O tribunal estava frio, tanto na temperatura quanto na atmosfera. Eu estava sentada no banco reservado aos réus, embora não fosse eu quem estava sendo julgada. Aquele lugar, no entanto, parecia me condenar com cada minuto que passava. Meu advogado ao lado tentava me tranquilizar, mas sua mão no meu ombro era apenas um peso que me empurrava ainda mais para o fundo daquele abismo.Miguel estava sentado no banco das testemunhas, algemado, mas com uma expressão que me tirava o fôlego. Não era raiva, arrependimento ou medo. Era vazio. Como se ele já não fosse mais uma pessoa, mas apenas um corpo presente, entregando verdades que eu não estava preparada para ouvir.— Miguel, pode repetir o que disse? — perguntou o juiz, sua voz firme, mas cansada.Eu sabia o que ele diria. Eu sabia, mas não queria ouvir. Meu coração implorava para que ele estivesse mentindo, para que fosse um erro, um delírio da sua mente atormentada. Mas quando ele levantou os olhos, diretamente para mim, senti como se o m
Acabei chegando até onde mais temia. Entrei na casa da minha mãe com a sensação de que o mundo estava desmoronando, como se o peso do que eu estava prestes a contar fosse desintegrar tudo ao meu redor. Minhas mãos tremiam, e cada passo parecia mais pesado que o anterior. Quando cheguei na sala, ela estava lá, sentada no sofá, como se nada tivesse acontecido. — Mãe, preciso falar com você. — minha voz soou mais fraca do que eu imaginava. Ela levantou os olhos, notando a seriedade no meu tom.Ela me observou por um momento, parecendo notar meu estado. Sua expressão suavizou um pouco, mas não o suficiente para me fazer sentir alguma segurança. Eu me sentei em frente a ela, tentando organizar as palavras que estavam presas na minha garganta.— Você não era para estar aqui e sabe disso... — disse ela, exaltando-se.— O julgamento... O Miguel... Ele confessou. — engoli seco, tentando manter a calma. — Ele contou a todos que você estava envolvida na fraude da assinatura. Aquele documento qu
Eu não sabia mais o que fazer. A dor no peito parecia insuportável e, por mais que eu tentasse, não conseguia encontrar um jeito de parar de pensar em tudo que aconteceu até aquele exato momento. Parecia que eu estava afundando em um mar de desconfiança, e a água estava subindo rapidamente. — Tudo acabou agora. Todos sabem a verdade. — murmurei.Eu estava no quarto do hotel, sentada na beirada da cama, as mãos tremendo levemente enquanto eu olhava fixamente para o vazio. Tudo parecia tão irreparável, tão definitivo. Eu queria chorar, mas já não tinha mais lágrimas. O vazio dentro de mim era maior do que qualquer outra coisa. Eu só queria que o tempo voltasse, que as coisas fossem diferentes, que eu não tivesse sofrido a injustiça que sofri.Foi então que a porta do quarto se abriu, e eu nem precisei olhar para saber quem era. Eu sabia. Eu sentia.Marcio entrou, e seus olhos se encontraram com os meus. Não havia palavras, nem perguntas. Apenas um silêncio pesado, mas compreensivo. Ele
Voltar para casa após tudo o que aconteceu parecia impossível, como se cada passo que eu desse fosse uma tentativa de reconstruir os pedaços de mim mesma que haviam sido destruídos. Eu sabia que a casa que, por tanto tempo, me trouxe conforto agora representava uma lembrança amarga de tudo o que Miguel havia tirado de mim. Mas ali estava eu, de volta, com Marcio ao meu lado, segurando minha mão como se fosse a única coisa que o impusesse a continuar ali, firme.A porta estava fechada, como se o tempo tivesse parado naquele exato momento em que Miguel e minha mãe haviam me deixado sem nada. Olhei para Marcio, que estava quieto, mas seus olhos diziam tudo. Ele sabia o quanto aquilo significava para mim. Ele sabia o peso que eu carregava.— Você está pronta? — ele perguntou, a voz suave, mas com um tom de preocupação que não sabia disfarçar.Respirei fundo e dei um passo à frente. Não tinha certeza de que estava pronta, de fato, mas sabia que precisava ser forte. Não só por mim, mas por
Marcio MelloEu estava nervoso, o coração batendo forte. Tinha planejado tudo com cuidado, mas, mesmo assim, o medo de que algo desse errado não me deixava tranquilo. A ideia de surpreender a Raila estava me consumindo, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que ela precisava disso. Ela estava vivendo uma fase difícil, e eu precisava estar ao lado dela, mostrar que não estava sozinha.A ideia de trazer a Marta para a cidade surgiu depois de uma conversa com ela. Marta sempre foi uma presença forte na vida de Raila, alguém que a entendia como ninguém, e, nesses momentos complicados, ela era o que mais Raila precisava. Depois de algumas semanas de troca de mensagens, consegui convencer Marta a vir, e, com isso, a surpresa estava montada.A Raila não sabia de nada. Ela estava em casa, sozinha, quando eu cheguei com Marta. A estratégia era simples: eu a levaria até a porta e, quando ela abrisse, se depararia com a tia. Eu estava ansioso, quase não conseguia respirar direito. Segurei a porta e olhe
Raila SalimEu estava nervosa, mas sabia que era o momento certo. A relação com minha família tinha sido abalada por causa de Miguel e minha mãe. Eu queria mudar isso. Não podia mais viver com o peso daquilo, a sensação de que algo estava quebrado, sem reparos. Então, resolvi convidar meu pai, meus avós, todos para jantar. Era o começo de algo novo, uma tentativa de reconstruir o que tinha sido perdido.O aroma da comida se espalhava pela casa, uma mistura de temperos que me trazia uma sensação de nostalgia e esperança. Eu estava na cozinha, preparando tudo com minhas próprias mãos, tentando fazer cada prato perfeito. Queria que fosse mais do que uma refeição; seria um símbolo de mudança.O som da campainha me fez parar por um momento. Meus avós e meu pai estavam ali, na porta. Todos com sorrisos tensos, como se algo estivesse prestes a acontecer, mas ninguém sabia bem o quê. Abri a porta com um sorriso hesitante, mas minha voz era firme.— Boa noite, entrem. — disse, tentando soar na
A tensão na sala era palpável, como um fio prestes a se romper. Meu pai estava ali, sentado na poltrona ao lado da janela, e Marta, minha tia, estava ao meu lado, preparando um café, mas seu movimento era abrupto, nervoso. Eu conseguia sentir o desconforto no ar, algo que não fazia sentido até aquele momento. A conversa fluía, mas algo estava errado. Tia Marta se levantou de repente, murmurando algo sobre a cozinha, e a tensão entre ela e meu pai se intensificou.Foi então que, quando ela se afastou, meu pai se inclinou para a frente, os olhos fixos em mim. Ele estava pálido, quase como se tivesse levado um soco no estômago. Eu não sabia o que esperar, mas o que ele disse me deixou completamente sem palavras.— Raila — disse ele, a voz baixa, um pouco trêmula —, você precisa saber de algo sobre Marta.Eu estava paralisada, sem saber o que pensar. O ar ficou mais pesado, e, por um instante, o mundo à minha volta pareceu desaparecer. Eu tentei compreender o que ele queria dizer, mas tud
Estava um daqueles dias em que o silêncio da casa parece pesar mais do que deveria. Eu e minha tia Marta estávamos na varanda, observando o movimento lá fora. O céu estava limpo, com algumas nuvens brancas flutuando preguiçosamente, como se quisessem se misturar à minha mente, que estava cheia de perguntas não respondidas. Eu havia crescido ouvindo minha mãe falar sobre a tia Marta, mas ela nunca deixava claro o que realmente aconteceu entre elas. Sempre me dava a sensação de que havia algo entre elas que eu não deveria saber.— Tia, por que você nunca me contou sobre o que aconteceu entre você e meu pai? — perguntei, sem conseguir segurar mais a curiosidade.Ela ficou em silêncio por um momento, seu olhar perdido no horizonte, talvez tentando encontrar as palavras certas para aquilo. Eu podia sentir que ela sabia o que eu queria perguntar, mas hesitava em responder.— Por que não me contou que vocês tiveram um namoro? — insisti, agora mais próxima, olhando para ela com um misto de cu