Parte 108...Camila— O que diabos aconteceu aqui? - sua voz era grave.— Tentaram atacá-la, senhor - um dos seguranças respondeu. — Zeus a protegeu. O invasor confessou antes de morrer. Disse que foi a senhora Celeste quem o mandou.O ar ao redor de Alejandro pareceu congelar. Vi seus punhos se apertarem, os músculos do peito tensionados em pura raiva. O silêncio que se seguiu foi ainda mais esquisito.Sem uma palavra, ele girou nos calcanhares e voltou para dentro da casa. Mas eu sabia para onde ia. Sabia o que faria.Entrei atrás dele, caminhando o mais rápido que eu podia, encontrando-o já pegando o celular sobre a mesa do quarto. Ele digitou um número e levou o telefone ao ouvido.— Ricardo, fale com Gabriel. Agora. - sua voz era fria. — Nossa mãe cruzou um limite que jamais deveria ter cruzado. Eu quero essa mulher fora do país antes que eu mesmo a mate. - ele se virou para mim — Não aceito que ela continue... Sim, eu sei... - ele falava com o irmão — Não, tem que ser já, sem pe
Parte 109...AlejandroEntrei em casa tarde naquela noite, o cansaço grudando na minha pele como um peso morto. Mas nada me desgastava tanto quanto essa maldita barreira entre mim e minha própria mulher. E ainda tinha a questão de minha mãe. Com certeza tinha perdido o senso crítico para fazer esse tipo de loucura.Ainda bem que hoje em dia eu tenho mais discernimento. Se fosse como na época em que pensava de modo impulsivo, como fiz quando Diego me pediu ajuda sob um falso pretexto, talvez agora eu já não tivesse mais uma mãe e isso causaria uma quebra na normalidade de nossa família e no equilíbrio entre meus irmãos e eu.A vantagem do tempo passar e nos ensinar como as coisas são de verdade é essa. Coisas que eu poderia fazer que seriam muito ruins, agora posso me segurar mais e repensar. Soltei um suspiro duro, tirando a jaqueta e jogando-a sobre o sofá. Subi as escadas sem pressa, empurrando a porta do quarto com cuidado. Camila estava ali, sentada na beira da cama, as pernas te
Parte 110...CamilaMe virei para o médico, buscando algum apoio, mas ele apenas me olhava com paciência profissional. — O tratamento é essencial, Camila. Você quer ou não quer melhorar?— Eu… - engoli em seco. Odiava como todos pareciam saber o que era melhor para mim. Odiava como Alejandro assumia o controle de tudo. Mas odiava ainda mais a voz dentro da minha cabeça que dizia que ele estava certo.— Eu vou pensar.— Você vai fazer! - Alejandro disse com um tom que não permitia discussão.Bufei e desviei o olhar, cerrando os punhos no colo. — E também acho que seria bom que minha esposa fizesse terapia.— Eu já fiz isso também, Alejandro - me senti indignada por ele decidir por mim.— Não importa, agora é outra situação, outro tempo. O que acha, doutor? Minha esposa tem uma fixação por ser uma aleijada - ele me olhou apertando os lábios.— Penso que seria uma excelente ideia, senhor Calderón. A terapia vai contribuir muito para que esse pensamento de derrota seja afastado.— Jesu
Parte 111...SantiagoCinco dias depois...Eu não queria ter que levar Sofia até esse jantar, ela ainda não está cem por cento, mas Alejandro exigiu, então aqui estou eu.Eu a observava do outro lado do carro, os dedos dela brincando nervosamente com a barra do vestido leve que escolhi para a ocasião. Sofia ainda estava machucada, as costelas fraturadas limitando seus movimentos, mas o olhar dela era firme quando se virou para mim.— Ainda acho que não estou pronta para conhecer sua família - ela disse, mordendo o lábio inferior.— Não é uma escolha, Sofia. - entrei na avenida principal — Alejandro quer vê-la. Ele quer garantir que você está bem... E que eu estou fazendo minha parte como ele mandou - respondi, segurando seu queixo entre os dedos para que me olhasse nos olhos. — Além disso, você precisa se acostumar. Agora faz parte desse mundo. Aceitou se casar comigo, não foi?Seus olhos se arregalaram um pouco, e eu soube que as palavras a atingiram em cheio. Sofia ainda não entendi
Parte 112...AlejandroUm silêncio carregado se instalou entre nós. Santiago sabia que eu tinha razão. Ele só precisava aceitar isso.Então, antes que ele pudesse responder, a porta do escritório se abriu, e Gabriel entrou sem cerimônia.— Só para constar, não vou desistir de Malena. - ele ergueu as mãos antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. — E antes que pense em proibir, lembre-se de que eu sempre faço o que quero. Não estou brincando com ela, eu realmente me interessei por ela, de verdade.Suspirei, soltando a fumaça devagar.— Dois problemas para resolver em uma noite - murmurei, encarando Santiago. — Espero que você tome sua decisão rápido. Porque o tempo de Sofia se acostumar com essa vida está acabando. - olhei para meu irmão — E você, Gabriel, se já está decidido, depois não reclame, caso algo aconteça. — E o que pode acontecer? - ele fez uma cara de preocupado — Está por acaso me rogando uma praga?— Não seu tonto, é que Malena ainda está muito fragilizada pelo que o pa
Parte 113...Alejandro Horas depois – Zona Norte da CidadeEstávamos em três carros. Gabriel dirigia o primeiro, eu no segundo e Ricardo no último, fechando a retaguarda. As ruas ali eram estreitas, perigosas. Cheiro de sangue e podridão impregnava o ar. Nosso informante nos esperava atrás de um ferro-velho.— Alejandro, você não vai gostar do que vai ouvir - disse o homem, tremendo.— Apenas fala logo - minha paciência já estava no fim.— Ela foi levada para o armazém nove, na zona industrial. Mas... Tem gente lá. Muitos. E não são amadores. Eles estão esperando por vocês. - ele nos olhou com medo. — Tem coisa grande por trás disso.— Eu espero que estejam esperando mesmo - murmurei. — Porque vou passar por cima de cada um deles.— Ainda assim, tenha cuidado.*** *** ***Armazém nove, alguns minutos depois..Chegamos com os faróis apagados. Circundamos a área. Homens armados por todos os lados. Pelo menos quinze, talvez vinte. Eu olhei para os meus irmãos.— Vamos dividir. Ricardo,
Parte 114...CamilaA cama estava morna e gostosa. Depois de esperar cheia de ansiedade até que Alejandro voltasse, eu não esperava que ele voltasse trazendo Celeste e menos ainda que ela me pedisse perdão por ter feito o que fez comigo.Foi bem estranho, mas eu aceitei o seu pedido de perdão. Não foi tanto por ela, mas por mim mesma. Depois de tantos anos com meus problemas e ainda tendo fugido de Alejandro, acho que a entendo um pouco.Não que eu ache que seja algo pequeno ou normal o que ela fez, mas se Alejandro está se provando um homem diferente do que pensei e que ele está de verdade se importando comigo mais do que com o esperado para esse casamento, acho que posso dar a Celeste o benefício da dúvida. Mas vou ficar de olhos abertos para ela.Meus músculos ainda estavam levemente doloridos. O fisioterapeuta tinha me massacrado nessa semana, puxado até o último fio de resistência do meu quadril remendado. A dor já não era absurda, mas era constante, cansativa — e no fim das cont
Parte 115...Sofia— Você ainda está preocupado com o que aconteceu com a sua tia?Santiago fechou a porta atrás de nós quando entramos na casa. Ramiro estava na cozinha, pegando um chá para mim, que ele insistiu que eu tomasse tão logo abriu a porta.Disse que estava ansioso para que nós voltássemos para contar a ele como foi a noite na casa de Alejandro e quando ouviu o que Santiago contou sobre Celeste, ele se preocupou comigo. Acho que estou um pouco abatida por tudo. O começo da noite foi tenso pra mim, porque estava ansiosa por conhecer as pessoas e depois me senti bem recebida por Camila e a amiga dela.Mas não tivemos muito tempo de conversa, porque tiveram que sair rápido para resolver o problema. Isso me deixou um pouco nervosa. Não estou acostumada com essas viradas rápidas de situação. É como se eu estivesse em uma montanha - russa de emoções desde que saí do convento e vim para cá.— Preocupado, não mais - ele colocou a mão em minhas costas para me ajudar a caminhar — Só