Bianca
Ele estava parado no sinal, vez ou outra eu tentava olhar para outro lugar se não a arma em seu bolso. Ele já não vestia o casaco de couro e nem usava mais a gravata, as gotas de suor desciam por sua testa. Ofeguei ainda colada a porta, procurava de algum modo achar alguém... algum guarda municipal ou até de trânsito na rua, uma viatura... qualquer coisa. — Tinha alguma coisa na bebida...— ele olhava para suas mãos quando o sinal voltou a abrir. Pisquei ainda angustiada — Não... a sua bebida é seleciona... ninguém pode tocar nela...— Ele me olhou e voltou a dirigir. — Eu sei baby-doll...— Pouco depois ele parou o carro, estávamos na entrada do central Park, que estava vazio por ser a noite. Ofeguei buscando alguém, alguma ajuda. Levei uma das mãos a trava da porta, os meus movimentos eram lentos, ele estava bêbado, mas ainda tinha uma arma na cintura.Abri os olhos. A luz forte no meu rosto queimava a minha retina, suspirei sentindo a cânula no meu nariz, tentei abrir os olhos, mas ainda estava tudo muito confusa. Respirei outra vez, e percebi uma mulher de branco na porta, ela observava-me, me fixei nela por alguns segundos e ela correu pelo corredor movimentado. Tentei sentir os pés, e quase chorei ao ver que conseguia mover os dedos, mesmo que com certa dificuldade. — Ela está acordada. — Olhei para aporta e outro homem estava lá. — Obrigado enfermeira Costa. — O homem se aproximou. — Olá, eu sou o investigador Renan. — Sorriu afavelmente. — Consegue me ouvir?— Pisquei afirmando. — Muito bem. — Sorriu. — Sabe seu nome? Pisque uma pra sim, duas pra não.— Pisquei uma vez — A
BiancaAlgumas horas antes.— Então, vieram as torturas psicológicas. — as minhas mãos tremiam sob as minhas pernas. — Luzes apagadas por dias ou acessa por dias... perdi a noção de tempo. — Os homens ouviam-me atentamente. — Quando a água acabou... — as lágrimas caiam como pedaços de chumbo, e apesar de tudo, a minha expressão neutra continuava, os olhos não saíram da luz vermelha do gravador por um segundo sequer. — Depois de um tempo... eu bebi algo ruim... — lágrimas pesadas rolavam no meu rosto — acredito que era minha urina. — Notei que uma das policiais investigativas havia fechado os olhos e contraindo as sobrancelhas em agonia. — Acordei um dia com uma música tocando atrás da porta. Eu sempre odiei música country ... — ergui os olhos para Renan.— Fizemos alguns exames, e colhemos as digitais daquele senhor que estava no carro com você no dia do acidente. — encolhi-me — eu não sei como dizer isso... mas, bem... senhorita Bianca, mas nosso país tem uma dívida com a você. — olh
Com certo esforço fiquei de pé no saguão do aeroporto. Renan acompanhava-me, e ele mesmo fazia a minha segurança.Uma semana já havia se passado, Renan havia me contado que eles estavam saindo do país, e aquela era minha última oportunidade de ver o meu marido.Caminhei com certa dificuldade até a cabine de passageiros, eu os via. Igor abraçava uma mulher loira, o meu coração quase saia pela boca. — Eles estão seguros... — Renan falou baixo.Sorri — eles estão. — Zola estava tão crescida. E Igor... Deus! — eu queria...—— Se entrar em contato com eles, vai colocá-los em perigo. — S
Três meses, eu era a testemunha fantasma. Estava residindo em uma cidade afastada de nova York, em um programa de proteção a testemunhas, a minha rotina era sempre a mesma. Levantava, tomava banho, e cuidava de um setor específico no mercadinho, o nome no meu crachá era Sara, o meu cabelo havia crescido um pouco mais abaixo dos ombros.Renan ligava-me três vezes por semana, as perguntas eram sempre as mesmas...— Estou bem, melhor que ontem...— — Não será por muito tempo sara.— — Tem notícias— E ele sempre dizia o mesmo. — Ele está bem, estão seguros.— Mordi o lábio. — Ele... ainda lembra de mim?— — Eu não saberia dizer...— logo em seguida um suspiro. — Vai ficar tudo bem. Olha...— — Obrigado por ligar, boa noite.— Desliguei o celular. O meu corpo estava envolto na água da banheira, a luz fraca e amarelada lembrava-me o entardecer em Luanda, suspirei e afundei-me na água, estava nua, e mesmo estando debaixo da água, sentia que as minhas lágrimas misturavam com a água. Conseg
Entrei outra vez na sala no fundo de uma igreja, um pequeno grupo de pessoas se aglomeravam ali para conseguir falar um pouco sobre a sua jornada contra o uso de drogas, Renan me convenceu a participar delas, pelo menos uma vez ao mês. E apesar de nunca dizer nada, as conversas eram bem animadoras, vez ou outra alguém de fora, nos contava como Jesus havia salvado a sua alma de uma vida infeliz.Nada contra a sua fé, mas digamos que eu e todos os santos não estávamos no mesmo bote. Afinal, ele não havia me matado quando pedi.Fechei os olhos, e havia pedido tantas vezes.— Vamos ouvir alguém novo hoje — a voz calma de safira soava pela sala limpa.— Sara?—Ergui a cabeça, todos me observavam. — O que?—Piscou. — Pode compartilhar conosco sua jornada?—As mãos em meus bolsos tremiam. — Eu... — sorri.— Não tenha medo. — Olhou ao redor. — Todos somos amigos, estamos
BiancaAgoraRespirei fundo encarando a porta aberta, alguém estava na minha casa. O corredor estava vazio, engoli em seco, alguns meses já haviam passado. Havia apresentado grande melhora no meu tratamento, e já quase não precisava mais ir aos grupos de terapia. O que era alívio, Beth vinha visitar-me todas as semanas, a sua companhia era boa e sempre levantava o meu astral. Descobri que ela tinha descendência russa, e que a sua irmã mais velha morava em nova York, às vezes sentia-me mal por não estar a ser franca com ela sobre a minha origem. Mas, se tudo desse certo logo estaria longe daquele lugar e tudo não passaria de um sonho confuso e ruim. Abri a porta lentamente, as sombras dançavam entre a cortina e o chão, segurei firme o guarda-chuvas. — Ok... — corri com o guarda-chuva para dentro gritando como uma louca.— SARA!!! — Acertei bem na cabeça. O homem caiu no chão, ele gemia. Pisquei ainda pronta para
Abri os olhos.As janelas ainda estão abertas, conseguia ver todos os convidados lá fora. sinto-me o pior ser humano do mundo, desde que disse "aceito", ao seu pedido absurdo de casamento. Mas não posso retroceder, e muito tarde para isso.O som das conversas anuncia ao longe que todos já estão se acomodando nos seus lugares. Olhei para o meu vestido preto com pedrarias na altura dos joelhos, estava bem arrumada, e mesmo angustiada por dentro, o meu sorriso superficial tinha que estar no meu rosto pálido com camadas de uma maquiagem. Caminhei até a porta a abrindo, suspirei indo rumo à recepção do jantar, todos os acionistas e amigos mais íntimos estariam na festa de noivado.Um presentinho dado por Kathy, que surtou ao Saber que nós iríamos nos casar no civil.Barbara havia se arrumado mais cedo e estava com Chuck na sua mesa, com seus pais e outros convidados. E apesar das suas palavras de ânimo em relação ao noivado terem sido de bom grado, cada passo meu em direção aquele salão er
Sentamos perto de uma fonte de pedras cinzentas. O lugar estava cheio de luzes por todos os lugares, algumas pessoas caminhavam distraídas por perto, evitei levantar o rosto. Bah olhava-me aflita, e apesar do vestido longo verde musgo e a maquiagem bem trabalhada haviam pequenas rugas de preocupação no seu rosto delicado. — Bih... o que houve? — Secou uma lágrima.Cobri a boca um pouco tremula — eu não posso fazer isso... — os meus olhos ardiam. - Eu não consigo fingir... quando ele me toca eu lembro de tudo o que ouvi naquela maldita noite... — funguei na mão. — Eu tenho nojo de mim mesma... estou me vendendo como... como uma Grhhh... — Gemi enterrando os dedos na cabeça.Bah abraçou-me tentando me acalmar. — Bih... olha pra mim. — Pôs o meu rosto entre a suas mãos macias. — Presta atenção está bom?... vamos lá, você assinou um contrato prévio. — Me preparei para contestar, mas bah era bem convincente. — Fica quieta e deixa-me falar! Agora... assinou um contrato prévio, eu sei que es