Uma vez que o pensamento surgiu, começou a se espalhar pela mente de Guilherme como uma videira desenfreada.Ele não pôde evitar se lembrar de Tatiana naquela cama, recém-desperta de um ferimento grave.Como um filhote de pássaro abrindo os olhos pela primeira vez, ela procurava sua mãe de forma confusa e inocente, confiando plenamente em qualquer um que lhe mostrasse um pouco de gentileza.Guilherme sentiu uma súbita nostalgia daquela Tatiana recém-desperta.Ele havia ouvido falar de uma cirurgia estrangeira chamada lobotomia frontal, que poderia apagar as memórias de uma pessoa. Mas o resultado poderia ser que a pessoa se tornasse uma idiota, não apenas perdendo as memórias, mas talvez também as emoções mais básicas.Guilherme imaginou essa cena.Se no final ele conseguisse apenas um boneco idêntico a Tatiana, não valeria a pena.Decidiu deixar as coisas como estavam.Embora às vezes, devido às palavras dos irmãos da família Orsi, ela tivesse vontade de ir embora, ele sempre encontra
Guilherme não esperava que Tatiana dissesse aquilo. Seus movimentos pararam bruscamente, permanecendo de joelhos com as costas retas. Seu rosto rígido e frio escondia todas as emoções, tornando impossível discernir qualquer coisa.Tatiana levantou a mão e, de repente, ousou acariciar sua cabeça, e um sorriso surgiu em seu belo rosto.- Vê? Nem você consegue dar uma resposta, como quer que eu te dê uma?- E se eu disser... - A voz de Guilherme estava rouca enquanto ele segurava a mão fria dela, seu olhar era profundo e sério, quase como uma súplica. - E se eu disser que nunca mais vou mentir para você? Tati, pode esquecer o que aconteceu nos últimos dois dias?Como se nada tivesse acontecido. Eles ainda poderiam ser amantes vivendo uma vida tranquila e confortável, como naquele mês na pequena cidade.Mas os acontecimentos já tinham deixado marcas profundas e irreversíveis. Como ela poderia simplesmente esquecer?Tatiana olhou para o rosto de Guilherme e sentiu uma onda de tristeza que
Guilherme só percebeu que Tatiana estava com febre alta na manhã seguinte.Os funcionários do hotel levaram o café da manhã, e ele pediu que levassem a bandeja para dentro enquanto se dirigia para bater na porta do quarto principal. Bateu algumas vezes, mas não obteve resposta.Preocupado, ele franziu a testa e, finalmente, decidiu abrir a porta.O quarto estava escuro, e o leve aroma que agora pairava no ar era diferente do cheiro de remédios da noite anterior. Guilherme deu alguns passos rápidos até a cama, notando que o copo de água morna que ele haiva levado na noite anterior ainda estava ali, pela metade.Ao olhar para a moça deitada na cama, ele viu que ela não parecia ter percebido sua presença, parecia estar em um sono profundo.Ao confirmar que ela estava ali, Guilherme finalmente relaxou um pouco.- Tati?Ele tentou sorrir e a chamar suavemente.Como de costume, a jovem na cama não respondeu.Guilherme suspirou, um tanto frustrado. Embora fosse importante descansar quando s
Após Severino deixar o quarto principal, Guilherme também não ousou mais procrastinar e começou a arrumar suas coisas. Roupas simples para troca, itens de higiene pessoal, entre outros.Em regra, levar essas coisas embora, não era sua responsabilidade. Ele apenas as arrumou e deixou de lado para que os funcionários do hotel as enviassem mais tarde. Quanto a ele mesmo, seu único cuidado era com Tatiana.Depois de organizar tudo, pegou um cobertor fino, enrolou ela cuidadosamente e, em seguida, a tomou nos braços para sair. O hospital estava bastante movimentado na manhã, com várias pessoas trazendo marmitas para os familiares internados, o que deixava o tempo de espera pelo elevador ainda mais angustiante. Guilherme, naturalmente, não precisava se misturar com essas pessoas e subir em meio à multidão. A Cidade CH já tinha sua própria equipe no local e, sendo um hospital particular, priorizava clientes abonados. No caminho, ele já havia providenciado a internação em um quarto VIP.Seve
- Dr. Severino, você está dizendo que Tati de repente teve febre e a doença piorou por uma questão de probabilidade? Foi só uma coincidência que os remédios de ontem à noite não surtiram efeito? – Questionou Guilherme. Guilherme se recostou na cadeira, com uma postura claramente preguiçosa, mas que, paradoxalmente, transmitia uma forte sensação de pressão.Severino quase imediatamente sentiu vontade de contar toda a verdade ao cruzar olhares com ele. Felizmente, manteve um pouco de lucidez, talvez devido ao tempo que passaram juntos no último mês, o que o fez acreditar que, no fundo, Guilherme possuía um lado mais ameno. Mesmo que fosse apenas uma fachada, isso deu a Severino um certo alívio.Ele se esforçou para controlar todas as emoções.- De fato, não há outros problemas. – Afirmou Severino. - Se não há problemas, por que está tão nervoso, Dr. Severino? – Retrucou Guilherme com seus olhos negros e penetrantes ainda fixos em Severino.Severino abaixou a cabeça, sem ousar encarar
Tatiana despertou lentamente durante a tarde. Durante esse tempo, ela não estava completamente inconsciente, por exemplo, quando a enfermeira trocava a agulha ou quando Guilherme falava suavemente ao seu lado, ela tinha uma vaga lembrança. No entanto, sua mente estava nebulosa, ouvindo apenas ruídos sutis e sem entender claramente o que era dito.Depois do almoço, ela acordou com a cabeça pesada e o estômago roncando de fome. Incapaz de suportar mais, finalmente abriu os olhos completamente.Ao abrir os olhos e virar a cabeça, viu imediatamente Guilherme, sentado em uma cadeira ao lado da cama, descansando com os olhos fechados e a cabeça apoiada na mão. O corpo alto de Guilherme estava inclinado de forma desconfortável na cadeira, parecendo incrivelmente desajeitado. Tatiana mal podia acreditar que o jovem mestre escolheu descansar naquela cadeira dura ao invés de no sofá próximo. Se fosse por pouco tempo, tudo bem, mas ele parecia estar ali há um bom tempo, numa posição que certam
Guilherme, no entanto, parecia achar tudo natural.- Entrei para cuidar de você. – Respondeu Guilherme. Tatiana ficou sem palavras. Só de pensar em alguém a observando enquanto escovava os dentes, já se sentia completamente desconfortável. Além disso, ela não ia só escovar os dentes. Depois de dormir a maior parte do dia, sentia que tinha suado bastante e planejava se limpar com uma toalha. Não podia deixar ele ali.Imediatamente, Tatiana ficou um pouco irritada.- Não precisa, saia já! – Ordenou Tatiana. Guilherme, claro, não iria ouvir ela. Com tranquilidade, ele se aproximou da pia, pegou a escova de dentes elétrica dela, colocou a pasta de dentes e até encheu o copo com água. Quanto ao pedido para que ele saísse, ele simplesmente fingiu não ouvir.- Tem mais alguma coisa que eu possa fazer por você? – Perguntou Guilherme. Guilherme inclinou a cabeça e olhou para Tatiana, com um olhar e uma expressão que diziam claramente que, se ela precisasse, ele até escovaria os dentes par
Tatiana não conseguia encontrar a palavra certa para descrever. Como dizer? Era como a sensação de ter acabado de sair do banho. Lá dentro, envolvida pela água morna, e ao sair, se sentia instantaneamente refrescada. Como caminhar pela rua em um dia de verão escaldante e de repente entrar em um shopping com ar-condicionado e tomar uma bebida gelada. Ela estava irritada com Guilherme por tanto tempo, que a súbita gentileza dele foi um tanto inesperada. Mas aquela sensação foi momentânea, logo esquecida, e quando encarada diretamente e obrigada a expressar em palavras, Tatiana realmente não sabia o que dizer. Ela manteve o olhar fixo em Guilherme por um momento, e finalmente deixou escapar uma frase.- Você é tão lindo. – Disse Tatiana. Depois de esperar tanto, essa foi a resposta que recebeu, fazendo Guilherme soltar uma risada. Ele se sentou no sofá ao lado de Tatiana, cruzando as pernas longas e se apoiando no sofá de forma extremamente relaxada enquanto a olhava. Sua voz era i