CATERINE
— Ellen, você pode pegar os arquivos dos Sierra para mim, por favor? — pedi à assistente do escritório que prontamente assentiu e foi para a grande estante onde ficavam os processos.
Voltei para o meu escritório e sentei em minha cadeira organizando os papéis para o meu próximo encontro com Diego Sierra, um imigrante que estava sendo acusado de tráfico de drogas e ia a julgamento em breve. Acontece que o processo do senhor Sierra tinha inúmeras contradições e ele jurava que era inocente. Louie Tavola, meu chefe, tinha passado o caso para mim quando percebeu do que se tratava. Ele sabia que eu tinha certa gana por casos investigativos, especialmente se as pessoas eram humildes e inocentes.
A população carcerária nos Estados Unidos era praticamente totalizada por negros, latinos e imigrantes. E aquilo me deixava além de chateada.
Levei o pro
CATERINEBing!Fez o elevador no andar onde ficava o escritório de Alexander. Eu pulei para fora desligando o meu ipod ansiosamente. Estava indo encontrá-lo para assim irmos ao médico, músicas como Walking on Sunshine e Having my baby tocaram me fazendo sorrir e ter que me controlar para que eu não saltitasse e dançasse como se estivesse fazendo parte de um musical pelas ruas de NYC enquanto caminhava para o trabalho de meu marido, tamanha era a minha felicidade.Era o dia de saber o sexo do nosso bebezinho.As chances de eu passar por todas as salas do prédio da Promotoria do Estado de Nova Iorque sem encontrar com Melissa era realmente grande, mas é claro que não poderia contar com aquilo.Eu certamente a encontraria porque ela ainda trabalhava lado a lado com o meu marido.Sendo sincera comigo mesma, Melissa nunca apresentou um perigo real para
CATERINEEra uma imensidão de opções, e tudo tão lindo que sequer sabia por onde começar. Enquanto andava pela grande loja de brinquedos, olhava cada urso de pelúcia, super-herói, jogos de tabuleiro, carrinhos, bicicletas, patinetes, patins... Caramba, eu sequer sabia que existiam tantas opções de legos.Não sabia direito o que escolher, ainda, mas sabia que queria tudo. Queria tudo o que meu filho pudesse ter.Meu pequeno Simon.Seu quarto seria o mais lindo. Gostava de azul e vermelho para o quarto. Talvez pudéssemos fazer com motivos de baseball, como Alexander gostaria. Do New York Yankees. Ficaria lindo.Cristo, eu precisava falar com Mary Anne, ela poderia me ajudar com os detalhes e com as compras, é claro. Alexander iria querer participar, mas ele só me deixaria louca se metendo em tudo.Alexande
ALEXANDEREvitei olhar para a porta do quarto vazio quando passei por ele até chegar em nosso próprio quarto. Eu tinha a incumbência de pegar roupas e artigos de higiene para a alta de Caterine no hospital.Não fora ela quem me dera tal missão.Ela não falava.Ela não falava comigo ou qualquer outra pessoa desde que ouvira o doutor Stephens dizer que o coração do nosso bebê não mais batia. Eu soube antes. Quando não ouvi o som do coração e nem vi a imagem se mexendo, eu soube que nosso bebê não tinha resistido. Foi como se alguém tivesse enfiado a mão dentro do meu peito e esmagado meu coração com os dedos. O ar faltou em meus pulmões, minha garganta secou e meu corpo imediatamente começou a tremer.Mas quando olhei para a minha esposa, sabia que o pior ainda estava por vir. O brilho se foi. A sua lu
ALEXANDERQuinze dias se passaram desde que havia levado Caterine para casa. Ela não falou uma única vez. Eu estava ficando louco.Ela não falava comigo. Trabalhava no escritório de casa, enquanto ela ficava na cama. Foi dado a ela uma licença da German & Tavola e eu me virava o quanto podia para ficar com ela em casa.Eu tinha que tirá-la da cama e dar-lhe banho, tinha que levar comida para que se alimentasse também. Mas eu só percebi que definharia se eu não fizesse tais coisas depois de um dia inteiro em que ela não saiu da cama. Nem para ir ao banheiro. Eu a vi pálida, magra e fedida, jogada em nossa cama, sozinha e perdida.A peguei na cama e levei até o banheiro. Eu queria que ela falasse, chorasse, gritasse. Qualquer coisa. Mas era como se eu estivesse manipulando uma boneca. Tirei delicadamente suas roupas enquanto ela apenas olhava em algum ponto
ALEXANDEREla estava na quinta taça de vinho. Sua comida continuava intocada.— Baby, você não gostou do seu prato? Disse que estava com vontade de italiano hoje — perguntei com cuidado, com a voz mais suave possível para falar com ela. Era triste, mas eu não sabia como me comportar perto da minha própria esposa. O quão horrível aquilo poderia ser?Carter havia passado o dia inteiro fora, saiu pela manhã, logo após nossa conversa. Vestiu jeans, camiseta, tênis e colocou um boné na cabeça, pegou a sua bolsa, seus óculos de sol e se despediu com um sorriso amarelo antes de passar pela porta como se os últimos quinze dias tivessem sido apagados, ou sequer existido. Eu tentei ficar calmo pela primeira hora. Lembrando-me do que Melissa disse e procurei deixá-la sozinha. Eu precisava deixá-la respirar um pouco.Mas após a
ALEXANDERCom o passar do tempo, as coisas foram mudando.Para pior.Caterine tinha voltado à sua atitude displicente, não voltou ao escritório e alguns dias depois, conversando com seu chefe, para tentar pedir mais algum tempo para ela, descobri que minha esposa já havia pedido demissão do trabalho. Foi como uma facada em meu peito, ela não tinha uma palavra para me dizer sobre o seu dia, mas aparentemente estava resolvendo a sua vida sem mim.Era um direito dela, é claro.Mas não deixava de machucar o fato de que ela estava me excluindo de suas decisões, eu já não era mais o seu confidente. Eu sequer tinha a minha presença reconhecida por ela por mais que dez minutos por dia. Ela estava ocupada demais para mim. Saindo sem dizer aonde ia e me matando de preocupação. Ocupada dormindo o dia inteiro.Ocupada bebendo e se drogando.
CATERINEQuando eu soube que havia perdido o meu bebê, foi como se tivesse em uma queda sem fim. Minha mente foi para um lugar estranho onde eu ouvia os sons abafados e enxergava tudo embaçado. Eu não sentia nada. Não conseguia e nem queria sentir nada. A dormência era melhor. Afastava a dor, afastava a raiva.Afastava a revolta.Consegui não sentir o toque, bloqueei o frio, a fome, até mesmo as dores físicas. Sabia que estava sendo alimentada, meu marido me dava banho e andava comigo em seus braços como se eu fosse uma criança e me levava até a janela, lá ele me dava comida, sempre preparava os meus pratos favoritos, tentava conversar comigo sobre qualquer coisa e depois implorava para que eu falasse com ele.Em algum lugar na minha mente, eu acho que pedia perdão a ele. Por não poder encará-lo, não conseguir forças para voltar, por ter de
ALEXANDER— Melissa, ligue para Debbie Stewart e peça para ela me enviar todos os relatórios de condicional do caso Moore, por favor. E não esqueça de marcar o nosso voo para Seattle para a reunião sobre o caso Hoffman.— Perfeitamente — respondeu pegando o telefone imediatamente e atendendo ao meu pedido. Entrei em minha sala e caminhei até a grande janela parando lá e olhando para o tráfego na rua.O que ela estaria fazendo a esta hora?O prazo para o nosso divórcio estava se esgotando, eu não poderia protelar mais, ela fez a parte dela, se internou para três meses de reabilitação. E estava indo bem, segundo seu pai e a minha família que a visitavam, ela estava indo muito bem.Com um suspiro resignado me virei e sentei em frente ao meu computador. Abri meu e-mail e procurei pelo documento que Carlo Lewis havia me enviado. Se