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Capítulo 2 - O Princípio Das Dores

Por isso todos quanto buscavam lhe estender as mãos ouviam as mesmas palavras cheias de ódio e revolta. O coração daquele homem estava dominado pela ira e nada parecia ser capaz de sarar as feridas surgidas pela decepção de ser traído por pessoas a quem havia dedicado parte de sua vida. Carlos França foi um grande líder espiritual, se converteu ao evangelho e desde cedo aprendeu a ter compaixão da dor alheia.  Estava sempre entre aqueles que procuravam ajudar o semelhante, ao ler os evangelhos e conhecer a missão de Jesus Cristo, decidiu seguir seu exemplo.

Profundo conhecedor das Escrituras estudou até o último nível da teologia, afim de aprender e ensiná-las à sua igreja. Um obreiro de valor, esposo de uma só mulher e que manejava bem a Palavra da verdade, como exigia o apóstolo Paulo em sua carta escrita a seu discípulo Timóteo. Mas, agora se perguntava para que serviu tanta dedicação, no que resultou tamanho esforço?  Era criticado pelos demais companheiros de ministério por ter criado uma escola bíblica, onde ensinava gratuitamente a teologia que aprendeu.

 No objetivo de formar líderes para o trabalho da igreja. Achavam um desperdício de tempo dar este preparo de forma gratuita. Sem cobrar nada por isso. Quando chamado para dar aulas em algum seminário, não aceitava pagamento por isso. Fazia tudo por amor a obra de Deus.  Com o nível de doutorado em teologia, com ênfase no Antigo e Novo Testamento. Sabia de cor toda a Bíblia Sagrada. Seus ensinos e palestras públicas chamavam a atenção pelo teor de suas palavras, tinha muitos admiradores, bem como inimigos.

Que ardiam de inveja pela maneira como cresceu nesta área e conquistou uma posição que poucos tinham. No Estado do Pará, somente ele tinha este título e nem mesmo os presidentes das convenções ou de campos lhe sobressaiam. Com tantas qualidades acabou por se tornar alvo de futuras perseguições que acabariam por destruí-lo completamente. Durante anos seus opositores buscaram meios de parar a brilhante carreira de líder evangélico que conquistou. Foram várias as acusações que lançaram sobre Carlos, de desvio das verbas obtidas através dos dízimos e ofertas doadas pelos membros da igreja local.

Indo até o absurdo de tentar seduzir sexualmente jovens e adolescentes.  Quando foi convocado a participar de uma urgente reunião com seus superiores e foi informado do real teor das denúncias, quase não acreditou.  Como alguém poderia tê-lo acusado de tamanha barbaridade? O que ele, na sua simplicidade e inocência, não era capaz de entender é que satanás age em todos os setores da vida humana e em qualquer lugar onde encontre uma brecha. Dentro das igrejas, também, há os súditos do maligno. Todos os que não vigiam e se deixam levar pela ganancia se tornam escravos da inveja e, consequentemente, alvos fáceis para a indução das trevas.

E é por intermédio deles que as sombras acabam por ofuscar as trevas e alcançam homens como Carlos França. Que por viver em plena comunhão com o Deus que escolheu servir e meio a um povo que considerava santo e digno, é pego de surpresa. Naquele domingo, após a distribuição da Santa ceia. Ele dirigiu-se ao templo sede para dar esclarecimentos a seus superiores sobre certas denúncias. Ele não conseguia esconder surpresa diante do que ouvia:

  — Pastor, recebemos em nosso gabinete várias denúncias a respeito de fatos inaceitáveis que estariam ocorrendo durante sua administração na congregação Castelo Forte, entre elas está a mais alarmante, que deixou todos nós perplexos, afirmando que o senhor tem desviado recursos financeiros da tesouraria para uso próprio e a sedução de menores dentro da igreja a qual preside o que é algo abominável, tratando-se de um representante de Deus e que deveria zelar pela santidade de seu rebanho. O que teria a dizer em sua defesa?

   — Minha primeira defesa será afirmar que desconheço essas acusações e estou surpreso tanto quanto os irmãos com tais afirmações, pois nada tenho feito para merecer tamanha calúnia. Se meus acusadores possuem provas concretas sobre minha postura como pastor do rebanho que a mim foi confiado, então que às apresentem a este conselho e provem o que estão afirmando. Onde estão aqueles que vieram tentar manchar a reputação que com muito esforço conquistei?

  — Certamente que nenhuma prova concreta nos foi dada para que o pastor seja punido ou que este conselho exija seu imediato afastamento de suas funções pastorais.

 Porém, de acordo com o relatório que recebemos do seu tesoureiro fica claro o desvio de certa quantia do caixa para a aquisição de bens não declarados, até agora, e gostaríamos que o senhor nos explicasse onde foram aplicados

 — Se o tesoureiro da congregação não deixou claro, em seu relatório, onde foram aplicados os valores retirados, convido-lhes a ir no templo para que eu possa lhes mostrar o que foi construído. Porém, de antemão, mostro-lhes as notas fiscais da compra de materiais usados na construção do salão de reuniões e de salas de aula para a escola dominical, todos prontamente construídos. Se os senhores não tiveram, ainda, conhecimento deste empreendimento é porque poucas vezes visitaram o campo que presido ou meu tesoureiro usou de incompetência por não declarar as obras que juntos fizemos em favor de nossa igreja, pois ele mesmo liberou estas verbas

 — Muito bem, faremos ainda hoje uma visita em sua congregação para nos certificarmos de suas afirmações. Mas, uma outra grave denúncia contra o pastor chegou ao nosso conhecimento e, devido à gravidade é nosso dever esclarece-la. Segundo um de nossos diáconos, uma jovem se diz ter sido assediada pelo irmão dentro do templo, por várias vezes, após os cultos e reuniões ocorridas ali. O que o pastor tem a nos dizer quanto a isso?

  — Primeiramente, senhores, eu nunca me reporto diretamente a jovens e adolescentes do sexo feminino dentro ou fora da congregação. Esse trabalho fica destinado aos líderes deste departamento. Quando há necessidade extrema de ter algum tipo de diálogo com elas, para disciplina ou algo semelhante, é minha esposa quem o faz.

Mas, se uma de minhas ovelhas se diz desrespeitada por mim, então porque ela, acompanhada dos pais ou responsáveis, não estão aqui para me acusar diretamente, qual a razão de um obreiro do templo ter que vir até aqui fazer tais acusações?

Com tal defesa de Carlos, seus interrogadores ficaram sem palavras e, após trocarem olhares confusos o dispensaram, solicitando que o mesmo se fizesse presente na igreja no horário da tarde, para acareação com a denunciante. Carlos retorna para casa e deixa a esposa ciente de tudo o que estava acontecendo. Janaina ainda era muito jovem.

Nem tinha chegado aos trinta anos de idade. Sem maturidade suficiente para digerir todas aquelas acusações duvidou da integridade do marido e passou a interroga-lo, queria respostas quanto a possibilidade de ele ter mesmo assediado a jovem em questão. Carlos nem acreditava que nem mesmo sua mulher fosse capaz de acreditar em sua lealdade. Sentiu-se sozinho e a única saída que que encontrou foi trancar-se dentro de seu quarto e falar com Deus, pedir sua intervenção naquela situação.

 Mas suas orações pareciam vazias, era como se um céu de bronze tivesse sido criado sobre sua cabeça. Não sentia mais a presença de um ser divino ao seu lado, estava sozinho, ninguém iria ajuda-lo.  Eram três horas da tarde, naquele domingo de verão, o sol parecia ter baixado alguns graus a mais da terra e a temperatura lhe queimava a pele. Por baixo daquele paletó verde cana, estava sufocando-o a gravata vermelha que ganhou de presente alguns dias antes e em poucos minutos se fazia presente no templo.

Lá reuniu-se com uma comitiva de pastores para mostrar-lhes as construções que declarou terem sido feitas com os recursos adquiridos com as doações da igreja. Em seguida, após terem comprovado tudo, acomodaram-se numa ampla sala e ali aguardaram por alguns minutos a chegada de Amilton, o diácono que o havia denunciado de assedio e a jovem que se dizia ter sido a vítima. Ambos se assentaram perante os pastores e ali tiveram de acusar seu líder, face a face. O diácono relatou o que ela havia lhe revelado, mas, quando foi interrogada sobre a denúncia que fez ela, bastante nervosa, negou tudo e contou outra versão dos fatos:

  — As coisas não foram bem assim...Uns dias atrás fui visitada em minha casa por um dos pastores aqui do campo e ele me fez uma chantagem, dizendo que tinha descoberto umas coisas erradas que fiz e se eu não fizesse exatamente o que queria iria expor para toda a igreja meu erro, e fiquei apavorada, porque se meu pai soubesse poderia até me matar

      — Mas que coisa tão terrível seria essa para que você chegasse a conclusão de seu pai não compreender?

 — Nem consigo falar

 — Pois tente

 — Eu ando me prostituindo com meu namorado, e tive medo do que poderia acontecer se minha família descobrisse, meu pai e meus irmãos são muito violentos

 — Bem, e porque não levou sua situação ao pastor de sua igreja, ao invés de aceitar a chantagem de acusa-lo de algo que, pelo visto ele não fez?

 — Tive medo que ele não me compreendesse e comunicasse a meus pais, fiquei assustada, conversei com meu namorado e ele achou melhor eu aceitar a proposta de acusar o irmão Carlos e evitar que o outro pastor nos denunciasse

 — Então, quer dizer que você confessa ter sido forçada por um dos nossos pastores a acusar seu líder de assédio sexual no propósito de prejudica-lo, e assim evitar que fosse denunciada por seus atos de prostituição?

 — Sim, senhor, foi isso mesmo

 — E por qual motivo, agora, você decidiu voltar atrás e confessar toda a verdade?

  — Porque cheguei à conclusão que se estou errada em me prostituir, estaria mais ainda se sacrificasse a dignidade de um homem honesto como o pastor Carlos França, que tem sido digno da confiança de todos nesta igreja. Ele sempre foi um grande amigo e conselheiro de todos nós, apoiado os mais carentes e atuado com justiça para os que buscam sua ajuda, então não seria justo de minha parte lançar sobre ele tamanha infâmia. O irmão é inocente dessa acusação, foi tudo um plano para manchar sua reputação!

   — Você não foi pressionada pelo pastor Carlos a vir aqui e defendê-lo diante deste ministério, não é?

   — De forma alguma, em nenhum momento fui coagida a tomar essa decisão, se decidi revelar a verdade foi para ficar em paz com minha consciência!

   — Muito bem, minha jovem, então agora nos diga quem foi que lhe obrigou a mentir contra seu líder

   — Foi o pastor Milton Farias, ele vem me pressionando a confirmar essa acusação a várias semanas, mas me convenci do contrário

   — Muito bem, você está dispensada, pode ir

Depois das revelações feitas pela jovem, Carlos ficou indignado e queria tomar suas próprias providências contra o colega de ministério, mas foi contido. Seus superiores garantiram-lhe que iriam resolver o problema e deveriam ser tomadas medidas extremas contra o judas, mas sem causar escândalos. O que ele sequer poderia imaginar é que ali era apenas a ponta do iceberg, todos os seus superiores estavam cientes da pressão feita a jovem para que o acusasse publicamente de assédio, mas para descontento deles ela decidiu negá-las diante de todos.

Deixando-os desarmados e sem ter como atingi-lo.  Milton Farias era um subalterno fiel aos verdadeiros inimigos de Carlos. Tinha recebido ordens para encontrar uma maneira de acusar o inocente colega com a promessa de que depois de tudo seria promovido a vice-presidente do campo onde pastoreava. Era o tipo de homem sem qualquer capacidade de crescer honestamente e se deixa ser conduzido por ambições daquela magnitude. Entretanto, como tudo deu errado, pagaria o alto preço da covardia que eles não estavam dispostos a pagar.

Dias depois ele foi transferido para um campo missionário. Localizado no interior do Estado, local pobre e quase sem recursos, exilado ali até que toda aquela situação fosse normalizada. Os responsáveis pela calunia feita contra Carlos queriam abafar seus comprometimentos naquele episódio.

Dessa forma, decidiram calar a voz de Milton, enviando-o para bem longe dali. Porém, tempos depois, por vê-lo crescendo de maneira assustadora em seu ministério, principalmente ao saberem da decisão da convenção de ministros. Ao ficarem cientes da decisão ministerial em nomeá-lo o futuro pastor presidente, entraram em desespero e reuniram-se secretamente para impedir que tal coisa acontecesse:

  — Não podemos permitir que ele seja nomeado nosso futuro presidente, se receber esse poder estaremos expostos e em maus lençóis!

  — Concordo plenamente com o senhor, pastor Francisco, temos que encontrar uma maneira de impedir essa nomeação!

 — Muito bem, e o que os pastores propõem?

 — Na minha opinião, já que a eleição para o novo presidente convencional se aproxima e é inadiável, devemos convocar imediatamente os demais colegas de ministério para uma reunião extraordinária, onde iremos expor a eles as denúncias que recentemente foram feitas contra Carlos França e usar isso no propósito de impedir que deem seus votos a ele

 — Boa ideia, então devemos colocar isso em prática o quanto antes!

Naquele mesmo dia os demais pastores integrantes do ministério foram convocados e durante a noite daquela segunda-feira se fizeram presentes no templo sede, onde se discutiram a pauta referente as próximas eleições para presidente da convenção estadual. E entre os temas proposto foram colocados em evidencia o perfil de todos os candidatos e Carlos França estava em destaque.

Isso devido as recentes denúncias surgidas sobre sua atuação nos últimos tempos como líder espiritual. Tudo devidamente articulado segundo tinham planejado seus opositores no ideal de impedir sua candidatura ao importante cargo. Apesar da insistente apelação da maioria dos pastores para que seu nome fosse excluído do rol dos futuros concorrentes a posição de principal representante daquela igreja. Ainda uns poucos se opuseram a concordar com tal trama e se negaram a dar sua opinião formal sobre o caso. 

Retirando-se da reunião que acabou sob forte tensão entre os ministros convencionais. Como o único a não ser convidado a se fazer presente foi Carlos. Na manhã seguinte, uma comitiva de pastores o procurou em sua residência para deixa-lo a par dos últimos acontecimentos. E dali em diante ele compreendeu as verdadeiras razões pelas quais seus inimigos o perseguiam.

Não era apenas pelo fato dele ser extremamente zeloso em seu trato com a igreja e por isso ter conquistado o respeito de seu rebanho e de seus superiores. Mas porque queriam impedi-lo de alcançar o posto mais alto do ministério pastoral. Pelo menos, como ponto positivo diante de tamanha traição, lhe foram revelados os nomes dos traidores que desejavam vê-lo derrotado nas eleições.

  E agora poderia se defender de futuras investidas, mesmo que isso na realidade não significasse muita coisa. Visto que por serem a maioria, acabariam por alcançar seus propósitos malignos, o que de fato ocorreria tempos mais tarde. Conviver, dia após dia, ao lado de falsos cristãos não era uma tarefa fácil para um homem zeloso quanto aos princípios bíblicos como Carlos. Mas era necessário manter as aparências no objetivo de não delatar seus amigos que o haviam deixado a par da verdade.

Mesmo ciente de que seus inimigos já desconfiavam de sua consciência dos fatos. Aproximava-se o momento das eleições e grande era a expectativa sobre quem seria nomeado o próximo líder geral da igreja. Seus inimigos tinham certeza da derrota daquele a quem se declararam contrários e Carlos França sentia-se vencido nas urnas. Antes mesmo de ser anunciado o resultado final. Levou todo o dia daquele domingo para que todos os convencionais dessem seus votos ao futuro presidente, e no final da tarde foi anunciado o nome do escolhido.

Como era de se esperar, o pastor eleito foi Gilberto, um dos integrantes do grupo rival. Seria ele a comandar o mais alto poder da igreja por quatro anos. E sem a menor dúvida perseguiria de forma implacável a Carlos e seus apoiadores até que não restasse nenhum deles atuando no ministério. Dali em diante começaram a acontecer as mudanças previstas. Apesar do aparente silêncio após a nomeação de Gilberto a presidência, todos sabiam que tramavam o próximo ataque, e que não demoraria a acontecer. Sem verdadeiros amigos com quem compartilhar seus atuais problemas, era a esposa quem ouvia seus desabafos:

 — Não consigo entender, Janaina, como posso ter convivido todo esse tempo meio a tanta hipocrisia e não perceber nada. Eu tinha em mente que estava ao lado de homens santos e comprometidos com o evangelho de Cristo e a missão de ganhar almas para seu Reino, de repente sobe a cortina de fumaça e cai a máscara infame desses corruptos, mostrando que semelhante ao Congresso Nacional, onde a política anda de mãos dadas com o suborno e a ganância dos mais poderosos, traem-se uns aos outros em busca de status e dinheiro. Afinal, onde ainda se pode encontrar homens e mulheres sinceros, realmente fiéis a Deus e seu propósito, se dentro da igreja encontramos esse tipo de abominação?

— Não sei exatamente o que te responder, Carlos, mas posso te adiantar que você está lutando contra pessoas de grande poder e eles não vão desistir até destruir tudo o que conquistamos e jogar seu nome na lama

— Mas, porquê? Essa é a minha constante pergunta desde que descobrir este ninho de víboras onde me encontro. Por que escolheram a mim para perseguir?

— Você é um homem bom, inteligente, fiel e dedicado a causa de Cristo, que significa anunciar as Boas Novas de salvação para libertar o máximo possível de almas condenadas ao inferno, possível, e as trevas se levantaram para tentar impedir isso, calando sua voz e destruindo tudo o que possa te dar oportunidades de realizar esse propósito

— Sim, você está certa, essa perseguição não vem dos homens, mas de uma força maior e mais forte. Como disse Paulo: “Não lutamos contra a carne e o sangue, mas contra as hostes malignas da maldade”. Precisamos orar, buscar mais a Deus e nos revestirmos da armadura de Deus, do contrário não iremos subsistir ao ataque de nossos inimigos.

Uma campanha de oração deu início na igreja Castelo Forte, feita pelos congregados fiéis a Carlos e que defendiam sua permanência como pastor.  Iniciava-se na terça-feira à noite e prosseguia sempre no mesmo horário, das dezenove horas até às vinte três, em jejum e todos consagrados ao Senhor. Durante noventa dias aquele grupo de cristãos clamaram à Deus por proteção e livramento em favor de seu líder, imploravam com sinceros clamores e lagrimas para que ele e sua família fossem livres das perseguições.

Queria está protegido contra o ataque traiçoeiro de seus inimigos, que eram em maior número e mais poderosos, e acreditavam piamente que receberiam a resposta esperada, porém, ela não veio. Pouco tempo depois que encerraram o período de orações, Carlos França foi novamente intimado a comparecer diante do corpo de ministros que formavam o conselho da igreja, o chamado era para prestar esclarecimentos sobre novas denúncias, desta vez sobre um possível duplo caso de adultério dentro da igreja que pastoreava.

 E pesava-lhe sobre os ombros a acusação de que estaria ciente de tal fato. Acusaram-no de ser condizente com o pecado praticado por quatro dos seus liderados. Segundo seus inimigos, estaria ele compactuando com tamanho pecado. Era mais um agravante do qual seria difícil sair ileso, dessa vez armaram-lhe inteligentemente a cilada, dois de seus auxiliares, em pleno acordo com suas esposas, fingiram estar mantendo um caso extraconjugal com outras mulheres.

Elas que, também, faziam parte do corpo de membros e eram casadas, dessa forma, os inimigos de Carlos o acusavam de estar sendo conivente com os atos impuros de seus obreiros, por não os ter denunciado à igreja e punido a cada um deles com a expulsão e exoneração de seus respectivos cargos na congregação local. pois tratava-se de pessoas com responsabilidades eclesiásticas, com o dever de dar o bom exemplo aos demais.

 Uma imediata reunião foi feita e mais uma vez Carlos se via diante do conselho, sendo seriamente interrogado sobre tais denúncias. Suas respostas eram vagas.  Não tinha conhecimento do que estava acontecendo sob suas costas e não havia se preparado antecipadamente para respondê-las.

Foi uma presa fácil para aqueles abutres, acostumados a destruir a reputação de homens cujo coração era sem malícia, como ele. Sua única defesa foi exigir uma acareação com os acusados para provar que não estava ciente da situação, o que acabou sendo um grave erro.  Dias depois, em seu gabinete na igreja local, reunia-se com os quatro acusados e dois representantes do conselho no intuito de esclarecer tais acusações.

Marinalva e Joana, ambas esposas de dois auxiliares, admitiram estar mantendo um caso com Waldir e Pedro. Também obreiros com importantes funções no templo. Algo que durava aproximadamente cinco anos. Indagadas sobre como ousaram manter um ato de tamanha falta de temor divino dentro da casa de Deus, e como foi possível manter tudo sob segredo durante tanto tempo.

As duas mulheres foram unanimes ao afirmar que foi fácil passar despercebidas, visto que seu pastor dava pouca atenção ao que acontecia com suas ovelhas. Tais respostas foram preparadas e repassadas às acusadas antes da acareação. Isso era para que o acusassem de desleixo para com a igreja e, assim, lhes permitissem encontrar meios de expulsa-lo de suas funções.

 Eram um bando de conspiradores que se juntaram no único propósito de destruir um inocente, e conseguiram. No final de semana seguinte, propriamente num domingo à noite, após notificarem a igreja Castelo Forte das novas e graves acusações surgidas contra seu pastor. E, alegando não ser mais possível aturar sua liderança depois de tantos erros cometidos pelo mesmo, o pastor adjunto anunciou a decisão do conselho em exigir a exoneração de seu ministério dentro daquela comunidade evangélica.

 E, por fim, para a tristeza dos que se mantiveram fiéis ao líder, por saber quer tudo não passava de uma armação devidamente planejada pelos inimigos que buscavam sua derrota. Carlos França se posiciona pela última vez diante daquele púlpito feito em madeira de lei, devidamente preparado para realçar com as paredes do templo, pintadas em amarelo pétala, e o piso em porcelanato marrom, e se despede de seu rebanho

Daniel e Danilo, seus dois filhos, permaneciam ao seu lado, quando a esposa e a filha caçula, assim como os falsos amigos e toda a igreja a quem dedicou parte de sua vida, o abandonaram. Devido ao consumo exagerado de bebidas alcoólicas perdia cada vez mais peso e sua mente, tão brilhante, já não parecia mais ser como antes.

Após um exame de rotina, feito por exigência dos meninos, teve o diagnóstico de estar com diabetes e foi proibido ingerir bebidas alcóolicas. Mas ele não deu a menor importância as recomendações médicas. A morte já não o assustava, pois considerava-se morto desde o dia em que desceu aquele púlpito. Na noite em que disse adeus já não lhes via com os mesmos olhos de antes, a fé que um dia creditou ser verdadeira.

Céu e inferno agora eram apenas conceitos humanos, pensamentos vagos de quem acredita que pode ser punido por causa de seus erros, pura bobagem gravada na mente dos fracos pelas religiões, lideradas por homens e mulheres corruptos.  Cuja ganância por dinheiro os leva a enganar seus semelhantes com essa ideia de salvação aos justos e condenação aos pecadores.

Com o único propósito de tirar deles o máximo possível de proveito. Todos não passavam de lobos e chacais, traidores, falsos profetas preocupados apenas em beneficiar a si mesmos. A fé é uma arma poderosa que se usada corretamente poderá levar uma pessoa a conquistar e alcançar o inimaginável. Mas, quando deixa de existir deixa a alma humana tão vazia que o homem perde todas as suas esperanças e morrem seus sonhos mais intensos.

Carlos era um cristão dedicado à sua religião desde o dia em que se converteu ao cristianismo, acreditava piamente em tudo o que ensinava a Bíblia e dela em nada duvidava. Entretanto, os últimos acontecimentos mudaram sua fidelidade nos ensinamentos do Mestre que disse sempre se fazer presente na vida daqueles que nele cresse e praticassem seus ensinamentos

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