— BOA NOITE, THALISE! — LUCRETIA A CUMPRIMENTA assim que deixamos o quarto e pisamos no corredor.
— Como está Román? — Pergunto com um sorriso esperançoso, querendo ouvir que eles fizeram as pazes.
— De ressaca. — Thalise dá de ombros, com o rosto sério de quem não gostou da pergunta. Seus cabelos ruivos estão soltos e ela está com um vestido luxuoso para enfrentar o cotidiano no castelo, exceto pelo mau-humor aparente, parece normal.
— Não estão se entendendo?
— Não quero me entender com ninguém, Zane, só comigo mesma. — Ela responde impassível e se adianta, passando por nós.
— Que coisa, achei que eles teriam feito as pazes. — Lennon comenta, encostando os braços no meu ombro, se apoiando, seu cabelo castanho está solto com fios compridos e cheiros
AS MESAS QUE LOGAN RESERVOU FICAM bem de frente ao palco onde haviam shows de dança. Quando chegamos o palco ainda estava vazio e portanto nos sentamos para beber alguma coisa e conversar.— É um stripclube para mulheres? — Lucretia sussurra espantada.— Pelo visto, sim. — Estranho um pouco a situação. — Nem acredito que escolheram vir num lugar assim, quer dizer, sei que elas querem se vingar, mas parece demais.— Thalise escolheu com a ajuda de Kateus, ele disse que ela precisa se libertar do passado. — Lennon revela. — Passei uma lista de lugares para eles e sei que aqui tem os melhores dançarinos do Império.— De fato, parece que sim. — Kateus surge ao nosso lado, com um sorriso.Lucretia e Lennon saem na frente, indo sentar-se a mesa com os outros. Eu fico um pouco com Kateus, esperando que ele justifique a escolha do local.
GOTAS GELADAS RESPINGAM NO MEU ROSTO. Não é o frio que me acorda, meu corpo está aquecido. Sinto-me cansado como há muito eu não me sentia e minha respiração está fraca e lenta. Sons confusos, respirações calmas e espassadas, um ronco estranho. Sinto que estou me movendo involuntariamente, para cima e para baixo, acompanhando essas respirações, como almofadas peludas em baixo de mim.Abro os olhos tentando reconhecer onde estou, mas há escuridão, tudo negro como se meus olhos ainda fossem humanos. Que saco, devo estar mesmo fodido. Parece que estou dentro de uma caverna, há som de água ecoando, mas vem do lado de fora, como uma cachoeira.Eu me sento, coçando os olhos e bocejo, sonolento. O que aconteceu?— Grrrrr… — Escuto um rosnado e ergo a cabeça.As almofadas peludas? Na verdade são l
UMA LAMBIDINHA GELADA TENTA ME MANTER ACORDADO. É um dos filhotes de Cornelia lambendo meu nariz. Abro os olhos, mas o que vejo são apenas silhuetas de árvores passando, o som da neve amassando por baixo das patas dos lobos. Está frio e a neve cai por cima de nós.A sensação de desconforto é tamanha que meu coração parece que vai parar de bater, mesmo estando sobre a lombar de Jonas, com o rosto semi-enterrado em seus pelos cinzentos e grossos.— Estou bem. — Digo baixinho para o filhote que lambeu meu rosto e faço um carinho em sua orelha, coçando, ele balança a pata traseira, contente.Coço os olhos, observando onde estou. Não sei quantos quilômetros já percorremos, mas parecem muitos, olhando para as estrelas, fico com a sensação de que já estamos bem perto. Lobos-Metamorfos são mais r&a
A CRIMINALIDADE EM N-D44 CONSISTE EM FURTO E ROUBO. Alguns se tornam latrocínios, mas dificilmente há um assassinato. Especialmente se ocorre dentro da Sociedade dos Vampiros.Governar uma sociedade mista entre vampiros e humanos não é uma tarefa fácil, mas pela última década deu muito certo até que a fome, a doença e o medo assolou a população. Minha nação é um cachorro acuado no canto de uma jaula. Os alienígenas são como o chicote do adestrador: ou matam de medo, ou criam fúria.Não é bonito e nem agradável de assistir. A opressão faz coisas terríveis com a alma. Humanos e vampiros tornam-se monstros e as leis dos mais fortes imperam como na selva.As áreas mais pobres são as mais afetadas e é comum vampiros quase mortos de fome atacarem humanos, sugarem suas Últi
A LÍNGUA QUENTE DE LUCRETIA PERCORRE A MINHA BOCA, DEBRUÇADA por cima de mim, ela me beija com volúpia. Minha cabeça está apoiada em seu colo, minhas pernas por cima de Lennon, enquanto ele lê um livro com a capa preta e dourada. Estamos os três em um dos bancos de ferro e madeira do jardim, rodeados pelas estátuas sinistras que Lucretia comprou. Esse parece ser o seu pedaço favorito da casa agora e sei que ela está plantando roseiras para compor a decoração.Não gosto muito dessas estátuas, elas parecem nos olhar fixamente. São monstruosas, como as quimeras que costumavam existir em Notre Dame, com caretas de horror, bocas abertas, dentes grandes e corcundas.Uma brisa fresca congela minhas bochechas e me faz tremer de frio, eu devia mandar buscar um cobertor.— Ele está escondendo alguma coisa de mim. — Interrompo o beijo,
— NÃO, VOCÊ NÃO PODE PARTICIPAR VAI USAR TELECINESE E MANIPULAR OS RESULTADOS. — Kateus me acusa.Estamos no salão de arqueria do castelo para um disputa de arco-e-flecha que aparentemente eu e Kateus combinamos quando eu estive naquela boate. Apesar de não me recordar muito, topei, adoro disputas, mas detesto ficar fora delas. Cruzo os braços indisposto.— Tá, mas então Lucretia vai competir no meu lugar. — Ela é bem melhor que Lennon em acurácia, afinal das contas e não sou bobo.— Eu quero ficar no time de Danielle! — Lauralyn ergue a mão, adiantando-se.— Ah, que injusto, por que você sempre escolhe ela? — Thalise reclama, colocando as duas mãos na cintura.— Você sempre escolhe Kateus. — Lauralyn responde na lata, fazendo cara de desprezo.— Deve ser porq
DENTRO DE UM VESTIDO PRETO CHEIO DE CRISTAIS COM UM CORSET AMARRADO com força demais contra sua pele, Lucretia cobre a testa com a mão protegendo os olhos dos holofotes. Eu não consigo enxergar, mas não por causa das luzes. Na verdade, luzes não me incomodam. Olho para as inúmeras folhas que me entregaram há pouco. É o discurso que passei horas decorando. Não consigo ler uma palavra sequer, meus olhos estão como se uma nuvem os cobrisse agora.O funcionário que manuseia o holofote tira a luz direta de nós, acho que recebeu uma prensa. De soslaio, olho para Lucretia, agora que a luz não a incomoda, ela me envia um bonito sorriso de apoio e carinho, os olhos cheios de amor. Se não fosse ela do meu lado, eu nunca conseguiria fazer o que preciso.Tomo fôlego e olho para frente, um mar misto de humanos e vampiros na minha frente, apenas esperando minhas p
— ESSE TIRO ERA PARA VOCÊS! AVISAMOS AO LENNON... Olha o que ele ganhou por se envolver com vocês. — Lady Thanya, a mãe de Lennon, está com os olhos vermelhos encharcados de desespero. Ela é uma mulher muito bonita, dessas que se destaca na multidão, uma das muitas irmãs mais novas de Amabile Taseldgar, puxou os mesmos cabelos claros e olhos amendoados.— É uma pouca vergonha. — O homem ao seu lado, Olav, é o pai de Lennon. Alto e elegante, de olhos grandes e redondos, com duas densas sobrancelhas escuras.Beleza é naturalmente uma dádiva entre os vampiros da Casa Taseldgar, é claro, pena que não posso dizer o mesmo de suas personalidades. Não que os pais de Lennon sejam ruins, mas são manipulados e isso me entristece.— Se ele morrer, a culpa é toda de vocês! — Balançando o dedo na minha