Sílvio soltou um riso frio:— Só espero que ela fique com raiva. Lúcia tem me evitado esses dias. Se eu não fizer algo mais drástico, como ela vai aparecer?Assim que ouviu isso, Leopoldo entendeu tudo. Sr. Sílvio não tinha a menor intenção de realmente retirar os investimentos. Era apenas um plano para mexer com Lúcia, assustá-la e forçá-la a sair do esconderijo.Mostrando sua habitual perspicácia, Leopoldo sugeriu:— Vou mobilizar a imprensa para atacar o Grupo Araújo. Também posso colocar gente nas redes sociais para espalhar os boatos. Assim, a Sra. Lúcia certamente ficará sabendo.Leopoldo era rápido. Antes de Sílvio dormir naquela noite, as manchetes já estavam por toda parte: [Presidente do Grupo Araújo irrita Grupo Baptista, que decide retirar investimentos.][Previsões sombrias: ações do Grupo Araújo podem despencar.]Alguns dias depois, numa manhã tranquila, Sílvio estava na sua sala na sede do Grupo Baptista, tomando um café com calma, quando Leopoldo entrou para fazer seu
— Sou o presidente do Grupo Araújo, pai do Basílio. Sr. Sílvio, não sei em que momento meu filho o ofendeu tanto para que o senhor, tomado por tamanha indignação, decidisse retirar todos os investimentos e encerrar completamente a parceria com o Grupo Araújo. — A voz de Otávio, do outro lado da linha, soava firme, mas com um tom de súplica disfarçada.Otávio era um homem respeitado, com décadas de experiência no mundo dos negócios. Apesar da idade avançada e do nome de peso, ali estava ele, dobrando-se diante de alguém muito mais jovem, quase implorando. Não era fácil para ele, mas, como todo bom empresário, sabia que o orgulho não pagava as contas. O essencial agora era aplacar a ira de Sílvio e, quem sabe, reverter a crise.Sílvio soltou um riso frio:— O Sr. Basílio não contou o motivo?— Sr. Sílvio, meu filho não disse uma palavra. Quebrei várias bengalas tentando arrancar algo dele, mas foi inútil. — Confessou Otávio, sem rodeios.— Tenho coisas mais importantes a fazer do que ouv
— Sílvio, o que você está aprontando agora? Eu estou falando com você. — A voz da Lúcia subiu de tom, carregada de mágoa.Sílvio segurava o celular com uma mão, enquanto tragava o cigarro com a outra. Então, sugeriu, com um tom aparentemente casual:— Lúcia, você lembra a última vez que jantamos juntos?— O quê? — Ela parou por um instante, confusa.Ele insistiu:— Hoje à noite, vamos jantar. O que você quer comer?— Eu não vou jantar com você! — Respondeu Lúcia com irritação, sem esconder o desagrado.— Nesse caso, eu escolho por você. — Retrucou Sílvio, tranquilo, com um sorriso estampado no rosto. — O Grupo Araújo está um caos agora, desde que o Grupo Baptista retirou o investimento. Você acha que, se eu não restabelecer a parceria com eles, a diretoria vai deixar o Basílio continuar como presidente?— Você está me ameaçando, Sílvio?— Pode chamar assim.— Você é desprezível! Como eu nunca percebi antes que você era tão ardiloso, tão sujo? — Lúcia riu de nervoso, completamente tomad
Apesar de ser ao ar livre, o ambiente no restaurante estava impecavelmente decorado, com uma atmosfera íntima e cuidadosamente planejada. Ao lado de Sílvio, um violinista tocava uma melodia familiar. Era aquela serenata que um dia fora a favorita de Lúcia.Lúcia percebeu o esforço que Sílvio havia colocado naquela noite. Porém, isso não a tocava. Nem um pouco.Ele se levantou e, com um gesto cavalheiro, puxou uma cadeira para que ela se sentasse. Lúcia hesitou, e o desgosto transparecia em seu rosto. Mas, ao erguer o olhar e encontrar o brilho ameaçador nos olhos dele, engoliu sua raiva e, contra a vontade, caminhou até a mesa, sentando-se com relutância.— Seu prato favorito. — Sílvio empurrou um prato com pedaços de filé delicadamente cortados para a frente dela. A apresentação era impecável, mas Lúcia não tinha o menor apetite.— Coma tudo. O Grupo Baptista vai retomar a parceria com o Grupo Araújo.— Ligue para eles primeiro. Aí eu como.— Lúcia, você não confia em mim?— Existe al
De repente, uma grande sombrinha preta apareceu sobre sua cabeça, protegendo-a da chuva. Logo em seguida, uma jaqueta de tecido fino e elegante foi colocada sobre seus ombros molhados. Lúcia abaixou os olhos e percebeu que o vestido preto que usava já estava completamente encharcado.Ao levantar o olhar, viu Basílio segurando o guarda-chuva, vestido com uma camisa escura. Ele parecia tão impecável como sempre, com aquele ar calmo e gentil, e o sorriso discreto que só acentuava sua aura de cavalheirismo.— Lúcia, meu carro está do outro lado da rua. Posso te levar para casa. Aqui é muito isolado e difícil de conseguir um táxi. — Disse Basílio.Lúcia só queria sair dali o mais rápido possível:— Tudo bem.Dentro do Rolls-Royce Cullinan, estacionado logo à frente, Sílvio observava a cena e não conseguiu conter seu sarcasmo. Com um sorriso frio, abaixou o vidro e provocou:— Basílio, por que será que você aparece em todos os lugares? Parece que aquelas bengaladas que seu pai te deu foram m
— Lúcia está preocupada comigo? — Perguntou Basílio, com os olhos fixos na estrada e as mãos firmes no volante. A pergunta saiu de forma casual, quase despretensiosa.Lúcia não pensou muito. Para ela, era normal que amigos se preocupassem uns com os outros e respondeu:— Estou.Os olhos de Basílio ganharam um brilho diferente. Um sorriso suave curvou os lábios dele:— Obrigado pela preocupação, Lúcia.Por anos, ele havia ficado à sombra dela, protegendo-a em silêncio. Ouvir aquelas palavras da pessoa que ele mais admirava era como um bálsamo que ele nunca pensou que pudesse experimentar. Ser cuidado por alguém que amava... era uma sensação indescritível.Será que algum dia ele teria a chance de transformá-la em algo mais? Será que, com o tempo, conseguiria vencer a barreira que os separava?Mas Sílvio estava de volta. E Basílio sabia que, como um coadjuvante, seu papel era deixar o palco novamente.— Sr. Basílio, quem deveria dizer “obrigada” sou eu. Tudo o que você fez por mim... Eu n
As batidas na porta ficaram mais fortes, agora acompanhadas de murmuros irritados vindos do corredor.— Lúcia, abre logo essa porta e deixa ele entrar! — Reclamou uma vizinha. — Amanhã todo mundo trabalha, e com essa barulheira ninguém consegue dormir! Se isso continuar, vou chamar o síndico, hein!O celular de Lúcia vibrou novamente. Outra mensagem chegou.[Se você não abrir a porta em um minuto, vou retirar o novo investimento do Grupo Araújo.]Aquele tom, aquele conteúdo... Lúcia não precisava pensar muito para entender quem era. Mesmo que quisesse se enganar, era impossível. Somente uma pessoa poderia ameaçá-la daquele jeito.Ela soltou um suspiro pesado. Não era um maníaco nem algum criminoso, apenas Sílvio. Mas o alívio de saber que não estava diante de um perigo maior logo deu lugar à irritação. Ele nunca mudava. Sempre recorrendo às mesmas ameaças, sempre tentando controlá-la.Mas, para proteger o Grupo Araújo e evitar mais problemas para Basílio, ela engoliu a raiva e, relutan
Casa? Ela ainda tinha uma casa?Depois do acidente que lhe roubara todas as memórias, restara apenas Sílvio. E foi ele quem a levou a perder tudo, de forma completa e irreversível. Sempre que o via, era impossível não lembrar das escolhas tolas que havia feito por ele.Sílvio notou o silêncio dela e, com os olhos avermelhados, continuou, como se precisasse despejar tudo de uma vez:— Lúcia, na verdade, foi no dia em que você apareceu no Grupo Baptista para me entregar aquele relógio, falando sobre o nosso passado, sobre os detalhes que só nós dois conhecíamos... Foi ali que eu te reconheci.Lúcia franziu a testa, encarando-o com um olhar vazio. Por um momento, ficou paralisada, sem saber como reagir, até ouvir ele começar a relatar tudo, em detalhes. A voz dele, carregada de emoção, tentava justificar suas ações. Ele falava sobre seus "motivos", sobre como recusara trazê-la de volta por medo de que ela fosse alvo de conspirações.Explicou que o noivado com Giovana era uma farsa, algo a