Rowan

Uma coisa estranha acontece dentro de você quando você vê sua ex-mulher, mãe de seu filho, baleada e sangrando no chão frio do cemitério. Algo que nunca pensei que sentiria por Ava.

Quando vi os homens com armas apontadas para nós, não pensei. Eu sabia que Noah estava seguro com meus pais, então meus instintos assumiram o controle e pulei em direção a Emma. Eu morreria por ela e estava preparado para fazer exatamente isso.

Fiquei aliviado quando os atiradores correram depois de ver a polícia, mas meu alívio durou pouco quando um dos policiais gritou por uma ambulância. Eu me virei me perguntando quem estava ferido, só que não esperava que fosse Ava. Ver ela machucada quase me deixou de joelhos.

Foi uma enxurrada de acontecimentos depois disso. A ambulância chegou e o policial se recusou a sair do lado de Ava até ter certeza de que ela estava segura nas mãos do médico.

Fiquei aborrecido com a relutância dele, ela era minha esposa, quero dizer, ex-esposa, mas o mais importante, eu estava chateado comigo mesmo. Eu deveria ter protegido ela. Se o pior tivesse acontecido com Ava, como eu ia explicar para Noah? Como eu ia justificar o fato de não ter conseguido proteger a mãe dele?

Então aqui estava eu, andando de um lado para o outro na sala de espera. Estou muito preocupado porque não nos disseram uma palavra desde que Ava foi levada às pressas para a sala de emergência. Ninguém apareceu para nos dizer o que acontecer.

“Por favor, faça ela ficar bem.” Kate, sua mãe sussurrou.

Foi a primeira vez que ouço alguma emoção em sua voz quando ela fala sobre Ava. Acho que perder o marido e quase perder a filha amoleceu a mulher um pouco.

Estávamos todos aqui, menos Noah. Travis estava sentado ao lado de Kate, que estava ao lado de Emma.

Sentei, incapaz de controlar a ansiedade dentro de mim. Eu precisava que ela ficasse bem, pelo bem de Noah. Eu continuei dizendo a mim mesmo.

Não sei quanto tempo esperamos, mas quando olhei para cima vi Ava. Ela estava na enfermaria entregando alguns papéis. Seu braço esquerdo estava numa tipóia quando ela pegou o cartão de crédito e o colocou na bolsa.

Com dificuldade, ela conseguiu pegar o telefone, ainda segurando a bolsa. Você podia ver que não era uma tarefa fácil pela carranca em seu rosto.

“Ava!” Chamei quando ela estava prestes a passar por nós. Seus olhos ainda em seu telefone.

Ela olhou para cima. Imediatamente percebi que algo nela estava diferente. Eu não conseguia identificar o que era, mas estava lá.

"O que você está fazendo aqui, alguém se machucou?" ela perguntou. Sua voz plana e desprovida de qualquer emoção.

"Como você está?" sua mãe perguntou em vez de responder.

“Infelizmente para você, ainda não morri.”

A resposta dela pegou todos de surpresa. Não só pela forma como ela disse, mas por causa do frio que fazia.

“Onde você está indo?” Eu interrompi.

“Casa.” Uma única palavra.

“Seu braço está na tipoia, você não pode dirigir.”

“É por isso que chamei um Uber.”

“Ava, precisamos conversar. É sobre seu pai." Kate sussurrou, fazendo Ava se virar para sua mãe.

Faltava alguma coisa. Eu podia ver isso nos olhos dela.

Friamente ela olhou para sua mãe. “Não vejo o que isso tem a ver comigo, da última vez que eu chequei, ele não me considerava sua filha.”

Um soluço saiu da garganta de sua mãe, mas Ava não presta atenção nela. É como se ela tivesse desligado todos os seus sentimentos, deixando apenas uma familiaridade cruel.

Ela se moveu em direção à porta, mas depois parou. “Onde está meu filho?”

“Na casa da mamãe” Travis respondeu. Seus olhos como adagas nela..

Ela suspirou. “Parece que você vai conseguir essa conversa no fim das contas.”

“Eu te levo.” Eu ofereci

Isso fez Emma franzir a testa, mas ela precisa entender. Não importa a minha diferença com Ava, ela ainda era a mãe de Noah e está magoada. Não esquecendo que ela era minha esposa.

Surpreendentemente, Ava recusou. "Não precisa. Vou de Uber e te encontro lá.”

Sem dizer mais nada, ela se virou e saiu. Nós olhamos para o lugar onde ela estava há pouco. Normalmente, ela aproveitava qualquer oportunidade para estar perto de mim. Então ficamos todos surpresos por ela ter rejeitado minha oferta.

“Vamos logo, antes que ela chegue em casa e saia antes de termos a chance de conversar.” Kate diz suavemente. Sua voz ainda triste.

Viemos até aqui juntos, então todos entramos no meu Cadillac Escalade e partimos. Quebrando todos os limites de velocidade, chegamos à casa de Kate bem a tempo de ver Ava fechando a porta atrás dela.

Estacionei o carro e saltei dele. Entrando em casa encontramos meus pais, Gabe e Ava, e ela basicamente ignorava minha família. Era estranho ver esse lado dela. Na maioria das vezes ela tentava conversar um pouco com eles, mesmo quando eles a desprezavam.

“Podemos acabar logo com isso?” ela diz irritada enquanto se senta.

“James me procurou com uma proposta de negócio de que queria fazer parceria comigo. Concordei porque achei que era um bom investimento.” Eu comecei..

“Assinamos os documentos exigidos pensando que se tratava de uma empresa sólida. Só mais tarde percebemos que a empresa era de uma quadrilha criminosa. Nem James nem eu queríamos que algo ilegal afetasse nossas empresas. Sabíamos que seria inevitável continuarmos com eles, então encontramos uma maneira de quebrar o contrato e denunciamos para a polícia.”

“Okaaay” Ava arrastou a palavra, suas sobrancelhas estavam franzidas como se ela estivesse confusa sobre onde isso estava indo.

Suspirei, já me sentindo esgotado pelos acontecimentos de hoje. “Acontece que os membros da gangue estavam entre os mais procurados da cidade, eles não aceitaram bem que nós tiramos eles do esquema, então eles se esconderam. Pensávamos que, como a polícia estava envolvida, eles iriam manter distância.”

Kate partiu daí. “Eles começaram a ameaçar seu pai. Eles prometeram fazer ele pagar e depois foram atrás de nós, sua esposa e filhos. Eles o culparam porque foi ele quem os procurou. Por mais que seu pai não estivesse envolvido, eles eram criminosos. Achamos que eles estavam blefando com suas ameaças, até que mataram seu pai a tiros.

Travis, Gabe e meus pais já sabiam. Olho para Emma e encontro choque e medo gravados em suas feições. Então me viro para Ava e o mesmo olhar morto e frio ainda está em seu rosto.

“E o que é que isso tem a ver comigo? Não consigo ver a conexão.” Sua voz estava fria enquanto ela olhava para nós. Seus olhos nos perfurando como pedaços de gelo.

Ela se levanta. “Vou pegar Noah e ir embora.”

“Que merda, Ava, você não está levando isso a sério.”Eu disse com os dentes cerrados.

Ela não sabia o que isso significava? O perigo que ela estava correndo? E se hoje estivéssemos planejando o enterro dela?

“Estou, e como disse, não vejo o que isso tudo tem a ver comigo.”

Travis rosnou retratando a mesma frustração que eu estava sentindo. "Você levou um tiro hoje... isso não quer dizer nada para você?"

Ela olha para ele. “Sim. Que eu estava no lugar certo na hora errada.”

“Ava…” Kate começou a falar, mas Ava interrompeu.

"Não. Eles estavam atrás de vocês três, não de mim. Todos nessa merda de cidade sabem que nenhum de vocês me considera parte da família, então por que é que esses caras viriam atrás de mim?”

Suas palavras cortaram o ar. Isso era tão diferente dela. Que porra é essa?

Ela se virou para olhar para mim. Seus olhos estão desprovidos de qualquer emoção. É como se ela estivesse morta por dentro. Algo na maneira como ela olhou para mim me incomodou. Eu odiava não ver nenhuma emoção em seus olhos.

“Se tem alguém com quem você deveria se preocupar, então é a mulher ao seu lado. Ela é sua princesinha perfeita, então pare de me arrastar para qualquer bagunça que ele arrumou.”, ela faz uma pausa e depois encara o resto. Olhando para cada um.

“Parem com essa preocupação falsa. Eu não preciso disso, porra, e se por acaso eu realmente estiver em perigo, vou lidar com isso sozinho. Prefiro morrer a aceitar qualquer proteção de vocês.” Ela terminou, com repulsa na voz.

Sua mãe engasga e nós olhamos para ela com surpresa. Incapaz de reconhecer a mulher que está diante de nós. Parece que Ava acabou de dar um tapa nela.

Emma se levanta e fica de frente com ela, tentando intimidá-la. Antes, Ava teria recuado, mas não desta vez.

“Pare de ser uma vaca, como sempre você quer que tudo seja sobre você.” Ela diz com raiva, fazendo Ava rir sem emoção.

“Eu não sei que buraco você está escondendo, querida irmã, mas nada é sobre mim. É sempre você, mas não é isso que estamos discutindo agora. Desde que me lembro, vivi sem a proteção dessas pessoas, não sei por que de repente eles se interessaram pela minha segurança. É falso. Prefiro não ter pessoas falsas perto de mim… Agora, se me dá licença, preciso ir para casa.”

Ela se virou e ignorou Emma e o resto de nós como se nem existíssemos. Eu não pude acreditar nas palavras que saíram de sua boca. Ela falou sobre nós como se fôssemos estranhos para ela. Como se não fôssemos nada para ela.

“Noah!” ela gritou e segundos depois ouvimos passos correndo. Logo meu filho apareceu na sala.

Seu suspiro de choque ao olhar para sua mãe fez eu me sentir um lixo

“Mamãe, o que aconteceu com seu braço?” ele perguntou correndo e abraçando ela.

Ela deu um abraço de um braço só no garoto. “Nada meu amor, só bati o braço na porta e o médico teve que consertar.”

Ela acariciou sua bochecha com amor. O olhar duro e frio desapareceu completamente enquanto ela encarava nosso filho.

"Tá doendo?"

“Só um pouco, mas vou ficar bem. Agora vamos, vamos para casa para tomarmos sorvete e ficarmos juntinhos.”

Isso traz um grande e lindo sorriso aos lábios de Noah. Seu rosto se iluminou com as palavras de sua mãe.

Ava tenta pegar sua bolsa, mas Noah não deixou.

"Deixa comigo. Eu sou um menino crescido agora. Você vai ver, quando chegarmos em casa, eu vou cuidar de você e beijar onde tá doendo, igual você sempre faz comigo!”

Ava sorri. Seu sorriso transforma todo o seu rosto, derretendo o gelo. Todos nós olhamos para essa interação mãe-filho, incapazes de desviar os olhos da adoração que eles têm um pelo outro.

"Essa mulher é sua irmã?" Noah lança olhares curiosos para Emma

"Não. Eu não tenho irmã.”, ela respondeu e disse algo mais baixinho. “E eu também não tenho família.”

Não acho que a gente devia ter ouvido a última parte, mas ouvimos. Eu me virei para Noah, me perguntando se ele ouviu o que Ava disse, mas parecia que não, porque ele estava acenando para mim.

"Tchau, pai!"

“Tchau, garoto.” Respondi com voz rouca.

Ele se despediu do resto e então eles foram embora.

Ficamos todos em silêncio, cada um de nós perdido em pensamentos. Continuei olhando para a porta, confuso sobre que merda foi essa que aconteceu. Esse desapego dela perturbou algo dentro de mim. Mexeu alguns pauzinhos diferentes aqui dentro.

Esse era um lado de Ava que eu nunca tinha visto. Um lado que era estranho para mim, e eu não gostava dele.