Ao deixar o hospital, Ademir se apressou em retornar para Berlengas. Durante todo o caminho, ele não disse uma palavra. Mas Bruno podia sentir que Ademir estava imensamente triste... Ademir guardava uma dor que não conseguia expressar. Fechou os olhos, e em sua mente surgiram lembranças da infância, quando seu pai o abandonou.Ele se lembrava do pai partindo de carro, deixando a Mansão da família Barbosa para trás. Na época, ainda criança, ele correu atrás, chorando e gritando:— Papai, por favor, não vá!Mas o pai não olhou para trás e foi embora sem hesitar. Logo depois, sua mãe também se foi... Mais tarde, Ademir tentou encontrar o pai, mas, em um inverno frio, o pai mandou que os empregados o expulsassem, se recusando a vê-lo. Embora fossem de sangue, o pai lhe demonstrava uma frieza que superava até a de um estranho.Era uma frieza que parecia congelar todo o sangue em suas veias.Depois de tantos anos, Ademir sentia novamente essa mesma sensação. Frio, um frio intenso. El
No dia seguinte, Karina acordou tarde. O sol já havia nascido, e ao olhar para o relógio, viu que já eram dez horas. Embora tivesse dormido bastante na noite anterior, como poderia ter dormido tanto assim? Se apressou a se lavar e arrumar, e ao sair, viu Ademir conversando com Júlio sobre alguns assuntos. Ao vê-la, ele apontou para a mesa de café e disse, de forma natural: — Vá comer alguma coisa, me espere um pouco, logo vai terminar. — Tá bom. — Karina respondeu com um aceno de cabeça, se sentindo um pouco envergonhada. Apesar de ter acordado tarde, ele ainda disse para que ela o esperasse. Quando terminou de comer, Ademir havia finalizado suas tarefas e, ao se aproximar, franziu a testa com um sorriso. — A Wanessa disse que você tem comido mais ultimamente, parece que é verdade. Comendo bem ontem à noite e hoje de manhã. Karina, com um pedaço de pão doce recheado a vapor na boca, perguntou: — Quando voltamos? Podemos ir agora? — Não temos pressa. — Ademir lhe ofereceu um
— Você está com sede? — Ademir imediatamente estendeu o copo térmico para ela. — Beba um pouco de água.— Obrigada. — Karina pegou o copo e, com as mãos, abriu a tampa, bebendo pequenos goles.— Já estamos chegando na cidade. Para onde te levo? — Preciso ir ao Hospital J.Ademir franziu a testa e perguntou:— Você ainda vai trabalhar hoje?— Não. — Karina balançou a cabeça. — Só preciso entregar a documentação que já está pronta.— Entendi. — Ademir relaxou um pouco e pediu ao motorista que os levasse direto para o Hospital J, deixando ela na ala cirúrgica.— Vou te esperar aqui. — Tá bom. Karina subiu, organizou os documentos e logo terminou. Quando desceu de elevador, ao sair, se deparou com Ademir esperando por ela à porta. Ao redor dele, um pequeno grupo de pessoas estava quieto, observando ele com atenção. Ele tinha uma presença impressionante, com um charme que fazia a maioria das pessoas prenderem a respiração. Era do tipo de pessoa que raramente se via na vida real.Até alg
Depois de deixar Karina e Patrícia na loja de vestidos de noiva, Ademir teve que ir embora. Ele estava muito ocupado. Principalmente nos últimos tempos, pois o casamento e muitos compromissos de trabalho estavam se sobrepondo, exigindo que ele cumprisse tudo com antecedência. A gerente da loja levou Patrícia para medir o tamanho do vestido. Ademir ficou parado, olhando para Karina, com uma das mãos no bolso da calça do terno, e disse: — E quanto ao Catarino, você vai acompanhá-lo até lá ou prefere que alguém vá buscá-lo? O menino só precisa de um traje formal, o que basta é medir o tamanho. Karina ficou parada, surpresa. Ele ainda planejava que Catarino participasse do casamento? Percebendo a expressão dela, com as sobrancelhas franzidas, Ademir continuou: — Eu vou mandar alguém acompanhar ele durante todo o evento. O Catarino é bem comportado, não vai dar trabalho. Como poderia faltar, sendo o único irmão da noiva? Ele era a única família de Karina. — Além disso,
Ademir se sentiu profundamente irritado. Ele havia organizado para que ela tivesse cuidados médicos adequados, e ainda assim, lá estava ela. Como podiam ser tão irresponsáveis? Ele olhou para Nadia com um olhar acusador e disse: — Como você está cuidando dela? Não sabia que ela ainda estava com a saúde frágil? — Sr. Ademir... Vitória, com os olhos marejados, tentou interromper. — Não tem a ver com ela. — Ela falou suavemente. — Fui eu quem quis sair. Quando tenho algo para fazer, não fico pensando nas coisas erradas. Essas palavras fizeram Ademir sentir um peso enorme no coração. Ele se sentiu culpado por tudo o que havia acontecido com ela. Ele assentiu levemente e falou: — Então, tudo bem, mas não se esforce demais. — Pode deixar, eu sei. — Você vai embora agora? Vitória sorriu levemente. — Sim, já estou indo. Como o destino as levava na mesma direção, seguiram juntas. ... Na porta da loja de vestidos. — Todo mundo na cidade sabe o quanto Ademir gosta
Amante?Karina deu uma risada fria, olhando para Ademir. — Ouviu? Por causa dessa frase, Ademir finalmente se voltou para as duas garotas. — Vocês derramaram oxalato, isso é um crime. Eu posso chamar a polícia e prender vocês, entendem? As duas garotas ficaram atordoadas, claramente um pouco assustadas. No entanto, ainda tentaram manter a pose de quem não tinha medo. Endireitaram as costas e disseram: — Você está protegendo essa amante. Já pensou no que a Vitória vai sentir? Ela vai ficar muito triste, sabia? Ela está aqui, olha! No começo, não havia muita gente na frente da loja, mas, com toda a confusão e a presença de uma celebridade, aos poucos as pessoas começaram a parar para ouvir e se aproximaram. Ademir estava sem paciência para conversar com elas, pegou o celular e se preparou para chamar a polícia. Agora as duas garotas ficaram em pânico. Olharam para Vitória, pedindo ajuda: — Vitória... Vitória franziu a testa, com um olhar que parecia mostrar que
— Está bem, você diz. — Ele queria ouvir a explicação dela com seriedade.— Acontece que, depois de pensar um pouco, decidi que não vou deixar o Catarino participar do casamento. Ela falou com calma, mas no coração de Ademir, nada estava tranquilo!Ele riu com raiva e perguntou:— Por quê?— Porque vai ser um incômodo. — Karina estava em frente ao espelho, sem olhar para Ademir.— Incômodo? — Ademir riu de maneira zombeteira. — Eu não te disse que faria os arranjos? Não vai te incomodar, você não vai ter que se preocupar com nada. Depois de falar isso, Ademir fixou o olhar em Karina, esperando que ela respondesse.Karina ficou em silêncio por um momento, mas então respondeu:— Eu já tomei minha decisão.Ela nem sequer ofereceu um motivo.Ela nem sequer se deu ao trabalho de enganá-lo.Ademir ficou tão irritado que sentiu uma dor de cabeça, então estendeu a mão e segurou a mão dela, que estava passando o creme, dizendo:— Seu único parente, seu irmão, não vai participar do casamento.
Quanto mais pensava sobre o que aconteceu, mais irritada Karina ficava.— Eu prometi ao avô que casaria com você, mas não vendi minha vida inteira para você. Eu tenho minha dignidade e meus próprios pensamentos, e sempre irei preservá-los. Depois de dizer isso, Karina não olhou mais para ele.Se levantou e saiu do quarto, indo em direção ao escritório.Ademir estava extremamente irritado. Ele ergueu a mão, puxou os botões da camisa, e soltou o nó da gravata. Mas, ainda assim, sentia como se estivesse sufocando....Já era tarde, quase onze da noite.Embora fosse tarde, Karina ainda não havia voltado para o quarto. Ela estava no escritório.Ademir esfregou as têmporas, exasperado. Depois de um tempo, decidiu ir até lá.Ele parou em frente à porta e, com um suspiro, bateu levemente.Embora aquele fosse originalmente o seu escritório, ultimamente Karina o usava mais do que ele.— Entre. Ademir abriu a porta e viu Karina com a cabeça baixa, lendo, sem nem sequer olhar para ele.Por causa