"O quê? A camisa foi feita por ela?"Ademir estava incrédulo. Ao olhar novamente para a camisa, de repente, pareceu-lhe ainda mais bonita.— Você está dizendo que essa camisa foi costurada por você, ponto por ponto, com suas próprias mãos?— Sim. — Karina apertou os lábios.Heloísa, antes de falecer, era designer de moda e chegou a ter um ateliê em casa. Quando Karina mal conseguia andar, já segurava uma agulha e linha.Embora Heloísa tivesse partido cedo, Karina tinha uma base sólida desde pequena, e talvez tivesse herdado o talento da mãe. Fazer uma camisa não era nada complicado para ela.Ademir, apesar de aparentar calma, estava profundamente chocado por dentro. "Essa camisa foi realmente costurada por ela! Cada ponto saiu das mãos de Karina!"Karina observou cautelosamente a expressão de Ademir:— Na última vez que fiquei brava com você, me senti muito mal.Ela não podia confessar que se sentia culpada por ter usado o dinheiro dele, então inventou essa desculpa. Mas isso, sem dúvi
Enquanto visitava a exposição de arte, Vitória percebeu que o humor de Ademir não estava dos melhores.Ademir olhava para os quadros, mas o que realmente surgia diante de seus olhos era a imagem de Karina, sorrindo enquanto se virava.Karina realmente não se importava.— Ademir. — A mão que estava enlaçada no braço de Vitória se mexeu, trazendo Ademir de volta à realidade. Vitória o olhava com uma expressão um tanto magoada. — Você está pensando no trabalho? Ou é o ferimento que está te incomodando?— Não, não é isso.O que estava incomodando Ademir?Karina não se importava, e não era assim que deveria ser? Ela era apenas sua esposa no papel, não sua esposa de verdade.Na verdade, nem mesmo esse título de esposa duraria muito tempo.A mulher à sua frente era quem passaria o resto da vida ao seu lado.— Eu estava apenas concentrado nos quadros. — Ademir respondeu, quase automaticamente, e então, carinhoso, perguntou à namorada. — Você viu alguma pintura de que gostou? Se gostar, podemos
— Você vai me convidar para comer? — Karina perguntou, intrigada, sem indagar diretamente o motivo, mas esboçando um sorriso. — Porém, você não pode sair agora. Se você fugir para encontrar sua namorada, eu posso fingir que não vi nada, mas sou sua médica, não posso te acompanhar em um passeio secreto.— Você fala demais. — O queixo perfeitamente esculpido de Ademir se contraiu, enquanto o pomo-de-Adão subia e descia. — Só me diga se você vai ou não.— Vou sim.Diante da expressão sombria de Ademir, Karina não ousou recusar. Além disso, ela estava curiosa para saber por que Ademir a havia convidado para jantar.Ademir esboçou um sorriso de satisfação.— Então, nos encontraremos no quarto daqui a pouco....O quarto VIP de Ademir não era muito diferente de uma suíte presidencial.Havia uma sala de estar, uma sala de jantar e até uma cozinha.A cozinha não foi usada, pois Ademir pediu que a comida fosse entregue diretamente no quarto.Quando Karina chegou, o chef que havia trazido a comi
Vitória viu a mesa posta, com duas configurações de talheres, dispostas uma de frente para a outra.— Isto é... Tem mais alguém vindo? Ademir não sabia que ela viria, então, provavelmente, isso não foi preparado para ela.De repente, Ademir sentiu uma inexplicável inquietação no fundo do seu coração. Mas ainda assim disse:— Eu ia jantar com o Júlio, mas ele teve um imprevisto e não pôde vir.Vitória suspirou de alívio.Por um instante, ela quase suspeitou que Ademir estivesse com outra mulher, mas como isso seria possível? Afinal, era só o Júlio.Vitória puxou uma cadeira:— Jantar sozinho é tão chato, né? Vou te fazer companhia. — Ao ver que Ademir ainda estava parado, ela insistiu de forma manhosa. — Senta logo!Ademir concordou, mas parecia que seus pés estavam pesados demais para se mover.Ao se sentar, Vitória notou a pintura encostada na parede. Não era aquela a pintura que Ademir comprou na exposição hoje? Ele disse que era um presente para alguém, mas a deixou ali. Para que
Karina balançou o pulso, sinalizando para Ademir soltá-la.— Posso ir embora?— Para onde você vai? — Ademir ainda com um tom nada amigável.Dessa vez, Karina também se irritou, seu rosto se endureceu.— Por que você está brigando comigo? Você disse que ia me levar para jantar, mas acabou me trancando no banheiro por uma ou duas horas. Quem deveria estar zangada sou eu, não acha?Ademir ficou surpreso.Ele não tinha o que responder.Seu rosto ficou ainda mais sombrio.Ademir também não sabia por que estava agindo assim. Ademir nem entendia por que tinha enfiado Karina no banheiro.Simplesmente, no momento, ele fez isso por impulso.Agora, arrependimento, culpa e raiva se misturavam, resultando nessa confusão.Karina suspirou e esboçou um leve sorriso.— Estou brincando com você, não estou zangada. Naquela situação, consigo entender sua atitude. Claro que a namorada seria mais importante.As palavras de Karina estavam corretas.Mas, para ser exata, Karina era esposa de Ademir!Ainda ass
O silêncio dentro do elevador era sufocante. O rosto de Karina estava pálido, sem um traço de cor. Ao vê-la assim, o coração de Ademir estremeceu, e ele desejou dar um tapa em si mesmo. Como pôde, ao se irritar, começar a falar sem pensar?— Karina... — Ademir estava arrependido, mas não sabia como se desculpar. — Não era isso que eu queria dizer, eu só queria...Karina esboçou um leve sorriso e ergueu o queixo:— Você está certo. Alguém como eu não merece a sua preocupação. Por favor, não se incomode comigo daqui em diante.Assim que terminou de falar, o elevador parou. — Karina!Karina saiu correndo, e a mão de Ademir, estendida no ar, não conseguiu segurá-la. De repente, Ademir levantou o punho com força e o bateu contra a parede do elevador. A raiva o deixou tão furioso que ele mal conseguia respirar....Quando Karina foi fazer a ronda, Júlio informou que Ademir estava prestes a receber alta. Do ponto de vista médico, Karina sugeriu que ele ficasse mais dois dias em ob
Otávio já havia recobrado a consciência, e seus olhos envelhecidos estavam cheios de lágrimas.Havia tanto que queria dizer, mas as palavras não saíam.Karina compreendia tudo:— Vovô, o Ademir está bem. Eu já sei que ele se machucou, e tenho cuidado dele todo esse tempo. Você ainda não confia em mim?Otávio piscou, aliviando um pouco sua expressão.Ademir se aproximou rapidamente, se inclinando para segurar a mão do avô.— Vovô, eu estou aqui. Olhe para mim, estou bem, não estou?Otávio se esforçava para falar.— Vovô, o que você quer?Otávio não conseguia dizer nada, apenas juntou, com dificuldade, a mão de Karina com a de Ademir.O significado era claro.Otávio queria que eles ficassem bem juntos.Ademir sentiu um nó na garganta, como se uma pedra estivesse ali presa:— Vovô, pode ficar tranquilo, estamos bem.O corpo de Otávio estava muito fraco, e ao ouvir as palavras de Ademir, fechou os olhos em paz.— Vamos deixar o vovô descansar. — Disse Karina ao sair do quarto. — Não se pre
Karina cobriu a boca, balançando a cabeça e as mãos. Como poderia vomitar na mão dele?— Rápido! — Ademir estava muito aflito.Ele não se afastou, e, no final, Karina não conseguiu segurar e vomitou, de fato, na mão dele, sujando também bastante o casaco.— Desculpa. — Karina parecia muito fraca, seu rosto pequeno e pálido.— Não tem problema. — Ademir tirou o casaco com tranquilidade, embrulhou ele e jogou no lixo. — Vou ao banheiro.Ademir se levantou e saiu.Quando voltou, a camisa estava molhada. Karina lançou um olhar para Ademir, percebendo que ele não estava usando a camisa que ela havia feito.Karina esboçou um sorriso, mas não ficou exatamente desapontada.— Como você está se sentindo agora? — Ademir ainda estava agachado à sua frente, olhando para seus cílios espessos, com uma voz baixa e suave. — Você já estava com fome, e agora, depois de vomitar, o estômago deve estar ainda mais vazio. Não consegue comer essas coisas, há algo mais que gostaria de comer?Karina não responde