Lorena manteve uma expressão tranquila. Como não entenderia aquele raciocínio? Afinal, ela própria trabalhava com pesquisa científica. No entanto, muitos acontecimentos estranhos frequentemente desviavam seus pensamentos, e ela mesma achava isso irônico. Vinte anos haviam se passado, e nada disso parecia real. Do outro lado. Na mansão da família Amorim. Benjamin ligava insistentemente para Lorena, mas ela não atendia nem rejeitava as chamadas. Anteriormente, Lorena havia bloqueado os números de todos eles. Ele tentou ligar com um número novo, acreditando que ela atenderia. Mas ele realmente não conhecia Lorena. Ela geralmente ignorava números desconhecidos, especialmente se a chamada fosse identificada como originada da Cidade B. Lá, Lorena conhecia poucas pessoas, e os conhecidos dela já estavam salvos em sua lista de contatos. Nos últimos dias, o Grupo Amorim inexplicavelmente perdera alguns clientes antigos. Faltava pouco para o fim do ano, e a empresa não podia correr
No dia seguinte. Lorena foi se encontrar com as duas pessoas que Gustavo mencionara no dia anterior. O endereço não ficava no centro da cidade, mas numa área de mansões na periferia. Ela chegou à mansão número 9 e tocou a campainha. Pouco depois, um homem desconhecido, vestido com um terno, apareceu. Ele parecia ter por volta de cinquenta anos. Quando Norberto viu quem estava do lado de fora do portão de ferro, ficou claramente um pouco surpreso. Não pelo fato de Lorena tê-los localizado, afinal, a informação já havia sido propositalmente divulgada, mas pela rapidez com que ela os encontrou. Três dias antes, Tadeu e Mauro haviam sido chamados para prestar depoimento à polícia. Eles decidiram aproveitar a situação para, por meio dos policiais, revelar a Lorena a existência deles. Dessa forma, evitariam atrair a atenção de outras pessoas. Essa sutil mudança na expressão de Norberto não passou despercebida por Lorena. Depois de entrar, Lorena olhou discretamente ao redor da
Inês esperava no carro. Antes de sair, Lorena tinha sido bem clara: ela não deveria segui-la. Já fazia mais de meia hora, e Lorena ainda não tinha voltado. Preocupada, Inês decidiu sair do carro. Assim que colocou os pés no chão, viu Lorena caminhando em sua direção, a cabeça levemente baixa, a expressão carregada e os pensamentos parecendo distantes. "O que será que aconteceu?" — Sra. Santos, está tudo bem? — Chamou Inês no exato momento em que Lorena estava prestes a passar por ela. Lorena levantou o olhar ao ouvir a voz de Inês e respondeu rapidamente: — Não é nada, só estava distraída pensando em algumas coisas. Vamos voltar. A luz suave do sol da manhã atravessava os galhos das árvores ao redor da mansão, passando pelas janelas do segundo andar e se espalhando delicadamente pelo chão. Próximo a uma das janelas, alguém estava sentado em uma cadeira de rodas. Ao lado da pessoa, Norberto permanecia de pé, e ambos olhavam na mesma direção: um carro preto estacionado ao lon
— Sra. Santos, aquele carro atrás de nós está nos seguindo desde que saímos da área da mansão. Inês lançou um olhar pelo retrovisor, franzindo as sobrancelhas com uma expressão de preocupação. Lorena, ao ouvir isso, também olhou pelo retrovisor, mas manteve a calma: — O deixe para lá. Eles não vão fazer nada. Embora Inês não entendesse, não perguntou mais nada. Lorena, sentindo um desconforto na barriga, fechou os olhos para descansar. Se não fosse pela injeção que tomara na noite anterior, talvez ela nem tivesse conseguido sair de casa hoje. Depois de mais de uma hora, elas finalmente voltaram à mansão. Assim que chegou, Lorena foi direto para o quarto descansar. Teve um sonho longo, muito longo, e seu corpo parecia estar caindo, como se algo estivesse sendo drenado de dentro dela. Além disso, ouvia alguém chamando seu nome ao seu lado, ansioso e nervoso. Não sabia quem era, mas aquela voz parecia estranhamente familiar. No entanto, ela não conseguia abrir os olhos
Murilo não havia explicado direito pelo telefone o que estava acontecendo, e isso deixava tudo ainda mais confuso. Quando Lavínia soube que Lorena estava em coma e internada, entrou em pânico. — Como está a Lorena? Ela está bem? Por que foi internada? Eu falei com ela ao telefone há pouco tempo... Por que não percebi nada de estranho na voz dela? Eu realmente... Murilo ficou momentaneamente paralisado ao encarar os olhos estrelados de Lavínia, úmidos de preocupação. Lavínia sempre fora uma pessoa otimista aos olhos dele, alguém que raramente demonstrava tristeza ou chorava por qualquer motivo. Ele interrompeu as palavras dela e tentou tranquilizá-la: — Não se preocupe, ela está bem. Só precisa de alguns dias de repouso. Ao ouvir a voz suave, elegante e tranquilizadora de Murilo, o coração ansioso de Lavínia finalmente começou a se acalmar. No quarto do hospital. Lavínia observava Lorena, deitada serenamente na cama como uma Bela Adormecida, enquanto sua mente se perdia
— Antes, só verificamos o tipo sanguíneo especial da Lorena. Desta vez, pedi para refazerem o exame... — Murilo apertava os documentos nas mãos enquanto falava. — Os distúrbios de coagulação podem ser divididos em hereditários e adquiridos. E este relatório... Ele estendeu o documento para Guilherme e continuou: — Mostra que o distúrbio de coagulação da Lorena é causado pelo segundo tipo, o adquirido. O mais importante é que o sangue dela agora contém um componente tão raro que nem eu havia visto antes. — O que isso significa? — Guilherme franziu as sobrancelhas, intrigado. — E qual é a relação disso com o que aconteceu agora com ela? — Diretamente falando... — Murilo tentou usar palavras simples e diretas. — O sangue da Lorena já começou a desenvolver anticorpos. Isso significa que aquele líquido especial que ela usa não tem mais muito efeito. Por isso, o sangramento desta vez foi mais intenso do que antes. Mas pode ficar tranquilo, ela não corre risco imediato. No máximo, per
Lavínia entrou no quarto com os braços cruzados, encarando a pessoa na cama hospitalar. Ela soltou uma risadinha sarcástica e, com um tom de provocação, disse: — Olha só, e eu aqui preocupada que você fosse acordar toda fraca e desconfortável. Pelo visto, com o Sr. Guilherme ao lado, esse "doce milagroso" que te cura, você está muito bem! E ainda tenho que assistir ao show de amorzinho de vocês? Acho que estou me preocupando à toa, né? Vocês querem mesmo é deixar a gente com inveja, não é isso?! Lorena ficou um pouco atônita, sem ter tempo de responder antes de ver... Murilo, que vinha logo atrás de Lavínia, puxá-la para seus braços em um abraço. Lavínia tentou se soltar imediatamente e, irritada, se virou para ele, lançando um olhar de repreensão: — O que você pensa que está fazendo? Murilo abaixou ligeiramente o olhar e a encarou com um sorriso elegante nos lábios. Porém, as palavras que saíram de sua boca fizeram Lavínia querer dar um chute nela. Com um sorriso desenha
Mansão nos subúrbios. — Tio Norberto, ela ficou dois dias no hospital e recebeu alta hoje. — Relatava Mauro os acontecimentos dos últimos dias enquanto bebia um copo d'água. Norberto o encarou e reclamou com impaciência: — Você pode terminar de falar antes de beber? Mauro engoliu o último gole e respondeu: — Tio Norberto, por que tanta pressa? Eu não vou fugir. Minha garganta estava seca, precisei de um gole d'água pra continuar. Norberto ficou sem palavras. Depois de respirar fundo, Mauro prosseguiu: — Eu tentei conversar discretamente com o pessoal da recepção de enfermagem, mas não consegui descobrir nada. — Norberto já ia levantar a mão para repreendê-lo, mas Mauro rapidamente mudou o tom e continuou. — Mas, por outro lado, hackeei o sistema deles e consegui isso aqui. Enquanto falava, Mauro abriu o celular e mostrou algo a Norberto. Depois de dar uma olhada, Norberto subiu as escadas sem dizer uma palavra. ... Lorena descansou em casa por mais dois dias.