Alex— Quando você for fazer apenas uma xícara, é só diminuir essa quantidade e colocar a que te falei. Se preferir, pode usar o medidor ao invés da colher.— Tá bom.Que mentiroso eu era, não tinha ouvido quase nada da sua explicação, estava ocupado demais olhando o que não devia.Porra.Conversei com ele para tirar um peso dos ombros, mas ele ainda estava aqui, pesando. Aquele assunto estava entalado na minha garganta há dias, a ressaca física durou apenas um dia, mas a ressaca moral ainda hoje está alojada em mim. Aparentemente, estava resolvido, Yuki era um homem sensato e soube como agir na hora que eu estava fora do meu juízo perfeito, então eu só podia agradecê-lo por isso. Certo?Infelizmente, esse meu juízo ainda desaparecia muitas vezes, pois eu estava admirando-o como se ele fosse uma mulher. Na verdade, não exatamente como uma mulher e sim como homem mesmo.Que confuso… eu sempre gostei de mulher, nunca me senti assim por um homem e honestamente, estou um pouco velho par
Yuki— Bem vindo de volta. Onde você estava? — Kaito perguntou assim que entrei em casa. Ele apenas colocou parte do corpo para fora da porta da cozinha.— Com o Alex-san.— Hmm… O que está rolando? — Sua sobrancelha arqueou naquela sua desconfiança.— Nada.— Nada? Tem certeza?— Tenho.— Hmm…— E esse "hm"?— Sabe, eu venho reparando que vocês estão cada vez mais próximos. — Ele se escorou na lateral da porta enquanto enxugava suas mãos com um pano.— Sim, nós somos amigos. O que tem isso? — Passei por ele e entrei na sala mal iluminada por causa da cortina um pouco fechada.— O que tem é que você gosta dele e não é como amigo. — Kaito me seguiu com sua insistência.Kaito, como sempre, não poupava palavras, então eu me sentia nervoso como uma criança que os pais descobrem algo de errado, porque parecia mesmo que estava fazendo algo de errado.— Abre logo o jogo, Yuki, nem pense que vai escapar dessa conversa — Ele sentou no sofá e cruzou os braços.— Não sei o que quer que eu diga n
Yuki— Ai. Meu ouvido doeu agora! Essa última parte foi totalmente desnecessária, Yuki.— Entendeu agora? — perguntei, impaciente.— O que eu entendi é que você é um idiota. Fica aí pensando no que pode acontecer e se sujeitando a isso. É sempre melhor cortar o mal pela raiz, Yuki. Não é a primeira vez que o amigo gay se apaixona pelo amigo “hétero”. — Fez aspas com as mãos. — Você não entende…— E sabe do que mais? Se ele acabar com a amizade de vocês por isso é porque é um babaca, você não merece estar com pessoas assim.Kaito sempre foi duro comigo, nunca poupou-me na hora de dizer umas verdades que eu precisava ouvir. Ele tinha todo o direito, afinal, era minha família e eu sabia que ele queria apenas o meu bem, mas… não era fácil dizer isso para Alex.— Otouto, por enquanto eu não vou me meter nessa história — continuou. — Você já é adulto e tem que resolver seus problemas sozinho, mas se eu perceber que passou dos limites, vou intervir e chamar Alex para uma conversa séria. Você
AlexSuspirei ao parar de rir, foi tão bom. Yuki estava um pouco corado e desviou o olhar para o balcão, mas eu não tirei minha atenção dele.— Enfim, vamos receber um bônus por isso. Toda a equipe trabalhou muito.— Merecido.— Poucas vezes me senti tão satisfeito, eu já tive outras conquistas assim, mas essa pareceu diferente. Talvez devido à equipe. — Apertei as mãos sobre a mesa me sentindo inquieto de repente. — Estou feliz, apenas.Yuki olhou-me e ficamos assim por um momento.— Eu… — Que jovens animados, deve ter acontecido algo muito bom. — A senhorinha parou ao lado da mesa segurando uma bandeja.— Oh, sim, aconteceu — respondi gentilmente e ela se mostrou interessada. — Eu tive uma conquista no trabalho. — Ela acenou simpáticamente e organizou o pedido na mesa. — Meus parabéns, você parece muito enérgico, me lembra os velhos tempos. — A senhora ainda está ótima e ainda tem energia para trabalhar.— Sim, eu também acho, mas meu filho e neto querem me aposentar e me ver pel
Alex— Me diga mais uma vez, a razão de eu ter aceitado vir ao supermercado com você — Emi resmungou ao meu lado.— Vou pagar por sua companhia com cerveja.— Sim, é um ótimo pagamento, mesmo assim, acho que eu deveria ter ido para casa. — Você não costuma ir ao supermercado? — perguntei enquanto pegava uma cesta para mim e outra para ela.— Não, para isso existe a Internet. Pra que perder tempo vindo ao supermercado se é só pedir que eles entregam em casa.— Que graça tem isso? Pessoalmente é muito melhor.— Você tem uns pensamentos estranhos. — Não posso discordar…Era fim de expediente e consegui arrastar Emi para vir ao supermercado, precisava comprar alguns ingredientes para uma receita que Yuki iria me ensinar hoje. Não eram todos os dias, até porque todos nós tínhamos o que fazer e não fixamos nada, quando aparecia tempo, nós nos reuníamos na minha pequena cozinha. — Já falou para sua família que já sabe cozinhar um arroz típico japonês?— Não — respondi olhando as indicaçõ
Alex— Alex, não esqueça do meu convite. Você vai, não é? — Emi perguntou assim que saímos do supermercado.— Claro que eu vou, não se preocupe.— Ótimo. Leve seu garoto, quero conhecê-lo. — Quase revirei os olhos, Emi sempre se referia ao Yuki desse jeito, não me incomodava de fato, mas eu sempre fazia cara de ofendido. — Ainda não falei com ele, não sei se vai querer ir.— Aproveita o jantar que terão hoje e fala.— Para de falar como se fossemos um casal! — Apesar da minha voz ter saído mais séria, era apenas uma brincadeira.— Mas vocês parecem um casal, Alex.— Claro que não e eu gosto de mulher! Yuki é só meu amigo.— Tudo bem, não precisa ficar nervoso.— Não estou nervoso.— Está sim! E não sei qual o problema em gostar de um homem.— Não tem problema! Eu só não gosto. — Já estava ficando constrangido com aquela conversa um pouco acalorada.— E se gostasse, Alex?Parei no meio do estacionamento, Emi me acompanhou e encarou-me.— Por que está me falando isso? — Mostrei minha i
Alex— Obrigado — respondi enquanto tirava os sapatos.— Muito cansado? Podemos deixar para outro dia. — Ele veio e pegou as sacolas da minha mão.— Não, vamos fazer hoje… é que, passei o dia pensando nessas guiozas — corrigi-me por achar a primeira parte um pouco… vulgar? Franzi o cenho, estou perdendo a noção, eu acho.— Tudo bem. Vou ajeitar as coisas para começarmos, se quiser tomar um banho antes.— Vou sim. — Olhei suas costas enquanto ele tirava as coisas da sacola. Depois de pegar uma roupa confortável, entrei no banheiro. A presença de Yuki me deixava confortável, já fazia parte da minha rotina, se não fosse aqui em casa, era pelo celular através de mensagens. Já não estranhava a frase: "bem vindo de volta", ao contrário, era bom de ouvir; era bom ter alguém perto, não me sentia tão sozinho agora. Gostava de chegar e ter Yuki na minha casa, esperando.Mas esse era um pensamento tão estranho.Joguei água no meu rosto, na esperança que ela levasse esses sentimentos, se fosse
Alex— Alex-san, estica mais, ela tem que ficar bem fina. — Jogou mais farinha em cima da massa que eu estava esticando com um pequeno rolo.A fala de Yuki era mansa, mas ele evitava fazer contatos visuais comigo e isso me incomodava. Eu sentia um clima tenso entre nós. Detestava ficar assim, principalmente com ele. Eu deveria fazer algo a respeito.Minhas mãos e roupas estavam muito enfarinhadas, não sei como me sujei tanto. De canto de olho verifiquei Yuki, ele estava limpo, então uma ideia boba veio como se fosse uma salvação para aquele clima estranho.— Ops! — exclamei falsamente quando joguei um punhado de farinha nele, ele passou um minuto de olhos fechados processando o ocorrido, metade do seu rosto e parte dos cabelos estavam brancos. Quando abriu os olhos, não me aguentei e ri.Ri não, gargalhei. Yuki me olhou sério e por um instante, achei que tinha exagerado, fiz um ato extremamente infantil, no entanto, Yuki esperou que minha risada morresse e me preparei para pedir desc