Guilherme franziu a testa enquanto se aproximava. Ele retirou um lenço do bolso e a entregou.- Por que não disse antes que não estava se sentindo bem?Sem prestar atenção no que Tatiana falava, ele já havia largado todas as sacolas de compras para ir até uma loja próxima para comprar duas garrafas de água mineral. Ao voltar, ele abriu uma delas e a entregou.Tatiana aceitou a água com um agradecimento, e só depois de terminar a primeira garrafa começou a se sentir um pouco melhor. No entanto, seu corpo ainda estava fraco, e ela não conseguia levantar a cabeça.Ela segurava o lenço que Guilherme a havia entregado, mas não o usou. Sua visão estava turva, mas sua mente ainda dizia que aquele pequeno pedaço de tecido talvez custasse mais do que ela poderia ganhar trabalhando em vários turnos em um restaurante.Mas, como ela poderia trabalhar em um restaurante?- Consegue andar? - Perguntou Guilherme.A voz dele soava abafada em seus ouvidos.Ao mesmo tempo, sentiu um cheiro que a fez se
Quando Tatiana recobrou a consciência, sua visão ainda estava turva, como se algo pressionasse suas pálpebras, a impedindo de abrir os olhos.No entanto, aos poucos, sua mente clareou e ela pôde ouvir claramente o que estava sendo dito ao redor.Parecia ser a voz de Severino.- A febre é causada por uma infecção gastrointestinal. Vamos iniciar a infusão. Assim que a febre baixar, ela deve melhorar. Depois, é só descansar bem e evitar alimentos picantes e fortes.Logo após, se ouviu a voz grave e insatisfeita de Guilherme:- Quanto tempo vai levar para ela melhorar?Tatiana, mesmo sem conseguir abrir os olhos, ao ouvir essas palavras, sentiu vontade de praguejar.Ficar doente não era algo que se podia controlar, afinal.Isso era exigir demais do médico, não?A voz de Severino era calma, provavelmente porque ele estava preparando a medicação, já que ela estava ouvindo som de vidro.- Cerca de uma semana, mas depende do estado de saúde da Srta. Taís. Ela não está muito bem e pode precisar
A ironia nas palavras era óbvia demais, o que obrigou Tatiana a abrir os olhos, irritada, e olhar para Guilherme.- Eu só estou com febre, não quebrei o braço ou a perna! - Resmungou ela.Talvez surpreso por ela ainda ter forças para falar, Guilherme levantou as sobrancelhas e disse:- Com essa aparência, qual é a diferença?Tatiana ficou em silêncio por um momento, e depois respondeu:- Enfim, eu posso tomar banho sozinha, não precisa chamar ninguém para me ajudar.- Certo. - Guilherme não insistiu, esboçando um leve sorriso no rosto belo. - Então, façamos assim: eu peço para a cozinha enviar uma canja para você, você come um pouco e depois vai se lavar. Pode ser?Tatiana franziu o cenho.Ela lançou um olhar de soslaio para Guilherme, mas o rosto do homem não mostrava nenhuma emoção extra, nem a ironia e desprezo que ela imaginava.Ela se apoiou nas mãos para tentar se sentar, pois se deitar estava realmente desconfortável, e mal começou a se mexer, Guilherme já havia dado um passo à
Guilherme abaixou os olhos, perdido no sorriso dela, momentaneamente esquecendo o desagrado que aquele tratamento lhe causava. Quando voltou a si, a jovem apoiada na cama já estava com a pequena tigela nas mãos, comendo, e ele já havia perdido qualquer vontade de discutir.Ele desviou seu olhar profundo e engoliu em seco.- Se precisar de algo, me chame.Enquanto falava, ele já havia afastado o olhar de Tatiana, e sua voz parecia rouca.Então ele pegou o computador e o celular que estavam na outra mesa e saiu, seus movimentos eram rápidos quase como se estivesse fugindo.Quando Tatiana levantou a cabeça, seguindo o rastro de luz e sombra, o homem já havia desaparecido completamente de sua vista, restando apenas a porta do quarto principal que balançava levemente.Ela piscou os olhos, deu uma breve olhada e voltou a baixar a cabeça para continuar comendo.Fora do quarto, devido à entrega das roupas pelo responsável do hotel, Guilherme rapidamente se recompôs da confusão momentânea, reto
- Certo, não falo mais. - O jovem de olhos azuis levantou as mãos em sinal de rendição e adotou um tom mais sério. - Guilherme, você mudou muito desde que voltou para casa. Parece que você não é mais o mesmo. Será que... Você está apaixonado?Guilherme não respondeu diretamente à pergunta. Ele deu a volta e se sentou no sofá, apoiou o celular em um suporte e pegou o laptop para começar a navegar.- Você está com muito tempo livre? - Murmurou ele.O jovem de olhos azuis parecia inocente, e disse:- Só estou curioso. Afinal, ver alguém que conheço desde pequeno mudar por causa de uma mulher é, no mínimo, surpreendente. - Depois de uma breve pausa, ele continuou. - Ah, eu enviei os documentos que você pediu. Não se esqueça de verificá-los. Além disso, você precisa cuidar de alguns assuntos em Cidade Sears. Não pode deixar tudo de lado só porque tem uma bela companhia.Guilherme não lançou um único olhar ao jovem.- Não preciso que você me lembre.Talvez por tédio ou pela confiança de que
Uma vez que o pensamento surgiu, começou a se espalhar pela mente de Guilherme como uma videira desenfreada.Ele não pôde evitar se lembrar de Tatiana naquela cama, recém-desperta de um ferimento grave.Como um filhote de pássaro abrindo os olhos pela primeira vez, ela procurava sua mãe de forma confusa e inocente, confiando plenamente em qualquer um que lhe mostrasse um pouco de gentileza.Guilherme sentiu uma súbita nostalgia daquela Tatiana recém-desperta.Ele havia ouvido falar de uma cirurgia estrangeira chamada lobotomia frontal, que poderia apagar as memórias de uma pessoa. Mas o resultado poderia ser que a pessoa se tornasse uma idiota, não apenas perdendo as memórias, mas talvez também as emoções mais básicas.Guilherme imaginou essa cena.Se no final ele conseguisse apenas um boneco idêntico a Tatiana, não valeria a pena.Decidiu deixar as coisas como estavam.Embora às vezes, devido às palavras dos irmãos da família Orsi, ela tivesse vontade de ir embora, ele sempre encontra
Guilherme não esperava que Tatiana dissesse aquilo. Seus movimentos pararam bruscamente, permanecendo de joelhos com as costas retas. Seu rosto rígido e frio escondia todas as emoções, tornando impossível discernir qualquer coisa.Tatiana levantou a mão e, de repente, ousou acariciar sua cabeça, e um sorriso surgiu em seu belo rosto.- Vê? Nem você consegue dar uma resposta, como quer que eu te dê uma?- E se eu disser... - A voz de Guilherme estava rouca enquanto ele segurava a mão fria dela, seu olhar era profundo e sério, quase como uma súplica. - E se eu disser que nunca mais vou mentir para você? Tati, pode esquecer o que aconteceu nos últimos dois dias?Como se nada tivesse acontecido. Eles ainda poderiam ser amantes vivendo uma vida tranquila e confortável, como naquele mês na pequena cidade.Mas os acontecimentos já tinham deixado marcas profundas e irreversíveis. Como ela poderia simplesmente esquecer?Tatiana olhou para o rosto de Guilherme e sentiu uma onda de tristeza que
Guilherme só percebeu que Tatiana estava com febre alta na manhã seguinte.Os funcionários do hotel levaram o café da manhã, e ele pediu que levassem a bandeja para dentro enquanto se dirigia para bater na porta do quarto principal. Bateu algumas vezes, mas não obteve resposta.Preocupado, ele franziu a testa e, finalmente, decidiu abrir a porta.O quarto estava escuro, e o leve aroma que agora pairava no ar era diferente do cheiro de remédios da noite anterior. Guilherme deu alguns passos rápidos até a cama, notando que o copo de água morna que ele haiva levado na noite anterior ainda estava ali, pela metade.Ao olhar para a moça deitada na cama, ele viu que ela não parecia ter percebido sua presença, parecia estar em um sono profundo.Ao confirmar que ela estava ali, Guilherme finalmente relaxou um pouco.- Tati?Ele tentou sorrir e a chamar suavemente.Como de costume, a jovem na cama não respondeu.Guilherme suspirou, um tanto frustrado. Embora fosse importante descansar quando s