A gravidez já estava entrando no segundo trimestre, e a barriga de Karina começava a crescer lentamente, pressionando a bexiga. Durante a noite, ela precisava se levantar várias vezes para ir ao banheiro.Ao acordar, percebeu que o espaço ao seu lado estava vazio."Ademir ainda não voltou?"Olhando para o relógio, já era uma da manhã.Karina franziu a testa. Ademir tinha muitos compromissos, mas, depois que se casaram, raramente ficava tão tarde fora de casa.Será que deveria ligar para saber onde ele estava?Ela pegou o celular, mas logo o deixou de lado.Se levantou, saiu do quarto e foi até o escritório. A porta do escritório estava destrancada, e uma luz suave escapava pela fresta.O escritório, além da limpeza, era um lugar onde ninguém mais podia entrar. A pessoa lá dentro só podia ser o Ademir."Tão tarde assim, o Ademir ainda não descansou? Ainda está ocupado?"Karina segurou a maçaneta da porta e a abriu lentamente.Sob a luz quente e branca, Ademir estava encostado no sofá, a
Com a promessa de Ademir, Karina afastou o sorriso e olhou ele nos olhos, respondendo de forma lenta e clara:— Vou ser franca. Quando aceitei casar por acordo, foi por dinheiro, para pagar o tratamento do Catarino. Depois, descobri que você era o namorado da Vitória, e por isso, não quis me divorciar. Fiz isso para me vingar dela, para me vingar da família dela. Essa foi a razão.Ademir olhou, atordoado, para os lábios de Karina, que se moviam lentamente ao falar, e sua mente ficou completamente em desordem.Era realmente para se vingar!Agora ele entendia tudo: quando Ademir foi esfaqueado e ficou internado, Karina havia dito que ele poderia amar quem quisesse! Agora tudo fazia sentido!Mas, e quanto ao que Ademir havia sentido antes, a maneira como Karina demonstrava gostar dele... Será que aquilo era real ou Karina apenas queria fazer Ademir acreditar nisso como parte de sua vingança?Ele não se atrevia a pensar mais fundo sobre isso.Apenas sorriu levemente, tentando esconder os
Já aconteceram coisas assim antes, e Karina realmente sentia medo. Além disso, o que seria esse aperto no peito? Uma sensação desconfortável. Com receio de desmaiar novamente, Karina voltou para o quarto e se deitou. Porém, ficou muito tempo sem conseguir dormir. Karina havia dito ao Ademir mais cedo que não havia se divorciado na época, como uma forma de vingança... No meio da escuridão, Karina pressionou o peito e murmurou baixinho: — Só que, no final, eu não consegui fazer isso. Karina se apaixonou, e por alguém que não deveria... Naquela noite, Ademir não voltou para o quarto. No dia seguinte, bem cedo, Karina estava na sala de jantar, mas Ademir ainda não havia aparecido. Provavelmente já havia ido para a empresa. Tão cedo assim? Após ter bebido tanto na noite anterior, como ele não sente dor de cabeça pela manhã? A resistência dele era realmente impressionante. Com esse pensamento, Karina suspirou levemente e pegou sua bolsa para sair. E, como sempre,
— É o Túlio. — Karina. — Em vez de Karina, Túlio sorriu levemente, tomando a iniciativa de cumprimentá-la. — Quanto tempo, não é? — É, quanto tempo. Na verdade, não foi tanto tempo assim. Mas, nesse intervalo que parecia curto, Túlio, visivelmente, havia emagrecido ainda mais. Parecia que, a cada reencontro após o término, Túlio ficava mais magro. Karina não conseguia descrever muito bem a sensação que isso lhe causava; no fim, não era algo muito confortável. — Você veio até aqui por... — Túlio continuava com aquele sorriso suave, desviando o olhar para Amílcar. — Eu e o Dr. Amílcar somos amigos. Aproveitei para dar uma passadinha, mas já estou indo embora. Será? Claramente não era isso. Karina não o confrontou: — Então, posso te acompanhar até lá? — Claro. Os dois trocaram algumas palavras e saíram juntos. O olhar de Túlio se fixou na barriga dela: — Sua barriga está bem maior. — É. — Karina acariciou suavemente a barriga. — Depois do quarto mês, começo
O sol brilhava suavemente. Na quadra de basquete, os meninos se divertiam, suando com intensidade. — Túlio, força! — Túlio, força! Os colegas de time brincavam: — Todos vieram aqui para ver o Túlio! Túlio, com tantas meninas bonitas, você não sente nada? — Fala sério? O Túlio tem namorada! — Eu só estou jogando conversa fora, viu? A namorada do Túlio não está aqui mesmo? — Aquela ali, a menina de Direito, ela já te perseguiu por um bom tempo, né? O pai dela é um advogado famoso, e a condição financeira dela é bem melhor do que a da sua namorada... Túlio, você não está nem um pouco interessado? — É, não importa a época, escolher alguém com uma boa situação financeira é sempre uma escolha normal. — Chega! — Túlio finalmente não aguentou mais, jogou a toalha que usava para enxugar o suor e lançou um olhar fulminante para os colegas. — Depois do jogo, cada um vai para o seu lado! Hoje não tem jantar por minha conta! — O quê? Instantaneamente, os colegas começaram
A lâmina gelada cortou a veia, e o sangue começou a jorrar incessantemente. Túlio ficou paralisado, observando, o rosto cada vez mais pálido. No entanto, ele sentia uma estranha leveza. Quando o sangue secar, será que a libertação virá? Devagar, puxou uma cadeira e se sentou. Com o braço apoiado na pia, ficou ali, aguardando calmamente aquele momento chegar. A tal "libertação" nada mais era do que a morte. A morte era como um sono eterno, nada a temer. Seu corpo estava cada vez mais frio, e sua consciência, mais embaçada. Túlio ouviu, em um distante fundo, passos rápidos se aproximando, seguidos de alguém chamando seu nome freneticamente. — Túlio! Túlio, por favor! Era Júlia. Ela, abraçada ao filho, olhava para os pulsos de Túlio, agora desfigurados e ensanguentados, incapaz de sequer pronunciar uma palavra de tanto medo. As lágrimas deslizavam, incontroláveis, e logo inundaram seu rosto. Com as mãos trêmulas, pegou o celular, chorando: — É a emergência? Por f
— Como está? Médico? — Júlia correu até a frente, agitadíssima, perguntando com urgência.O médico, franzindo a testa, respondeu com a seriedade da situação:— A situação não é boa. A ferida foi suturada, mas os sinais vitais estão muito instáveis. Vocês são os pais, sabem o que pode ter causado isso?Zeca e Júlia se entreolharam, mergulhados em um silêncio desesperador.Vendo que não respondiam, o médico fez o que podia:— Vamos transferi-lo para o quarto, ver se a situação melhora um pouco.Após a transferência para o quarto, o médico observou e balançou a cabeça, impotente:— Os sinais vitais estão fracos demais. Parece que ele não tem muita vontade de lutar pela vida. Vocês, como pais, realmente não sabem o que pode ter causado isso? Pensem em algo, por favor.Não havia muito mais que ele pudesse dizer. A medicina, como tudo na vida, estava cheia de incertezas.— Tem... Tem... — Júlia murmurava para si mesma, agitada, até que, de repente, agarrou o braço do marido. — Tem algo que p
Essa situação assustou Karina. — O que você está fazendo? — Isso mesmo! Não apenas Karina, Wanessa, que já estava em uma idade mais avançada, ficou extremamente assustada e, além disso, visivelmente irritada. — Nossa senhora! Você chega aqui no meio da noite, chorando e se ajoelhando... Você está tentando assustar quem, exatamente? — Eu... — Júlia balançou a cabeça, apavorada. — Não era essa minha intenção! — Então, levanta logo! — Wanessa disse, com uma expressão de desdém. A essa hora da noite, só o que faltava! — Tá bom. — Zeca ajudou Júlia a se levantar, e ela aproveitou a oportunidade para segurar a mão de Karina. — Karina, não foi de propósito, eu estava muito desesperada. Não tinha mais o que fazer, você tem que ajudar o Túlio, você tem que salvar ele! O quê? Karina, confusa, perguntou: — O que aconteceu com o Túlio? — O Túlio... — Assim que mencionou o filho, as lágrimas começaram a cair dos olhos de Júlia, que soluçava enquanto dizia. — Ele tentou se ma