Capítulo 5
Nada naquele dia soava ruim. O sol brilhava e tudo parecia estar bem no lugar enquanto eu dirigia pelas ruas familiares.

A capela estava lotada quando chegamos. Quase todos vieram prestar suas últimas homenagens.

Examinei o local e fiquei satisfeito ao ver que tudo estava em ordem. Nenhum dos outros ajudou muito na preparação do enterro. Fui eu que tive que arcar com o peso de tudo.

Mas eu não estava reclamando. Aproveitei isso como uma chance de retribuir o que ele fez por mim. Afinal, ele me alimentou, me vestiu e colocou um quarto sobre minha cabeça.

O culto estava prestes a começar e a maioria das pessoas já estava sentada. Decidi sentar do lado oposto. Não parecia certo sentar com o resto. E definitivamente não parecia certo sentar ao lado de Emma.

"Mãe, por que estamos sentados aqui... não deveríamos sentar ao lado da vovó?" Noah pergunta, apontando para onde os outros estavam.

É claro que estávamos recebendo olhares estranhos, mas eu não me importei. Afinal, não era segredo que não fui totalmente aceita pela família depois de tudo o que aconteceu.

“A maioria das pessoas já está sentada. Não quero fazer ninguém levantar para a gente.” Eu menti.

Ele não pareceu acreditar em mim, mas deixou para lá. O padre chegou e o sermão começou no momento em que senti alguém sentar ao meu lado.

Eu fico tensa. Eu saberia sua presença e seu perfume em qualquer lugar. Não sei o que ele estava fazendo sentado aqui. Ele deveria estar com sua preciosa Emma. Na verdade, eu preferia que ele estivesse lá.

Droga, isso foi amargo. O que eu era. Amarga, irritada e magoada.

“Pai!” Noah sussurra e grita, o que faz com que algumas pessoas se virem e olhem para nós.

Eu olho para eles, fazendo todo mundo se virar de volta para frente.

“Posso sentar entre vocês dois?” Noah sussurra para mim.

Eu respiro um suspiro de alívio. Graças a Deus pelos pequenos milagres. Eu não teria que estar perto de sua presença sufocante.

Nos mexendo devagarinho, troco de lugar com ele. No momento em que fazemos isso, sinto a tensão diminuir um pouco.

“Todos nós devemos deixar este mundo um dia. A questão é: como você vai deixá-lo? Você fez a diferença? Mudou e tocou a vida daqueles que você conheceu pelo caminho? Ou você vai deixar nosso mundo cheio de arrependimentos?” O padre diz a todos.

Não posso deixar de pensar sobre isso. Se eu morresse hoje, quem iria ao meu enterro? Será que aqueles ao meu redor iam se importar? A quem estou enganando? Eles não fariam isso. Eles provavelmente iam fazer uma festa. O único que será afetado pela minha morte é Noah. Só ele e mais ninguém.

É triste de verdade. A vida que tenho. Não tenho amigos principalmente porque sempre fui contida. Vivendo sob a sombra perfeita que era Emma, o fato de que nunca ia ser boa o suficiente para ninguém estava fincado com força na minha mente. Eu não era tão bonita quanto ela. Sexy como ela. Inteligente como ela. Amada como ela. Eu não era perfeita como Emma. Eu não era nada comparada a ela.

Mesmo agora, mais velhos, ainda estou na sombra dela. Ninguém vê minha dor ou sofrimento. É tudo sobre Emma. A dor dela é maior que a minha. A felicidade dela é uma prioridade sobre a minha. Ela sempre vem em primeiro lugar na mente de todos, enquanto eu fico correndo atrás de restos de afeto.

“Mamãe.” A voz de Noah me tira dos meus pensamentos.

É então que percebo que o culto acabou e todos estavam indo embora.

“Ava, você está bem?” Sua voz profunda sempre me faz estremecer.

Não quero falar com ele e muito menos olhar para ele, mas vou ter que fazer isso, porque nos próximos dez anos vamos compartilhar a custódia de Noah.

Encolhendo os ombros me levanto, sem olhar para ele. Eu sei que parece rude, mas simplesmente não consigo olhar para ele. Não quando a lembrança dele olhando com amor para Emma ainda está fresca em minha mente.

“Vamos Noah, vamos.”

Ele dá um pulo e vamos em direção à porta. Lá fora, somos bombardeados por uma multidão de pessoas que querem nos dar suas condolências. Vejo alguns dos meus colegas e aceno para eles.

Ainda não tínhamos enterrado meu pai e eu já estava esgotada.

“Então você finalmente decidiu mostrar a cara.” Ouço a voz amarga de Emma atrás de mim.

Eu me viro para encará-la. Seu rosto estava manchado e seus olhos estavam vermelhos e inchados, mas ela ainda parecia uma porra de uma deusa de tão linda.

Eu suspiro. Eu não queria lidar com ela agora.

“Agora não, Emma. Podemos enterrar o papai primeiro?”

Ela sorri e então se inclina para que eu seja a única que possa ouvir.

“Vamos enterrar ele, tudo bem, mas eu quero te dizer que estou aqui para ficar. Você também tirou minha família de mim anos atrás, mas não mais. Pretendo pegar tudo de volta, inclusive o homem que deveria ser meu.” Ela se afastou no momento em que o padre nos chamou para o cemitério.

Noah olha entre mim e as costas da minha irmã, mas não diz nada. Fico chocada com suas palavras, mas não realmente surpresa.

O que ela não entende é que não precisa tirar nada porque, para começar, nenhum deles era meu. A família da qual ela está falando adora o chão que ela pisa. E Rowan? Rowan era e ainda é seu homem.

Empurrando para baixo a dor que queria me afogar, levei Noah ao lugar que seria o local de descanso final de papai.

Fico um pouco distante de mamãe, Emma e Travis. Eles estão amontoados. Olhando para eles e para mim, você podia achar que eu era uma estranha participando do enterro, em vez de fazer parte da família.

“Do pó ao pó…” diz o padre enquanto baixam o corpo da papai no chão.

Eles então começam a cobrir seu caixão com terra até que ele esteja completamente enterrado. Os lamentos da mamãe são mais altos enquanto ela implora para que o pai volte para ela. Emma e Travis têm lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto enquanto a seguram nos braços.

Eu conforto Noah. Abraçando ele enquanto ele chora ao meu lado. Ver ele assim traz lágrimas aos meus olhos. Eu odeio ver ele sofrendo. Eu enxugo minhas lágrimas. Eu preciso ser forte por ele. Ele precisa de mim agora.

Mais uma vez as pessoas nos cercam para oferecer suas condolências. Eu aceito sem pensar. Era como se eu estivesse lá, mas ao mesmo tempo, não estivesse. Quando dou por mim, a maioria das pessoas já estava dispersa.

“Mãe, olha lá, o vô e a vó.” Ele me arrastou, apontando para os pais de Rowan.

Eles estavam lá com Rowan e seu irmão gêmeo, Gabriel.

Fico sem jeito enquanto ele vai falar oi. Eles me olham de passagem, mas não dizem nada. Nós todos sabemos que eu não era a escolha deles para o filho.

“Posso ir comer com eles?” Noah perguntou. Eu deixo.

Ele não come há horas, então estava com fome. Depois que eles saem, ficamos parados, sem jeito, um do lado do outro. Agora que seu foco não estava em Noah, ele só olhava para Emma, que estava a poucos metros de nós.

Eu estava prestes a pedir licença quando ouvi um barulho de pneus cantando. Tudo aconteceu muito rápido. Homens armados abriram fogo. No minuto em que começaram a atirar, vi Rowan pular em direção a Emma.

Fiquei chocada ao vê-lo protegendo ela com seu corpo.

Não acredito que ele me abandonou para proteger ela. Por que fiquei surpresa? Isso só provou que nunca ia ser sua prioridade. Ver ele protegendo ela com sua vida quebrou completamente algo dentro de mim.

"Cuidado!" Um homem com colete à prova de balas gritou comigo.

Ele me empurrou para fora do caminho, mas já era tarde demais. Algo perfurou minha pele e eu caí com o impacto do golpe. Minha respiração falhou.

“Alguém chame uma ambulância!” Ele se ajoelhou ao meu lado e fez pressão no ferimento.

Eu estava confusa, tonta e com dor. Fui dizer a ele que estava bem, mas então vi sangue encharcando meu vestido e suas mãos. Eu odiava ver sangue.

“Ah meu Deus... Noah…” eu sussurrei.

Ele foi meu último pensamento antes de tudo desaparecer na escuridão.

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