Eu achava que seria fácil sair de Valparaíso como foi quando deixei São Marco Del Rey a cidadezinha onde eu vivi com a Danny, o problema é que Valparaíso estava dentro de mim, e onde quer que eu fosse eu levaria ela comigo, foi relativamente fácil me distrair e tentar esquecer o que sobrou da Daniela quando fui pra Valparaíso e conheci os Mensageiros, a Bianca e todo o resto, mas não era fácil fazer o mesmo agora, o problema era que a Daniela estava morta e a Bianca estava viva, e eu não conseguia aceitar a derrota daquela forma, não conseguia aceitar o fato de que a Bianca não me queria mais. Eu pensava nela todos os dias.
Consegui um emprego numa escola primária como professor de informática pra ganhar metade do que eu ganhava antes com música, só que como o custo de vida em Anápolis era baixo, eu não tinha do que reclamar, comecei a ficar com uma garota da escola chamada Fabiana, uma moça alta’ e bonita, mas nós dois sabíamos bem que era só curtição, a gente
Deitei no sofá da sala e deixei que ela descansasse até a noite, quando ela própria se levantou, tomou outro banho, e foi preparar o jantar. Três dias depois ela havia se revelado na enfermeira mais dedicada da face da terra, estávamos os dois tomando sol no pequeno quintal dos fundos numa tarde quente quando me veio uma dúvida: – Bia, como foi que você convenceu seus pais a te permitirem viajar pra cá, sozinha e de madrugada? – Eu não tive tempo de avisá-los. – Você não deixou nenhum bilhete? – Não tive tempo. Eles ainda não sabem onde estou. – Bianca você enlouqueceu? Porque não avisou pelo menos a Amanda? O que deu em você? Eles já devem ter ido te procurar em todos os hospitais e necrotérios da cidade. – Eu não tive tempo de avisar. – Pois então você vai falar com eles agora – peguei o telefone sem fio e entreguei na mão dela. <
– Amor da minha vida, se eu tiver que entrar naquele avião sem você, eu nunca mais vou conseguir ser feliz outra vez, eu estou deixando metade de mim aqui, com você, dentro de você, dentro do seu coração, eu nunca mais vou me envolver com ninguém, eu nunca mais vou conseguir amar ninguém, sabe por que? Por que “você” me ensinou que o amor é eterno, a gente só sente por uma pessoa nessa vida, e o meu eu dediquei inteiramente a você, então pela última vez Leonardo Brasil, se você ainda sente mesmo alguma coisa por mim, se o que eu estou vendo nos seus olhos não é apenas ilusão ou emoção de um momento, se você ainda me ama tanto quanto eu amo você, ainda sonha comigo como eu sonho com você, ainda pensa em mim como eu penso em você, me dá uma última chance – acho que com isso ela cons
Valparaíso, 26 de Outubro de 2005 Querido Leonardo. Fico feliz em saber que vc está lendo estas linhas, por favor ainda não jogue fora, só te peço que leia esta carta, depois não te incomodarei mais. É uma satisfação imensa pra mim saber que vc está lendo algo que eu escrevi, mesmo em tais circunstâncias, sei que no momento vc deve estar se queimando de ódio por mim, mas eu te garanto que depois desta carta, vc nunca mais vai se preocupar comigo. Eu queria apenas te contar um pouco de minha vida, queria apenas que vc conhecesse um pouco de minha história. Pode não fazer sentido pra vc eu te contar minha vida, mas te garanto que no final vc vai entender. Eu também sei dos seus anseios, sei dos seus temores, dos seus son
Simplesmente peguei minha bolsa, e saí sem nem mesmo dizer tchau, voltei a pé da casa dele até a casa da tia Luciana, chorando até a metade do caminho, amaldiçoando minha vida miserável, eu juro pra vc que só não tentei suicídio por que sou muito covarde pra isso. Tão covarde que não tenho coragem de tirar nem mesmo a vida de um cachorro ou um gato qto mais a minha própria. Cheguei em casa calada como sempre, entrei pela sala e minha tia estava sozinha, fui direto pro quarto mas ela percebeu que algo de errado tinha acontecido comigo e me chamou, felizmente a Amanda não estava em casa, tudo o que minha tia queria era saber por que eu estava tão triste, combinei com ela e voltei pra Lençóis no mesmo dia. Foi deprimente entrar em casa com minha mala depois de tudo o que aconteceu, é claro que minha mãe sabia de tudo, minha tia teve que contar pra ela, ou melhor, encarregou minha “querida priminha” dessa ta
erminei de ler a carta sem acreditar no que estava escrito, agora eu é que estava em estado de choque, a garota que tinha acabado de sair de meu apartamento com o rosto cortado, sangrando, de roupas rasgadas, era simplesmente minha irmã, eu queria não acreditar nisso, mas era ela, a irmã que passei a vida procurando, a irmã que a própria Daniela tentou me ajudar a achar, noite após noite vasculhando a internet até de madrugada, inúmeros telefonemas, dezenas de visitas fracassadas em cartórios pra nada, queria que fosse mais uma artimanha da Isabelle, queria pensar qualquer coisa mas não podia, tinha uma voz gritando dentro de mim que aquelas palavras eram verdadeiras, eram reais, ela não estava brincando e nem tentando me enrolar de novo, descobriu isso sem querer e veio ao meu apartamento me contar, o único lugar no mundo onde realmente eu ainda lhe daria um mínimo de atenção, a tinta da caneta estava borrada em vários pontos, mostrando que ela estava chorando quando escreveu a
Era em torno de umas dez da noite quando eu me preparava pra deixar a Bia e o Thi em casa quando a velha e amassada Kombi do Zec encostou no portão. – Zec? O que faz aqui a essa hora? – Eu fui na sua casa e os porteiros me disseram que você não estava, fui na Bianca e a dona Lurdes me disse que ela tinha saído e vindo pra cá, e que o Thiago estava aqui também, precisamos conversar sério. – O que houve Zec? –A Amanda perguntou quando ele já estava sentando-se no sofá. – Acho que não tem problema algum falar na frente de vocês por que se aconteceu mesmo alguma coisa, com certeza vocês também já estão sabendo – disse ele referindo-se obviamente ao Thi e as duas meninas – encontrei-me com a Isabelle hoje de tarde quando eu voltava do trabalho, Leonardo. – Isabelle?! Onde você a encontrou? Onde ela está? Ela está bem? – Calma, uma pergunta de cada vez, achei que você a odiasse, por q
Fiquei parado na frente do tambor de água, olhando o corredor vazio, a Bia chegou logo depois de mim, colocando-se ao meu lado: – Ela não está aí, né? Não respondi nada, apenas pulei o tambor, enfiando-me no espaço exíguo, entre a parede e o muro, tinha uma tábua de madeira laminada encostada no muro, geralmente, ela apoiava as costas na parede da casa e os pés no muro em frente, como o espaço era minúsculo, ela ficava com as pernas encolhidas, era onde ela escondia o rosto entre os joelhos e desejava que o mudo acabasse, como dizia a Amanda, a esquerda ficava o resto do corredor com o tambor na saída e a direita a tabua onde ela apoiava-se e riscava seu nome várias vezes, algo ali me surpreendeu, pois entre tantos nomes dela ali, havia o meu também, ela havia escrito meu nome várias vezes também, e algumas até junto ao seu, assim como casais de namorados fazem em arvores ou muros: Leonardo e Isabelle. Te Amo Leozinho, Leozinho meu amor, e coisa
Dei alguns minutos de silêncio, eu precisava do carinho dela, ela precisava de alguém que a compreendesse, eu precisava pensar em algo, não podia permitir que minha irmã fosse embora.– Eu cuido de você.– Você tem sua vida, não pode dar atenção aos meus lamentos o tempo todo. – ela respondeu na mesma posição, sem se mover.– Então faz uma coisa pra mim.– O que?– Volte pra casa da tia Luciana apenas...– Eu já disse que pra lá eu não volto.– Vem cá – sentei junto com ela no mesmo local onde ela estava sozinha – eu e a Bia vamos nos casar em poucos dias, está quase tudo pronto, nossa casa já está com todos os móveis, faltam apenas pequenos detalhes, depois do casamento vou