Capítulo 32 Mariana Bazzi Assim que Ezequiel passou pela porta com o terno alinhado e o olhar de aço, eu senti uma onda de pânico me atravessar o peito. Mas não foi ele o gatilho. Foi o outro. O homem encostado na parede, sorrindo como quem já sabia o final da história. O Consigliere. Yulssef. Aquele olhar... Eu conhecia aquele olhar. Não era lealdade. Era cálculo, era traição. Assim que a porta fechou, me virei para a doutora Samira com urgência na voz. — Ele vai matar o Don — soltei, com as mãos trêmulas. — O Consigliere. Ele tá planejando alguma coisa. Vai matar o Ezequiel. Samira franziu a testa, surpresa com minha afirmação. — Mariana, calma. Você está impressionada. O Yulssef tem sido cauteloso, tem feito tudo certo. Até agora, ele não representou nenhuma ameaça. — Não, doutora. Eu conheço esse tipo. Eu vi aquilo nos olhos dele. O mesmo brilho que vi no meu pai antes de me entregar. O mesmo silêncio antes da emboscada com os poloneses. É traição.
Capítulo 33 Mariana Bazzi O carro parecia um touro nervoso nas mãos da doutora Samira. A cada curva errada, a cada freada brusca, eu me agarrava ao painel como se ele fosse me salvar da morte. E ainda assim, nada disso era mais assustador do que o que nos esperava no final da estrada. — Eu nunca dirigi à noite nessa estrada — murmurou ela, estreitando os olhos para o asfalto irregular. — E, honestamente, esse farol está meio... oblíquo? — Você não devia dizer isso em voz alta — respondi entre os dentes. — E, por favor, se alguém olhar demais, diminui. Vai devagar, discreta. Lembra? — Eu sou clínica e terapeuta Mariana, não agente secreta — rebateu, mas logo soltou um suspiro tenso. — Mas... certo. Vou tentar — sorriu pra mim. As mãos dela tremiam no volante, mas não tanto quanto as minhas. Eu mantinha os olhos grudados no retrovisor, como se fosse capaz de detectar a ameaça antes que ela surgisse. O carro escorregava sutilmente na lama à beira da estrada, mas o farol,
Capítulo 34 Mariana Bazzi A sala caiu em um silêncio pesado. Até a música lá fora parecia abafada, como se o mundo esperasse a resposta dele tanto quanto eu. Ezequiel não se moveu. Não afastou as mulheres. Não soltou o copo. Nem se deu ao trabalho de se levantar. Apenas me encarou, olhos semicerrados, o tom arrastado de quem tinha bebido mais do que devia — ou fingia muito bem. — Você não tinha autorização pra sair — disse ele, a voz cortante, fria como gelo recém tirado do balde de uísque — É minha prisioneira, porra! Eu estremeci, mas não retrocedi. — Você tá falando sério? — Prefere voltar pra casa... — ele continuou, passando a mão distraidamente no braço da garota sentada à esquerda, que sorriu como uma idiota — ...ou quer que um dos meus homens te carregue de volta e te tranque no quarto até eu chegar? Meu coração desceu até o estômago. — Tenta — desafiei, sem nem saber de onde tirei força. — Mas vai precisar de mais que um deles pra conseguir. Minha
Capítulo 35 Ezequiel Costa Júnior Meu sangue fervia nas veias. Isso não pode ser possível... — Porque veio até aqui? Por que veio, porra!? — perguntei furioso enquanto arrastava Mariana até o portão de saída. — Me solta! Eu vou onde quiser! — ousou me provocar. A puxei e vi a porra da mulher que se diz "doutora" dela, atrás. Quando chegamos no estacionamento, eu fiquei enlouquecido. — Vá pra puta que pariu, Samira! No meu carro você não entra! — Mas e a Mariana? Como... — Volte como veio. Desaparece! — dei as costas a ela, bati com a porta e entrei no carro, pisando fundo, cantando pneu. Enquanto a imagem da tal médica sumia das minhas vistas e os malditos filhos da puta, paravam de olhar pra Mariana. O carro rugia enquanto eu pisava fundo no acelerador, como se a velocidade pudesse calar o caos que tomava conta da minha cabeça. Mariana sentada ao meu lado, tensa, respirando rápido, mas sem dizer uma palavra. Eu queria gritar. Queria explodir. Queria que
Capítulo 36 Ezequiel Costa Júnior Aquele sorrisinho maroto no canto da boca dela... foi como uma vitória. Mas uma vitória diferente. A porra da confiança que essa mulher me exige de um jeito que ninguém jamais ousou, me enlouquece. Encostei meu corpo de leve no dela, só pra sentir se ela recuava. Não recuou. A pele quente, os olhos desafiadores. Mariana é um misto de força e fragilidade que me desmonta por dentro. E ela sabe disso. — Isso parece interessante. O que quer, bonequinha? — perguntei de novo, com a voz mais baixa, quase num sussurro, como se nossas respirações tivessem criado uma bolha onde só nós dois existíamos. Ela me olhou firme, sem medo, sem hesitação. — Quero que pare de ouvir o Consigliere. Quero que me dê um voto de confiança. Você me quer, Ezequiel? Então cada vez que me ouvir, que confiar em mim... eu vou deixar você se aproximar. Vou me esforçar. Aquilo me pegou de surpresa. — E isso inclui o quê exatamente? — aproximei meu rosto do dela, a b
Capítulo 37 Ezequiel Costa Júnior Peguei o celular antes de entrar no carro. Mandei uma mensagem rápida para um dos meus homens mais afastados de Yulssef. Um cara de confiança, que eu sabia que não tinha rabo preso nem medo de contrariar ordens. "Preciso das imagens do bordel. Agora. Sem comentar com ninguém." Olhei de soslaio para Mariana, que já se ajeitava no banco do passageiro. Dei a partida. A estrada vazia se estendia na frente e no meio do caminho, não resisti. Estiquei a mão até a coxa dela, de leve, querendo senti-la. Mariana respirou fundo, meio trêmula. Quase imperceptível... mas eu percebi. Tirei a mão de lá pra depois não surtar, também não queria invadir o espaço dela, ainda mais depois do que ela me contou. Mas, pra minha surpresa, ela mesma pegou minha mão no ar, devagar, e colocou de volta sobre a dela, na coxa. Segurou firme. Como se dissesse que estava tudo bem. Caralho! Só se for pra ela. Como uma mulher não sabe que sentir a coxa é o início para
Capítulo 1 Mariana Bazzi — Nem acredito que é real... ainda hoje estarei livre desse lugar — sussurrei para mim mesma, com os olhos marejados ao encarar os papéis impressos e assinados sobre a mesa do escritório. Agarrei os documentos contra o peito como se minha vida dependesse disso — e, de certa forma, dependia. Saí quase saltitando entre as mulheres do cassino, com um sorriso no rosto, levando a pequena sacola com minhas poucas coisas. Guardei os papéis lá dentro com o cuidado de quem carrega um tesouro. Lágrimas escorriam, mas dessa vez eram de alívio. O presente de aniversário de vinte anos mais precioso que eu poderia receber: a minha liberdade. Hoje faz exatamente dez anos que fui vendida para esse cassino. Um acordo nojento de covardia, por quem deveria me proteger: meu pai. Mas não... hoje eu não queria pensar nisso. Hoje, eu voltaria pra casa. Veria o rosto da minha mãezinha de novo. Sentiria o abraço das minhas irmãs mais velhas. Subi as escadas desse infer
Capítulo 2 Mariana Bazzi Não tive tempo para pensar, um dos guardas apontou para o carro e desci uma pequena escada de cabeça erguida. Meu pai estava caído, gemendo de dor, incapacitado. Ele sentiu na pele um pouco da violência que sempre infligiu a mim e à minha mãe. Mas meu coração batia contra o peito. Entrei num dos veículos de luxo. Uma limusine. Meus olhos ainda estavam embaçados pelas lágrimas. Observei o outro lado da porta aberta enquanto os homens conversavam do lado de fora. Se eu descesse por ali e corresse na direção da escada me daria segundos extras. Abri com cuidado e discretamente movi meu corpo. Escorreguei pelo acento de couro, mas fui surpreendida pelo homem que me comprou. Imediatamente dei um salto pra trás, batendo as costas na porta contrária. O mesmo homem de óculos escuros entrou e sentou-se ao meu lado, cruzando as pernas com elegância. Me afastei como um animalzinho enjaulado. O olhar desse homem era diferente, talvez terno... Ou eu esta