Ela costumava ser forte, mas os golpes sucessivos a deixaram com mais cabelos brancos e sua postura mais curvada, agora completamente dependente de uma bengala.O tio também saiu, mas hesitou ao ver Daniel ainda ali, afinal, agora era Daniel e Beatriz que estavam juntos.— Sr. Dias…— o tio tentou, constrangido, pedir que ele saísse, já que o sobrinho era mais importante naquele momento.— Pode sair primeiro, — Beatriz disse.— Se você sair, ainda me ama? — Daniel perguntou.Beatriz sentiu-se um pouco impotente: — É claro que sim, querido, agora vá, por favor.Daniel finalmente concordou, mas ainda estava preocupado.Afonso estava agindo de propósito ou era sem intenção? Não era essa uma tática que ele usava antes?Ele sempre usara o avô como escudo, e agora a vovó de Afonso estava desempenhando esse papel.Ele tinha medo, medo de que a lástima de Afonso tocasse Beatriz.Ele nunca deveria ter sido oportunista, agora estava pagando o preço.Do lado de fora, Daniel não conseguia ouvir
Beatriz olhou profundamente para o homem na cama de hospital, sem um pingo de compaixão, mesmo diante de seu estado atual.Seu único gesto de bondade era controlar-se para não proferir palavras de maldição, deixando tudo nas mãos do destino.Mas se tinha que contar o passado com grande emoção para despertá-lo, ela sentia repulsa só de pensar.— Afonso. — Sua mão passou suavemente sobre a máscara de oxigênio dele. — Se você realmente não acordar, não se preocupe, vou cuidar bem da sua avó. Vou substituí-lo e cuidar dela até o fim.Ela olhou para ele de cima, sem um traço de ternura no olhar.Ela já havia dito tudo o que precisava, e já estava ali há quase meia hora, mas nada tinha mudado.Ela saiu do quarto.— Vovó, desculpe, eu falei muito sobre o passado com ele, mas ele ainda assim não...Ela fingiu estar triste, mas não esperava que o médico entrasse para verificar e saísse animado: — Sr. Silva, o Sr. Silva acordou!Beatriz ficou boquiaberta, seria possível?Ela arregalou os olhos,
— Está com ciúmes?— Sim, estou com ciúmes. Eu sei que vocês dois passaram por muita coisa. Afonso é como um espinho no meu coração. Cada vez que ele aparece, me lembra que você, por causa desse homem, arriscou sua vida várias vezes, sem se importar com a própria segurança!— Enquanto você estava lá dentro salvando pessoas, eu estava do lado de fora rezando para que ele nunca mais acordasse, que estivesse morto para sempre. Sei que meus pensamentos são sombrios, mas não consigo me controlar. Agora, Afonso quer fazer algum tipo de jogo? Fingir amnésia? Ficar no momento em que mais te amava? O que ele quer, disputar você comigo?— Ele conseguiu que a Velha Sra. Nunes te procurasse uma vez, pode fazer isso novamente. Só de pensar que minha noiva, por causa de um telefonema ou mensagem, tem que estar na frente do ex-namorado, me sinto mal.Beatriz ouviu ele desabafar, um tanto surpresa.Este homem raramente falava tanto de uma só vez; ele estava acostumado a guardar tudo para si.— Você...
Sentados à mesa, Beatriz manteve a cabeça baixa enquanto comia.Ela provou um pouco e percebeu que estava sem sal.Imediatamente, levantou o prato.— Este prato está com pouco tempero, vou adicionar mais sal.— Não precisa, está bom assim.— Não, não está!Beatriz teimosamente levou o prato de volta para a cozinha.Acrescentou um pouco de sal e esquentou novamente.— Este prato não está bem apresentado, vou trocar de prato.— Este não serve, está muito doce. Vou adicionar um pouco de água.Beatriz subitamente se tornou mais atarefada.Se fosse apenas uma refeição comum, com muitas outras pela frente, Beatriz não se preocuparia tanto.Mas agora, sabendo que ele iria para uma missão e sem saber quando voltaria, apenas ao ver a expressão séria de Daniel, já sabia que a missão era perigosa.Ela estava com muito medo...Por isso, queria que a última refeição fosse um pouco melhor.Ela repentinamente se culpou, por que sempre foi tão despreocupada, achando que o sabor estava bom o suficiente
— Cuide-se bem, não emagreça, ou ficarei preocupado.— Quanto tempo? Quanto tempo até você voltar?— Não sei, no mínimo um mês, no máximo... três meses, no máximo três meses eu volto.Três meses, tanto tempo.Mas não importa, a vida tem muitos períodos de noventa dias, ela pode esperar.Ela queria arrumar a bagagem de Daniel, mas ele estava com pressa e precisava viajar leve, apenas carregou uma mochila com algumas roupas para trocar.Ela também viu a arma de Daniel, que ela havia ajudado a conseguir.Ela acariciou suavemente o corpo metálico da arma, frio e sem qualquer calor.Ela deixou um beijo cair.Esperava que aquela arma pudesse substituí-la e proteger Daniel.Seus cílios tremiam, as lágrimas caíam incontrolavelmente, escorrendo pela arma.Daniel viu essa cena na porta, sentindo-se como se estivesse mergulhado em uma fonte termal, com calor percorrendo todo o corpo.Ele tinha que voltar vivo!O tempo passou rapidamente.Daniel estava prestes a partir, e já havia um carro militar
Afonso havia fugido do hospital e ido diretamente ao antigo apartamento alugado de Beatriz, batendo na porta sem parar, até que o inquilino não aguentou mais.Mesmo após explicarem que não havia ninguém chamada Beatriz ali, ele não acreditou e insistiu em entrar para procurar.O inquilino não teve outra escolha a não ser chamar a polícia.A polícia perguntou o número de telefone de algum familiar de Afonso, e o que ele deu foi o número de Beatriz.— Ele é herdeiro do Grupo Silva, vou lhe dar o número dos familiares dele. Ele está doente, espero que vocês entrem em contato imediatamente.Beatriz deu o número da avó dele, pensando que o assunto terminaria ali, mas uma hora depois, a empregada veio correndo preocupada, dizendo que Afonso estava na porta.— Como ele está na porta?Beatriz franziu a testa com força, sem escolha a não ser sair para verificar.Afonso estava discutindo com o motorista.— Eu sou o presidente do Grupo Silva.— Eu não me importo de onde você é presidente, você te
Beatriz revelou a verdade para ele.O rosto de Afonso ficou pálido como papel, olhando para ela em estado de choque.Ele ouviu toda a história, incapaz de processar tudo.Ele balançava a cabeça, como que possuído.— Não pode ser... Isso não pode ser verdade...— Não pode ser... Não pode ser...Ele parecia só conseguir repetir essas palavras.Finalmente, os familiares da família Costa chegaram, mas a avó não veio, provavelmente por conta da idade e do cansaço de viajar.Os que vieram foram o tio e a tia.— Afonso, o que houve? Você está bem?O tio chamou, mas ele não respondeu, o olhar perdido e vazio, repetindo mecanicamente.A tia também estava preocupada: — Bia, o que está acontecendo?— Eu contei a verdade para ele.— O quê? — A tia ficou alarmada: — O médico disse que o cérebro dele ficou sem oxigênio por muito tempo e ainda não está totalmente recuperado, não devemos provocá-lo, e se ele realmente enlouquecer?— Bia, você foi muito imprudente. Eu sei que você o odeia, mas por res
— Eu sei que a verdade é cruel, mas é a realidade.— Vovó, pode me contar novamente, por favor? Deve haver algum mal-entendido, ela deve ter me interpretado mal…Afonso estava pálido, mesmo após ouvir a confirmação da avó, ele ainda não queria acreditar.Ele agarrou firmemente a mão da avó.Então ela compartilhou tudo o que sabia, de forma ainda mais detalhada, sobre como Afonso desafiara a família por Débora, causara uma cena em uma reunião familiar, e como usara seu próprio filho para tentar incriminar Beatriz...Após ouvir tudo, o coração de Afonso afundou.Ele ficou ali, atordoado, por um longo tempo.— Eu... quero ver Débora.— Você quer vê-la?— Só de longe, quero saber que tipo de pessoa me deixou tão cego!— Afonso, não jogue toda a culpa em Débora. Por que você não admite que foi sua autoestima e seu desejo de posse que te dominaram? Se Beatriz tivesse sido insistente, você poderia ter deixado pra lá. Mas porque ela foi direta em seus sentimentos, você começou a duvidar se ela