Nicole
Só consegui respirar normalmente depois que sai daquela casa, não pensei que fosse ser tão difícil, nem que encontraria ele aqui, o cara que quase me fez descer do palco e perder o juízo somente com um olhar. E de novo senti o olhar dele em mim, rastros de fogo me consumiam, minha vontade era voltar e dizer algumas coisas a ele, ou fazer, mas apenas caminhei até a limusine e Alex me levou de volta ao hotel.
— Está tudo bem, Senhorita?
— Não, só vou ficar bem quando começar a me chamar pelo nome.
Não gosto como soa, sei que é uma forma de respeito, porém não vou conseguir me acostumar com isso.
— Desculpe, vou tentar.
Assim que estaciona na frente do prédio eu desço, e antes de ir embora ele me chama de senhorita. Será um longo processo de adaptação.
Entro no apartamento, já me despindo. Deito no sofá, pego o celular na bolsa e vejo que tem uma chamada perdida do Jonas, então retorno.
— Oi flor! Pensei que não fosse mais falar comigo. — Noto a tristeza em sua voz. — Fiquei preocupado, como você está?
— Estou bem!
— Como foi com o Ademir? Fiquei com tanto medo por você, não devia ter ido.
— Se não saísse ele destruiria o lugar.
— Entendo, só me diz que aquele cretino não encostou em você.
Meu coração acelera com as lembranças.
Resolvo não entrar nesse assunto, pois mesmo que esteja longe ainda sinto o medo me perturbar.
— Já passou, não quero mais saber dele.
— Que bom! Agora quero saber quando pode voltar a dançar, os clientes estão sentindo a sua falta.
— Jonas, não vou mais voltar, pelo menos por enquanto. Aconteceu uma coisa maluca na minha vida e agora está tudo de ponta cabeça e fora de contexto, garanto que daria um bom livro.
Fico calada tentando pensar como começar a história, então ele diz eufórico:
— Vai menina, fala logo!
Assim que termino quem se cala é ele.
— Fala alguma coisa.
— MEU DEUS! Vai ter sorte assim lá na casa do caralho...
— Ei...
Nós rimos.
— Que história! Você vai casar com o velho ricaço mesmo?
— Sim.
— Uau! Vai fundo flor você merece.
— Tomara que dê certo, só eu sei o quanto foi difícil manter a minha mãe em um lugar bom, principalmente tendo que me esconder do Ademir.
— Agora terá mais proteção, talvez nunca mais veja ele.
Que Deus escute as minhas preces, pensei comigo.
— Tomara.
— Fico feliz que esteja bem, mas triste que não vamos mais nos ver. Sem contar agora, que tem um rapaz lindo e ricaço atrás de você. Gastou horrores aqui com as meninas, só para tirar informações sobre a sua identidade.
Meu coração quase sai pela boca.
— Como assim? Tem certeza que não é a mando do Ademir? Vocês falaram alguma coisa?
— Ninguém falou nada. No entanto, acredito que seja fino demais para mexer com o tráfico, só que vou ficar de olho e se ele aparecer serei mais grosso, até que diga quem é. — Jonas usa um tom a cima, trazendo a raiva e proteção em suas palavras.
— Obrigada!
— Estarei sempre aqui flor! Se quiser sair para conversar, podemos marcar qualquer dia desses.
— Assim que a poeira abaixar e me sentir segura te ligo.
***
A semana passou rápido, quase não tive tempo por causa dos preparativos para o casamento. Alex correu comigo para todos os lugares, como um bom amigo e por mais que implorei ele continua me chamando de senhorita.
— Quer que deixe no seu quarto?
— Por favor! Alex você...
— Pelo jeito o casamento vai acontecer mesmo, não é? — A voz do Otávio me interrompe.
Viro e dou de cara com ele, está encostado no corrimão da escada, dois degraus acima de mim. Vestindo uma blusa de manga longa enrolada até o cotovelo, uma calça jeans e tênis, desvio o olhar para não me pegar o encarando com desejo.
— Pois é.
— Deixarei na sua cama senhorita!
— Obrigada, Alex!
Ele sai rapidamente entrando na casa, com a caixa do meu vestido e algumas sacolas.
Seguro as outras sacolas que sobraram, fecho a porta do carro e subo os degraus, quando passo por ele, ousadamente segura meu braço, e seus dedos gelados enviam uma onda quente pelo corpo, me fazendo levemente estremecer.
— Me diga, porque vai se casar com meu vô?
— Algum problema Otávio?
— Todos, principalmente quando uma mulher linda como você, que toma a maior parte dos meus pensamentos, vai se casar com um velho que mal dará conta de te satisfazer.
— Acredito que seu avô ficará feliz em saber disso.
— Não contaria a ele...
— Contaria sim! Não me conhece Otávio, melhor me soltar.
Ele solta, continuo andando até entrar no meu quarto, — sim tenho um quarto aqui, porque estava ficando cansativo vir todos os dias, então Antônio sugeriu, ficando mais fácil de organizar o casamento, já que a cerimônia será na fazenda.
Alex já tinha deixado as coisas na cama e provavelmente saiu pelas portas do fundo, pois não o encontrei.
Tomo um banho e, logo após, coloco o vestido de noiva, precisava provar antes do grande dia. É quando ouço a porta ser aberta e Beatriz entra sem nem bater.
— Está linda! — diz em tom cordial, combinando perfeitamente com seu sorriso falso.
Para não criar inimizades, finjo estar feliz com sua companhia
— Obrigada!
Ela se aproxima, alisando o tecido fino do vestido.
— Se acha que vou deixar destruir a minha família, está enganada. Posso ser nova, mas não sou burra! Nunca tomará o lugar da minha vó.
Sabia que a pedrada viria, só não achei que seria tão cedo.
— Essa não é minha intenção, e jamais pensei que fosse burra, ao contrário, você é bem inteligente, só devia usar para coisas menos superficiais.
Não queria irrita-la, nem chamar a atenção dela por ser tão mesquinha, no entanto, saiu sem tempo de frear a língua.
Ela continua com os insultos:
— Você é patética vestindo algo branco, combinaria com o preto, pois ninguém está feliz com esse casamento, parece mais um velório para mim.
— Se não quiser comparecer, por mim tudo bem, mas para o seu vô é importante, então peço que esteja presente para o funeral.
Ela sai batendo o pé, parecendo uma garotinha mimada, talvez ela seja.
Pelo menos não veio rasgar o vestido, amanhã seria o casamento e não teria tempo de fazer consertos.
Para ajudar, a ex-mulher do Heitor chegou na parte da manhã, ainda não tive a oportunidade de conhece-la, mas ouço os empregados correndo para todos os lados, fazendo as suas vontades. Emma não vai com a cara da Gabriela, esse é o nome dela.
Emma é um amor de pessoa e gosta do que faz, cada vez me dou mais bem com ela. Vai ser de boa ajuda quando Antônio adoecer.
Tiro o vestido e guardo de volta na caixa, vou esconder caso Beatriz resolve fazer alguma maldade.
Coloco uma roupa básica: calça jeans, blusinha de alça e um tênis.
Estou descendo as escadas, quando uma mulher de óculos de sol e biquíni, pequeno demais para o seu tamanho, me para. Ela está segurando um cachorrinho, peludo e fofinho.
— Ai, que bom que achei alguém! — diz soltando o ar pesadamente. — Quero saber quem foi que colocou a tapeçaria de primavera na sala, sendo que é verão? Preciso que troque agora mesmo, aproveite e leve um suco na piscina, vou me bronzear com a princesa! — Princesa deve ser o cachorro.
— Hum, acho que o tapete está lindo para essa época do ano, e a cozinha para fazer o seu suco fica por ali.
Odeia pessoas folgadas e ela não pode falar assim com os funcionários.
— Mais que insolente, está demitida! Heitor!
— Meu nome é Nicole e não sou funcionária.
Gabriela trava por alguns instantes e abre um leve sorriso.
— Há! Você é a noiva? Tão nova, bem que Heitor disse. — faz cara de nojo, quando olha para as minhas roupas simples. — Porque está se vestindo como a criadagem?
— Aqui não temos criados, querida! — Antônio vem ao meu socorro, já estava perdendo as estribeiras e ia dar umas bolachas na cara magrela e esticada dela. — Acredito que tenha nascido no século errado.
Ela abana a mão, empinando o nariz, que com toda certeza já passou por cirurgias, e diz:
— Desculpe, é força do hábito.
Serio?
— Melhor rever seus conceitos. Bem, vejo que conheceu a minha noiva.
Antônio passa o braço pelo meu ombro.
— Sim, ela é um amor!
Falsa.
Não suporto mais olhar para a cara dela, então viro para o Antônio.
— Preciso ir a cidade, resolver os últimos detalhes da festa...
— Que horror! Você que está organizando o casamento? — Gabriela me interrompe.
O que é tão horroroso assim? Que mulher dramática.
— Sim.
— Na minha festa contratei tudo, somente descansei para manter a beleza em ordem, não queria rugas de preocupação no dia do meu casamento.
Chega!
— Deveria tentar para a festa de amanhã, já está com umas ruguinhas aqui. — Mostrei o cantinho dos olhos.
— Ai meu Deus! Onde? Tenho que correr para o quarto, se meu Enzo me ver assim...
Corre degraus a cima.
Não consigo segurar a risada e explodo em uma gargalhada histérica e Antônio me segue.
— Ela é maluca!
— Você destruiu o dia dela.
Antônio mal consegue falar por conta do riso descontrolado.
— O que é tão engraçado?
Heitor aparece no pé da escada, me fazendo parar de rir.
— Vocês viram a Gabriela? Ouvi ela me chamar.
E ele veio como um cachorrinho.
Não aguentei e voltei a rir, Antônio também.
— Vocês são idiotas? — bufa, andando em direção a cozinha.
Continuamos rindo.
Essa família é mais louca que a minha, quando tinha uma família, antes do meu pai morrer.
Na parte da tarde foi mais corrido ainda, quando terminei de organizar tudo já estava anoitecendo. Cheguei no corredor do meu quarto, rezando por um banho, no entanto, ouço risadas vindas do corredor oposto ao meu, e como uma boa curiosa vou ver. — Devia ter ido para o quarto.Otávio está se agarrando com a florista que dispensei lá no jardim não faz muito tempo. Jurava que tinha ido embora, mas vejo que não. Meu coração acelera, quando os olhos dele param em mim, me enraizando no lugar, sem conseguir correr ou cobrir o rosto. O pervertido sorri, sem parar de deslizar as mãos pelo corpo da menina. Prensa ela na parede e ergue uma das suas pernas. A saia é curta, facilitando o acesso.Merda!O que estou fazendo aqui ainda? E se a Beatriz aparecer? Maldito Otávio! A garota só tem quinze ou dezesseis, sei lá, seria constrangedor ver uma cena dessas.Ele af
OtávioEstou andando de um lado para o outro, tentado a voltar no quarto dela e toma-la em meus braços, porém, preciso pensar. Não posso fazer isso com meu avô, não quando parece feliz com o casamento. Não o vejo tão alegre assim desde que minha vó faleceu.Droga!Posso ter qualquer mulher, porque tenho que querer justo a dele?Maldição! Preciso sair.Ligo para Willian e combinamos de nos encontrar no bar estrela azul
NicoleAcabo de me arrumar, mas não consigo me mexer, ainda estou tomando coragem, tentando entender se é mesmo certo o que vou fazer. Penso na minha mãe, vivendo em um hospital barato e sendo maltratadaFico com pena de tirá-la de onde está, parece tão bem. Ela voltou a pintar, era uma das coisas que mais gostava. A última vez que fui vê-la, estava debruçada na imagem de uma menininha, que dizia ser sua filha e que ela nunca vem. Me corta o cora&c
Na segunda-feira, Antônio me levou para conhecer a fazenda, como não sei andar de cavalo, estamos no mesmo. Como um pai protetor, segura firmemente a minha cintura.O cavalo é enorme, pelagem negra e brilhante, maravilhosamente dócil, mesmo assim estou morrendo de medo.— E se nos derrubar?— Trovão é um cavalheiro, nunca derrubaria uma dama! Não é mesmo! — acariciou a cabeça do animal com amor.O passeio continua tranquilo. Vejo as plantações que parecem não ter fim. A natureza, o canto dos pássaros, deixa tudo mais calmo, até o ar parece ser mais limpo. Passamos pelos trabalhadores e automaticamente aceno para eles, Antônio faz o mesmo esboçando um belo sorriso no rosto. Parece ser um bom patrão.— Onde estamos indo?Noto que não é a direção da cas
OtávioEstaciono meu carro na garagem, já passava das duas da manhã. É sexta-feira e sempre passo a noite fora, porém hoje decidi vir embora mais cedo, não estou no clima para festa, e isso vem acontecendo a um tempo, desde que Nicole apareceu na minha vida para me infernizar com aquela bunda gostosa. Não! Ela é esposa do meu avô, não posso pensar assim... que se dane, ela é gostosa mesmo.Estou um pouco zonzo pela bebida, por isso, tive um pouco de dificuldade de abrir a porta. Entro quieto, não quero acordar ninguém, mas antes de subir a escada ouço um barulho de algo caindo. Parece ser no escritório.Quem est&aacut
Ao anoitecer resolvi sair com Willian, e notei que está estranho, cabisbaixo, olhando para o nada, perdido em pensamentos.— Willian, está me ouvindo?— Oi!Não, ele não está me ouvindo.— O que deu em você?— Nada, só pensando em algumas coisas.— No que por exemplo?— Se uma mulher disser que gosta de você, mas fica com outros homens... O que você faria?— Que merda é essa? — dá de ombros. — Eu mandaria a garota se foder e pronto.Ele sorri.— Mas ela é tão preciosa!— Quem é?— Ela é linda, inocente e cheia de si. Quando sorri parece uma boneca, quando fala é uma Deusa da perdição.— Tá legal! Por que não pega uma dessas mulheres e esquece a garota inocentemente perversa.
NarradorNo domingo, a única coisa que se fala nas redes sociais, é sobre a festa na casa do Jeferson. Beatriz está eufórica, passou a semana escolhendo a melhor roupa e o sapato que mais combinaria, porém, ainda não sabia o que dizer ao pai, o plano A: é apenas pedir;O plano B: é pedir ajuda ao Otávio e se não ajudar;Plano C: fugir sem que ninguém notasse. — Ela espera não chegar a tanto.Por volta das 3 horas da tarde, ela vai ao quarto do pai, bate e ninguém atende, então desce as escadas a procura da Emma. É a única que sabe tudo nesta casa.Quando chega na cozinha, ela
NicoleEstar neste lugar novamente me traz muitas lembranças e a maioria não são boas.Me olho no espelho e noto o que Antônio causou em mim, vejo brilho na íris dos meus olhos, e um pequeno sorriso se formando em meu rosto.Pego a garrafa de vinho, que Jonas deixava sempre em meu camarim, que agora pertence a Jane. — Nada aqui é mais meu!Sirvo uma taça e bebo, preciso de coragem para subir naquele palco novamente.Antônio vem em minha mente e a culpa me corroe por dentro. No jantar, tentei várias vezes contar e não consegui, ele parecia tão feliz que não quis estragar nada. Acredito que mesmo sendo para ajudar um amigo, não acho qu