Capítulo 6

Nicole

Só consegui respirar normalmente depois que sai daquela casa, não pensei que fosse ser tão difícil, nem que encontraria ele aqui, o cara que quase me fez descer do palco e perder o juízo somente com um olhar. E de novo senti o olhar dele em mim, rastros de fogo me consumiam, minha vontade era voltar e dizer algumas coisas a ele, ou fazer, mas apenas caminhei até a limusine e Alex me levou de volta ao hotel.

— Está tudo bem, Senhorita?

— Não, só vou ficar bem quando começar a me chamar pelo nome.

Não gosto como soa, sei que é uma forma de respeito, porém não vou conseguir me acostumar com isso.

— Desculpe, vou tentar.         

Assim que estaciona na frente do prédio eu desço, e antes de ir embora ele me chama de senhorita. Será um longo processo de adaptação.

Entro no apartamento, já me despindo. Deito no sofá, pego o celular na bolsa e vejo que tem uma chamada perdida do Jonas, então retorno.

— Oi flor! Pensei que não fosse mais falar comigo. — Noto a tristeza em sua voz. — Fiquei preocupado, como você está?

— Estou bem!

— Como foi com o Ademir? Fiquei com tanto medo por você, não devia ter ido.

— Se não saísse ele destruiria o lugar.

— Entendo, só me diz que aquele cretino não encostou em você.

Meu coração acelera com as lembranças.

Resolvo não entrar nesse assunto, pois mesmo que esteja longe ainda sinto o medo me perturbar.

— Já passou, não quero mais saber dele.

— Que bom! Agora quero saber quando pode voltar a dançar, os clientes estão sentindo a sua falta.

— Jonas, não vou mais voltar, pelo menos por enquanto. Aconteceu uma coisa maluca na minha vida e agora está tudo de ponta cabeça e fora de contexto, garanto que daria um bom livro.

Fico calada tentando pensar como começar a história, então ele diz eufórico:

— Vai menina, fala logo!

Assim que termino quem se cala é ele.

— Fala alguma coisa.

— MEU DEUS! Vai ter sorte assim lá na casa do caralho...

— Ei...

Nós rimos.

— Que história! Você vai casar com o velho ricaço mesmo?

— Sim.

— Uau! Vai fundo flor você merece.

— Tomara que dê certo, só eu sei o quanto foi difícil manter a minha mãe em um lugar bom, principalmente tendo que me esconder do Ademir.

— Agora terá mais proteção, talvez nunca mais veja ele.

Que Deus escute as minhas preces, pensei comigo.

— Tomara.

— Fico feliz que esteja bem, mas triste que não vamos mais nos ver. Sem contar agora, que tem um rapaz lindo e ricaço atrás de você. Gastou horrores aqui com as meninas, só para tirar informações sobre a sua identidade.

Meu coração quase sai pela boca.

— Como assim? Tem certeza que não é a mando do Ademir? Vocês falaram alguma coisa?

— Ninguém falou nada. No entanto, acredito que seja fino demais para mexer com o tráfico, só que vou ficar de olho e se ele aparecer serei mais grosso, até que diga quem é.  — Jonas usa um tom a cima, trazendo a raiva e proteção em suas palavras.

— Obrigada!

— Estarei sempre aqui flor! Se quiser sair para conversar, podemos marcar qualquer dia desses.

— Assim que a poeira abaixar e me sentir segura te ligo.

***

   

A semana passou rápido, quase não tive tempo por causa dos preparativos para o casamento. Alex correu comigo para todos os lugares, como um bom amigo e por mais que implorei ele continua me chamando de senhorita.

— Quer que deixe no seu quarto?

— Por favor! Alex você...

— Pelo jeito o casamento vai acontecer mesmo, não é? — A voz do Otávio me interrompe.

Viro e dou de cara com ele, está encostado no corrimão da escada, dois degraus acima de mim. Vestindo uma blusa de manga longa enrolada até o cotovelo, uma calça jeans e tênis, desvio o olhar para não me pegar o encarando com desejo.

— Pois é.

— Deixarei na sua cama senhorita!

— Obrigada, Alex!

Ele sai rapidamente entrando na casa, com a caixa do meu vestido e algumas sacolas.

Seguro as outras sacolas que sobraram, fecho a porta do carro e subo os degraus, quando passo por ele, ousadamente segura meu braço, e seus dedos gelados enviam uma onda quente pelo corpo, me fazendo levemente estremecer.

— Me diga, porque vai se casar com meu vô?

— Algum problema Otávio?

— Todos, principalmente quando uma mulher linda como você, que toma a maior parte dos meus pensamentos, vai se casar com um velho que mal dará conta de te satisfazer.

— Acredito que seu avô ficará feliz em saber disso.

— Não contaria a ele...

— Contaria sim! Não me conhece Otávio, melhor me soltar.

Ele solta, continuo andando até entrar no meu quarto, — sim tenho um quarto aqui, porque estava ficando cansativo vir todos os dias, então Antônio sugeriu, ficando mais fácil de organizar o casamento, já que a cerimônia será na fazenda.

Alex já tinha deixado as coisas na cama e provavelmente saiu pelas portas do fundo, pois não o encontrei.

Tomo um banho e, logo após, coloco o vestido de noiva, precisava provar antes do grande dia. É quando ouço a porta ser aberta e Beatriz entra sem nem bater.

— Está linda! — diz em tom cordial, combinando perfeitamente com seu sorriso falso.

Para não criar inimizades, finjo estar feliz com sua companhia

— Obrigada!

Ela se aproxima, alisando o tecido fino do vestido.

— Se acha que vou deixar destruir a minha família, está enganada. Posso ser nova, mas não sou burra! Nunca tomará o lugar da minha vó.

Sabia que a pedrada viria, só não achei que seria tão cedo.

— Essa não é minha intenção, e jamais pensei que fosse burra, ao contrário, você é bem inteligente, só devia usar para coisas menos superficiais.

Não queria irrita-la, nem chamar a atenção dela por ser tão mesquinha, no entanto, saiu sem tempo de frear a língua.

Ela continua com os insultos:

— Você é patética vestindo algo branco, combinaria com o preto, pois ninguém está feliz com esse casamento, parece mais um velório para mim.

— Se não quiser comparecer, por mim tudo bem, mas para o seu vô é importante, então peço que esteja presente para o funeral.

Ela sai batendo o pé, parecendo uma garotinha mimada, talvez ela seja.

Pelo menos não veio rasgar o vestido, amanhã seria o casamento e não teria tempo de fazer consertos. 

Para ajudar, a ex-mulher do Heitor chegou na parte da manhã, ainda não tive a oportunidade de conhece-la, mas ouço os empregados correndo para todos os lados, fazendo as suas vontades. Emma não vai com a cara da Gabriela, esse é o nome dela.

Emma é um amor de pessoa e gosta do que faz, cada vez me dou mais bem com ela. Vai ser de boa ajuda quando Antônio adoecer.

Tiro o vestido e guardo de volta na caixa, vou esconder caso Beatriz resolve fazer alguma maldade.

Coloco uma roupa básica: calça jeans, blusinha de alça e um tênis.

Estou descendo as escadas, quando uma mulher de óculos de sol e biquíni, pequeno demais para o seu tamanho, me para. Ela está segurando um cachorrinho, peludo e fofinho.

— Ai, que bom que achei alguém! — diz soltando o ar pesadamente. — Quero saber quem foi que colocou a tapeçaria de primavera na sala, sendo que é verão? Preciso que troque agora mesmo, aproveite e leve um suco na piscina, vou me bronzear com a princesa! — Princesa deve ser o cachorro.

— Hum, acho que o tapete está lindo para essa época do ano, e a cozinha para fazer o seu suco fica por ali.

Odeia pessoas folgadas e ela não pode falar assim com os funcionários.

— Mais que insolente, está demitida! Heitor!

— Meu nome é Nicole e não sou funcionária.

Gabriela trava por alguns instantes e abre um leve sorriso.

— Há! Você é a noiva? Tão nova, bem que Heitor disse. — faz cara de nojo, quando olha para as minhas roupas simples. — Porque está se vestindo como a criadagem?

— Aqui não temos criados, querida! — Antônio vem ao meu socorro, já estava perdendo as estribeiras e ia dar umas bolachas na cara magrela e esticada dela. — Acredito que tenha nascido no século errado.

Ela abana a mão, empinando o nariz, que com toda certeza já passou por cirurgias, e diz:

— Desculpe, é força do hábito.

Serio?

— Melhor rever seus conceitos. Bem, vejo que conheceu a minha noiva.

Antônio passa o braço pelo meu ombro.

— Sim, ela é um amor!

Falsa.

Não suporto mais olhar para a cara dela, então viro para o Antônio.

— Preciso ir a cidade, resolver os últimos detalhes da festa...

— Que horror! Você que está organizando o casamento? — Gabriela me interrompe.

O que é tão horroroso assim? Que mulher dramática.

— Sim.

— Na minha festa contratei tudo, somente descansei para manter a beleza em ordem, não queria rugas de preocupação no dia do meu casamento.

Chega!

— Deveria tentar para a festa de amanhã, já está com umas ruguinhas aqui. — Mostrei o cantinho dos olhos.

— Ai meu Deus! Onde? Tenho que correr para o quarto, se meu Enzo me ver assim...

Corre degraus a cima.

Não consigo segurar a risada e explodo em uma gargalhada histérica e Antônio me segue.

— Ela é maluca!

— Você destruiu o dia dela.

Antônio mal consegue falar por conta do riso descontrolado.

— O que é tão engraçado?

Heitor aparece no pé da escada, me fazendo parar de rir.

— Vocês viram a Gabriela? Ouvi ela me chamar.

E ele veio como um cachorrinho.

Não aguentei e voltei a rir, Antônio também.

— Vocês são idiotas? — bufa, andando em direção a cozinha.

Continuamos rindo.

Essa família é mais louca que a minha, quando tinha uma família, antes do meu pai morrer.

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