Na manhã seguinte nos reunimos na casa cede para discutir os planos da rainha de Maghdon. Daren já havia contado um pouco do que o mostramos a todos os outros.
-Como ela quer começar uma guerra com um número tão baixo de soldados? - Mendo pergunta.
-Talvez ela se garanta com o número de bestas. - sugere Matteo.
-Ou com os exercícios de outros reinos. - Ayla diz.
-Eu não acho que ela tenha uma aliança com eles. - Me recosto na cadeira, lembrando das poucas coisas que sei sobre ela - Myrtle é uma mulher poderosa, quando ela quer uma coisa, não desiste até conseguir, e acima de tudo, - Forço meu corpo a permanecer imóvel quando um tremor ameaça me percorrer - não gosta muito de dividir.
A expressão de Matteo se torna tensa e preocupada enquanto ele chega sozinho a conclusão de que ela também mandou me torturarem por coisas que seu marido, seu rei, fazia comigo. Desvio o olhar e pigarreio.
Havia uma menininha sentada no chão de frente a casa de Matteo. O cabelo castanho de Kyla balança no vento quando ela corre até mim, as covinhas aparecendo quando ela abre um sorriso enorme, a pele esverdeada brilhando no sol da tarde.-Lucy! - Abraça minhas pernas - Estive esperando você.-Oi, pequena, cadê a sua mãe? - Eu a pego no colo e a abraço de volta.-Está ocupada... Eu vim te ver! Você ficou feliz?-Claro. - Sorrio - Muito feliz.-Que bom! Eu senti saudades.A coloco no chão e seguro em sua mão.-Quer entrar?-Depende... - Ela chuta uma pedrinha no chão, evitando me olhar nos olhos - Seu amigo assustador vai estar aí?-Amigo assustador? - Franzo o cenho.-Aquele das asas...-Matteo?Ela assente e eu caio na gargalhada. Kayla solta minha mão e cruza os bracinhos.
Faziam dois dias desde que Matteo e Mendo foram para os acampamentos de guerra e como nem eu e nem Eleanor queríamos ficar sozinhas, eu estava dormindo na cada da cede com ela.Eu havia decidido que não queria que Daren nos buscasse e levasse toda vez que precisassemos sair, então passei a tentar atravessar nós limites da da casa e cair na varanda. É claro que me estatelei no chão aos pés de Eleanor que não conseguiu manter a máscara e gargalhou por muito tempo, mas aquele passou a ser meu novo desafio, eu pulava e atravessava por várias horas, decidida a conseguir.Mantivemos a mesma rotina de treino, passávamos as tardes na cidade ou na casa mesmo e de noite líamos até adormecer, optamos por não nos arriscar treinando nossos poderes sozinhas.Também procurei por Kyla e sua mãe para avisar que não estaria na mesma casa por alguns dias. Eu continuava me comunicando com meu parceiro através de suas sombras.
-Nós temos que ir agora!Pego a mão de Eleanor e começo a correr em direção a varanda.-O que aconteceu, Lucille? - Ela puxa a mão da minha e para de andar.Eu não sabia como explicar o que tinha acontecido. Passo as mãos pelo cabelo, tentando pensar em algo.-O laço. - Ofego - Tenta sentir o seu laço com Mendo e me diga o que sente.A feérica franze o cenho e então fecha os olhos, se concentrando, suas feições mudam na mesma hora.-O que é isso? - Arregala os olhos.-O que está sentindo? - Procuro o meu para ter certeza de que ainda está ali.-Está fraco, muito fraco. - sua voz sai trêmula.-Eleanor, nós temos que ir agora. - Seguro sua mão de novo - Eu não sei o que está acontecendo, mas tem algo muito errado.-E para onde nós vamos? - Corre junto comigo.-O acampamento de guerra.
Estava escuro quando Eleanor e eu entramos na floresta. O mais sábio era esperar a luz do dia, mas não tínhamos tempo. A cada minuto perdido, Mendo poderia estar morrendo e Matteo... Eu mataria a rainha pelo que quer que tivesse feito a ele.-Eleanor. - sussurro, fazendo-a parar - Olhe!Estive procurando por Mendo desde antes de adentrarmos a floresta, mas ainda não o havia encontrado, essa era a primeira vez que notava algo com seu cheiro, sangue.Eleanor se olha ao redor rapidamente, desesperada por encontrar seu parceiro. Eu estava usando a escuridão da floresta a nosso favor, camuflando-nos, as vezes algo passava por nós e sentia nosso cheiro mas não nos enxergava.-Ele não deve estar longe. - Me abaixo e coloco as pontas dos dedos no sangue - Ainda está molhado. - Vejo que há mais na frente - É uma trilha. - Observo as manchas no chão - Ele se arrastou.-Mendo já sobreviveu a coisas piore
-De jeito nenhum. - a voz de Daren é calma quando fala.-Não cabe a você decidir. - Viro de costas, e começo a me afastar.-Não. - Sua voz assume um tom mais grave - Você vai ficar e vamos chegar a uma solução. - é a ordem de um rei.Parte de mim tenta ceder àquela ordem e me manter no mesmo lugar, a outra parte grita bem alto que eu não devo mais obediência a ninguém.-Sente-se. - ordena.Sinto cordas me puxando para a poltrona mais perto, puxando a parte que tem de ceder, a outra parte corta essas cordas. Volto a andar, agora com dificuldade, mas ainda sim, andando.-Você não tem que ir, Lucille, nós vamos resolver isso juntos. Por favor, fique. - Daren continua, não mais uma ordem - Pelo menos até pensarmos em algo melhor.Sinto raiva por ele ter tentado me prender a esse lugar com uma ordem, tento engolir o sentimento que desce queimando.<
O sol fere meus olhos quando atravesso na floresta do Reino da Terra. Pisco várias vezes até me acostumar com a claridade mal tampada pelas folhas verdes, amarelas e laranjas das árvores.Nós tínhamos um plano, e ele começava comigo me entregando.Não demora muito até que eu encontre o acampamento de Enki e da rainha. Os soldados se desesperam quando me vêem chegando, uma mancha escura no meio de tanta cor e luz. Mantenho meus ombros para trás, queixo erguido e coluna ereta, escuridão às minhas costas. Há muitas barracas espalhadas pela clareira na floresta, algumas contém bestas amarradas, outras em jaulas, os homens começam a apontar seus arcos para mim. Noto um escudo protetor cobrindo toda a extensão do acampamento.-Baixem as armas! - Reconheço a voz de Myrtle quando ela sai de uma das barracas.A rainha está vestida em uma armadura que fazia par com a de seu marido, nada de vestidos ou saltos como
-Sua mente é uma confusão de emoções. - Ela sorri enquanto cava mais fundo - Tem tanta dor, tristeza e ódio, muito ódio. - Solta uma gargalhada - O seu ódio por si mesma supera todas as outras coisas.Ela me ronda como um predador, me avalia como sua presa, usa minhas próprias emoções, sentimentos e lembranças contra mim, até parar na minha frente e segurar meu maxilar com força.-Quero que deixe esse ódio te consumir.Explora esse sentimento e me faz ver todos os momentos em que senti tanta raiva que não pude me controlar. Luto contra as imagens.-Não bloqueie isso, querida. Veja tudo o que consegue fazer. - Acaricia meu rosto - Isso é apenas uma pequena parte do caos que você pode causar.-Por que você quer isso? - pergunto, incapaz de me mexer.-Porque quero que se liberte.-Por quê? - rosno.-Meu marido foi um tolo em não investir mais em seus p
Assim que puxo minha adaga, algo do outro lado da clareira chama minha atenção, vejo explosões escuras e sei que são as sombras de Matteo.Não consigo dar sequer cinco passos antes que um pedaço de terra se abra e prenda minha perna direita. Enki está furioso enquanto corre até onde estou. Uso meus poderes para me soltar e me desviar de dois de seus golpes de terra.-Aquela rainha vadia! Eu sabia que ela não conseguiria. - Ele me ataca, desvio de novo - A sua sorte, garota, é que você vai ser útil para mim, senão eu já teria te matado.O rei prepara uma avalanche enorme de terras e pedras, preparo minha escuridão para retrucar. Uma névoa branca o acerta e ele cai, Eleanor caminha lentamente em sua direção, as mãos erguidas, os caninos a mostra.-Então meu parceiro quase foi morto sob suas ordens, Enki? Achei que fosse mais esperto.-Sua... - Enki se engasga quando a névoa entra por sua boca -