-Nós temos que ir agora!
Pego a mão de Eleanor e começo a correr em direção a varanda.
-O que aconteceu, Lucille? - Ela puxa a mão da minha e para de andar.
Eu não sabia como explicar o que tinha acontecido. Passo as mãos pelo cabelo, tentando pensar em algo.
-O laço. - Ofego - Tenta sentir o seu laço com Mendo e me diga o que sente.
A feérica franze o cenho e então fecha os olhos, se concentrando, suas feições mudam na mesma hora.
-O que é isso? - Arregala os olhos.
-O que está sentindo? - Procuro o meu para ter certeza de que ainda está ali.
-Está fraco, muito fraco. - sua voz sai trêmula.
-Eleanor, nós temos que ir agora. - Seguro sua mão de novo - Eu não sei o que está acontecendo, mas tem algo muito errado.
-E para onde nós vamos? - Corre junto comigo.
-O acampamento de guerra.
Estava escuro quando Eleanor e eu entramos na floresta. O mais sábio era esperar a luz do dia, mas não tínhamos tempo. A cada minuto perdido, Mendo poderia estar morrendo e Matteo... Eu mataria a rainha pelo que quer que tivesse feito a ele.-Eleanor. - sussurro, fazendo-a parar - Olhe!Estive procurando por Mendo desde antes de adentrarmos a floresta, mas ainda não o havia encontrado, essa era a primeira vez que notava algo com seu cheiro, sangue.Eleanor se olha ao redor rapidamente, desesperada por encontrar seu parceiro. Eu estava usando a escuridão da floresta a nosso favor, camuflando-nos, as vezes algo passava por nós e sentia nosso cheiro mas não nos enxergava.-Ele não deve estar longe. - Me abaixo e coloco as pontas dos dedos no sangue - Ainda está molhado. - Vejo que há mais na frente - É uma trilha. - Observo as manchas no chão - Ele se arrastou.-Mendo já sobreviveu a coisas piore
-De jeito nenhum. - a voz de Daren é calma quando fala.-Não cabe a você decidir. - Viro de costas, e começo a me afastar.-Não. - Sua voz assume um tom mais grave - Você vai ficar e vamos chegar a uma solução. - é a ordem de um rei.Parte de mim tenta ceder àquela ordem e me manter no mesmo lugar, a outra parte grita bem alto que eu não devo mais obediência a ninguém.-Sente-se. - ordena.Sinto cordas me puxando para a poltrona mais perto, puxando a parte que tem de ceder, a outra parte corta essas cordas. Volto a andar, agora com dificuldade, mas ainda sim, andando.-Você não tem que ir, Lucille, nós vamos resolver isso juntos. Por favor, fique. - Daren continua, não mais uma ordem - Pelo menos até pensarmos em algo melhor.Sinto raiva por ele ter tentado me prender a esse lugar com uma ordem, tento engolir o sentimento que desce queimando.<
O sol fere meus olhos quando atravesso na floresta do Reino da Terra. Pisco várias vezes até me acostumar com a claridade mal tampada pelas folhas verdes, amarelas e laranjas das árvores.Nós tínhamos um plano, e ele começava comigo me entregando.Não demora muito até que eu encontre o acampamento de Enki e da rainha. Os soldados se desesperam quando me vêem chegando, uma mancha escura no meio de tanta cor e luz. Mantenho meus ombros para trás, queixo erguido e coluna ereta, escuridão às minhas costas. Há muitas barracas espalhadas pela clareira na floresta, algumas contém bestas amarradas, outras em jaulas, os homens começam a apontar seus arcos para mim. Noto um escudo protetor cobrindo toda a extensão do acampamento.-Baixem as armas! - Reconheço a voz de Myrtle quando ela sai de uma das barracas.A rainha está vestida em uma armadura que fazia par com a de seu marido, nada de vestidos ou saltos como
-Sua mente é uma confusão de emoções. - Ela sorri enquanto cava mais fundo - Tem tanta dor, tristeza e ódio, muito ódio. - Solta uma gargalhada - O seu ódio por si mesma supera todas as outras coisas.Ela me ronda como um predador, me avalia como sua presa, usa minhas próprias emoções, sentimentos e lembranças contra mim, até parar na minha frente e segurar meu maxilar com força.-Quero que deixe esse ódio te consumir.Explora esse sentimento e me faz ver todos os momentos em que senti tanta raiva que não pude me controlar. Luto contra as imagens.-Não bloqueie isso, querida. Veja tudo o que consegue fazer. - Acaricia meu rosto - Isso é apenas uma pequena parte do caos que você pode causar.-Por que você quer isso? - pergunto, incapaz de me mexer.-Porque quero que se liberte.-Por quê? - rosno.-Meu marido foi um tolo em não investir mais em seus p
Assim que puxo minha adaga, algo do outro lado da clareira chama minha atenção, vejo explosões escuras e sei que são as sombras de Matteo.Não consigo dar sequer cinco passos antes que um pedaço de terra se abra e prenda minha perna direita. Enki está furioso enquanto corre até onde estou. Uso meus poderes para me soltar e me desviar de dois de seus golpes de terra.-Aquela rainha vadia! Eu sabia que ela não conseguiria. - Ele me ataca, desvio de novo - A sua sorte, garota, é que você vai ser útil para mim, senão eu já teria te matado.O rei prepara uma avalanche enorme de terras e pedras, preparo minha escuridão para retrucar. Uma névoa branca o acerta e ele cai, Eleanor caminha lentamente em sua direção, as mãos erguidas, os caninos a mostra.-Então meu parceiro quase foi morto sob suas ordens, Enki? Achei que fosse mais esperto.-Sua... - Enki se engasga quando a névoa entra por sua boca -
O ódio sempre me deixou descontrolada e me fez fazer coisas que eu não me dava conta, mas seria ele a chave para minha libertação? Eu acho que não.Acho que teria mais haver com aceitar quem eu sou, aceitar minhas origens, minha história, aceitar o que eu posso fazer, o meu potencial. E quando eu finalmente me aceito, percebo um poço de poder que eu nunca havia notado.Mergulho nesse poço, indo mais fundo do que eu jamais ousei ir. Junto comigo, escuridão de todos os cantos segue meu caminho, como se eu as estivesse reclamando, como se fosse toda minha. Mergulho e mergulho cada vez mais, até que meus pés alcancem o chão e quando eu finalmente chego é que entendo. Eu nunca controlei a escuridão. Eu sou a escuridão. Me encolho o máximo possível e salto para fora.Um grito sai de meus lábios quando eu explodo em escuridão. Abro meus olhos e sei que não há qualquer resquício de verde neles. Alguma vez eles já haviam sido ver
Não tenho ideia de onde estou, mas há uma mulher sentada ao pé da cama em que estou deitada. Ela é alta e de postura imponente, os cabelos escuros são tão longos que tocam seus quadris, ela usa um vestido negro com detalhes prata. Mas o que mais me chama atenção, são seus olhos que cintilam em prateado.-Fico feliz que não tenha ignorado minha advertência. - um sorriso orgulhoso retorce seus lábios - Foi muito esperta.A mulher levanta e caminha até onde estou, suas mãos tocam carinhosamente minha bochecha. Quase estremeco pelo quão gelada é.-Eu não tenho muito tempo, Lucille, você precisa se apressar.Tento me movimentar, levantar ou falar. Quero saber quem é essa mulher e do que ela está falando, mas não consigo.-Durma. - A não fria sobe para a minha testa - Precisa estar descansada para o que virá.
Pisco várias vezes para afastar as manchas da minha visão. Minha cabeça ainda doi e meus membros parecem pesados. Mas mesmo assim, viro minha cabeça e encontro Matteo sentado em uma poltrona, inclinado sobre a cama e dormindo com a cabeça escondida na curvatura de um de seus braços, a mão livre segura a minha, suas asas se arrastam no chão. Meu corpo protesta quando ergo meu outro braço e enterro minha mão em seu cabelo. Ele levanta a cabeça na mesma hora, olhos arregalados encontram os meus. Me arrependo de tê-lo acordado.-Oi. - sussurro.-Está acordada. - Fala e pisca algumas vezes, como se não pudesse acreditar.-Parece que sim. - Tento forçar um sorriso mas tudo doi, desisto. Seu olhar se torna alarmado - Você está bem?-Esteve desacordada por cinco dias e quer saber se eu estou bem?-Sim. - continuo séria.-Estou bem. - mente.-Matt... - repreendo.<