Quando os dois saíram pelos portões da prisão, após encontrarem Tristão, já estava escurecendo. Embora a primavera tivesse começado, o vento nas primeiras e últimas horas do dia em Yexnard ainda trazia um certo frio.Charles tirou o paletó e o colocou sobre os ombros de Olívia, puxando-a para mais perto, envolvendo-a com seu braço forte. Os dois ficaram ali, em silêncio, apenas ouvindo o vento sacudir as folhas, suas expressões tranquilas, mas por dentro, seus corações batiam acelerados, como o vento que nunca cessava.— Ele confessou. — Disse Olívia, rompendo o silêncio com a voz suave.— Sim, confessou tudo, sem esconder nada. — Respondeu Charles, apertando os ombros dela, sentindo um peso finalmente sair de sua alma. — Está quase tudo resolvido.— Não, ainda não. Mateo continua desaparecido.— Mas Mateo não é parte do esquema de Tânia. O depoimento dele não mudaria muita coisa no caso de Tristão. — Ponderou Charles.Olívia levantou o rosto sério e olhou diretamente para ele.— Aquel
A voz de Érico ficou ainda mais fria.— Não só estão juntos, ele está morando na sua casa em Yexnard?Charles ouviu seu próprio nome ser mencionado, e isso fez seu coração disparar.Os olhos de Olívia escureceram instantaneamente.— O que você quer dizer com isso? Está me seguindo agora?— Eu me preocupo com a minha filha. Isso é algum problema? — Respondeu Érico, dessa vez sem ceder.— Ah, então você se preocupa comigo agora? — Olívia retrucou, esquentando. — Eu passei cinco, seis anos sozinha lá fora, em outro país, e você nem se dava ao trabalho de mandar uma mensagem sequer no Ano Novo ou no Natal. Agora, de repente, resolveu cuidar da minha vida?Charles franziu a testa em silêncio. Por que Olívia teria passado tantos anos sozinha em outro país? Como os familiares que tanto a amavam permitiram isso? Ela era tão jovem, tão vulnerável naquela época. Que perigos ela deveria ter enfrentado?— Volte para casa agora! — Érico ordenou, sua voz aumentando de tom. — Você é filha do homem ma
Todos os anos, Yexnard sediava um dos mais importantes eventos do país: o Grande Prêmio de Hipismo.As famílias mais poderosas e influentes se reuniam ali, em um ambiente de sorrisos e aparente cordialidade, mas por trás das máscaras sociais, travavam-se batalhas silenciosas e perigosas.Esse evento não era apenas uma corrida de cavalos. Era uma oportunidade única para que os grandes empresários e políticos costurassem acordos de milhões. Muitos dos projetos mais importantes do país eram fechados durante esses dias. Por isso, todos queriam uma entrada para o evento. Conseguir um convite significava acesso ao poder, à riqueza, à elite.Desde que Felipe proibiu Chica de participar do evento, ela estava furiosa. Tanto que sua boca encheu-se de aftas, e ela mal conseguia comer. Até mesmo à noite, acordava do sono com raiva.Ela não entendia por que Felipe estava tão irritado. Tudo o que fizera foi repreender alguns empregados. Por que ele estava a punindo dessa maneira? E, para piorar, par
Mesmo sem nunca ter tocado naquela substância, Chica podia entender, só de olhar para o rosto contorcido de Tânia, o horror que era a abstinência.— Você já deu um jeito no Tristão? — Tânia perguntou de repente, de maneira fria e ameaçadora.Chica sentiu um calafrio descer pela espinha.— Eu já mandei um homem cuidar disso, mas até agora não recebi notícias. Talvez... Ele ainda não tenha conseguido.— Inúteis! Todos eles são uns inúteis! — Tânia rugiu, os olhos brilhando de raiva.— Mãe, ele está na prisão! Só de conseguir alguém disposto a arriscar a vida por nós já foi uma sorte. Dentro da cadeia, as coisas são bem mais complicadas que aqui fora. Eu acho que você vai precisar ter um pouco mais de paciência. Logo teremos uma resposta.— Paciência? Eu não posso esperar! Enquanto Tristão estiver vivo, é como se meu coração estivesse sendo frito em óleo! Não consigo dormir, não consigo comer! — Tânia andava de um lado para o outro, agitada. — Olívia e Charles já devem ter falado com ele.
— Mãe, não se preocupe. Eu tenho uma solução. — Chica sussurrou no ouvido dela. — Você pode usar uma fralda geriátrica. Assim, não terá com o que se preocupar!— Fra-Fralda? — Tânia ficou vermelha de vergonha.— Além de mim, ninguém vai saber. Pode usar sem medo! O papai mal começou a mudar de ideia sobre você, e esse evento do hipódromo é a chance perfeita para você brilhar, estar deslumbrante, e reconquistar o coração dele!Era verdade. Chica tinha razão. A oportunidade era rara, e Tânia precisava se esforçar para restaurar sua relação com Felipe.— No fim das contas... Vai ter que ser assim mesmo.Fralda geriátrica ou não, ela precisava fazer isso. Afinal, adultos usavam fralda em casos especiais, não era algo tão incomum. Enquanto Chica mantivesse o segredo, ninguém jamais saberia.— Mãe, será que você poderia me ajudar com uma coisa? — Chica aproveitou o momento para fazer um pedido.— Sua pirralha! Já vem você com condições de novo? — Tânia a encarou com raiva. Achava que sua fil
Charles guardava com carinho o terno que Olívia tinha feito para ele. Estava cheio de marcas do tempo e de batalhas, mas ninguém podia tocar nele. Agora, ele queria um novo. Algo que simbolizasse um recomeço, um início promissor ao lado dela.— Você realmente gosta das roupas que eu faço? — Olívia perguntou, piscando seus grandes olhos brilhantes. Seus dedos traçaram uma linha suave no queixo dele. — Eu posso fazer outro, mas se não for seu estilo, não precisa usar, tá? Não quero que você se force a nada, nem mesmo por uma roupa.Charles sentiu um nó na garganta. Seus olhos ficaram subitamente húmidos.Ele ficou em silêncio por um tempo, lutando contra a emoção que ameaçava transbordar. Finalmente, com a voz rouca, ele disse:— Sempre gostei das coisas que você faz. Eu era teimoso e imaturo, não sabia reconhecer isso na época. Vivia, eu sei que estou pedindo muito, mas... Será que posso ter uma segunda chance?— Não é tão sério assim. É só um terno. — Disse ela com um sorriso leve. Ol
As três tias tinham ido a uma festa, e depois, eufóricas, foram fazer compras e marcar presença num famoso café da tarde antes de voltarem satisfeitas para a Villa Werland.Para quem olhava de fora, a relação delas podia parecer complicada. Muitas pessoas imaginavam que as três viviam numa eterna disputa, competindo pela atenção de Érico. No entanto, a realidade era outra: elas se davam tão bem que pareciam amigas de longa data. Às vezes, até Olívia sentia uma pontinha de ciúmes da amizade que elas compartilhavam.Érico, com certeza, devia ter salvado a galáxia em outra vida para, nesta, ter essas três mulheres tão dedicadas a ele.— Puxa! Vocês saíram para se divertir e nem me chamaram! Fiquei chateada, viu? — Olívia reclamou, sentada no balanço do jardim, com os pés tocando levemente o chão, balançando-se com a leveza e a jovialidade de uma menina.— Ah, nossa querida Vivia! Não é que não quisemos te chamar! — Aurora aproximou-se e abraçou Olívia carinhosamente por trás, tentando apa
Após alguns segundos, as três tias assentiram com a cabeça ao mesmo tempo.— Agora entendi. Seu pai não explodiu a família Marques e não transformou o Charles em um saco de pancadas... Isso é o que eu chamo de pegar leve. — Disse Aurora, com um tom de ironia.Mas antes que pudessem continuar a conversa, o mordomo apareceu apressado:— Srta. Olívia, o Sr. Érico voltou. Ele pediu que a senhorita fosse até o escritório.— Entendido.Olívia respirou fundo e começou a caminhar em direção ao escritório. As três tias, com medo do que Érico poderia fazer, insistiram em acompanhá-la.No escritório, Érico estava sentado no sofá, com uma expressão sombria, tomando seu café.Normalmente, os encontros entre pai e filha eram leves, cheios de brincadeiras e risadas. A atmosfera sempre era alegre e calorosa. Mas, naquele momento, o ar estava pesado e tenso, algo raro entre eles.— Quero falar com a Vivia sozinho. Por que vocês vieram atrás? — Érico lançou um olhar descontente para as três mulheres e c