O vice-diretor tinha muito a agradecer a Sílvio.Com o celular na mão, Sílvio falou com um tom frio e distante:— Não tem mais nada? Então vou desligar.— Sr. Sílvio, quando o senhor pretende se internar para o tratamento? Não dá mais para adiar. O senhor está em estágio avançado de leucemia... Já conversou com a Sra. Lúcia? — Do outro lado da linha, o agora Dr. Bruno, vice-diretor do hospital, tentava alertá-lo, preocupado.Sílvio sabia que ele só queria o seu bem. Massageou as têmporas, exausto:— Daqui a alguns dias, vou me internar.— Quanto antes, melhor. A saúde é o mais importante.Com a cabeça cheia e ansioso para ver Lúcia, Sílvio nem tomou café da manhã. Decidiu ir ao encontro dela para, quem sabe, tomarem o café juntos.O carro estacionou na entrada da propriedade da família Araújo. Quem o recebeu foi Enzo.Com um sorriso educado, mas sem se curvar, Enzo perguntou:— Sr. Sílvio, que vento o trouxe até aqui?— Está se fazendo de desentendido? — Sílvio respondeu, com uma das m
— Senhor, é melhor o senhor voltar outro dia. Se quiser falar com o Sr. Basílio, seria bom agendar uma hora com antecedência. — A recepcionista, incapaz de resistir ao charme de Sílvio, ainda assim jogou pelo seguro. Pegou o telefone fixo e, na frente dele, ligou para a linha interna para confirmar com Basílio. Depois de receber a negativa, olhou para Sílvio com um olhar de pesar.Sílvio lançou um olhar frio para a recepcionista e, em seguida, varreu com os olhos indiferentes o movimento intenso do Grupo Araújo. Sem mais palavras, virou-se e foi embora.A noite já caía. O céu escuro se estendia como um manto negro, pontilhado por poucas estrelas dispersas, que brilhavam com uma luz tímida e amarelada.Basílio, por sua vez, havia decidido trabalhar até depois das dez da noite antes de finalmente sair de sua imponente sala na presidência. Entrou no elevador e, enfiando a mão no bolso do casaco azul-acinzentado, tirou o celular e discou para Lúcia.Do outro lado, a ligação foi atendida no
— Onde está a Lúcia? — Perguntou Sílvio, direto.— Não sei.— Não sabe? Acha que pode me enganar? Foi você que a escondeu, não foi? — Sílvio arqueou os lábios em um sorriso debochado. — Não era você que dizia que não se interessava por mulheres casadas? O que foi agora? Mudou de ideia?Basílio estreitou os olhos, o tom repleto de provocação:— Sílvio, ela já está divorciada de você. Vocês dois não têm mais nenhuma ligação.— Divorciada ou não, ainda podemos nos casar de novo. Ela gosta de mim, não de você. Basílio, será que até agora você não entendeu qual é o seu lugar? Lúcia não te ama! Nunca amou! Se ela te amasse, eu já estaria fora da vida dela há muito tempo. Quem não ama, Basílio, não importa o que aconteça, perda de memória, tragédias ou o que for, ela nunca vai te amar.As palavras atingiram Basílio como uma lâmina afiada. Ele sabia que Sílvio tinha razão, mesmo que doesse admitir. Em todos esses anos, ele havia sido apenas o plano B. Não, nem isso. Ele era apenas a pessoa con
Basílio saiu do café. A brisa noturna, levemente fria, fez o cachecol de cor sólida em volta de seu pescoço balançar suavemente. Ele caminhou até o carro, abriu a porta e entrou. Com uma mão no volante, pegou o celular com a outra e ligou novamente para Lúcia. Começou perguntando sobre a mudança: se ela já havia se acostumado a morar sozinha, se o apartamento era seguro e se o serviço da administradora estava funcionando bem. Por fim, tocou no assunto de Sílvio:— Lúcia, acabei de encontrar com o Sílvio. Ele...Basílio fez uma pausa:— Ele e a Giovana romperam completamente.Antes que pudesse continuar, Lúcia o interrompeu do outro lado da linha:— Sr. Basílio, eu não quero ouvir nada sobre ele.A reação dela o pegou de surpresa. Ele não esperava tamanha frieza:— Será que dessa vez você está mesmo disposta a deixá-lo no passado? Sabe, talvez você pudesse dar a ele uma chance de se explicar. Acredite, ele também não tem vivido bem. Ele tem seus motivos...Lúcia, com a voz ainda mais g
Sílvio soltou um riso frio:— Só espero que ela fique com raiva. Lúcia tem me evitado esses dias. Se eu não fizer algo mais drástico, como ela vai aparecer?Assim que ouviu isso, Leopoldo entendeu tudo. Sr. Sílvio não tinha a menor intenção de realmente retirar os investimentos. Era apenas um plano para mexer com Lúcia, assustá-la e forçá-la a sair do esconderijo.Mostrando sua habitual perspicácia, Leopoldo sugeriu:— Vou mobilizar a imprensa para atacar o Grupo Araújo. Também posso colocar gente nas redes sociais para espalhar os boatos. Assim, a Sra. Lúcia certamente ficará sabendo.Leopoldo era rápido. Antes de Sílvio dormir naquela noite, as manchetes já estavam por toda parte: [Presidente do Grupo Araújo irrita Grupo Baptista, que decide retirar investimentos.][Previsões sombrias: ações do Grupo Araújo podem despencar.]Alguns dias depois, numa manhã tranquila, Sílvio estava na sua sala na sede do Grupo Baptista, tomando um café com calma, quando Leopoldo entrou para fazer seu
— Sou o presidente do Grupo Araújo, pai do Basílio. Sr. Sílvio, não sei em que momento meu filho o ofendeu tanto para que o senhor, tomado por tamanha indignação, decidisse retirar todos os investimentos e encerrar completamente a parceria com o Grupo Araújo. — A voz de Otávio, do outro lado da linha, soava firme, mas com um tom de súplica disfarçada.Otávio era um homem respeitado, com décadas de experiência no mundo dos negócios. Apesar da idade avançada e do nome de peso, ali estava ele, dobrando-se diante de alguém muito mais jovem, quase implorando. Não era fácil para ele, mas, como todo bom empresário, sabia que o orgulho não pagava as contas. O essencial agora era aplacar a ira de Sílvio e, quem sabe, reverter a crise.Sílvio soltou um riso frio:— O Sr. Basílio não contou o motivo?— Sr. Sílvio, meu filho não disse uma palavra. Quebrei várias bengalas tentando arrancar algo dele, mas foi inútil. — Confessou Otávio, sem rodeios.— Tenho coisas mais importantes a fazer do que ouv
— Sílvio, o que você está aprontando agora? Eu estou falando com você. — A voz da Lúcia subiu de tom, carregada de mágoa.Sílvio segurava o celular com uma mão, enquanto tragava o cigarro com a outra. Então, sugeriu, com um tom aparentemente casual:— Lúcia, você lembra a última vez que jantamos juntos?— O quê? — Ela parou por um instante, confusa.Ele insistiu:— Hoje à noite, vamos jantar. O que você quer comer?— Eu não vou jantar com você! — Respondeu Lúcia com irritação, sem esconder o desagrado.— Nesse caso, eu escolho por você. — Retrucou Sílvio, tranquilo, com um sorriso estampado no rosto. — O Grupo Araújo está um caos agora, desde que o Grupo Baptista retirou o investimento. Você acha que, se eu não restabelecer a parceria com eles, a diretoria vai deixar o Basílio continuar como presidente?— Você está me ameaçando, Sílvio?— Pode chamar assim.— Você é desprezível! Como eu nunca percebi antes que você era tão ardiloso, tão sujo? — Lúcia riu de nervoso, completamente tomad
Apesar de ser ao ar livre, o ambiente no restaurante estava impecavelmente decorado, com uma atmosfera íntima e cuidadosamente planejada. Ao lado de Sílvio, um violinista tocava uma melodia familiar. Era aquela serenata que um dia fora a favorita de Lúcia.Lúcia percebeu o esforço que Sílvio havia colocado naquela noite. Porém, isso não a tocava. Nem um pouco.Ele se levantou e, com um gesto cavalheiro, puxou uma cadeira para que ela se sentasse. Lúcia hesitou, e o desgosto transparecia em seu rosto. Mas, ao erguer o olhar e encontrar o brilho ameaçador nos olhos dele, engoliu sua raiva e, contra a vontade, caminhou até a mesa, sentando-se com relutância.— Seu prato favorito. — Sílvio empurrou um prato com pedaços de filé delicadamente cortados para a frente dela. A apresentação era impecável, mas Lúcia não tinha o menor apetite.— Coma tudo. O Grupo Baptista vai retomar a parceria com o Grupo Araújo.— Ligue para eles primeiro. Aí eu como.— Lúcia, você não confia em mim?— Existe al