Enquanto as paredes do castelo eram compostas por pedras negras, os portões grandes e grossos eram de pedra da lua. Sentinelas uniformizados estavam posicionados dos dois lados, nós simplesmente os ignoramos enquanto seguimos.
O chão tremia por onde Ayla e Daren passavam, o poder dos dois tão forte que poderia ser sentido até mesmo no ponto mais distante das aldeias do lado de fora. Algo me envolve e no mesmo instante eu sei que o rei envolveu a todos nós com seu escudo.
Não permito que a surpresa chegue ao meu rosto quando encontro um lugar ainda maior e mais bonito dentro daquele castelo, não olho ao redor para ver os feéricos, ninfas, bruxas ou qualquer outro ser que exista ali, permaneço de cabeça erguida e olhos focados. Caminhamos até um salão lotado que fica em completo silêncio quando nos vê.
Um homem de cabelos louros aguardava a nossa chegada, eu soube na mesma hora pelo olhar de raiva que lançou a Daren
-Senhor, - A voz de Bartolomeu falha e ele pigarreia - não seria mais sábio entregá-la a rainha?Ele se refere a mim como se eu fosse um mero objeto, como se eu não estivesse ali. Um sorriso irônico brota nos lábios do rei.-E desde quando você sabe o que é sábio?-Eu só não quero outra guerra, senhor. - Engole em seco.-Não? - o sorriso nos lábios de Daren se alarga - Eu poderia jurar que você adoraria nos ver mortos.-É claro que não, meu senhor. - Nega com a cabeça repetidas vezes.-Nós não a entregaremos. - afirma - Ela é uma de nós.-É apenas uma garota! - Bartolomeu explode - Nós somos uma cidade!-Oh... Então você não se importa com guerra, não é? Só quer proteger seu próprio rabo.Ele sabe muito bem que tocou na ferida do homem, eu posso sentir seu medo de onde estou.-Vocês vão ser a destruição dessa
-O que há de errado, anjo? - Matteo sussurra.Eu estava deitada sobre seu peitoral enquanto ele acariciava minhas costas nuas. Meu parceiro percebe minha hesitação e fala:-Daren e Ayla não vão entregar você.-É isso o que me preocupa. - confesso - Eles estão com um bebê a caminho, têm o Reino da Noite para cuidar. Eu devia ser a última preocupação deles, na verdade, eu não devia ser preocupação nenhuma.-Está errada. Você faz parte desta corte, é a minha parceira, nós nos preocupamos com você.-Não deviam. - Levanto o rosto para olhar em seus olhos - Seu povo vai morrer por minha causa, Matteo, porque eu estou sendo covarde demais para me entregar.-Covarde? Lucille, você passou a vida toda naquele inferno. - Sua mão encontra minhas cicatrizes - Eu jamais permitiria que você se entregasse.-Não é escolha sua. - Faço menção de me afastar mas ele me segura no lugar.<
-Pronta?Matteo caminha até mim, as mãos atrás das costas. O sol ainda nem tinha saído e já estávamos prontos para partir.-Sim. - Ajeito a bainha e levanto a cabeça para olhar para ele - Você?-Sim. - há tensão em seu rosto, imagino que o meu esteja igual - Tenho uma coisa para você.Franzo o cenho e me levanto para poder olhá-lo melhor. Reparando melhor agora, ele parecia nervoso também.-Eu não me importaria se você quisesse usar a Fatiadora para sempre, mas achei que gostaria de ter a sua própria.Traz as mãos para a frente e só então eu percebo que ele estava escondendo uma adaga embainhada, me oferece e eu a pego, desembainhando.A adaga é totalmente negra e afiada, há duas pedras negras com detalhes violetas adornando o cabo, passo os dedos por ela, maravilhada.-Mandei fazer antes do aniversário de Daren, mas só ficou pronta rece
-O que aconteceu com você, garota?O tom de espanto de Aurea atrai minha atenção para meu reflexo no espelho do quarto. Há sangue por todo o meu corpo e rosto, minha roupa está rasgada em várias partes mas não há ferimento algum, minha trança está desgrenhada e eu ainda seguro firme minha adaga. A embainho.-Me desculpa. - Sussurro me virando para a porta novamente - Eu vou...-Não! - Ayla grunhe, dentes cerrados - Quero você aqui, todos vocês!-Nós estamos aqui, meu amor.A rainha está deitada em uma cama em sua casa, Daren, de rosto tenso, segura sua mão enquanto uma das curandeira está posicionada entre as pernas abertas e dobradas de Ayla. Eleanor está mais próxima da irmã, Matteo, Mendo, e Aurea estão mais distantes, porém próximos o suficiente para mandarem forças para ambos, pai e mãe. Eu estou encostada no canto do quarto, o mais distante possível, não querendo macular um momento tão lindo q
A casa de Matteo parece pronta para me receber de braços abertos quando eu atravesso. Minhas pernas tremem com a exaustão e eu quase caio novamente de joelhos no chão, sou amparada por mãos fortes e femininas que passam meu braço por seus ombros.-Eleanor? - odeio como minha voz sai embargada.-Vi o modo como você estava encolhida contra a parede, imaginei que acabaria fugindo para cá mais cedo.Eleanor abre a porta e me leva direto para o banheiro. Não protesto quando ela solta meus cabelos ou tira minhas roupas, não a afasto quando me guia até a banheira e me ajuda a entrar.-O que aconteceu em Maghdon? - Se encosta na parede de frente para mim.-Nós esperamos até que os soldados aparecessem e então eu tinha um plano. - Sinto a água quente queimar minha pele e aceito de bom grado - Queria matar a maioria deles para evitar outra batalha. - Esfrego as mãos no rosto, tirando o sangue - Perdi o contro
Um passo de cada vez. Era o que eu murmurava para mim mesma enquanto esperava Eleanor e Mendo no ringue com Matteo, na casa cede em que todos se encontravam.Ele havia gostado da ideia de poder treinar com o irmão novamente e fiquei feliz de poder ver seu rosto se iluminar quando ambos se prepararam para se enfrentar. Eleanor e eu optamos por treinarmos juntas e não contra. Parávamos para conversar e observa-los a cada exercício, recebíamos mais três séries por causa disso. Passamos a nos encontrar para treinar juntos todas as manhãs.Daren havia vindo nos visitar para saber o que houve em Maghdon, meu parceiro deixou que ele entrasse em sua cabeça para ver seu ponto de vista e eu mostrei para ele o que eu tinha visto, ocultando meu surto de origem desconhecida, nenhum deles insistiu.-Gosto do jeito que eles se movem. - Eleanor faz sinal para os machos no ringue.Havíamos descoberto que se dissessemos q
Na manhã seguinte nos reunimos na casa cede para discutir os planos da rainha de Maghdon. Daren já havia contado um pouco do que o mostramos a todos os outros.-Como ela quer começar uma guerra com um número tão baixo de soldados? - Mendo pergunta.-Talvez ela se garanta com o número de bestas. - sugere Matteo.-Ou com os exercícios de outros reinos. - Ayla diz.-Eu não acho que ela tenha uma aliança com eles. - Me recosto na cadeira, lembrando das poucas coisas que sei sobre ela - Myrtle é uma mulher poderosa, quando ela quer uma coisa, não desiste até conseguir, e acima de tudo, - Forço meu corpo a permanecer imóvel quando um tremor ameaça me percorrer - não gosta muito de dividir.A expressão de Matteo se torna tensa e preocupada enquanto ele chega sozinho a conclusão de que ela também mandou me torturarem por coisas que seu marido, seu rei, fazia comigo. Desvio o olhar e pigarreio.
Havia uma menininha sentada no chão de frente a casa de Matteo. O cabelo castanho de Kyla balança no vento quando ela corre até mim, as covinhas aparecendo quando ela abre um sorriso enorme, a pele esverdeada brilhando no sol da tarde.-Lucy! - Abraça minhas pernas - Estive esperando você.-Oi, pequena, cadê a sua mãe? - Eu a pego no colo e a abraço de volta.-Está ocupada... Eu vim te ver! Você ficou feliz?-Claro. - Sorrio - Muito feliz.-Que bom! Eu senti saudades.A coloco no chão e seguro em sua mão.-Quer entrar?-Depende... - Ela chuta uma pedrinha no chão, evitando me olhar nos olhos - Seu amigo assustador vai estar aí?-Amigo assustador? - Franzo o cenho.-Aquele das asas...-Matteo?Ela assente e eu caio na gargalhada. Kayla solta minha mão e cruza os bracinhos.