Com certo esforço fiquei de pé no saguão do aeroporto. Renan acompanhava-me, e ele mesmo fazia a minha segurança.Uma semana já havia se passado, Renan havia me contado que eles estavam saindo do país, e aquela era minha última oportunidade de ver o meu marido.Caminhei com certa dificuldade até a cabine de passageiros, eu os via. Igor abraçava uma mulher loira, o meu coração quase saia pela boca. — Eles estão seguros... — Renan falou baixo.Sorri — eles estão. — Zola estava tão crescida. E Igor... Deus! — eu queria...—— Se entrar em contato com eles, vai colocá-los em perigo. — S
Três meses, eu era a testemunha fantasma. Estava residindo em uma cidade afastada de nova York, em um programa de proteção a testemunhas, a minha rotina era sempre a mesma. Levantava, tomava banho, e cuidava de um setor específico no mercadinho, o nome no meu crachá era Sara, o meu cabelo havia crescido um pouco mais abaixo dos ombros.Renan ligava-me três vezes por semana, as perguntas eram sempre as mesmas...— Estou bem, melhor que ontem...— — Não será por muito tempo sara.— — Tem notícias— E ele sempre dizia o mesmo. — Ele está bem, estão seguros.— Mordi o lábio. — Ele... ainda lembra de mim?— — Eu não saberia dizer...— logo em seguida um suspiro. — Vai ficar tudo bem. Olha...— — Obrigado por ligar, boa noite.— Desliguei o celular. O meu corpo estava envolto na água da banheira, a luz fraca e amarelada lembrava-me o entardecer em Luanda, suspirei e afundei-me na água, estava nua, e mesmo estando debaixo da água, sentia que as minhas lágrimas misturavam com a água. Conseg
Entrei outra vez na sala no fundo de uma igreja, um pequeno grupo de pessoas se aglomeravam ali para conseguir falar um pouco sobre a sua jornada contra o uso de drogas, Renan me convenceu a participar delas, pelo menos uma vez ao mês. E apesar de nunca dizer nada, as conversas eram bem animadoras, vez ou outra alguém de fora, nos contava como Jesus havia salvado a sua alma de uma vida infeliz.Nada contra a sua fé, mas digamos que eu e todos os santos não estávamos no mesmo bote. Afinal, ele não havia me matado quando pedi.Fechei os olhos, e havia pedido tantas vezes.— Vamos ouvir alguém novo hoje — a voz calma de safira soava pela sala limpa.— Sara?—Ergui a cabeça, todos me observavam. — O que?—Piscou. — Pode compartilhar conosco sua jornada?—As mãos em meus bolsos tremiam. — Eu... — sorri.— Não tenha medo. — Olhou ao redor. — Todos somos amigos, estamos
BiancaAgoraRespirei fundo encarando a porta aberta, alguém estava na minha casa. O corredor estava vazio, engoli em seco, alguns meses já haviam passado. Havia apresentado grande melhora no meu tratamento, e já quase não precisava mais ir aos grupos de terapia. O que era alívio, Beth vinha visitar-me todas as semanas, a sua companhia era boa e sempre levantava o meu astral. Descobri que ela tinha descendência russa, e que a sua irmã mais velha morava em nova York, às vezes sentia-me mal por não estar a ser franca com ela sobre a minha origem. Mas, se tudo desse certo logo estaria longe daquele lugar e tudo não passaria de um sonho confuso e ruim. Abri a porta lentamente, as sombras dançavam entre a cortina e o chão, segurei firme o guarda-chuvas. — Ok... — corri com o guarda-chuva para dentro gritando como uma louca.— SARA!!! — Acertei bem na cabeça. O homem caiu no chão, ele gemia. Pisquei ainda pronta para
BiancaPrendi a respiração olhando fixamente, o pôr do sol dançava no seu rosto um pouco mais maduro, ele estava mais velho. 35 talvez?...Igor desceu os degraus com cautela e parecia ter medo de mim. E por puro impulso o abracei, o meu corpo tremia nos seus braços, estava aflita, afinal o meu esposo estava ali. Depois de tanto tempo, enfim estava ali. Mas, havia algo errado, Igor estava imóvel, o olhei fixamente, ele estava quieto, parecia não querer retribuir o meu olhar.Talvez estivesse com medo de mim, como se estivesse a ver um fantasma Igor, olhava para mim, ele nem mesmo conseguia respirar. A única coisa que podia comprovar-me que ele estava vivo, era o martelar do seu coração que insistia em se chocar contra o seu peito. Ele estava mais cheio, sentia haver ganhado peso, e ele não usava mais o perfume madeirado que... abri os olhos. Eu lembrava-me, eu relativamente lembrava-me do seu cheiro! Mas... porque não conseguia lembrar-me antes? Ergui os olhos, Igor estava sério.El
Igor retirou a camisa azulada a jogando no chão, e antes mesmo que conseguisse dizer algo ele me abraçava dentro da banheira, a Água escorria pelo piso branco, e ainda trêmula o olhei fixamente. Os seus pés e pernas rodeavam o meu corpo, enquanto me escondia de algum gesto de pena que viesse dele. Me afastei ficando a sua frente, não nos tocamos depois disso, não nos beijamos. Apenas permanecemos ali, na mesma banheira com a Água quente se tornando morna gradualmente enquanto a chuva deixava a visão turva da janela de vidro observei a sua imagem como se fosse um quadro cubista. Não que entendesse muito de artes, mas era exatamente por isso que ele era cubista, por eu não saber exatamente nada dessa dr*ga não sentia nada, não sentia absolutamente nada com ele ali.— Devia ter se divorciado de mim. — Ele piscou depois de um longo tempo.Olhou a sua aliança e voltou a encarar-me. — Porque diz isso? — — Porque eu morr*. — Joguei as suas palavras no seu rosto e isso o fez pressionar o
BiancaAs horas do relógio corriam de forma preguiçosa na casa de campo. Não vestia nada além de um vestido leve de algodão, planejava voltar para a Carolina do Norte, ali era meu lar. Girei a caneta entre os dedos na pequena varanda, uma leve brisa corria entre os meus cabelos fazendo um pequeno cata-vento tilintar sob a minha cabeça, o lugar era lindo, mas tinha que reestruturar a minha vida. Não era daquela forma que pensava que iria reconstruir tudo, mas a vida tinha que seguir o seu curso. Fechei os olhos me perdendo em lembranças que tentava manter longe o máximo possível, afinal... Aquela garota, estaria viva? Renan não me dava notícias sobre nada desde que disse que voltaria a Nova York, dizia que era para minha segurança, franzi o cenho, por que havia uma arma no meu quarto se estava segura?Talvez fosse melhor assim, deixar o passado para trás Anotei em um bloco de notas tudo o que viria a precisar para enfim reabrir o Haras, não seria uma tarefa fácil, mas, eu tinha tod
BiancaEstávamos a caminho da casa em Luanda, depois de duas horas inteiras de puro sermão, fui finalmente convencida a voltar para a casa.Estava tonta, as minhas mãos tremiam no meu colo, a todo instante mentalizava o que iria dizer para aquela menina, qual a explicação que daria para ela sobre tudo. Haviam sidos 4 longos anos, e não acreditada que um "oi filha, adivinha que está viva? Eu! quem quer pizza?" fosse resolver tudo.- Ei...- ele sorriu de forma amigável me despertando dos meus devaneios. - Calma... Zola vai aceitar você... -Encostei a cabeça no carro - espero que sim. - Pedia silenciosamente a Deus que não estivesse dormindo, grunhi com as mãos no rosto. - Grrhh... por favor, me diz que é real...-Ele sorriu levemente com os olhos na estrada. - Eu peço a Deus que seja...- a sua mão segurou a minha de um jeito tão natural. Ele ainda usava a nossa aliança.Toquei a joia com cuidado - ainda tem a sua... - suspirei.- Eu nunca tirei do dedo...-Suspirei olhando a paisagem