— É o Túlio. — Karina. — Em vez de Karina, Túlio sorriu levemente, tomando a iniciativa de cumprimentá-la. — Quanto tempo, não é? — É, quanto tempo. Na verdade, não foi tanto tempo assim. Mas, nesse intervalo que parecia curto, Túlio, visivelmente, havia emagrecido ainda mais. Parecia que, a cada reencontro após o término, Túlio ficava mais magro. Karina não conseguia descrever muito bem a sensação que isso lhe causava; no fim, não era algo muito confortável. — Você veio até aqui por... — Túlio continuava com aquele sorriso suave, desviando o olhar para Amílcar. — Eu e o Dr. Amílcar somos amigos. Aproveitei para dar uma passadinha, mas já estou indo embora. Será? Claramente não era isso. Karina não o confrontou: — Então, posso te acompanhar até lá? — Claro. Os dois trocaram algumas palavras e saíram juntos. O olhar de Túlio se fixou na barriga dela: — Sua barriga está bem maior. — É. — Karina acariciou suavemente a barriga. — Depois do quarto mês, começo
O sol brilhava suavemente. Na quadra de basquete, os meninos se divertiam, suando com intensidade. — Túlio, força! — Túlio, força! Os colegas de time brincavam: — Todos vieram aqui para ver o Túlio! Túlio, com tantas meninas bonitas, você não sente nada? — Fala sério? O Túlio tem namorada! — Eu só estou jogando conversa fora, viu? A namorada do Túlio não está aqui mesmo? — Aquela ali, a menina de Direito, ela já te perseguiu por um bom tempo, né? O pai dela é um advogado famoso, e a condição financeira dela é bem melhor do que a da sua namorada... Túlio, você não está nem um pouco interessado? — É, não importa a época, escolher alguém com uma boa situação financeira é sempre uma escolha normal. — Chega! — Túlio finalmente não aguentou mais, jogou a toalha que usava para enxugar o suor e lançou um olhar fulminante para os colegas. — Depois do jogo, cada um vai para o seu lado! Hoje não tem jantar por minha conta! — O quê? Instantaneamente, os colegas começaram
A lâmina gelada cortou a veia, e o sangue começou a jorrar incessantemente. Túlio ficou paralisado, observando, o rosto cada vez mais pálido. No entanto, ele sentia uma estranha leveza. Quando o sangue secar, será que a libertação virá? Devagar, puxou uma cadeira e se sentou. Com o braço apoiado na pia, ficou ali, aguardando calmamente aquele momento chegar. A tal "libertação" nada mais era do que a morte. A morte era como um sono eterno, nada a temer. Seu corpo estava cada vez mais frio, e sua consciência, mais embaçada. Túlio ouviu, em um distante fundo, passos rápidos se aproximando, seguidos de alguém chamando seu nome freneticamente. — Túlio! Túlio, por favor! Era Júlia. Ela, abraçada ao filho, olhava para os pulsos de Túlio, agora desfigurados e ensanguentados, incapaz de sequer pronunciar uma palavra de tanto medo. As lágrimas deslizavam, incontroláveis, e logo inundaram seu rosto. Com as mãos trêmulas, pegou o celular, chorando: — É a emergência? Por f
— Como está? Médico? — Júlia correu até a frente, agitadíssima, perguntando com urgência.O médico, franzindo a testa, respondeu com a seriedade da situação:— A situação não é boa. A ferida foi suturada, mas os sinais vitais estão muito instáveis. Vocês são os pais, sabem o que pode ter causado isso?Zeca e Júlia se entreolharam, mergulhados em um silêncio desesperador.Vendo que não respondiam, o médico fez o que podia:— Vamos transferi-lo para o quarto, ver se a situação melhora um pouco.Após a transferência para o quarto, o médico observou e balançou a cabeça, impotente:— Os sinais vitais estão fracos demais. Parece que ele não tem muita vontade de lutar pela vida. Vocês, como pais, realmente não sabem o que pode ter causado isso? Pensem em algo, por favor.Não havia muito mais que ele pudesse dizer. A medicina, como tudo na vida, estava cheia de incertezas.— Tem... Tem... — Júlia murmurava para si mesma, agitada, até que, de repente, agarrou o braço do marido. — Tem algo que p
Essa situação assustou Karina. — O que você está fazendo? — Isso mesmo! Não apenas Karina, Wanessa, que já estava em uma idade mais avançada, ficou extremamente assustada e, além disso, visivelmente irritada. — Nossa senhora! Você chega aqui no meio da noite, chorando e se ajoelhando... Você está tentando assustar quem, exatamente? — Eu... — Júlia balançou a cabeça, apavorada. — Não era essa minha intenção! — Então, levanta logo! — Wanessa disse, com uma expressão de desdém. A essa hora da noite, só o que faltava! — Tá bom. — Zeca ajudou Júlia a se levantar, e ela aproveitou a oportunidade para segurar a mão de Karina. — Karina, não foi de propósito, eu estava muito desesperada. Não tinha mais o que fazer, você tem que ajudar o Túlio, você tem que salvar ele! O quê? Karina, confusa, perguntou: — O que aconteceu com o Túlio? — O Túlio... — Assim que mencionou o filho, as lágrimas começaram a cair dos olhos de Júlia, que soluçava enquanto dizia. — Ele tentou se ma
Karina se sentou à beira da cama e olhou para os dados no monitor. A situação estava realmente muito grave.— Túlio, eu estou aqui, sou eu, a Karina.Naturalmente, não obteve resposta.Karina hesitou por um longo momento, estendeu a mão e lentamente a aproximou da de Túlio. Então, com extrema suavidade, a segurou. Ela tentou falar novamente, mas sua voz se tornava cada vez mais embargada:— Nuvem, sou eu, a Karina, a Karina veio te ver, nuvem... — Ela fechou os olhos, e as lágrimas começaram a cair incessantemente. — Como você pôde ser tão tolo? Você estava mal e não me contou? Ficar sozinho, não deve ser terrível? Nuvem, não desista, não me deixe assim. Vai melhorar, tudo vai melhorar. Eu estou aqui com você.Karina continuou falando, sem parar. Ela não tinha depressão e não conseguia entender como ele poderia estar tão doente. O que ela poderia fazer para ajudá-lo? Como médica, Karina sabia muito bem que, embora Túlio estivesse inconsciente, ele podia ouvir.De repente, algo lhe oc
— Karina, eu cheguei em Princeton. Vou passar esses primeiros dias me acostumando com o ambiente. Só devo ir me apresentar daqui a dois dias... — Karina, hoje está nevando. O clima de Princeton é até mais instável do que o da Cidade J. Ontem eu ainda estava de camiseta, e hoje já está caindo neve... — Karina, hoje fui ao mercado e comprei alguns ingredientes. Voltei e cozinhei eu mesma. Já não aguentava mais comer hambúrguer e frango frito há quinze dias seguidos... — Karina, quando eu melhorar minha habilidade na cozinha, vou preparar pratos para você. Você será uma grande chefe de hospital, e vai estar muito ocupada. Eu vou cuidar de você e da nossa casa. Ao ler essas palavras, Karina sentiu uma dor forte nos olhos, e as lágrimas começaram a cair sem parar. O coração apertado, ela não conseguia conter o sofrimento. — Karina, ainda não recebi sua resposta. Você ainda está brava comigo? Eu fui embora às pressas, mas não foi por minha vontade, meus pais... — Karina, ainda
— Obrigado, você. — De nada. A enfermeira segurava o prontuário e saiu. Zeca suspirou profundamente: — A Karina ainda é a mais eficaz, não é? Embora eles não tivessem entrado na sala naquela noite, através da janela de vidro, podiam ver claramente o que acontecia lá dentro. Zeca não pôde deixar de suspirar: — Para ser sincero, a Karina e o Túlio, de fato, formam um casal perfeito. Ignorando o fato de que Karina tinha um irmão com autismo, e sem considerar a posição social das famílias, eles seriam o par ideal. — Mas falar disso agora não adianta mais... Nós os separamos, arruinamos a vida do nosso filho. Júlia ficou em silêncio por um longo tempo, até que, de repente, falou: — Eu ouvi dizer que o irmão da Karina não é apenas autista, ele parece ser um gênio, uma daquelas raras exceções dentro do espectro do autismo. Essa era uma informação que Zeca nunca soube. Ao ouvir isso, ele ficou surpreso: — Sério? — Sim, foi Túlio quem percebeu primeiro. — Júlia ass