Ademir ficou furioso. O encontro mal tinha começado, e aquele garçom já havia estragado tudo. Ele estava prestes a perder a paciência quando Karina o interrompeu: — Deixa para lá, não foi nada sério. Estou com fome, vamos pedir logo. — Você realmente não está chateada? — Ademir perguntou, desconfiado. Afinal, o ciúme era uma característica natural das mulheres, pensou ele. — Eu já vim aqui com a Vitória antes. — Já que o assunto havia surgido, Ademir resolveu explicar de uma vez. — Mas naquela época, nós ainda éramos... Ele parou no meio da frase, incapaz de continuar. — Você não precisa se explicar. — Karina, que estava claramente desconfortável pela situação, falou de forma tranquila. — Eu entendo. Ela parecia realmente calma, sem qualquer sinal de raiva. Mas o que exatamente ela entendia? Mesmo sem exigir explicações, Ademir não conseguia se sentir aliviado. Pelo contrário, ficou ainda mais incomodado com o que sentia ser uma estranha indiferença da parte dela.
Não demorou muito, e um trovão ecoou no céu. De repente, começou a cair uma chuva forte. Karina franziu as sobrancelhas e o apressou: — Vá logo! A chuva está forte, vai ficar ainda mais difícil de procurar. Ela não estava brava; pelo contrário, estava pensando no bem dele. Por um momento, Ademir não sabia se deveria ficar feliz ou triste. Ele se levantou, com as sobrancelhas apertadas, e disse: — Então, vou indo. Coma devagar, não tenha pressa. Comer rápido faz mal. — Eu sei. — Karina assentiu sorrindo. Ademir ainda não estava tranquilo: — Além disso, o Enzo e o Bruno vão te levar para casa. Ela sabia que os dois irmãos estavam sempre ao lado de Ademir para protegê-lo. Mesmo que ele dirigisse, eles o seguiriam discretamente logo atrás. Karina, mordendo um pedaço de costeleta de cordeiro, não conseguiu falar, apenas balançou a cabeça repetidamente. — Quando chegar em casa, me ligue. — Tá bom... — Karina não conseguiu segurar o riso. — Vá logo, não sou mais
Depois de tomar banho, Karina saiu do banheiro secando os cabelos e pegou o celular. Viu que havia algumas chamadas não atendidas, todas de Ademir. Ela franziu as sobrancelhas. "Será que Ademir precisava de algo? Devo ligar de volta? Ou talvez não deva... Ele não estava ocupado procurando a Vitória?"Se Ademir precisasse de algo, certamente voltaria a ligar para Karina.Ela esperou um pouco, mas Ademir não ligou novamente. Sem dar muita importância àquilo, Karina secou o cabelo, se deitou na cama e logo adormeceu. Talvez fosse por causa da gravidez, mas agora Karina tinha dormido muito bem. No entanto, foi acordada pelo toque insistente do celular. Ainda com o humor irritado de quem acabou de despertar, atendeu com uma voz nada amigável:— Quem está ligando a essa hora?— Karina! Sou eu, Júlio..."O quê?"Imediatamente, Karina sentiu que o sono desaparecera por completo. Júlio não ligaria para ela sem um bom motivo. Como esperado, antes mesmo que Karina pudesse perguntar o que havi
— Certo. — Karina suspirou longamente. — Que bom, então. Esse acidente do Ademir, de certa forma, valeu a pena.Essas palavras soaram estranhas, fazendo Júlio franzir a testa e dizer:— Karina, não pense dessa forma.— O que estou pensando? — Karina não tinha outra intenção. — Eu apenas disse a verdade, não disse?Uma frase que deixou Júlio sem saber o que responder. No entanto, ele sentia vagamente que Ademir não gostaria que Karina pensasse assim. Porém, Júlio não era bom com as palavras. Melhor não dizer nada imprudente.— Karina. — Júlio quis mudar de assunto. — Você está com fome? Vou buscar algo para você comer.Karina sorriu em agradecimento:— Está bem, obrigada.O café da manhã havia sido trazido por Bruno. Todos estavam preocupados com Ademir e não tinham muito apetite. Somente Karina, comendo seriamente seu pão doce recheado.No canto da sala, Bruno comentou em voz baixa:— A Karina parece que não está nem um pouco preocupada com Ademir.Júlio lançou-lhe um olhar repro
Quando os fios de cabelo roçaram em seu rosto, a mulher adormecida despertou. Ela levantou a cabeça, revelando um rosto claro e limpo. Era Vitória.Ademir franziu o cenho, sentindo uma profunda decepção. — Ademir. — Vitória, ao vê-lo acordado, se mostrou radiante. — Você acordou? Como está se sentindo?— Estou bem. Mas você...Vitória tinha alguns curativos no rosto, e seu braço direito estava envolto em uma faixa, com um pouco de sangue ainda escorrendo. Preocupado, Ademir perguntou:— Você está muito machucada?— Não, não é nada sério. — Vitória sorriu, ajeitando os cabelos atrás da orelha. — São só ferimentos leves.Se lembrando do desaparecimento de Vitória, Ademir não pôde deixar de querer esclarecer as coisas: — A Nadia disse que você tinha sumido. O que aconteceu?— Ah, isso... — Vitória parecia um pouco envergonhada, sorrindo de forma desconcertada. — A Nadia exagerou. Eu só estava me sentindo mal e, depois do trabalho, queria caminhar sozinha. Mas acabei indo para um
Essas palavras lembraram Ademir. Era verdade, Karina ainda estava grávida e não podia suportar esse tipo de sofrimento. De repente, ele se sentiu um pouco mais aliviado. — Isso mesmo. — Júlio, percebendo a situação, rapidamente acrescentou. — A Karina recebeu a notícia ontem à noite e veio imediatamente. Ela está muito preocupada com você, Ademir. Eu que pedi para ela voltar e descansar. Acho que daqui a pouco ela deve chegar.— Sim. — Vitória sorriu dolorosamente.— Certo. — Ademir relaxou a expressão, mas não pôde evitar perguntar. — Que horas são agora?Júlio olhou para o relógio; já era quase seis horas. Karina tinha saído há um dia...— Talvez... — Sugeriu Júlio. — Eu deveria ligar para a Karina e perguntar.Enquanto falava, Júlio já estava pegando o telefone.— Não precisa. — Ademir o interrompeu. — Não apresse ela.O mais importante era que ligar para ela vir não seria o mesmo que ela vir por vontade própria, não era? Ele queria ver, se não a apressasse, em quanto tempo
Por que Ademir estava bravo de novo? Karina pensou por um momento, talvez fosse porque ela havia chegado na hora errada. Porque, assim que ela chegou, a Vitória foi embora. Se ele estava de mau humor, ela conseguia entender. — Desculpa. — Karina pediu desculpas com sinceridade e perguntou suavemente. — Você quer comer algo agora? Perguntar isso ainda era necessário? Ademir estava quase explodindo de raiva por causa daquela mulher! Desde a noite anterior até agora, quanto tempo ele já estava com fome? Ademir, irritado, virou o rosto e disse: — Eu não vou comer, pode me deixar morrer de fome! Karina ficou sem palavras. Pelo visto, Ademir não estava gravemente ferido, mas parecia sem forças. Ela estendeu a mão, abriu a bolsa térmica e lentamente tirou as marmitas e os talheres. — Agora você só pode comer algo leve, a Wanessa fez um pouco de mingau para você. Karina colocou o mingau em uma tigela e a ofereceu para Ademir. Ele deu uma olhada, mas não se mexeu. Ka
O rosto de Ademir expressava uma raiva intensa, difícil de controlar. — Karina, você está se preparando para ir embora? Karina respondeu: — Sim, por quê? Ademir sentiu uma dor no peito de tanta raiva e soltou uma risada fria: — O marido sofre um acidente e está no hospital. Não é dever da esposa ficar ao lado dele, cuidando dele? Karina ficou em silêncio. Na teoria, ele não estava errado. Mas isso valia para casais normais, o que eles claramente não eram. Ela sentiu uma vontade enorme de lembrá-lo que quem deveria estar ao lado dele, cuidando dele, não era ela. Era Vitória. Ele sofreu o acidente por causa de Vitória, então era justo que ela ficasse ao seu lado! Seu marido, em plena madrugada, saiu de casa para encontrar a mulher que amava e acabou se envolvendo em um acidente. E, no final, quem tinha que cuidar dele era ela? Karina abriu a boca, mas no fim, não disse nada. Ricos sempre faziam o que bem entendiam! Ela se rendeu e acenou com a cabeça: — Se