Lúcia rasgou o selo do envelope e retirou de dentro uma folha de papel dobrada. Ao abri-la, reconheceu imediatamente a caligrafia de Abelardo. Algumas partes da escrita estavam borradas, outras mais claras, resultado das lágrimas que haviam caído sobre o papel.Ao ler a carta de despedida de seu pai, Lúcia começou a chorar copiosamente.Seu pai, ao escrever aquela carta, também devia ter chorado tanto quanto ela agora.[Lúcia, Quando você ler esta carta, provavelmente eu já terei partido. Já estarei no céu. Não me ache egoísta por ter te deixado assim, de repente, sem aviso, mas eu não podia mais suportar. Eu te devo desculpas. Virei um peso para você. Você teve que aguentar os abusos do Sílvio para conseguir dinheiro para os meus remédios, e eu sei que você jamais admitiria isso, mas não sou tolo, eu sei de tudo. Meu coração se partia ao ver minha filha querida sendo destruída por aquele monstro, se tornando uma sombra de si mesma. Quando te vi escrevendo sua própria carta de despedi
As lágrimas de Lúcia escorriam pelas bochechas, pingando sobre o papel da carta caída no chão.Ela havia culpado Sílvio pela morte do pai, mas agora sabia que foi a sua própria carta que levou seu pai ao suicídio.Com mãos trêmulas, Lúcia pegou a chave do cofre e se dirigiu ao quarto dos pais.Como Sandra havia dito, ela usou a chave para abrir a última gaveta.Dentro, havia uma coleção de joias, peças de ouro e prata, além de alguns cartões bancários.“Lúcia, o dinheiro que seu pai me dava como mesada, eu nunca gastei. Ele teve tanta dificuldade no início com o negócio, e eu sempre tive medo de que as coisas piorassem. Por isso, guardei tudo aqui. Também tem as joias que ele me deu. Desde que seu pai sofreu um acidente, nunca mais usei nada disso. Se você quiser usar, use. Se não, venda. Quem sabe isso não te ajude a sair das dificuldades.”“Filha, agora você não tem mais essas amarras. Nós não estamos mais aqui, e você não precisa mais viver sob o controle do Sílvio. Pegue esse dinhe
— Ouvi dizer que você encerrou a parceria com a Construção AG recentemente. O que foi que aquela gerente fez pra te irritar? Pelo que me lembro, ela era uma das melhores da empresa. Deve ser muito competente no que faz, não? — Giovana comentou, com um sorriso suave nos lábios, observando de perto as reações de Sílvio.Assim que Sílvio entendeu o motivo daquela conversa, seu olhar ficou frio como gelo.— Você veio aqui pra ser a defensora dela? — Respondeu, com evidente impaciência.— Não é bem isso. A verdade é que a gerente me procurou, sim, mas, Sílvio, seja qual for sua decisão, eu sempre vou apoiar você. — Disse Giovana, com a voz doce e calma.A expressão de Sílvio relaxou um pouco.Giovana ajeitou o casaco sobre os ombros e, aproveitando a oportunidade, começou a semear a discórdia:— Pelo que ouvi, você prometeu a ela que, se a Lúcia a perdoasse, vocês continuariam a parceria, não foi?— O que você quer dizer com isso? — Sílvio perguntou, desconfiado.— Acontece que essa gerente
— Não me chame de "marido". Não vou ficar com uma mulher tão azarada como você. Desde que me casei com você, nunca tive um dia de paz. E nem pense em vender a casa dos meus pais para cobrir essa besteira que você fez. Dê seu jeito, ou então é divórcio. E mais uma coisa: se nos separarmos, você nunca mais verá nossa filha! — Disse o homem, subindo as escadas com frieza.A gerente limpou as lágrimas, tentando se recompor. Ela achava que o problema era não ter oferecido presentes luxuosos o suficiente. Então, decidiu gastar mais, estourando o cartão de crédito em um presente de 500 mil reais para Giovana.Ela voltou ao hospital, mas Giovana ainda não tinha retornado. Após horas de espera, finalmente viu Giovana entrar no quarto, com a mesma calma de sempre.— Srta. Giovana, por favor, aceite esse presente como um pequeno gesto meu. Apenas uma forma de demonstrar minha gratidão. — Disse a gerente, entregando o presente.Giovana deu uma olhada rápida no presente, depois olhou para os dois
Giovana tentou se justificar:— Eu não disse que ela está atrapalhando o seu caminho, né? Não faço ideia do que ela falou naquele telefonema. Mas você realmente conhece bem a Lúcia? Eu a conheço há muito mais tempo que você. Ela adora fazer pose de boazinha, mas quem faz o trabalho sujo são sempre os outros. O que ela mais gosta é que as pessoas a chamem de santa. Enfim, já te falei o que tinha que falar. Agora, é com você.— Srta. Giovana, o que eu devo fazer?— Não importa o que você tente. Não vai adiantar. A Lúcia é do tipo que guarda rancor. Se você a irritou, é melhor aceitar o azar. — Disse Giovana, com um olhar de falsa compaixão.Quando saiu do hospital, a gerente não conseguia tirar da cabeça a sensação de que havia algo errado com a Lúcia. Com certeza, o problema estava naquele telefonema.Ela não queria ajudar e ainda fez toda essa encenação? Que mulher hipócrita. Se ela não iria ter paz, então ninguém iria!A gerente decidiu seguir o mesmo caminho que Olga havia trilhado a
Irritado, Basílio se levantou de imediato, trocou de roupa e decidiu ir até o Grupo Baptista. Ele queria falar diretamente com Sílvio e convencê-lo a fazer com que Lúcia aceitasse o tratamento.Na sala da presidência do Grupo Baptista, Sílvio ouviu a explicação de Basílio e, por um momento, sua expressão mudou várias vezes. Ele pegou uma carteira de cigarros, tirou um e acendeu, soltando a fumaça enquanto olhava fixamente para o nada.— Sílvio, estou falando com você. Está me ouvindo? — Basílio insistiu, irritado com o silêncio.— A situação de Lúcia é grave. Você precisa convencê-la a se tratar. — Basílio continuou, seu tom cada vez mais tenso.Sílvio olhou para cima, soltando mais uma baforada de fumaça, e riu com desdém.— Essa é a segunda vez que você vem me dizer que a Lúcia está doente, né? — Disse ele, com uma pitada de sarcasmo.— Exatamente. Ela é sua esposa. Você tem que se preocupar com isso. — Basílio respondeu, apoiando as mãos sobre a mesa e encarando Sílvio diretamente.
Sílvio não falava com Lúcia havia dias.Desde que lhe deu o cofre, vinha se controlando para não ceder à saudade. Mergulhou no trabalho, se afundando em tarefas diárias para tentar não pensar nela.Antes, quando brigavam, a reconciliação nunca passava de um dia. Lúcia sempre dava um jeito de oferecer uma saída, uma desculpa, e o apaziguava, fazendo as pazes rapidamente.Mas agora, o silêncio entre os dois estava durando mais e mais. Um verdadeiro impasse entre marido e mulher, ambos teimosamente optando pela distância e pelo silêncio.Sílvio não aguentava mais esperar. Não queria que essa situação se prolongasse indefinidamente. Sabia que, se ele não tomasse a iniciativa, Lúcia jamais iria procurá-lo.Ele mandou Leopoldo pegar o carro e o levou até a Mansão Baptista.Sílvio tentou ligar para Lúcia. O celular chamava, mas ninguém atendia. Ela ainda estava chateada com ele?Sentado no banco de trás, seu olhar se endureceu. Por que ela nunca parava de sentir raiva?Leopoldo, que captou o
Leopoldo saiu para coordenar a busca por Lúcia, deixando Sílvio sozinho na mansão.Na manhã seguinte, Sílvio ainda não tinha notícias da localização do veículo.— Sr. Sílvio, talvez devêssemos chamar a polícia. Com a ajuda deles, pode ser mais fácil encontrar a Sra. Lúcia. — Sugeriu Leopoldo ao telefone.Sílvio estava prestes a responder quando um número desconhecido apareceu na tela. Ele encerrou a ligação com Leopoldo e atendeu imediatamente.Uma risada feminina e debochada ecoou pelo telefone:— Sílvio, sua mulher está nas minhas mãos!— É você? — Sílvio estreitou os olhos, reconhecendo a voz da gerente de contas.A audácia dela era impressionante. Tinha sequestrado sua esposa.— Pare de enrolar! Se quiser vê-la pela última vez, venha sozinho para a Serra Encantada. E se ousar chamar a polícia, eu mato ela! — Ameaçou a mulher, antes de desligar.Logo em seguida, um alerta soou no celular de Sílvio. Era uma foto.Na foto, as mãos de Lúcia estavam amarradas firmemente com uma corda, p