Assim que Lúcia terminou de falar, os lábios de Sílvio se colaram aos dela. Foi um beijo dominador, avassalador, impossível de resistir.Na mesma hora, Lúcia se lembrou de Giovana beijando aqueles mesmos lábios mais cedo naquele dia.Que nojo! Algo que outra pessoa já tinha tocado, ela não queria.Sílvio realmente tinha ido longe demais. Para torturá-la, ele estava usando os mesmos lábios que Giovana havia beijado.Era para humilhá-la? Ele achava que ela era uma idiota, que não sabia de nada?Sentindo-se ultrajada, Lúcia reagiu imediatamente, empurrando com força o peito sólido dele:— Mmm! — Tentou protestar.Sílvio já estava irritado com o fato de ela não ter ido ao hospital, de não ter se preocupado com ele. E agora, quando ele a beijava, ela reagia daquela forma.Com um movimento brusco, Sílvio agarrou seus pulsos, prendendo-os firmemente atrás das costas dela, enquanto a beijava com ainda mais intensidade. Lúcia, impotente, foi forçada a se deitar na cama.Ela não queria os beijos
O coração de Lúcia doía profundamente. Na cabeça e no coração de Sílvio, ela era mesmo esse tipo de mulher sem vergonha? Será que ele realmente a via como uma mulher que se entregava a qualquer um?As lágrimas escaparam de seus olhos, grossas e brilhantes, caindo lentamente como pérolas cintilantes.— Sílvio, eu e Basílio, na verdade... — Ela tentou começar, querendo explicar que entre eles nunca houve nada além de respeito, nada que passasse dos limites. Mas ele acreditaria?Antes que pudesse terminar a frase, o rosto de Sílvio se transformou, como se ouvir o nome "Basílio" fosse uma afronta. Ele rosnou friamente:— Cala a boca! Não menciona esse nome na minha frente!Ele fazia de tudo para esquecer essas coisas do passado, mas ela insistia em cutucar, repetindo o que já estava enterrado. Ela não se cansava de falar, mas ele já estava exausto de ouvir.Sílvio a encarou com desprezo:— Por que você está chorando? Só porque te beijei? Isso te incomoda tanto assim?— Não... — Lúcia clara
— Seu pai acabou de sair do hospital e você já está me desobedecendo? O que foi? Agora que ele está fora de perigo, vocês acham que não precisam mais da minha ajuda?Mais uma ameaça! Lúcia encarou o homem à sua frente sem desviar o olhar. Ele era incrivelmente atraente, com feições perfeitas e lábios de contorno impecável. Como alguém com uma aparência tão bela podia dizer palavras tão frias e cruéis?Depois de tantos anos juntos, apesar de tudo, eles não deveriam ser inimigos, mesmo sem amor envolvido.— Lúcia, me beija. A menos que você queira que seu pai morra na noite de Natal. — Sílvio rosnou, impiedoso.Era irônico. Antes, ela se agarrava a ele, ansiosa por um beijo. Agora, ele precisava recorrer a ameaças para conseguir um mínimo de intimidade.Abelardo parecia ser o ponto fraco de Lúcia.Assim que ele pronunciou aquelas palavras, Lúcia hesitou por apenas meio segundo antes de envolver o pescoço dele com os braços e se aproximar, oferecendo seus lábios.Os lábios de Lúcia ainda
Lúcia já tinha desfeito a gravata de Sílvio outras vezes.Antes de começarem a se ignorar, antes de seu pai cair da escada e virar um vegetal, Lúcia sempre ficava encarregada de ajustar e soltar a gravata dele.No início, ele não gostava que ela se metesse, mas naquela época, Lúcia era completamente apaixonada por Sílvio e não se importava. Ela acreditava que, como sua esposa, era seu dever tirar sua gravata.Com o tempo, isso virou um hábito. Ele se acostumou a deixar tudo nas mãos dela: suas roupas, sapatos e até os itens mais triviais do dia a dia, tudo era cuidado por Lúcia.Ao vê-lo vestido da maneira que mais lhe agradava, o sentimento de realização que Lúcia sentia era indescritível.Agora, com o passar dos anos, ela finalmente entendia. Desde o começo, ele não queria que ela se intrometesse porque a odiava, porque não suportava o fato de ela ser sua esposa.Não era timidez, como ela pensava antes.Lúcia piscou, pensativa. E agora, ao se intrometer mais uma vez para tirar a grav
Ao contrário, quando Sílvio morava ali, ele sempre se lembrava de que estava suportando tudo em silêncio, esperando o momento certo para dar o troco. Ele sabia que estava em perigo, jogando um jogo perigoso e se aproveitando do amor de Lúcia para manipular a situação.Lúcia soltou uma risada cínica ao ver a reação de Sílvio:— Não precisamos mais fingir. Vai logo tomar banho, Sílvio. No armário do banheiro tem toalhas novas, escova e pasta de dente. Vai lá pegar. Eu não quero me levantar agora. Sílvio achou que Lúcia estava tentando convencê-lo a ficar, pensando que ela finalmente havia aprendido a importância de mantê-lo por perto. Ele não respondeu, apenas destrancou a porta do quarto e saiu, com passos largos, sem olhar para trás.Lúcia esperou por Sílvio por muito tempo. Quando ele não voltou, ela pensou que ele tinha ido embora. Talvez estivesse exausta demais depois de tudo o que tinha acontecido naquele dia. Sentindo o peso da fadiga no corpo, ela se enfiou debaixo das cobertas
Após ouvir o que ele disse, Lúcia, na escuridão da noite, mordeu o lábio e instantaneamente se lembrou da cena que presenciara mais cedo naquele dia.Giovana, no quarto do hospital, havia perguntado a ele:— Sílvio, se eu quisesse que você cumprisse sua promessa e se casasse comigo? Se eu pedisse para você se casar comigo, você aceitaria?As lembranças vinham à tona, e Lúcia podia ver de novo o momento em que Giovana tomou a iniciativa e beijou Sílvio.Ambas, mulheres tomando a iniciativa. Quando foi Giovana, por que ele não a afastou? Por que ele não disse que estava cansado?Lúcia abaixou os olhos, lançando um olhar cheio de sentimentos conflitantes para Sílvio. Ela queria perguntar: "Sílvio, você aceitou a declaração de Giovana? Quando você pretende se casar com ela? A data já está marcada?"As palavras estavam entaladas em sua garganta, agitadas, prestes a explodir.Ela queria confrontá-lo: "Sílvio, o que você pensa que eu sou? Você pediu ao Leopoldo para me contatar, para que eu v
— Sílvio. — Lúcia tentou falar novamente.Mas ele a interrompeu, porque não queria mais ouvir seu falatório. Cada palavra a mais dela poderia piorar ainda mais a relação entre os dois. Ele não queria mais se aborrecer.Ela disse que estava cansada hoje. Ele quase morreu e, claro, também estava exausto.Quando recebeu a ligação de Leopoldo, dizendo que um carro estava prestes a colidir com a família de Lúcia, Sílvio imediatamente pegou o endereço e desligou o telefone.Ninguém sabia, mas ele acelerou como um louco até o local do acidente. Tinha medo de chegar um minuto atrasado e algo acontecer com ela.Quando viu o carro desgovernado avançando em direção ao carro de Leopoldo, ele acelerou ainda mais e se colocou no caminho.Ele não era tolo, sabia muito bem o risco que corria. Tinha plena consciência de que estava apostando a própria vida.O carro de Sílvio virou uma pilha de ferro retorcido, e ele rezava incansavelmente, implorando aos pais, que estavam no céu, para que não o deixasse
Sílvio estava tão absorto em seus pensamentos que só percebeu quando Lúcia, inquieta em seus braços, começou a resistir:— Sílvio!— Para de falar e dorme. — Respondeu ele, visivelmente irritado.Lúcia, ao notar o tom impaciente dele, não conseguiu evitar o desabafo:— Se você está tão irritado comigo, então é melhor voltar pra sua casa.— Lúcia, minha paciência tem limite! Você não entendeu? Eu mandei você dormir. — Sílvio resmungou, frio.Era assim que ele era, autoritário e sem se preocupar com os sentimentos dela. Estavam na casa da família Baptista, mas qualquer um que visse a forma como ele se comportava acharia que era ele quem mandava ali.Mas, no momento, a família Baptista realmente dependia de Sílvio, e ele tinha o poder de fazer o que quisesse. Melhor não provocá-lo. Se ele quisesse passar a noite ali, que ficasse. Amanhã ela voltaria com ele para o apartamento dele.Lúcia nunca se sentia tranquila com a presença dele naquela casa. Temia que Sílvio fizesse algo contra seu p