Yuki— Um doce por seus pensamentos… — Rina sentou à minha frente no gramado. — Quer dizer… um salgado, já que não gosta muito de doces, que péssima negociante eu sou.Respirei fundo e me deitei, tínhamos alguns minutos de intervalo, e aquela sombra estava ótima.— O que aconteceu? Você sumiu das minhas vistas hoje, não parece bem.— Nada aconteceu, Rina.— Te conheço Yuki, há dias que você está diferente, sei que tem algo acontecendo. Está gostando de alguém?— Não estou gostando de ninguém. — respondi ainda de olhos fechados.— Como não? Vive suspirando pelos cantos.— Eu não vivo suspirando!— Yuki, eu nunca vi você suspirar assim. Me conta vai, o que está acontecendo? Conheço esses sintomas aí, apenas confirme com sua própria boca.Abri os olhos e contive um suspiro. Eu queria confirmar outras coisas com minha boca e não era falando. Mas talvez não fizesse mal eu desabafar um pouco, quem sabe ela tivesse algum bom conselho.— Acho que estou apaixonado. — Minha voz saiu baixa, era
YukiDias depois…Aquela corrida estava no mínimo estranha, não por eu estar passos a frente de Alex, que vinha além de ofegante, distraído. Ele claramente não estava com preparo para correr, o corpo precisa de hábito, mesmo sendo jovem e alegar que fazia atividades físicas, ele estava fora de forma para uma simples corrida. Apesar disso, o que me incomodava não era esse fato e sim, a sua expressão. Alguma coisa aconteceu, ele estava calado e sério.Isso era incomum.Ele mandou uma mensagem ontem à noite, foi apenas uma frase: "posso te acompanhar na sua corrida de amanhã?". Eu respondi apenas um "ok", ele pareceu não querer prolongar o assunto, visualizou e não respondeu.Depois do dia da bebedeira nos afastamos um pouco, estávamos nos evitando e nossa ida juntos para a estação foi interrompida durante quase todos os dias daquela semana. Não paramos de nos falar totalmente, mas ficou um clima estranho e uma falta de assunto, o que me levou a pensar que Alex lembrava do que aconteceu
Yuki— Yuki, vamos tomar café? — Alex pediu assim que parei em frente a minha porta.— Acho melhor não, Kaito deve estar me esperando. — Era uma desculpa, eu só não queria ficar perto dele naquele momento — Pode chamar ele se quiser. Vamos? Quero que me ensine a fazer um bom café, o meu sempre fica horrível.Ponderei, eu não estava bem para ficar perto dele agora, mas se eu agisse estranho nada melhoraria entre nós. Eu sei que logo isso passaria, então talvez fosse melhor eu agir normalmente.— Tudo bem. Vou em casa tomar um banho e já volto.Sim, eu sou fraco.Eu sei disso, mas ele já tinha passado uma borracha no que aconteceu e eu deveria fazer o mesmo. Infelizmente, os sentimentos estão incontroláveis agora, no entanto, ainda tinha esperança que isso mudasse e eu parasse de gostar dele, sem precisar me afastar. Se eu não conseguisse, repensaria minhas atitudes.Quando cheguei ao seu apartamento, Alex já estava de banho tomado e vestido, como sempre, ele não fez cerimônia com a min
Alex— Quando você for fazer apenas uma xícara, é só diminuir essa quantidade e colocar a que te falei. Se preferir, pode usar o medidor ao invés da colher.— Tá bom.Que mentiroso eu era, não tinha ouvido quase nada da sua explicação, estava ocupado demais olhando o que não devia.Porra.Conversei com ele para tirar um peso dos ombros, mas ele ainda estava aqui, pesando. Aquele assunto estava entalado na minha garganta há dias, a ressaca física durou apenas um dia, mas a ressaca moral ainda hoje está alojada em mim. Aparentemente, estava resolvido, Yuki era um homem sensato e soube como agir na hora que eu estava fora do meu juízo perfeito, então eu só podia agradecê-lo por isso. Certo?Infelizmente, esse meu juízo ainda desaparecia muitas vezes, pois eu estava admirando-o como se ele fosse uma mulher. Na verdade, não exatamente como uma mulher e sim como homem mesmo.Que confuso… eu sempre gostei de mulher, nunca me senti assim por um homem e honestamente, estou um pouco velho par
Yuki— Bem vindo de volta. Onde você estava? — Kaito perguntou assim que entrei em casa. Ele apenas colocou parte do corpo para fora da porta da cozinha.— Com o Alex-san.— Hmm… O que está rolando? — Sua sobrancelha arqueou naquela sua desconfiança.— Nada.— Nada? Tem certeza?— Tenho.— Hmm…— E esse "hm"?— Sabe, eu venho reparando que vocês estão cada vez mais próximos. — Ele se escorou na lateral da porta enquanto enxugava suas mãos com um pano.— Sim, nós somos amigos. O que tem isso? — Passei por ele e entrei na sala mal iluminada por causa da cortina um pouco fechada.— O que tem é que você gosta dele e não é como amigo. — Kaito me seguiu com sua insistência.Kaito, como sempre, não poupava palavras, então eu me sentia nervoso como uma criança que os pais descobrem algo de errado, porque parecia mesmo que estava fazendo algo de errado.— Abre logo o jogo, Yuki, nem pense que vai escapar dessa conversa — Ele sentou no sofá e cruzou os braços.— Não sei o que quer que eu diga n
Yuki— Ai. Meu ouvido doeu agora! Essa última parte foi totalmente desnecessária, Yuki.— Entendeu agora? — perguntei, impaciente.— O que eu entendi é que você é um idiota. Fica aí pensando no que pode acontecer e se sujeitando a isso. É sempre melhor cortar o mal pela raiz, Yuki. Não é a primeira vez que o amigo gay se apaixona pelo amigo “hétero”. — Fez aspas com as mãos. — Você não entende…— E sabe do que mais? Se ele acabar com a amizade de vocês por isso é porque é um babaca, você não merece estar com pessoas assim.Kaito sempre foi duro comigo, nunca poupou-me na hora de dizer umas verdades que eu precisava ouvir. Ele tinha todo o direito, afinal, era minha família e eu sabia que ele queria apenas o meu bem, mas… não era fácil dizer isso para Alex.— Otouto, por enquanto eu não vou me meter nessa história — continuou. — Você já é adulto e tem que resolver seus problemas sozinho, mas se eu perceber que passou dos limites, vou intervir e chamar Alex para uma conversa séria. Você
AlexSuspirei ao parar de rir, foi tão bom. Yuki estava um pouco corado e desviou o olhar para o balcão, mas eu não tirei minha atenção dele.— Enfim, vamos receber um bônus por isso. Toda a equipe trabalhou muito.— Merecido.— Poucas vezes me senti tão satisfeito, eu já tive outras conquistas assim, mas essa pareceu diferente. Talvez devido à equipe. — Apertei as mãos sobre a mesa me sentindo inquieto de repente. — Estou feliz, apenas.Yuki olhou-me e ficamos assim por um momento.— Eu… — Que jovens animados, deve ter acontecido algo muito bom. — A senhorinha parou ao lado da mesa segurando uma bandeja.— Oh, sim, aconteceu — respondi gentilmente e ela se mostrou interessada. — Eu tive uma conquista no trabalho. — Ela acenou simpáticamente e organizou o pedido na mesa. — Meus parabéns, você parece muito enérgico, me lembra os velhos tempos. — A senhora ainda está ótima e ainda tem energia para trabalhar.— Sim, eu também acho, mas meu filho e neto querem me aposentar e me ver pel
Alex— Me diga mais uma vez, a razão de eu ter aceitado vir ao supermercado com você — Emi resmungou ao meu lado.— Vou pagar por sua companhia com cerveja.— Sim, é um ótimo pagamento, mesmo assim, acho que eu deveria ter ido para casa. — Você não costuma ir ao supermercado? — perguntei enquanto pegava uma cesta para mim e outra para ela.— Não, para isso existe a Internet. Pra que perder tempo vindo ao supermercado se é só pedir que eles entregam em casa.— Que graça tem isso? Pessoalmente é muito melhor.— Você tem uns pensamentos estranhos. — Não posso discordar…Era fim de expediente e consegui arrastar Emi para vir ao supermercado, precisava comprar alguns ingredientes para uma receita que Yuki iria me ensinar hoje. Não eram todos os dias, até porque todos nós tínhamos o que fazer e não fixamos nada, quando aparecia tempo, nós nos reuníamos na minha pequena cozinha. — Já falou para sua família que já sabe cozinhar um arroz típico japonês?— Não — respondi olhando as indicaçõ