Alice— Bom dia, chefe! Mandou me chamar? — pergunto, adentrando a sala do Senhor Henrico horas depois— Sente-se Alice! — Ele pede e eu me aproximo da sua mesa, sentando-me em seguida. — Li a sua pesquisa.— E?— Devo dizer que adorei a sua visão das coisas. A maneira como descreve e como relata. Ela estava perfeita. — Não seguro um sorriso satisfeito. — Você conhece esse homem? — Ele arrasta uma foto do senador Renan Becker pelo tampo da mesa de mogno, parando bem na minha frente.— Por quê? O que tem ele?— Soube que é amiga da filha do Senador. Camila Becker, certo? — Incomodada, limpo a garganta.— Certo. — Ele me lança um par de olhos avaliadores.— Assim fica bem mais fácil conseguir algumas…— Não vou fazer isso, Henrico — digo taxativa.&m
Alice— Acho que sim. — Beijo rapidamente a sua bochecha.—Vai lá, filha. Se divirta e deixe que eu converso com seu pai.— Está bem. Eu te amo! — Me afasto dela com passos largos na direção da saída. Contudo, antes que eu chegue a segurar na maçaneta, a voz do meu pai brada atrás de mim.—Alice? — Viro-me para encará-lo.— Diga para o Fassini que eu quero falar com ele. — Um frio preenche a boca do meu estômago. — Uma conversa entre homens. — Olho para a minha mãe e ela acena um sim sutil com a cabeça para mim.— Ok! — digo por fim, saindo de casa em seguida. Encontro Lucca encostado na lataria do seu carro e quando ele se afasta, caminha na minha direção, deixando um beijo casto na minha testa.— Está tudo bem? — Lucca procura saber. Apenas assinto.
LuccaQuando menino eu ganhei um carrinho de bombeiros que esguichava água de verdade. Cara, eu fiquei fascinado com aquilo e sem perceber, o meu pai me preparou para esse caminho. Eu brincava por horas a fio, fazendo o som da sirene com a minha própria boca no jardim da casa. Mas eu nunca poderia imaginar que o meu maior fascínio seria mesmo pelas chamas em si.Porra, elas dançam bem na minha frente. São devoradoras, intensas e implacáveis. E qualquer vacilo meu elas me tragariam sem hesitar. Acredito que é a sensação do desafio e a adrenalina que me faz querer encará-las, que me faz pensar que sou maior e mais forte do que elas. Não sei. Só sei que amo as confrontar e quando finalmente as venço, me sinto renovado.— Aqui Lucca! — Joe grita, apontando para o local onde o fluido queima com mais intensidade.Estamos dentro de uma destilaria. O incêndio provavelmente fora provocado por algum curto-circuito. Estamos praticamente dentro de um inferno vermelho aqui. A mangueira solta os ja
Lucca— Não acredito nisso! — Alice retruca frustrada, entrando no meu carro em seguida. — Esse é o quinto apartamento que visitamos e a resposta é sempre a mesma. — Ela põe o cinto de segurança e pega o jornal, fazendo mais um rabisco nele. — Mais que droga está acontecendo?Estamos a algumas horas fazendo algumas visitas aos apartamentos que ela mesma pesquisou nos classificados. Contudo, antes da visitá-los, ela ligou para os corretores marcando o horário para analisar o apartamento que estava disponível e por incrível que pareça, antes mesmo de ela chegar a olhá-lo, somos informados de que o apartamento não está mais disponível.— Eu não faço ideia — resmungo, ligando o carro para entrar no trânsito. — E se o seu pai estiver envolvido nisso? — Jogo um questionamento perigoso. Ela me encara extasiada.— Acha que o meu pai faria uma coisa dessas comigo? — Dou de ombros.— Ele é o único que não quer que você saia de casa — retruco evasivo. Ela parece ponderar as minhas palavras.— Dr
LuccaLuccaUm acidente?Mas como isso aconteceu?Me pergunto enquanto corro feito um louco pelo trânsito caótico do Rio, praticamente colado no carro de Daniel. E quando estaciono bruscamente no acostamento, encaro a poucos metros alguns cones do resgate no meio da pista, impedindo a circulação dos outros carros.Meu coração acelera violentamente e ando apressado para o local. Apavorado, levo minhas mãos a cabeça, quando vejo o seu carro destruído e virado de ponta cabeça. Alice está desacordada, suja de sangue e presa ferragens. O tal do Guto está do seu lado e em um estado bem pior do que ela. Tento aproximar-me, mas Joe me segura no lugar.— Me solta, Joe! — Faço força para me libertar. — Me deixe ir ajudá-la! — peço com desespero.— Voc&eci
AliceMomentos antes do acidente…Uma bela vista, uma sala só minha e uma deliciosa xícara de café com leite para acompanhar. Penso, apreciando o meu escritório e a sua calmaria. Na minha frente, a tela do computador mostra a imagem de Renan Backer. Um candidato exemplar que implantou mais uma causa a sua nobre campanha; crianças que sofrem abusos sexuais.Filho da puta, escroto do caralho! Xingo mentalmente e respiro fundo, bebericando mais um gole do meu café.Devo dizer que a atração pela curiosidade sempre foi algo forte em mim desde criança. E foi exatamente isso que me trouxe até aqui."Jornalista Alice Ávila, transmissora de informações." Era assim que eu me chamava quando brincava de intervistas com as minhas amigas. E agora essa coisa tornou-se bem real.Só não esperava
Alice— Ah, acho que estou perdidamente apaixonada! — Ela resfolega.— Você acha? — rio. — Você com certeza está perdidamente apaixonada e eu estou muito, muito feliz por vocês. E já tem ideia de quando será o casório? — Ela dá de ombros.— Ainda não. Mas o Léo já deixou bem claro que não quer demorar muito com isso.— Olha lá, hein? Não seja ingrata comigo. Eu quero ser a sua madrinha.— Ah, quanto a isso não tenha dúvidas. — Rimos. — Ok, vamos ao que interessa. Qual a emergência? — Ela pergunta, arrancando o meu sorriso feliz. No entanto, a encaro procurando um jeito de iniciar essa conversa.O que estou dizendo? Não existe uma maneira menos dolorosa de falar sobre esse assunto. Penso e vou direto ao ponto.— Renan Backer. — Mila
Alice— Perfeitamente entendidos— diz sério demais.— Ótimo! Agora, foco no que precisamos fazer!Observo Renan Becker tirar algumas fotos próximo de algumas faixas que carregam o tema da festa beneficente:“Diga não ao abuso sexual contra crianças e adolescentes!”Meu sangue ferve quando ele sorrir, fazendo um gesto do seu bordão.Como pode defender aquilo que ele mesmo pratica?— Olha, é o senador Mário Azevedo. Soube que ele está se reelegendo. — Guto comenta, tirando a minha atenção de cima do homem.— Vamos ver o que ele tem para dizer sobre o desvio do dinheiro público? — ralho um tanto sarcástica. — Verifique a câmera.— Relaxe, está tudo em ordem. Eu testei no caminho para cá.&mda