Amor em Disfarce: A Magia de Eliana
Por: Jane Kelly
Capítulo 1
O médico olhou para o relógio, impaciente.

— Cadê o marido da paciente? Se ele não vier logo assinar os papéis, vai ser tarde demais.

A enfermeira respondeu com um ar de desconforto:

— Ele disse que não vai vir. Disse que a paciente pode se virar sozinha, que ele não se importa.

Se virar sozinha...

Na mesa de cirurgia, coberta de ferimentos e lutando pela vida, Eliana Walton tentou levantar uma das mãos.

— Me dá o celular... — Murmurou com dificuldade.

A enfermeira, vendo o desespero nos olhos da paciente, rapidamente entregou o telefone.

Com o corpo inteiro em agonia, Eliana forçou-se a discar o número que estava gravado em sua memória.

O telefone quase desligou automaticamente quando, finalmente, a ligação foi atendida.

— Eu já disse que a vida dela não importa para mim. — A voz do homem do outro lado era carregada de impaciência e desprezo.

— Jacob... — Cada palavra que saía da boca de Eliana parecia rasgar seu corpo por dentro. — Depois que você levou a Pola, os sequestradores detonaram a bomba. Eu fiquei gravemente ferida...

Antes que pudesse terminar, o homem soltou uma risada fria.

— Eliana, sua atuação está cada vez melhor. Tão fraca, parece até real.

— Eu não estou mentindo... Estou realmente machucada.

— É mesmo? — A voz de Jacob ficou ainda mais cruel. — Então espero que vá logo para o inferno!

— Jacob...

A linha foi cortada abruptamente. Desesperada, Eliana tentou ligar novamente, mas a mensagem automática soou:

— Desculpe, o número que você ligou está desligado.

O médico, que assistia a tudo sem poder fazer muito, se aproximou com um tom de urgência:

— Srta. Eliana, sua situação é realmente grave. Se tiver algum outro parente, eles também podem assinar por você.

Eliana fechou os olhos, segurando as lágrimas que insistiam em cair. Ela sabia que não havia mais ninguém. Ele era o único que poderia assinar.

— Eu posso assinar por mim mesma? — Ela perguntou, com um sorriso triste.

— Pode. — O médico suspirou, resignado.

Com as últimas forças que lhe restavam, Eliana assinou o consentimento para a cirurgia.

A operação durou quatro horas. Após mais duas horas de complicações, ela foi levada para a UTI.

Depois de 24 horas em coma, Eliana ainda não conseguia abrir os olhos, mas sua mente estava desperta, ouvindo as conversas das enfermeiras enquanto trocavam seus curativos.

— Mesmo que as coisas entre eles não estejam bem, como é que um marido deixa a esposa nesse estado e não faz nada? Eu liguei para ele várias vezes, mas o telefone está sempre desligado. Ele não se preocupa nem um pouco?

— Ah, eu tenho uma fofoca para te contar. Sabe o Jacob Perry, o presidente do Grupo Perry, aquele que dizem ser frio e nunca se interessar por mulheres? Pois é, ele tem uma namorada. Ela está internada aqui, na suíte VVIP do último andar, e ele a está cuidando pessoalmente, 24 horas por dia.

— Nossa, como as coisas são diferentes, né? Algumas mulheres têm um parceiro que cuida delas com tanto carinho, enquanto outras... Têm maridos que não valem nada!

Eliana sentiu uma dor profunda atravessar seu peito. Ele estava tão perto dela, a poucos andares de distância, mas não se importava nem o suficiente para verificar se ela estava mentindo ou não. Ele simplesmente não achava que valia a pena.

De repente, seus olhos se abriram, assustando a enfermeira que estava ao seu lado.

— Você... Você acordou!

Após uma série de exames, os médicos confirmaram que Eliana estava fora de perigo e, naquela mesma noite, foi transferida para um quarto comum.

Já era tarde da noite. O hospital estava silencioso. Sem conseguir dormir, Eliana se levantou, retirou o tubo de oxigênio e, mancando com a perna esquerda ferida pela explosão, foi até o último andar.

Do lado de fora da suíte, ela olhou pela janela de vidro. Lá dentro, Jacob estava sentado ao lado de Pola, alimentando-a com frutas, com uma expressão de ternura e cuidado.

Eliana apertou os punhos com força, mas a dor em seu coração parecia insuportável, como se mil formigas estivessem corroendo sua alma.

Três dias antes, ela e Pola haviam sido sequestradas. Eliana sabia o quanto Pola era importante para Jacob, então, mesmo sendo rivais, ela fez de tudo para proteger a outra mulher.

Durante dois dias e duas noites de tortura, Eliana sofreu todo tipo de abuso, enquanto Pola saiu praticamente ilesa, com apenas alguns arranhões. E então, ele apareceu...

— Eu escolho a Pola. Quanto à Eliana, façam o que quiserem...

Ele não se preocupou com ela nem por um segundo. Pior ainda, suspeitou que o sequestro fosse uma farsa armada por ela. Jacob nunca confiou nela.

A cena de carinho dentro do quarto fez os olhos de Eliana, antes cheios de amor, se encherem de frieza.

— Está na hora de acabar com isso.

Quando ela se virou para sair, Jacob pareceu sentir algo e olhou na direção da porta. Ao mesmo tempo, Pola soltou um pequeno gemido de dor.

Jacob, preocupado, perguntou:

— O que foi?

Pola olhou de relance para a porta, mas rapidamente deu um sorriso fraco para Jacob.

— Acho que só mexi mal e puxei o machucado.

— Quer que eu chame o médico?

— Não precisa, não sou tão fraca assim. — Pola respondeu com um tom brincalhão. — Mas você devia ir embora. Você já ficou aqui comigo o dia inteiro. A Eliana com certeza deve estar furiosa...

Ela fez uma pausa e continuou:

— Sabe, Eliana não está errada. Não importa o que nós tenhamos sido no passado, agora você é o marido dela. Nenhuma mulher aceitaria que seu marido cuidasse de outra mulher assim. Então, independentemente do que ela tenha feito, é compreensível. Não fique bravo com ela. Se não, a situação com sua avó...

Jacob a interrompeu, impaciente:

— Já está tarde. Durma logo.

— Jacob...

— Obedeça.

— Tá bom.

Com Pola fechando os olhos para dormir, Jacob olhou mais uma vez para a porta. Ele tinha sentido algo...

Lembrou-se da voz fraca de Eliana no telefone e apertou os lábios. Levantou-se, mas, antes que pudesse dar o primeiro passo, Pola segurou sua mão.

— Meu machucado ainda dói um pouco... Você pode ficar aqui comigo?

Os olhos de Jacob brilharam com uma leve hesitação, mas, depois de um momento, respondeu em um tom grave:

— Tudo bem.

...

Eliana não voltou para o quarto. Ela deixou o hospital direto.

Pegou um táxi e voltou para a casa que havia dividido com Jacob pelos últimos três anos.

Enquanto caminhava da entrada até dentro da casa, as memórias da vida com ele inundaram sua mente como uma maré implacável. Mas todas as lembranças eram amargas, sem um único momento de doçura.

Ele sempre acreditou que ela havia planejado o casamento para se aproveitar dele.

Ele não estava totalmente errado. De fato, Eliana havia feito algumas manobras para se casar com ele. Mas o que ela queria nunca foi o dinheiro ou o status. Era ele.

Ela achava que o tempo provaria seu amor.

Mas, depois de três anos, ele só a desprezava mais.

Ela nunca esqueceria as palavras dele:

— Então espero que vá logo para o inferno!

Eliana respirou fundo e sussurrou para si mesma:

— Jacob, talvez você não saiba, mas eu já vivi no inferno por muito tempo. Nos últimos três anos, tentei sair dele para ser uma pessoa normal, para ficar ao seu lado. Mas você nunca se importou. Então, agora, vou fazer o que você sempre quis.

Ela pegou o que era importante, jogou fora o que não mais importava, e, por fim, deixou a chave da casa junto com os papéis do divórcio assinados. Eliana saiu sem olhar para trás, sem um pingo de arrependimento.
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