eles formavam de fato uma dupla muito habilidosa. — Joel, pra qual lado? Eles estão logo atrás de nós! — questionou ela apreensiva ao aproximar-se de mim. Montei em Volt junto com Isabela e rapidamente prosseguimos na subida prédio demolido acima. Após alcançarmos o topo da construção avistamos algumas sucatas de aeronaves mais à frente e para lá cavalgamos sobre Volt. — O sinal do GPS aponta para esta direção, Isabela. Vamos! — orientei-a apressadamente. — Foi mais fácil do que imaginávamos... — comentou ela com a cabeça na lua. — O que foi tão fácil? — indagu
— Frank! Mena! Mais sobreviventes? — perguntou ele ao se aproximar.— Sim Gorilla, mas não do tipo que encontramos por aí geralmente... — respondeu Frank cheio de animo.— Rum... — Gorilla parou próximo de Isabela e pôs-se a analisa-la.— Você me lembra de alguém que não vejo há muito tempo, menina... — disse Gorilla medindo a garota milimetricamente.— Seu irmão, talvez? — atreveu-se Isabela.— Rick... Rick?! Rick Price?! O que?! Você é Isabela Price?! Não pode ser! — falou Gorilla surpreso — Aquele canalha não está morto?! Há tantos anos o procuro... Nem que seja somente seu corpo para enterrar... — emocionou-se ele. — Venha cá menina! Dê-me um abraço apertado! — descontraiu-nos com seu jeitão extravagante. — E onde est
Ponto de vista de Rick.[Algum tempo após a partida da equipe de Joel á Terra. Sistema Solar Ghore, Planeta Tracozull].— Então este é o Templo de Zokirathre... — comentou Danton admirando a entrada rochosa, milenar e um tanto sombria.— Aparentemente sim. — respondi — Pelo menos é aqui que Glenzer nos indicou. — Ele faz breve som concordando com minhas palavras. — O conselho é o mesmo... Olhos bem abertos e atentos... — lembrei-os.— Vamos Lumiá. Vamos iluminando o local. — adiantou-se Elgie.A porta do Templo tinha pouco mais de quatro metros de altura e aparentemente estava abandonado. Ele era inteiramente construído com um tipo de rocha escura, parecida com gabro, não aparentava haver mais que um andar e tinha mais de dois quilômetros de e
— Como chegamos ao baú? — perguntou ele.Observamos ao redor e notamos que havia barras de ferro que saiam de quatro pontos específicos das paredes como escadas e seguiam pelo teto até o centro do salão, ou melhor, até o baú.— Aquele é o caminho... — indicou Danton.— Vamos ver quem chega ao baú primeiro Rick?! — Danton sugeriu uma competição.— Claro! Já está perdendo, Danton! — falei escalando pelas barras mais próximas à minha direita.— Você que pensa espertalhão! Sou mais ágil... — disse ele partindo rapidamente para as barras à esquerda de sua saída.Enquanto as meninas aguardavam lá embaixo, Danton e eu tentávamos chegar ao baú em um tipo de competição. O danado era de fato mais rápido que eu, mas n&atil
Ponto de vista de Joel.Enquanto isso... Terra, Nova Déli.— Estamos quase chegando ao nosso destino. Nosso objetivo aqui é rápido e simples: Pegar as estacas no abrigo... Alguma dúvida? — perguntei à equipe.— Acho que nenhuma pergunta da nossa parte... — respondeu Mena, aparentemente já acostumada com aquela vida de vasculhar por coisas e as batalhas por sobrevivência.— Ótimo. Então, Frank e Mena aguardam na nave, e nós entramos rapidamente e pegamos as estacas. Entendido? — perguntei aguardando uma confirmação.De repente o vento começa a invadir a nave, e ouvimos um grito da porta de desembarque...— Eu distraio o gondro! Não percam tempo! — disse Isabela antes de saltar da nave com Volt.— Menina, não! — g