Norte, Armeni.
Cinquenta anos antes da escolhida do Alfa. Ela não podia acreditar em seus ouvidos. O herdeiro do alfa estava retornando para casa, após anos de treinamento na capital, com o Supremo Alfa. — Eu sei o que esse olhar significa, e é melhor não ir procurá-lo. Ele não é mais o garotinho que você brincava quando era mais nova, ele está retornando como o herdeiro de Armeni, depois de anos de treinamento com a alcateia do supremo — disse Jenny, sua melhor amiga. Alice sentiu seu coração se comprimir no peito. Lembrou-se da sensação aterradora que sentiu quando o viu partir... — Eu preciso ir, vá para os jogos dos lobos Jenny! Ela mal ouviu a resposta da outra, sabia qual estrada James Turner pegaria para retornar. E se ele já havia sido visto nas aldeias próximas, estava muito perto da estrada que levava até o castelo Turner, pensou ela. Alice pegou uma cesta como se fosse recolher ervas e correu em direção às portas do castelo. A fêmea sentia seu coração batendo enlouquecido, e pensou se ele a reconheceria. Ela segurou forte a cesta contra seu coração, enquanto sua respiração se intensificou, ela pegou o caminho da estrada e uma fina chuva se iniciou. Ela acelerou o passo, e antes que pudesse reagir sentiu mãos a segurarem por trás. Ela foi puxada com força e suas costas bateram de encontro ao peito sólido, e no mesmo instante ela reconheceu a voz de seu agressor: — Veja a pequena nask procurando o Oriedreh pela estrada...Ainda o segue como uma criada. Suas palavras eram venenosas, e ele falou isso em seu pescoço enquanto a segurava com força. Alice se contorceu nas mãos dele, que segurava seus braços. A cesta já estava caída no chão e a chuva aumentou. — Me solte Vlad! — esbravejou ela. Vlad Villin era de um clã importante de lobos, e como a maioria dos lobos a desprezava, porque era pobre e sem nome. Ela começou a se debater contra ele, e de repente ele a virou e a jogou contra o chão lamacento. O macho segurou em seus pulsos ao lado de sua cabeça e montou em cima dela. Ela continuou se debatendo contra ele, tentando em vão lutar contra ele. Vlad era corpulento, alto e com olhos castanhos maldosos. E uma de suas atividades favoritas era humilhá-la. Atormentá-la. E havia feito isso todos aqueles anos que James partira. A chuva dificultava sua visão, ela sentia a lama embaixo dela, estava completamente molhada. Mas nada disso chegava perto do asco de sentir o corpo de Vlad tão próximo do seu... Ele não era asqueroso fisicamente, muitas lobas o desejavam. Mas por dentro? Era deficiente de tudo. — Me responda! Veio tentar encontrá-lo, não foi? Vlad gritava por cima da chuva. Antes que pudesse responder, o barulho de cascos na direção deles o interromperam. Vlad de imediato a levantou do chão, e a acertou um tapa forte o suficiente para deixá-la confusa. Ele em seguida a puxou para mais perto, e a segurou junto ao seu peito. Por alguns segundos ela ficou tonta e acabou se apoiando no canalha. O cavaleiro se aproximou, e Vlad deve ter pensado que agir normalmente o fizesse continuar seu caminho. E talvez tivesse funcionado, se Alice não tivesse erguido seu olhar violeta para o macho montado no garanhão. Seus olhares naquele segundo se encontraram, e o lobo puxou as rédeas do cavalo parando no mesmo instante. Ela o reconheceu pelos olhos, verdes-brilhantes exatamente como no passado, contudo todo o resto havia mudado. Seus cabelos castanhos estavam maiores do que ela se recordava, seus ombros mais largos e compactos, seus braços poderosos, as mãos segurando as rédeas eram resistentes, assim como o rosto que a encarava sentado no cavalo. Seu rosto era majestoso, os olhos cerrados, verdes reluzentes, o queixo firme, as maçãs do rosto perfeitamente simétricas, a curva do nariz que lhe dava um ar frio e, no entanto, ela sabia que ele não era. Ao menos não na infância. James Turner estava de volta. Ele também devia ter visto algo de familiar em seu rosto, porque sua expressão era de choque quando perguntou: — Nask é você? Ele estava a chamando de órfã? Sério? Ela sentiu vontade de se afundar na terra molhada com a chuva, ao seu lado Vlad não segurou o riso. E a puxou mais para si, de modo possessivo. Aquilo despertou algo no olhar de James, eles queimaram. — Solte-a. — ordenou ele. Quando Vlad não obedeceu, ele desceu do cavalo. Sua espada estava em sua cintura, e ele levou a mão até a bainha enquanto encarava Vlad. Ela ficou surpresa quando o macho recuou, a soltando. — O pequeno James retornou a Armeni! Será que aprendeu algo? James apenas o encarou. Quando Alice tentou se afastar dele, ainda em choque com aquilo tudo, Vlad a puxou e colocou uma faca em sua garganta. James avançou, mas Vlad foi rápido em dizer: — Fique onde está! James olhou em seus olhos, e ela assentiu para ele. Vlad estava brincando com ele, não iria matá-la. Mas ela sabia que ele queria algo. Quando ela tentou dizer isso a James, o macho apertou mais a lâmina em sua garganta e sussurrou contra sua orelha: — Quieta. O rosto de James Turner estava contorcido de ódio, e ele segurava agora o cabo da espada tão forte que ela podia ver seus dedos brancos. Ela só podia ficar quieta, talvez Vlad estivesse realmente disposto a cortá-la, sua vida era competir com outros. — Eu solto, e você vai participar dos jogos que vão acontecer daqui a pouco. James trincou os dentes, e assentiu: — Me dê sua palavra, lobinho. Vlad sorriu, ao ver como James estava furioso. — Se o que deseja é perder para mim nos jogos dos lobos, assim o farei. Vlad soltou Alice, e a empurrou para ele. Quando James a segurou em seus braços, a chuva já começava a diminuir. Vlad mergulhou na floresta densa ao lado, sumindo de vista. James a segurou, e lentamente a olhou nos olhos: — Você está bem, Nask? Ela ergueu o olhar para aquele rosto mais velho, e aqueles olhos verdes que ela sentia tanta falta. Novamente ele a estava chamando de órfã, e por mais que ela soubesse que ele aceitaria o desafio de Vlad apenas para protegê-la, não conseguiu não se ofender com a insistência dele em lembrá-la seu lugar em Armeni. Era uma órfã, sem clã e criada por Katherine Turner, esposa do Alfa Turner. Era apenas uma criada que possuía o carinho da senhora de Armeni. Quando essa verdade a atingiu, ela não conseguiu conter suas ações em seguida. — Muito bem, oriedreh. ***** Dizendo aquelas palavras ela passou por ele de volta à estrada sem sequer olhar para trás. James a observou caminhar e logo tratou de seguir na mesma direção, o vento mudou de direção e a chuva voltou a cair com força. Mesmo com isso, um aroma adocicado invadiu seu nariz e ele percebeu que vinha dela. Se sentiu inebriado com aquilo. E ao mesmo tempo confuso. Ela estava tão crescida... Ele continuou seu caminho seguindo-a de perto. Quando finalmente chegaram a Logvin a fêmea caminhou rapidamente para se misturar com as pessoas que aguardavam ansiosas para o início da corrida. James olhou para a primeira atividade, e viu os machos alinhados um ao lado do outro. Seu olhar cruzou com os de Vlad, e ele cerrou os punhos. Sentindo seu sangue queimar em suas veias, suas pernas se moveram por conta própria e nem mesmo se inscreveu, apenas assumiu uma posição ao lado daqueles lobos. Eles deram o sinal para a corrida e James disparou, na metade do caminho começou a ser ultrapassado, James sabia que se não vencesse aquela corrida seria mais uma decepção para o pai. Ele olhou para os garotos ao redor que passavam à sua frente, seu pai e sua mãe o observavam de seus lugares, ele era filho do Alfa Turner e tinha que se mostrar digno. Ele se esforçou mais e conseguiu chegar lado a lado com Vlad Villin, nenhum deles ainda havia se transformado em lobo, porém a maldição da Licantropia era muito mais do que se transformar na Lua cheia, eles eram mais fortes e rápidos que qualquer adulto humano. Quando quase ultrapassou Vlad na corrida a multidão começou a gritar seu nome, mas sua vantagem durou apenas alguns segundos, logo Vlad voltou a se emparelhar com ele. — Acredita que pode me vencer, pequeno Oriedreh? — gritou contra o vento, o macho desprezível. Um trovão retumbou no céu. James decidiu ignorar a tentativa de Vlad de distraí-lo da corrida, logo veio uma curva difícil com toda a lama que começava a se formar, o macho tentou derrubá-lo nesse momento, mas James já estava por isso devido ao seu convívio com John Chase todos aqueles anos no castelo do Alfa Supremo, John sempre tentava trapacear em seus treinos. Com isso em mente, ele o empurrou de volta, ele quase perdeu o equilíbrio, mas logo retomou sua posição ao lado de James, seria mais difícil do que imaginou, mas não desistiria. Quando chegaram quase no fim do percurso onde já era possível ver a linha de chegada, James viu com sua visão elevada a Nask em pé no meio daquelas pessoas, seus olhos raros a destacavam. Infelizmente Vlad olhava na mesma direção que ele e se aproveitou daquilo. — Estarei dentro dela essa noite para comemorar minha vitória, você pode ir depois de mim pequeno James! James se sentiu cego, de repente uma onda passou por todo o seu corpo, e ele foi consumido por um sentimento primitivo, e enlouquecedor. Ele se voltou para Vlad, sentindo cada gota do seu sangue ferver. — O que você disse? — rosnou para o lobo, e avançou contra ele. Nask: *ÓRFÃ.Os dois rolaram pela lama em uma briga violenta, James conseguiu se manter por cima de Vlad e o socou diversas vezes no rosto, o outro garoto tentou usar os braços para bloquear seus socos tão ferozes, mas James estava furioso demais para que isso o detesse, e acabou por conseguir quebrar sua defesa.Seus golpes quebraram primeiro seu nariz, a lama ao seu redor foi tingida de vermelho e James estava possesso, e não pretendia parar de desferir seus golpes contra Vlad, ele agora se parecia muito mais com um animal feroz e sem consciência, disposto a seguir até o final com aquilo sem se importar se todos estavam assistindo toda aquela cena.Sua raiva o havia cegado ao ponto de não perceber que o Alfa estava vindo em sua direção, apenas se deu conta no último instante quando ele o chutou bem no rosto o fazendo cair para o lado inconsciente.James acordou horas depois, sua visão não estava perfeita. Um de seus olhos estava tão inchado que ele nem ousou abrir, ele despertou com o som de voze
James não sabia como ela havia chegado àquela conclusão, e não desejava responder algo que nem mesmo ele entendia bem. Ele bufou e voltou a se deitar na cama fechando os olhos, ouviu os passos irritados dela vindo até ele, ela o chamou uma, duas, três vezes até que ele se voltou irritado para ela. — Estou cansado. — disse-lhe, Alice colocou as mãos na cintura e rebateu decidida. — Não paro até que me responda porque me defendeu dele? Ele franziu o cenho e bufou. — Por que supõe que ele disse algo sobre você? Ela semicerrou os olhos violeta e esclareceu: — Além de eu ter visto o canalha apontando para mim, ele mesmo me disse que o provocou. James deu de ombros fazendo pouco caso daquilo, mas, no fundo, amaldiçoando aquele macho imbecil. — Julga que bati nele por algo que disse? Que besteira! Bati nele porque não dava a mínima para a corrida e já estava cansado da cara de merda dele. Não teve nada a ver com você Alice *Nask. Quando ele a chamou Alice Nask e riu para a mesma,
Cinquenta chibatadas... James olhou para Alice que observava paralisada. Natanael Turner não demonstrava nenhuma emoção, seu rosto era uma máscara gélida. James sentiu que estava sendo atingido por uma espada em seu coração, ao imaginar Alice, a pequena e frágil Alice recebendo uma punição como aquela. — Ela não fez nada para ser punida! — exclamou James para o Alfa. — Você iniciou uma briga por ver Vlad demonstrando interesse em uma fêmea, que segundo ele e ela própria, estava sozinha com ele em uma estrada. Ela não nega isso. James viu nos olhos dele que aquela punição não se tratava de Alice, e sim dele. Era para punir ele, por ser inconsequente. O Alfa havia conseguido ser pior do que jamais imaginou. Ele sabia o que devia fazer. James se aproximou do alfa, e o olhou nos olhos: — Eu fui inconsequente, e me precipitei em meus julgamentos, envergonhando o nome Turner no dia dos jogos. Eu imploro para que me deixe pagar pelo que fiz, como o alfa disse, eu não estou acima d
James sentia as correntes de prata queimando seus pulsos, e mesmo de costas podia sentir o olhar da multidão sobre ele. Havia uma espécie de construção onde ele foi conduzido para subir os degraus, no meio daquilo estava o tronco que ele estava acorrentado. James desejou que nem Alice e nem sua mãe estivessem no meio da multidão. Alguns minutos depois, o próprio Alfa Turner apareceu cercado de lobos e com sua espada na cintura, seu casaco de pele cinza-escuro. No momento que o olhar de pai e filho se encontraram, uma espécie de corrente de ódio e decepção passou entre os dois. James estava completamente imobilizado no tronco, sem camisa. O arauto do Alfa anunciou exatamente a violação dele para todos os presentes, quando terminou um lobo que segurava o chicote e seria o executor da sentença se moveu. James com sua visão periférica e excelente audição, conseguiu ouvir quando o executor da sentença jogou o braço do chicote para trás para executar as chibatadas. Ele esperou re
Jenny havia ficado observando escondida no corredor, aguardando que Alice terminasse o que fora fazer. Ela bufou, ao perceber que vários minutos haviam se passado, e quando ouviu vozes altas no quarto, ficou indignada. Ela fora para discutir com ele? Ela que devia ter ido em seu lugar, seria mais discreta e rápida. De repente ela ouviu vozes masculinas se aproximando, e ela não pensou duas vezes. Fugiu. [...] Quando a fêmea gritou aquilo, ele paralisou olhando para ela. E mesmo a situação sendo séria e perigosa ele não conseguiu deixar de reparar como ela estava diferente. Como um idiota, voltou a ficar excitado com sua presença. Ela acreditava que ele a via como uma irmã?Não poderia estar mais enganada.Ele teve que se conter para não lhe dizer o quanto a desejava, muito mais do que já desejou alguma fêmea, e como se sentia ligado a ela. — Não posso ver você ser machucada.. — disse cada palavra devagar, e olhando em seus olhos. Alice arregalou um pouco os olhos, e pareceu conf
Ela se deixou ser levada pelos corredores do castelo Turner. O alfa Turner passou algumas ordens para o guarda que a segurava, e sem dirigir o olhar para ela nem uma única vez desde que deixaram o quarto de James, ele se foi por um corredor. E sua guarda o seguiu. Quando isso aconteceu, o aperto em seu braço de um do guarda com uma barba espessa e cabelos longos, se intensificou. Ele a arrastou mais rápido pelos corredores, até que chegaram a uma escada larga e escura. Era uma das prisões do castelo, ela soube mesmo sem nunca ter visto. O macho de cabelos longos e loiros e a arrastou para descer as escadas, a empurrando para que descesse mais rápido. Eles caminharam por um corredor escuro e frio, até chegarem em um conjunto de várias celas. Havia algumas tochas nas paredes e o lugar fedia, era frio e úmido. O guarda apertou mais seu braço, e desta vez ela reclamou: — Não precisa me apertar assim, estou caminhando ao seu lado e não resistindo, seu bruto. O macho parou, e ela v
Vlad observou enquanto a fêmea seguia correndo para a estrada, a raiva por ela ter parado a cerimônia o fez desviar o caminho de seu cavalo abandonando alguns de seus parentes que seguiam para a sua propriedade.seguiu a jovem curioso de para onde ela corria tão rápido. Vlad avistou-a entrando na estrada e para não ser percebido deixou seu cavalo preso em uma árvore e continuou a pé se esgueirando pelas árvores, observou-a enquanto corria, seus cabelos negros esvoaçantes ao sol, seu corpo esguio era uma bela visão reconheceu ele. De repente ela parou em frente a árvore que todos chamavam Enah, Vlad caminhou mais alguns passos e se ocultou em outra árvore enquanto observou atentamente a fêmea se ajoelhar diante da árvore e chorar.Alice não conseguia conter as lágrimas, Enah mesmo que não respondesse representada algo para ela, uma espécie de conforto do qual ela sempre precisou. Ela repetiu em sua mente novamente o som das chibatas, aquilo a dilacerava... James na infância de Armen
— Era seu destino. — respondeu ela puxando suas mãos das dele e tentou se levantar quando James puxou suas mãos novamente e a fez ficar onde estava. Ela quase paralisou com aquela ousadia dele, estava machucado e ainda assim havia saltado da cama.Ela tentou puxar suas mãos das deles, James segurou firme e disse:— Sinto muito por partir. O que ele estava fazendo se desculpando por aquilo? James havia cumprido seu destino como Oriedreh, seu pai havia sido presenteado pelo próprio Supremo com a honra de que seu primeiro filho teria um lugar na Alcateia do próximo Supremo, ele era jovem de mais e não tinha nenhum poder para decidir ficar. Ainda assim ele segurava suas mãos agora e a encarava com seus olhos verdes se desculpando. Anos haviam se passado...De repente sua mente foi transportada para o passado...Ela viu ambos ainda apenas duas crianças, Alice olhava para a árvore e suas mãos tremiam, o vento rugia e a lua subia alta no céu, ela acreditou estar sozinha. Deixou que toda a do