Capítulo III

— Você já está indo meu amor?

Ouço a voz de Katelyn atrás de mim quando saio de casa com uma mala na mão. Meu helicóptero com o piloto já esperando por mim. O sol já está alto no céu, embora ainda esteja frio, será uma longa viagem e provavelmente colocarei meus pés em terra ao anoitecer. Sairei de helicóptero para o aeroporto privado, a 30 quilômetros de minha casa onde moro à beira-mar.

— Sim. — Nos vemos em breve. — Digo sem emoção. Eu a beijo rapidamente e tento me afastar, mas Kate agarra meu braço com as duas mãos. 

— Você não vai me dizer para onde você está indo? E se algo acontecer? Como vou saber onde está?

Libero o ar preso em meus pulmões em frustração. Não, eu não acho que sou bom para ter uma família. Ter uma mulher me manipulando com besteiras. Só dois meses morando juntos e já estou me irritando com essa mulher. Não estou e nunca estive apaixonado por Kate. Não acredito nessas coisas, não estou interessado em herdeiros ainda, mas vou precisar deles em breve. Até então, vou encontrar uma mulher que se encaixe.

Me aproximo dela lentamente. Longe o suficiente do helicóptero que começar a ser ligado.

— Escute loira, se você quiser continuar comigo terá que se acostumar que não preciso da sua preocupação, muito menos da sua permissão Para nada. — Se eu tiver que morrer, eu vou e acabou. Agora, se você não está satisfeita com o tipo de homem que eu sou, faça o que quiser da sua vida.

Kate me encara em estado de choque. Sua expressão de tristeza está longe de me comover. — Você está terminando comigo? — Ela grita com uma voz chorosa. Quanto Drama.

— Entenda como você quiser, princesa. — Digo virando as costas para ela. Pelo visto eu nasci apenas para foder mesmo. Não tenho paciência com relacionamentos. 

Entro na cabine do helicóptero e me preparo para decolar. Não olho mais na direção de Kate para ver sua reação, estava com fome de um pouco de aventura e mulheres… Isso é o que eu teria de sobra quando voltasse para casa.

O helicóptero sobrevoa a costa, passando pela densa floresta abaixo. Sinto meu corpo começando a esquentar com a excitação e o clima começando a mudar. Só ouço o som das hélices quando peço permissão para pousar na pista do aeroporto. De longe vejo Richard que já está esperando na pista com o restante da equipe que contratei.

— Sr. Ivanok. — Sua equipe já está em espera conforme solicitado. — Richard diz enquanto eu saio da cabine do helicóptero. O sol está batendo em meu rosto e coloco meus óculos enquanto caminho para o outro avião. Comprado recentemente. Uma aeronave militar equipada com as mais recentes tecnologias. Capaz de transportar soldados e cargas pesadas. Além de transportar até três tanques de combustível. É enorme, mas necessário se eu quiser encontrar a  tal ilha do Peter Pan.

— Estamos prontos Sr. Ivanok, os carros já estão armazenados e os 50 homens estão prontos, o senhor disse que escolheria um dos homens para liderar, quem será? — Eu olho para o homem magro de cabelos loiros e olhos verdes e volto a encarar os homens à nossa frente. Todos eles estão ganhando bem para participar dessa loucura. Não está tão quente, mas tiro o casaco mesmo assim. Como os demais, também visto um uniforme com o emblema da minha empresa.

— Quem vai cuidar da equipe será alguém que eu conheço. — Digo com calma. Posso até ouvir suspiros de alívio ao meu redor. Eu sei que sou um homem muito exigente. Infelizmente. Todo mundo tem defeitos e esse é o meu. Mas eles vão desejar que fosse eu quando conhecerem Frost.

— Já estava partindo sem mim, Drake? — Ouço uma voz profunda se aproximando. Eu me viro e vejo Frost vindo de um dos galpões. — Imagino que você esteja cumprindo sua promessa, odiaria perder a diversão. — Diz ele enquanto me encara de perto com um sorriso forçado no rosto. Eu dou um leve sorriso que desaparece em questão de segundos.

— Pare de colocar o rabo entre as pernas, Frost. — Eu mantenho minha palavra e posso garantir que você vai se divertir até demais. — Estes são os homens que você vai liderar. — Dou um leve aceno de cabeça e cruzo os braços aguardando sua reação. Ele não parece muito feliz, talvez porque eu o insultei. Que minha palavra seja a lei. O homem parece um cachorro assustado. Para alguém que se tornou um assassino, não parece grande coisa. 

— Você sabe que gosto de fazer as coisas do meu jeito. — Diz ele com um olhar sério e sua voz se aprofunda. Posso não ser o soldado de guerra que viu de tudo, mas ainda sou capaz de deixá-lo sem sua mandíbula. Até eu voltar daquela viagem maldita, vou acabar mandando o maldito para o hospital.

— Eu não quero você matando ninguém por aqui, ou eu mesmo vou acabar com você. — Digo e volto minha atenção para Richard que espera ordens atrás de mim. O homem sabe levar o trabalho a sério para um jovem de 26 anos.

— Onde estão os cientistas que você me disse? — Pergunto impaciente e o vejo caminhando em direção a dois jovens.

— Eles estão aqui Sr. — Me aproximo de dois jovens idênticos, um homem e uma mulher que possuem cabelos loiros esbranquiçados e olhos azuis.

— Sr. Ivanok, prazer em conhecê-lo, me chamo Liz Chabot. — Diz a mulher alguns centímetros maior que eu. — Este é meu irmão Pieter.

— Vocês são bem jovens para dois cientistas. — Digo um pouco inseguro, esta missão está destinada a terminar em desastre.

— Somos os melhores pesquisadores de arqueologia do mundo senhor, será um prazer acompanhá-lo nesta missão e mostrar do que somos capazes. — Diz o homem ao lado da irmã com uma voz afeminada. Mantenho minha expressão neutra.

— Espero um bom trabalho de vocês dois. — Digo em tom firme e volto para o avião. — Richard, vamos embora! — Chamo e vejo todos se moverem entrando na parte de trás do avião. Entro na cabine e vejo o enorme painel com vários controles. Só confio em mim para pilotar, graças ao treinamento que tive no exército quando era mais jovem. Entro na cabine com outro piloto e iniciamos o processo de decolagem. O avião é pesado e leva tempo para ganhar velocidade. Depois de alguns minutos, o avião está no ar sem complicações.

A jornada é tranquila. Vejo pelas pequenas janelas que o céu começa a ficar nublado. Já estou preparado para o que virá em algumas horas. O painel de controle detectou uma tempestade moderada a algumas horas de distância. Já sei quanto risco estou correndo, a questão é... É tarde demais para voltar atrás.

Após 8 horas de voo, olho para o lado e vejo o piloto com os olhos fechados, a boca se movendo. Aparentemente ele está orando e o motivo já está claro. Nuvens negras se formam à nossa frente e é aí que entraremos de acordo com as coordenadas.

Prestes a entrar na tempestade sinto o avião começar a oscilar ligeiramente, viro-me para olhar para o lado e vejo o piloto tremer os braços incessantemente, quase sinto pena dele.

— Controle-se, não vamos morrer tão rápido, ainda temos muito que fazer, só não suje a porra do meu avião. — Digo em tom autoritário. Eu sei que estou sendo rude, mas não me importo. Desde quando me preocupo com alguém?

— Sim senhor. — O vejo tentando parar de tremer. Deveria ter chamado outra pessoa para pilotar. Aparentemente, a ganância falou mais alto do que o medo para ele também.

Relâmpagos e trovões ecoam lá fora e a turbulência aumenta.

Não é mais possível ver nada além da escuridão, apenas a luz dos raios próximos. Eu ligo o sensor para detectar qualquer vestígio de terra abaixo de 20.000 pés. Nada.

O medo tenta me dominar. Mas eu ignoro isso. A equipe que enviei, confirmou uma ilha neste local. Eu sei que é uma missão suicida.

— Chefe… É melhor voltarmos, está ficando muito forte e podemos cair. — Diz o piloto tentando esconder o tom de pânico em sua voz. Quem é mais louco aqui? Eu, de criar uma missão suicida ou o frango ao meu lado aceitando de boa vontade me seguir?

— Ainda não! — Rosno as palavras. Estou sendo um verme. Mas minha mente não me permite dormir sabendo que recuei quando estava tão perto.

Ventos fortes tentam jogar o avião de lado com tanta força que às vezes acho que vou quebrar a manche.

— Vamos, baby, mostre o que há de especial em você para ter me custado tanto.

Sinto meu corpo estremecer de tensão. O esforço para manter o avião no curso. Quando vejo o sensor apitar localizando terreno. Há uma hora de distância. Começo a me preparar para desacelerar quando já estivermos perto. Após o alerta, a tempestade começa a ficar para trás e o céu fica estrelado à medida que me aproximo da ilha. É quase surreal. Mas preciso fazer outro grande esforço para encontrar um lugar seguro para pousar.

Com a velocidade reduzida, o avião toca o solo e rapidamente aplicamos os freios de pouso. Aterrissamos em um grande campo aberto. Os motores são desligados e eu me permito respirar. Espero que seja a ilha certa. O sensor não encontrou nenhum outro em um raio de 300 quilômetros.

— Parece que ainda não morremos. — Digo tentando controlar minha respiração, ainda olhando para o painel. O homem está mais sem fôlego do que eu.

— Sim. — Mas ainda tem a volta para casa. Ele ri nervoso. — Estamos fodidos.

— Absolutamente. — Aceno enquanto vou até a porta e abro para descer.

Minha curiosidade aumenta quando vejo o céu estrelado e sinto a brisa fresca da noite. Caminho pela grama baixa e olho para a vasta floresta ao meu redor, na escuridão eu não consigo ver como é e só posso esperar o amanhecer.

— Você realmente sabe pilotar, Ivanok. — Diz Frost. O tom de voz é puro sarcasmo. Não me importo. Não obriguei ninguém a me acompanhar, estão todos aqui pelo dinheiro e pelas riquezas que encontrarem, estou longe de ser otário. Eu os vejo descer do avião, alguns tensos, mas todos bem. Só espero encontrar algo realmente valioso aqui.

— Vamos acampar aqui esta noite, é mais seguro perto do avião. — Aviso Frost. Primeira noite em local desconhecido. Pelo menos eles estão todos armados e prontos para qualquer perigo.

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