Daniel ficou pálido ao ouvir isso, como se todos esses segredos fossem manchas escuras em seu coração, agora expostos por Beatriz.Sua expressão de desdém não era fingida, e o olhar que ela lançava a ele era de repulsa.Ele já tinha adivinhado a escolha de Beatriz. Conviver com alguém tão difícil como ele deve ser realmente exaustivo.Ele não sabia com quem compartilhar seus sentimentos mais íntimos.Ele também queria dizer a Beatriz que ela era a única pessoa no mundo em quem ele confiava incondicionalmente, a quem se dedicava sem reservas.Mas... como um homem poderia dizer essas palavras sem parecer sentimental demais, além de parecer um tanto perturbado?— Tudo bem... eu entendi. — Daniel, de repente, murmurou com a cabeça baixa.Beatriz ficou surpresa.Entendeu? Entendeu o quê?— Você pode ir, eu não te culpo.— Você ainda tem a cara de me culpar? Daniel, você que ficou em silêncio do começo ao fim, e ainda quer me culpar? — Ela estava tão irritada que quase avançou para mordê-l
— Com dez anos.Daniel, engolindo o constrangimento, revelou a verdade.Beatriz arregalou os olhos. Daniel era cinco anos mais velho que ela; ela tinha apenas cinco anos na época. Daniel gostava dela?— Como assim? Eu era tão jovem! Como você poderia gostar de mim?— Você esqueceu, mas eu não. Eu e minha irmã fomos sequestrados, e você estava lá também.— Eu?Beatriz ficou atônita.Daniel prosseguiu, contando a história.Beatriz sentia a cabeça girar, lembranças turvas começaram a emergir.O garoto coberto de sangue.Seu olhar era determinado e frio.Ela ainda não conseguia lembrar de mais nada. Sua mãe sempre dizia que ela era travessa quando pequena e que tinha batido a cabeça, foi naquela época.— Os policiais trabalharam com você por dentro, invadindo aquele galpão abandonado. Eles descobriram que você era um infiltrado, ficaram furiosos, querendo te matar. Eles te jogaram do segundo andar, parte para descontar a raiva, parte para atrasar os policiais. Você caiu e se machucou muito
Uma mulher nas mãos de sequestradores, qual será o seu destino? Beatriz Rocha estava vivenciando esse pesadelo. Aquele grupo queria transformá-la em uma prostituta.Ela estava vendada e com a boca selada por fita adesiva, amarrada em um canto como um animal. Seu corpo estava coberto de cicatrizes, sem um pedaço de pele intacto. A corda que a prendia era curta, tinha menos de um metro. Se ela se movesse um pouco mais para a frente, a corda apertaria seu pescoço. Várias vezes, Beatriz lutou inutilmente, ficando sem ar, o rosto roxo, a voz sufocada.Ela não podia escapar...Do lado de fora, ela ouvia os sequestradores xingando furiosamente. Eles tentaram violentá-la, mas ela reagiu mordendo a garganta de um deles. Se tivesse um pouco mais de força, teria quebrado sua traqueia, matando-o.Por isso, Beatriz foi brutalmente espancada e amarrada ali. Drogada, sua resistência foi reduzida a quase nada.De repente, lá fora, algo aconteceu. O barco em que estavam colidiu violentamente, e ela cai
Aquele era um clube que Afonso frequentava, onde ele costumava beber com os amigos.A razão dizia para Beatriz não acreditar nas palavras do chefe dos sequestradores, que tudo era mentira. Mas seu corpo, fora de controle, queria verificar. Ela esteve ao lado de Afonso por três anos e sabia o número da sala privativa que ele frequentava. Foi diretamente para lá.— Afonso perdeu, o que vai ser, verdade ou desafio?— Verdade.— Então, quem é a mulher que você mais ama no seu coração?— Isso ainda é uma pergunta? Claro que é Débora.Beatriz estava do lado de fora, ficando cada vez mais pálida. Suas pernas ficaram pesadas como chumbo, e suas mãos pairaram no ar, incapazes de bater na porta por um longo tempo. Depois, parece que eles começaram outra rodada do jogo. Desta vez, Débora foi quem perdeu.— Cunhada perdeu, então, você escolhe verdade ou desafio?— Desafio.A voz da mulher era suave como água.— Então beije um dos homens aqui por três minutos.— Ah, não brinque assim.Débora estava
Daniel estendeu a mão, com dedos bem definidos e a palma larga. Ao ouvir a voz dele, Beatriz ficou paralisada no lugar, incapaz de se mover.Nesse momento, o delinquente, embriagado, correu em direção a eles. — Você é cego? Não vê que estou aqui? Acredita se eu disser que vou te bater...Daniel não disse nada. Apenas passou o guarda-chuva para ela e chutou o delinquente.Ele pegou o celular e fez uma ligação, e a polícia local chegou imediatamente.— Este homem estava assediando uma mulher. Provavelmente é um criminoso habitual. Levem-no para a detenção para um aviso.— Claro, claro, vamos cuidar disso.Os policiais foram muito educados e levaram o homem embora.Nesse meio tempo, Beatriz deveria ter corrido, mas suas pernas não obedeciam, e ela permaneceu paralisada. — Posso te levar para casa?— Quem é você, afinal? — Ela perguntou, tremendo.— Sou um ex-colega de escola do Afonso. Éramos bastante próximos. Agora, estou aposentado, sem emprego fixo.— Você era policial antes?Daniel
Daniel estava ao telefone e não a notou.— Certo, vou fazer compras com você no fim de semana.— Estou dirigindo agora, não posso falar ao telefone...— Sim, sim, tudo do seu jeito.Daniel tinha uma imagem muito rígida, falava de maneira direta e cheia de vigor. Mas, naquele momento, ele falava de maneira gentil e até sorria, o que suavizava a aura intimidadora que emanava. Ele provavelmente estava falando com uma garota de quem gostava, e como alguém que respeitava muito a lei após se aposentar, não falava ao telefone enquanto dirigia.Beatriz sentiu como se tivesse encontrado um salvador e começou a bater freneticamente na janela do carro.Daniel franziu a testa e abaixou o vidro.— Hm? — Um leve tom de dúvida. — Vou desligar agora, algo surgiu. Na próxima vez, você decide o castigo.Pareceu que ele acalmou a outra pessoa antes de finalmente desligar.Daniel apenas olhou para ela de dentro do carro, sem abrir a porta.— Algum problema?— Você poderia me levar a um hotel? Não é fácil
Beatriz ficou aterrorizada e imediatamente chamou socorro médico. A pessoa que estava bem e almoçando agora estava sendo levada às pressas para a UTI.A casa de repouso ligou freneticamente para a família. Beatriz esperava ansiosamente do lado de fora do quarto. Após mais de uma hora, alguém chegou apressadamente.— Policial Dias?— O que você está fazendo aqui? — Daniel franziu a testa.Ana apressou-se em explicar: — Ela é uma voluntária em nossa casa de repouso, e Avô Fernando gosta muito dela. Nos últimos dias, o Velho Senhor tem se queixado de falta de ar e acorda frequentemente durante a noite. Não esperávamos que isso acontecesse tão rápido...Daniel nem teve tempo de conversar com Beatriz, preocupado em saber sobre o estado de seu avô.Foi então que ela soube o nome completo do avô - Fernando Dias.Mais tarde, o avô foi levado às pressas para a sala de cirurgia. Após quatro horas, foi trazido de volta, esperando que o efeito da anestesia passasse e ele acordasse, o que só acont
Débora, ao ouvir isso, lançou um olhar fulminante à sua melhor amiga e, em seguida, avançou calorosamente para agarrar a mão de Beatriz.— Srta. Rocha, você certamente veio para me dar seus parabéns, não é verdade? Eu sabia, você é muito generosa. Ter mais amigos vindo me felicitar não se compara a ter você aqui. Somente suas bênçãos podem verdadeiramente me fazer feliz.Os olhos de Débora brilhavam, radiando uma inocência natural.— Você está enganada, eu vim aqui para jantar. Não sabia que o Afonso estaria aqui.Ao dizer isso, ela tentou se afastar, mas Débora, obstinada, não a deixou ir. Para aumentar o drama, ela derramou duas lágrimas de tristeza.— Então você ainda não está disposta a me perdoar, certo? Eu sei que te fiz mal, estou disposta a fazer qualquer coisa que você me peça. Se necessário, eu me ajoelho.Antes que Beatriz pudesse responder, Débora cambaleou e se ajoelhou, chorando copiosamente, atraindo a atenção de todos que passavam pelo banheiro.Suas amigas, indignadas,