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Capítulo 07 - Decisões

SOU O PRIMEIRO A RETORNAR DA REUNIÃO DO CONSELHO, Román, Devon e Lauralyn possuem compromissos dos quais não faço parte. Além disso, não me sinto muito bem. Fico com um sentimento de culpa quando preciso mentir ou fazer alguma coisa que eu não quero fazer… e bem, mentir é tudo o que eu tenho feito quando estou nessas reuniões.

Decidimos algo importante hoje, mas tenho medo de que se minhas decisões não estão sendo feitas por Bawarrod, que talvez elas não sejam legítimas. O que eu tinha que fazer? Expor para todos o que realmente acontece?

Agora que Kaiser voltou a vida, estou ainda mais seguro de que Bawarrod não está dentro de mim, mesmo que por quinze anos eu achei que estivesse. Que droga, estou mesmo muito encrencado e preciso resolver isso logo.

Entro pela antessala, o castelo está em um perfeito silêncio o que indica que as crianças estão no colégio. Quando estão em casa, elas sempre estão correndo e gritando, os mais velhos, como Mia, Derek e Isis costumam estar no salão de jogos e suas risadas ressoam pelas paredes.

— Boa noite, Lorde Bawarrod. — Patuk, a governanta, me lança um sorriso. Que estranho, pela primeira vez o título parece não pertencer a mim e por um segundo, olhei para trás achando que eu pudesse ver Kaiser.

— Boa noite. Onde estão todos? — Pergunto, tirando o nó da gravata, já estou sufocando.

— Na piscina! — Patuk responde e pega a gravata de minhas mãos. — O senhor deseja trocar de roupa?

— Não agora, obrigado. — E que eu saiba, consigo me vestir sozinho. — Não avise a ninguém que eu cheguei, quero ficar sozinho.

— Como desejar senhor. — Patuk se curva em reverência e segue pelos corredores.

Vou andando em direção à piscina, onde os outros estão, chego na porta e já não quero dar mais nenhum passo, com a cena que presencio:

— Quer uma massagem, Thalise? — Lennon está segurando um óleo de massagens na mão.

— Ah, seria ótimo. — Thalise sorri, de biquini dentro da jacuzzi na piscina.

— Eu sou muito bom com massagens. — Kaiser se oferece antes que Lennon se aproxime de Thalise, já colocando as mãos nos ombros delicados dela.

Oh, por favor! Isso é ridículo.

— Bem, talvez eu deva fazer a massagem em… Danielle? — Lennon muda de alvo e para diante da minha irmã mais velha, notando que Kaiser marcou o território. — Você me parece tensa.

Danielle dá uma encarada em Lennon tão séria que parece que ela vai negar, ou dizer um palavrão, mas contrariando meus pensamentos, ela sorri de forma simpática, quase uma obrigação e ao mesmo tempo, parece legítimo.

— Sim, pode ser. — Danielle aceita a massagem e Lennon se aproxima da espreguiçadeira em que ela está deitada de bruços.

Até parece que é uma manhã ensolarada e que dá para se bronzear, mas é o início de uma madrugada gelada no polo norte.

Passo para o lado de fora, a área da piscina, sem que vejam que eu cheguei. Há alguma vantagens em possuir todas as Heranças de Bawarrod no final das contas, sou basicamente um doppelganger de um dos muitos garçons da casa nesse instante. Vamos ver quanto tempo demorará até alguém perceber que eu estou aqui?

— Melhor ideia do mundo foi ter construído essa piscina, Jaylee! — Izobel a irmã mais nova de Devon, dá um gole em seu drink decorado com um guarda-chuva de plástico, ela está sentada em uma das espreguiçadeiras ao lado de Danielle, com um livro no colo. — Eu nunca pensaria em algo assim!

— Adoro piscinas. — Jaylee responde, sentada ao lado de Thalise com os ombros de fora da água aquecida. — Na verdade, eu gosto de água em geral. Sou do tipo que demora muito no banho e tudo o mais. Quando eu era mais nova, mamãe me levava ao clube e eu era sempre a primeira criança a querer nadar e a última a querer sair da água!  — Lembra-se com um pouco de nostalgia nos olhos e na voz.

Passo por Lucretia, dou uma piscadinha para ela saber que sou eu e recebo uma revirada de olhos típica. Fico parado em um canto do quiosque, onde estão servindo canapés e bebidas alcóolicas, até ajudo um pouco, lavando a louça.

— Sabe o que eu estava pensando? — Thalise interfere, com a cabeça um pouco baixa enquanto os dedos de Kaiser percorrem os músculos de sua nuca e ombros. Ela parece relaxada. — Seria ótimo dar uma festa de boas vindas para Kateus!

— Deveríamos esperar Kateus chegar para decidirmos, Thalise. — Danielle não está tão animada quanto ela. — Não o vemos há muito tempo e não sei se ele iria querer nos encontrar em meio a desconhecidos. Ele é muito reservado.

— E esse Logan que vem junto? Ele é tão reservado quanto Kateus? — Lucretia pergunta. Minha esposa está sentada em uma espreguiçadeira com as penas de lado e um biquini curtinho que é muito convidativo. Que pena que sou um lavador de pratos!

— Reservado? Que nada! — Thalise dá risada, ainda recebendo massagem. — Ele é um safado, ficou com Danielle e Lauralyn!

— Com as duas? Como um triângulo? — Izobel toma um susto e não consegue evitar em conferir Lennon, que espalha oleo pelas costas de Danielle.

— Nunca formamos um triângulo amoroso, não da forma que estão  pensando! — Danielle precisa se virar um pouco para olhar para as garotas agora. Lucretia faz uma careta típica de quem se prepara para tomar como ofensa o que foi dito, mas desiste e Izobel abre bem os olhos, absorvendo a informação. — Logan é gentil e possui uma conversa agradável...

— Além de muito bonito e sedutor, não é irmã? Eu diria que ele é irresistível! — Thalise se intromete com um sorriso divertido no rosto.

Danielle olha enviesado para Thalise e continua:

— Pare com isso! Você sabe que nunca desconfiei que Lauralyn pudesse sentir alguma coisa por Logan! — Pontua. Talvez ela se sinta culpada de alguma forma. — Permanecemos juntos até o dia que soube que ela era apaixonada, e que, inclusive, haviam iniciado alguma coisa!

— Nossa que safado! Ele estava com as duas ao mesmo tempo? — Jaylee pergunta boquiaberta.

— Infelizmente, não terminei com ele a tempo de resguardar minha relação com Lauralyn. — Danielle explica. — Durante um tempo, Lauralyn ficou ressentida por minha tentativa de abrir seus olhos às atitudes desonestas de Logan.

— Pelo visto esse Logan foi disputado à tapas! Ele é tão gato assim? — Lucretia quer saber.

— Não, ele não era nada demais. — Danielle responde seca e Lennon precisa morder a boca para não rir, pois sabe que ela está mentindo.

— Com “nada demais”, Danielle quer dizer um metro e oitenta e cinco de músculos definidos, cabelos castanhos claros e olhos azuis! — Thalise conta com empolgação. Pela descrição, não parece nada mal, mesmo!

— Pelo visto Dorian terá motivos para se morder de ciúme! — Izobel dá uma risada divertida. Conheço Dorian e sei que ele é do tipo que explode a cara de qualquer um que tente se aproximar de sua esposa. Prevejo confusão.

— Acho que a chegada de Logan pode abalar muitas relações! — Thalise diverte-se, notando o mesmo que eu.

Irônico ela dizer quando seu relacionamento está um pouco abalado pelo ciúme que Román tem de Kaiser. Sei que Thalise se apega às pessoas, mas ela não percebe que as pessoas se apegam a ela também e que isso pode acabar machucando alguém. Seco as mãos, depois de limpar os pratos e me encosto ao balcão, prestando atenção na conversa. Quando eu era um Escravo de Sangue o mesmo acontecia: os vampiros dificilmente prestavam atenção ao fato de que eu existia, é um tipo de invisibilidade social que para muitos é incômodo, mas que aprendi a tomar como vantagem. Jaylee também, ainda lembro como costumávamos cruzar informações dos nobres ao salão e ela continua sendo uma grandiosa informante ainda hoje.

— Espero que Logan tenha o bom-senso de não fazer isso e manter-se bem afastado das duas! — Jay cruza os braços, daquele jeito muito protetor que ela sempre faz.

Lennon termina sua massagem e Danielle se vira, sorrindo e agradecendo a ele. Kaiser, que ainda não tinha terminado de massagear Thalise se afasta, eles trocam sorrisos e algumas palavras as quais não consigo escutar.

— Você tem uma tatuagem? — Lennon pergunta para Danielle, com os olhos cravados na marca de Aesis do lado direito no quadril, bem onde fica a calcinha do biquini.

Lucretia senta-se à minha frente no bar:

— Pode me servir, por favor?

— Claro, minha senhora. — Por que ela precisa falar assim com duplo sentido?

— Não é uma tatuagem, é a Marca dos Filhos de Aesis. — Danielle explica meio rindo, como quem acha engraçado Lennon ser tonto a ponto de achar que é uma tatuagem. Vampiros não ficam tatuados por muito tempo, a regeneração se encarrega de fazer sumir. — Recebemos na Caverna de Aesis, quando somos levados lá ao nascer.

— Achei que tinha aparecido aquela noite no jantar em que vocês ficaram juntos. — Jaylee pergunta. Pra ser sincero, eu também. Não tinha marcas assim no meu corpo antes daquele dia. — Mas não deveriam ser iguais em todos vocês? Sem querer vi a de Zane e ela está bem diferente.

Dou uma olhada rapída para Lucretia e coloco uma taça em frente a ela, selecionando aleatoriamente uma das bebidas disponíveis ao bar.

— Percebi, mas não sei por que razão está assim. — Danielle dá de ombros. — Ele passou por muitas coisas quando mais novo, talvez tenha modificado essa marca.

— Modificado? Não! — Jay estranha, franzindo a testa. — Tenho certeza que Zane não possuía marca alguma até aquela noite. Tratei de suas costas quando ele foi chicoteado à mando de Kaiser, não tinha nada lá.

Danielle olha para Thalise, mas minha irmã mais nova está repreendendo Kaiser com o olhar. Ah, eu me lembro daquele dia. Bons tempos.

— Por que eu mandaria chicotear alguém? — Kaiser pergunta sem entender, provavelmente pensando que ele mandaria decaptar e que quarenta e tantas chicotadas não fossem um castigo o suficiente para alguém que desrespeitou o Grande Império.

— Você ficou extremamente ofendido na época. — Jaylee conta, com um sorriso divertido no rosto, lembrando-se.

Até eu não consigo segurar um sorriso e Lucretia me repreende com duros olhares, ela pega o copo em que eu a servi e caminha novamente para perto do grupo:

— Extremamente indecente, eu diria, Kaiser. — Ela se senta novamente na espreguiçadeira, que Lennon já está sentado. — Duas doses de Sangue-de-Bruxa foram demais ao senhor, Devon teve que, basicamente, te arrancar de cima de Zane, você não conseguia parar de beijá-lo no salão em frente á todos os nobres.

Por que ela precisa dar tantos detalhes?!

— Minha querida Lucretia, deve levar em consideração que provavelmente caí numa armadilha daquele sidhe! — Kaiser fica bem sério, enviando um olhar vermelh-sangue quase mortal para Lucretia. Mais ou menos a mesma expressão que ele fez no dia seguinte quando foi me pegar de carro por eu estar andando pelos corredores de Torre Bawarrod exibindo a Relação-Sanguínea. Foi mesmo um golpe e eu estava jogando com ele, enquanto ainda era seu escravo. Meu único arrependimento foi ter trocado a jaqueta que ele me deu para pegar um carrinho de brinquedo e presentear uma criança carente, quer dizer, não me arrependo.

—  Zane pode ser incrivelmente sedutor. Além do mais, ao que me consta, ele nem sabia que era sidhe naquela época! —  Jaylee defende.

— Por que ele tomou duas doses para começar? Pelo que conheço de Devon Riezdra e esse garoto, provavelmente tentaram um golpe sobre a Coroa. —  Kaiser arranha a voz e cruza os braços sobre o abdômem bem definido. —  Bem sucedido, pois bem, acredito que fui muito condescendente com essas chicotadas, eu mandaria matá-lo.

Na mesma hora Thalise tem um ataque de fúria, cruzando os braços e seu corpo fica todo vermelho como o fogo. Kaiser sai da piscina correndo e é possível ver a água borbulhar, Jay apenas olha para a água assustada, mas não parece ter se queimado como ele.

— Por que você fez isso? — Kaiser exige, em pé na borda. Thalise não responde, ela sai da piscina em passos duros. — Thalise! — Kaiser vai atrás dela.

Acho que depois de tudo o que foi dito, é uma certeza absoluta de que eu não sou Sirena. Jay tem razão em suas observações, eu não tinha uma marca até aquela noite. Por que ela surgiu, então? Tenho até medo de descobrir o que há por trás disso tudo.

(*) Nota: Doppelganger é uma lenda alemã sobre as pessoas terem “um duplo”.

●●●

Mais tarde na mesma noite, estamos em uma sala de estar, a que eu considero mais confortável com uma grande lareira e móveis brancos. De banho tomado e com roupas confortáveis e quentes, deito a cabeça no colo de Jay.

— O que foi? — Ela me pergunta largando o Fascículo do dia em cima da mesa onde tem um abajur creme, suas mãos alcançam meu cabelo ondulado fazendo um carinho, percorrendo os dedos pelos fios longos.

— Sinto sua falta. Você está sempre ocupada com todos os outros. — Faço bico.

— Não é verdade. Sabe que pode sempre contar comigo. — Jay desliza os dedos prendendo alguns cabelos na minha orelha. — O que está te incomodando, meu filho?

— A lista é grande. — Confesso com desânimo. — A começar que todos deveriam estar me paparicando.

— Está dizendo isso por causa de Kaiser?

— Ele me trata como um estranho e isso me irrita, é só. — Ergo a cabeça e me sento do lado dela. Jay coloca os pés no chão e eu apoio minha cabeça em seu ombro. — Vou me acostumar, desde que ele não fique me ofendendo o tempo todo. Eu estava na piscina, disfarçado, vocês não me viram, mas eu ouvi tudo.

— Pode ser que leve um tempo para Kaiser recuperar a memória, Zane.

— Acho que agendarei comícios por todo o Império pelos próximos meses, assim não preciso ficar aqui. Poderia começar pela Costa Leste.

— Essa é a área mais afetada pelos ataques alienígenas, não é? — Jay me empurra, para me fazer olhar para ela. Ao perceber que estou falando sério, ela me condena. — Fugir dessa forma não resolverá seus problemas. Além de ser muito perigoso na zona de ataque, Zane. Você é o Imperador, precisamos de um líder vivo, viu? Além disso, você quase morreu em uma emboscada recentemente.

Respiro fundo.

—  Eu estava visitando os acampamentos dos soldados mais afetados quando ficamos presos em uma base. A névoa que os alienígenas produzem é venenosa e ficamos sem os filtros das armaduras. Eu pensei que fosse morrer, mas sobrevivemos, todos com vida, os resgates chegaram a tempo.

—  Foi por sorte.

— Jay... O mundo está morrendo e de alguma forma é culpa minha, então preciso dar o meu melhor pelo Império.

— O que você quer dizer com isso? — Jaylee estreita os olhos, me analisando.

— Que talvez eu tenha perdido o jeito. — Desvio dos olhos dela e encaro uma das almofadas vermelhas do sofá. Não foi exatamente isso o que eu quis dizer, mas servirá para ela não se meter. — Os vampiros de Blonard estão fazendo pesquisas sobre os Anjos, catalogando as novas espécies que surgiram e como a propriedade simbiótica da névoa não afeta o seu corpo, capaz que possamos desenvolver uma proteção. Talvez eu precise gerenciar essas pesquisas mais de perto.

— Faça o que achar melhor, apenas não quero que use a Guerra como desculpas para a revolução que acontece dentro de seu coração. — Jay bate o dedo no meu corpo, bem onde meu coração está.

— Meu coração é tolo e fraco, me concentrar em outras coisas é exatamente o que eu preciso nesse momento. — Resmungo.

Posso ver que ela fica calada juntando todas as informações como um quebra cabeça e tenho certeza que falei demais para ela, mas confesso que Jaylee é boa em juntar peças e eu preciso que ela me ajude agora. Talvez se ela descobrir alguma coisa, eu consiga encontrar o que procuro.

— Ei, vaqueira! — Caedyn, minha prima adotiva e uma vampira da Casa Riezdra, que estava no exército, aparece na porta, dando um sorriso leve. Seus os cabelos ruivos volumosos estão bagunçados e ela ainda está usando a farda. — Vamos jantar?

— Claro! — Jay levanta-se e estende a mão para mim. Hesito. Não quero me sentar a mesa com Kaiser, eu fugiria, mas Jaylee não permitiria. — Não seja tão covarde. — Com um suspiro, seguro em sua mão e fico de pé.

— Como estão as coisas no esquadrão? — Pergunto olhando para minha prima.

— Oh, bem atarefadas. — Caedyn abre bem os olhos amarelos e desvia o olhar para Jay. O esquadrão do qual Caedyn é a capitã agora costumava ser meu, mas tive que me ausentar dos serviços militares por questões políticas e por ser um Membro do Conselho dos Nove. Eu sinto falta de quando não era Imperador e ficava no meio da agitação. — Eu poderia usar sua ajuda, tenho uma pilha de casos para resolver, vaqueira!

— Não sei, faz bastante tempo que estou longe do campo. — Jaylee resiste ao convite.

Ela parou de trabalhar no esquadrão quando Derek nasceu e adora fingir que não sente saudades de fazer alguma coisa que não seja cuidar das pessoas como meu pai espera que ela sempre faça, mas estou segurando sua mão e sinto toda a carga de emoções que isso envolve. Empatia tátil pode ser um fardo as vezes: saber como uma pessoa se sente te torna responsável por ajudar em seu bem-estar.

— Dean já está com oito anos, você poderia voltar à ativa. — Digo, para incentivá-la, lançando um sorriso, caminhando ao seu lado. Jaylee é mais baixa que a maioria das pessoas que conheço e ela não precisa usar saltos para parecer perigosa, ao contrário de mim. — E seria bom que você se preocupasse com outras coisas além dos problemas de família.

— Você está dizendo isso porque não me quer te pressionando aqui em casa. — Jay me dá uma dura.

— Zane tem razão. — Caedyn estica as duas sobrancelhas e se coloca a andar pelo corredor.

— Não. Digo porque acho que você quer fazer mais coisas do que ser uma dona de casa como Izobel. — Reviro os olhos brancos e passo o braço por seus ombros pequenos, puxando-a, vou seguindo Caedyn. — E você gosta do esquadrão, eu me lembro disso.

— Ah, não sei, perdeu a graça sem você. — Jaylee pisca o olho, como se fosse grande coisa.

— É, mas eu saí para me dedicar às questões políticas, você saiu porque meu pai é um machista maldito. — Cutuco sua bochecha com o dedo.

— Não fale assim do seu pai! — Jay me dá uma cotovelada na costela. Eu me afasto imediatamente. — Foi minha opção, há muitas coisas para se fazer aqui em casa. Lembram-se do ataque de Celeste, eu tenho medo de sair e algo acontecer.

—  Não confia nos guardas?

—  Claro que não!

— Como preferir, vaqueira, mas se mudar de ideia, informe-me. — Caedyn pontua, sem mais a acrescentar.

Minha prima não gosta de ficar argumentando o tempo todo, mas tenho certeza que é especialmente difícil para ela ver Jaylee em casa. Caedyn é do tipo que luta pelos direitos das mulheres na Sociedade dos Vampiros e meu exemplo sempre que quero convencer garotas fortes e destemidas a se alistarem.

Enquanto elas caminham distraídas para a sala de jantar e juntam-se aos demais, separo-me delas e vou seguindo por outro caminho, com a única intenção de me atrasar um pouco para o jantar.

— Não, pare, Gavril! — Escuto uma voz fina de garota. — Pare, não! Ai! Ai!

Gavril. Meu sangue já até ferve! Com certeza ele está aprontando das suas! Eu não sei se ele bateu a cabeça quando nasceu, mas Gavril está sempre fazendo alguma coisa errada.

Sigo os sons, dobro por alguns corredores e logo encontro Liv, a filha mais nova de Dorian e Danielle acuada em um canto da parede, perto da janela ao final do corredor e Gavril, segurando um garfo de prata, pinicando ela, enquanto dá risada por vê-la chorando.

Liv é pequena, apesar de ter a idade de Gavril ela é muito delicada e menor que ele, já Gavril exala maldade.

— Gavril! — Paro ao lado deles. Liv me olha assustada, com lágrimas nos olhos lilás. Ela tem sangue Soretrat, meus tios decidiram que suas duas filhas, Liv e Isis, teriam mais chance de sucesso na vida se fossem com sangue Soretrat, uma Casa que valoriza mulheres. — Foge daqui, Liv. — Dou um tapa na cabeça de Gavril e seguro sua mão com o garfo. — Qual o seu problema?

— Aaaai! — Gavril se debate, puxando o garfo, não querendo me dar.

Liv passa por mim, fugindo, seu cabelo comprido e castanho balançando de um lado para o outro enquanto corre.

Olho para Gavril:

— Você é um psicopata, mesmo! — E começamos uma espécie de cabo de guerra.

Ele pisa no meu pé, puxando o garfo, eu solto, um pouco surpreso pelo golpe, mas convenhamos, não doeu. Para minha surpresa, Gavril me olha com raiva, rosnando como um animal e usando toda a sua força de criança-vampiro, ele crava o garfo na minha perna.

— Aaaaai! — Grito, a dor lancinante me faz abaixar o corpo e seguro no garfo.

Gavril dá risada e sai correndo pelo corredor. Que tipo de criança faz isso? Estou dizendo, esse garoto é um demônio! Seguro no garfo e puxo, ainda preciso gemer de dor. Maldito seja Gavril. Fico arfando, respirando com dor e jogo o garfo no chão com força.

— Droga!

— Zane! — A voz de Devon soa tão imponente que explode contra as paredes do corredor e eu sei que ele está bravo comigo. Olho para frente e vejo meu pai, de terno, acompanhado de Gavril, com o rosto todo vermelho e lágrimas nos olhos, chorando. Devon passa a mão na cabeça dele. — Vá para a cozinha, Gavril, está tudo bem.

— Obrigado papai. — Ele sai fungando.

Mas que pestinha! Aposto que ele foi chorar para Devon e se fazer de coitado. Meu pai caminha firme na minha direção e segura firme no meu rosto, me jogando contra a parede, para me dar uma prensa.

— Pare de maltratar o seu irmão, qual o seu problema?

— Eu não fiz nada!

— Gavril disse que você deu um cascudo nele. É mentira? — Seus olhos estreitam, me fulminando.

— Não, mas ele mereceu! — Defendo-me.

— Zane, ele tem dez anos e você já é um adulto. Pare de ficar competindo atenção com seus irmãos. — Ele aperta a mão no meu rosto, enfatizando o quanto está bravo comigo. Sua voz arranhando. — Se eu vir ou ficar sabendo de mais uma dessa, vou te passar um tratamento de choque para você aprender a não maltratar crianças!

— Mas eu… — Começo a falar. Devon estreita os olhos e aperta ainda mais meu rosto. — Claro, não vai mais acontecer. — Falo com dificuldade.

— Ótimo. Cresça um pouco. — E sai abruptamente, me dando as costas.

Coloco a mão no maxilar, quase quebrou! Meu pai entra por uma porta, que dá na sala de jantar e vejo no cantinho do corredor, Gavril dando risada.

— Eu não terminei com você, pestinha. — Aponto para ele, rangendo os dentes.

Com medo, Gavril foge.

Entro na sala de jantar e Lucretia me recebe com um sorriso. Abaixo a cabeça para não olhar para mais ninguém e me sento ao lado dela, trocando um selinho. Derek me olha com ódio, como se Lucretia fosse sua namorada e não minha, sabe? Só tenho irmão maluco! Daqui a pouco descubro alguma coisa esquisita sobre Dean também.

— Você está bem, meu amor? — Lucretia percebe algo em mim.

Comprimo os lábios fazendo uma careta de desgosto e ela entende que não quero falar a respeito, por isso, evita de me dar as mãos e serve minha taça com vinho e depois repousa a mão na minha perna. Respiro fundo e procuro sorrir, para que ela saiba que não é nada com ela.

— Hoje é um dia de comemoração. — Meu pai se levanta da cadeira, segurando a taça. — Emily, também conhecida como Ma’ham, abdicou hoje de seu cargo. O Conselho decidiu em reunião que Danielle será a nova Princesa Soretrat. O Ritual de Passagem ocorrerá em poucos dias, devido ao delicado estado de saúde de Emily.  — Ele mostra um sorriso satisfeito em direção à Danielle e ergue o copo. — Congratulações!

Danielle coloca as duas mãos na boca surpresa e se abraça com Dorian, trocando muitos selinhos. Ela se abraça com Lauralyn e depois com Thalise e logo há uma comoção na mesa, todos querem cumprimentá-la. Lucretia se levanta e a abraça, depois é a minha vez.

— Você tem certeza que quer se tornar Receptéculo da Deusa Soretrat?

— Claro que sim, Zane.

— Nesse caso, meus parabéns. Não consigo pensar em pessoa melhor para ser Princesa Soretrat. — Eu digo, segurando em suas mãos. Danielle suspira sorridente, em uma espécie êxtase. — Quando for Princesa, pare de me enviar cartas para ter bebês. — Brinco, mas estou falando muito sério e espero que ela perceba. É a Casa de Soretrat que cuida do centro de natalidade e Emily já me enviou diversas exigindo um herdeiro com sangue Bawarrod.  

— Você não tem jeito, mesmo, Milan. — Danielle me abraça forte, segura em meu rosto e me dá um beijo na bochecha. — Conversaremos sobre isso após a cerimônia, eu tive uma ideia.

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