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Além da Escuridão
Além da Escuridão
Por: ABDENAL CARVALHO
Capítulo 1 - O Fim De Um Sonho

Aquela poderia ter sido mais uma entre tantas outras noites em que a igreja Castelo Forte se reuniria para ouvir os louvores entoados pelos corais de jovens, crianças, adolescentes e senhoras que celebravam o nome do Deus de toda a terra aos domingos, e depois seria orientada a respeito das Sagradas Escrituras, através do agradável sermão de seu pastor.

Porém, naquela ocasião algo de muito triste aguardava os presentes, a despedida de seu guia e sua morte espiritual, ao ser finalmente vencido pela inveja e perseguição de seus inimigos.  “Meus amados irmãos e irmãs em Cristo, gostaria de mais uma vez estar reunido convosco apenas para adorarmos juntos o nome de nosso Deus, e por fim nos alegrarmos pela certeza da salvação que dele recebemos.

Porém, é com pesar e profunda tristeza na minha alma que me dirijo a vocês para anunciar minha despedida deste templo e do convívio com esta amada igreja.  Onde um dia me converti pelo evangelho e confessei ao Senhor Jesus como meu eterno Salvador. Todos são conhecedores das lutas travadas por mim contra os fortes adversários que convivem entre os eleitos disfarçados de ovelhas, mas que não passam de lobos vorazes. São inimigos declarados, cujo corações estão amargos de inveja e insatisfação.

Na obra daquele que me escolheu para conduzir o seu rebanho, como sabemos, os filhos da escuridão existem e estão presentes em todos os lugares. Procurando tragar a vida daqueles que são iluminados e chamados para anunciar as Boas Novas de Salvação aos cativos de satanás.

Hoje, eu e minha família somos forçados a deixar este púlpito e a missão de apregoar a vinda do Senhor e seu grito de alerta para que os surdos pelo pecado ouçam sua voz, entretanto, outros se levantarão e darão continuidade a esta importante missão, porque mesmo que nos calem a pedras clamarão e o nome de Cristo não deixará de ser anunciado. Me despeço de todos vocês com eterna gratidão pelo tempo que convivemos juntos e lado a lado.

 Travamos a mesma batalha contra o mal, mesmo que deste momento em diante perceba que fui vencido e o que me aguarda lá fora é apenas uma inevitável destruição. O que nos aguarda lá fora não sabemos, entendemos apenas que jamais seremos esquecidos nem abandonados pelo nosso Deus. E mesmo que passemos pelo vale da sombra e da morte conosco ele estará até o fim. Pouco importará se estaremos de pé ou caídos em nossos delitos e pecados.

 Mas certamente um dia ele virá ao nosso socorro e nos resgatará”, as últimas palavras do pastor evangélico de trinta e nove anos, ao se despedir de seu rebanho, foram tristes e cheias de amargura, podia-se perceber que daquele momento em diante ele se transformaria numa outra pessoa, completamente descrente da fé que um dia escolheu seguir. Acusado pelos adversários de desviar recursos do templo onde presidia em benefício próprio e de vários outros crimes ministeriais.

Sua reputação antes tão elogiada foi lançada na lama e os que antes o reverenciavam passaram a lhe ver com outros olhos, duvidando de seu caráter moral e as críticas tornaram-se constante por onde quer que andava. Sua família tornou-se alvo de zombarias e, como sempre acontece, os falsos amigos se manifestaram. Tirando as máscaras e revelando suas covardias ocultas por detrás da falsa aparência de cristãos, até mesmo aqueles a quem diversas vezes ajudou com imenso sacrifício lhe viraram as costas.

 Sequer o cumprimentavam ao vê-lo pelas ruas do bairro, onde morava, de um renomado orador cristão, um guia espiritual conceituado e admirado por todos que o conheceram no auge de seu ministério, foi reduzido a uma sombra vergonhosa que ninguém mais deu qualquer importância, nenhum valor. Desde o instante em que desceu aquele púlpito e caminhou de rosto enterrado nas acusações que se levantaram contra ele no corredor de bancos.

Onde seus antigos admiradores o observavam com olhares indiferentes, segurando fortemente as mãos de seus três filhos pequenos. Completamente derrotado perante seus acusadores, o antigo homem de Deus morria amargurado dentro de si mesmo.

Jurava nunca mais retornar àquele mundo de fingimentos e enganos que era o das religiões. Sua mulher e as crianças ainda insistiram por alguns meses, depois ela desviou-se por completo.  Apenas eles persistiram na fé e não abandonaram a congregação, apesar das inúmeras vezes em que ouviram indiretas dos outros meninos de sua idade.

E também dos mais velhos que zombavam de seus pais, possuíam uma forte convicção daquilo que buscavam, a salvação, como ele lhes havia ensinado enquanto ministro do evangelho. Depois de uma vida regada a bebidas alcóolicas e festas, o casal descia dia após dia ao fundo do poço.

A discórdia tomou lugar do amor e da compreensão. As discussões eram constantes e os mais prejudicados eram seus filhos, que presenciavam as agressões verbais e até físicas dentro daquela casa que um dia foi um lar abençoado. Os dois fizeram amizades com descrente. Pessoas completamente inversas aos costumes cristãos nos quais foram criados e viveram durante toda a vida. Das novas relações com indivíduos habituados com a prática do pecado vieram os desacertos.

Os desencontros de ideias e objetivos, estavam perdidos nas trevas da revolta e se tornaram vítimas fáceis para o inimigo de Deus, que odeia a família e faz de tudo para destruí-la. Keila era uma mulher jovem e bem casada, que se dizia cristã, mas na verdade era uma prostituta sem o menor temor da vingança divina e que antes era ovelha de Carlos, quando ele ainda pastoreava, mesmo durante aquele período ela já se insinuava ao guia espiritual.  E tinha lhe revelado seu vergonhoso segredo, mas ele, entretanto, escolheu guarda-lo e tentar convencê-la a concertar seu tortuoso caminho.

Agora, depois de ter caído na infelicidade de perder seu ministério e se tornar um opróbrio diante de toda a comunidade evangélica. Reaparece e tenta convencê-lo de que nada mais o impediria de ir para a cama com ela que sempre o desejou. Por meses ele recusou-se em aceitar tal proposta, porém, distante da luz e escravizado pelos desejos da carne enfraquecida pela rebelião.

 Acabou por se entregar ao que pedia seu lado humano, corrupto e pecaminoso. Passaram a ser amantes, encontravam-se às escondidas e traiam seus parceiros, tudo ia às mil maravilhas, quando Janaina, sua esposa, descobriu tudo e mais uma vez ele viu as portas do inferno triunfar sobre sua decadente vida. Cheia de ódio aquela mulher traída não conteve seu ódio e espancou gravemente sua rival. Depois, ainda não satisfeita tentou mata-lo. Depois de tantos escândalos que aumentou ainda mais a impopularidade dos dois diante da igreja complicou.

Então ela entregou-se a outro homem, revidando a traição, o que resultou numa atitude de extrema violência por parte dele, já que quase comete um homicídio diante dos três filhos pequenos. Que horrorizados apenas gritavam e pediam socorro aos vizinhos que interviram e evitaram o pior. Os dias que seguiram após aquele terrível episódio foram de mais discórdias e ameaças entre os dois, mesmo que ele tivesse recebido uma intimação ameaçadora da polícia para que nunca mais intentasse sequer agredi-la com palavras ofensivas.

 No risco de ser preso. Sempre embriagado e intentando o pior contra a esposa seguia sem destino certo, perdido na amargura de espírito causada pelos frequentes fracassos. Enquanto ela por se sentir protegida pelas autoridades lançou-se de cabeça numa vida promíscua e de níveis imorais alarmantes.

Chegando ao ponto de circular pelas ruas do bairro em companhia de outros homens.  Se prostituía abertamente com eles, afim de desmoralizar ainda mais o companheiro. Envergonhar aquele com quem insistia em morar na mesma casa.  Então passou de uma filha do Altíssimo. A quem muitas outras respeitava e se espelhavam como esposa. Mãe e mulher cristã, numa vergonha para aqueles que defendiam o santo nome da igreja de Cristo.

Talvez o orgulho ferido ou a ambição materialista impediam os dois a desistir dos bens materiais e persistiam e morarem juntos no mesmo local. Apesar de dormirem em quartos separados e não existir mais nenhum sentimento entre eles que não fosse ódio e repulsa.

 Permaneceram naquela situação por vários anos. Logo depois que foram expulsos do ministério de uma das maiores e mais importantes religiões pentecostais do país, cujo berço se deu no ano de 1911, na cidade de Belém do Pará, local onde ambos conheceram o evangelho e se tornaram cristãos. Carlos França e Janaina se odiavam, viviam na mesma casa.

Porém, sequer trocavam olhares amigáveis. Os três filhos cresceram sob aquela nuvem de desunião entre os pais, eram igualmente infelizes e revoltosos. Ela, entretanto, por conviver a maior parte de seu tempo ao lado deles, cerca de pelo menos doze horas de diferença do marido. Pois ele trabalhava fora, acabou por conquistar mais a atenção e o apoio dos mesmos, colocando-os contra o pai, lhes incentivando a crer que ele era o vilão e ela a vítima, quando na verdade ambos estavam igualmente errados. Aos poucos Carlos foi perdendo o carinho dos filhos que passaram a desrespeitá-lo.

 Quando adoecia ficava isolado em seu quarto sem qualquer tipo assistência. Nem Janaina ou os adolescentes lhe prestavam ajuda, sua situação não poderia ficar pior. Certa ocasião sofreu um acidente no trabalho, uma barra de ferro caiu sobre seu pé direito que ficou bastante machucado, inchado e impossibilitado de andar. Deitado numa cama desconfortável encontrava-se abandonado e sem quem o ajudasse com os curativos ou alimentação.

 Enquanto isso sua mulher andava com seus amantes pelos motéis ou mesmo, viajando com os filhos nos finais de semana pelas praias ou se divertindo em banhos de piscinas nos clubes próximos de onde moravam. Ele, depois de algum tempo, percebeu que havia sido a causa de toda aquela desgraça no seio de seu lar, a infidelidade cometida contribuiu em muito.

Sem levar em conta as consequências de seus atos o levaram a estar em tamanha solidão, então decidiu tentar recomeçar, concertar todo o estrago feito no seu casamento.  E, de certa forma, recuperar o amor e respeito dos filhos.  Mas era tarde demais para pelo menos remediar o mal que causou a si mesmo e aos familiares.

 O veneno da maldade, a mancha da discórdia e do mundanismo havia dominado por completo sua companheira, que como uma louca causava rebelião entre os filhos contra o pai cada vez mais se contaminava na luxúria que as depravações mundanas lhe ofereciam, ele olhava ao redor e via toda a destruição que seus atos causaram. Recordava dos tempos bons em que podia chegar em casa, cansado de mais um dia de trabalho. Se reunir com a família em redor da mesa do jantar.

Em seguida assentarem-se juntos no sofá da sala e ensinarem uns aos outros as letras de lindas canções do hinário cristão da igreja. Tantas coisas maravilhosas vividas numa época feliz que não voltariam a se repetir, pois foram interrompidas pela escuridão, o diabo ou seja lá quem fosse, finalmente conseguiu colocar diante dele uma pedra de tropeço capaz de desviá-lo de seus propósitos. Assim, lançou seus sonhos no fundo de um poço profundo, de onde parecia ser impossível submergir.

Mesmo com inúmeras tentativas frustradas para conseguir uma reconciliação com Janaina foi tudo em vão, ela uniu-se a péssimas companhias. Perdeu o desejo de salvar a relação, principalmente ao conhecer Sandra e Juca, um casal com hábitos imorais acima de tudo que havia visto. Ao lado destes dois novos amigos ela mergulhou de vez nos caminhos da perdição, passou do álcool para as drogas e ele percebeu.

Tarde demais, que havia perdido sua companheira para sempre. Pelo menos ainda podia ver três luzes brilhando dentro de casa, seus filhos que permaneciam firmes na comunhão com os irmãos na igreja, louvando a Deus no coral da congregação. E persistindo no caminho que, numa época anterior ao seu declínio moral e espiritual, ele lhes ensinou a seguir.

No entanto Denise, que era sua filha caçula, o desprezava, talvez por ter acompanhado de perto as dezenas de vezes em que ele e sua mãe se agrediram fisicamente. Pelas ocasiões em que o viu com arma em punho, ameaçando matá-la ou pela forma grosseira como foi tratada durante suas bebedeiras, juntamente com seus irmãos. Bem, não importava àquela altura dos acontecimentos, a menina de apenas dez anos estava com o coração negro de mágoa.

 Ela, diferente dos mais velhos, guardou muito rancor e não conseguia perdoá-los. Era visivelmente insatisfeita por ter que morar junto a eles, queria se distanciar, mas sabia como. Para completar seu estado de revolta sua mãe decide ir embora para viver ao lado do amante, deixando-a com Carlos e os irmãos. Durante dois anos a adolescente permaneceu naquele inferno, vendo o pai chegar embriagado, despejando suas amarguras de homem traído e abandonado sobre ela e os irmãos mais velhos.

Eram apenas três crianças despreparadas para conviver com aquela situação, um pai lunático e uma mãe sem a menor compaixão por eles, ao ponto de tê-los deixado ali. Vendo o sofrimento dos sobrinhos. Principalmente da menina, Janete, a irmã mais velha de Janaina interveio e planejou livrar Denise daquela situação, porém, sabia que não seria fácil convencer o cunhado a concordar com tal decisão.

Foi então que ocorreu uma reunião secreta na residência de Arlete, a avó materna das crianças, no propósito de encontrar uma maneira viável de tirar a menina do poder do pai sem ter que recorrer a violência, nem aos meios legais disponíveis. Já conheciam o temperamento dele e sabiam as consequências que seriam advindas de tal atitude. Ele era um homem cheios de defeitos, mas apegava-se aos filhos de forma a fazer qualquer coisa para não perder a guarda dos mesmos, e isso era preocupante:

— Precisamos agir imediatamente, minha sobrinha corre grande risco ao ficar próximo daquele homem, bêbado e violento!

— Acontece que “aquele homem” ao qual você se refere é o pai dela, Janete, e tem direitos legais sobre ela, não se esqueça disso!

— E por ser pai tem, também, o direito de maltratá-la?

— E por acaso temos como provar, judicialmente, que ele faz isso? Pelo que se vê, apesar da embriaguez ele continua dando tudo o que as crianças necessitam para uma boa sobrevivência, não faltam a escola, alimentação, vestir, calçar e estão fora das ruas. No que nos apoiaríamos para convencermos um juiz a ficar de nosso lado e tirar a guarda da menina dele?

— Tudo bem, Janaina, você está certa. Entretanto temos que encontrar uma maneira de conseguir isso, encontrando um ponto fraco no qual possamos alcançar este objetivo. Afinal, foi por esta razão que nos reunimos hoje aqui, não é mesmo?

— Querem saber minha opinião? Particularmente, acho essa atitude de vocês bastante precipitada. Na minha opinião deveríamos chama-lo para uma conversa formal, colocaríamos em evidencia nossa preocupação com a atual situação da menina e tentaríamos convencê-lo que deixá-la sob nossos cuidados será a coisa mais sensata a fazer

— Mãe, me admiro de ouvir isso da senhora, por acaso acha que aquele monstro consegue mesmo manter um diálogo sadio com alguém?

— Olhem aqui vocês três: Carlos foi entre todos os outros genros que eu tive, até agora, o mais dedicado aos filhos, a mulher e a mim como sogra. Sem levar em conta o carinho imenso que o pai de vocês teve por ele até o dia de sua morte, por entender que ele nos respeitava. Então, não me venham tentar me convencer que minha neta está correndo perigo por viver ao lado dele, pois isso é uma inverdade.

Carlos pode ter mudado, se tornou agressivo, um ébrio e perdeu o foco da realidade, devido tudo de ruim que lhe aconteceu, inclusive por causa de suas loucuras, Janaina. Mas continua sendo um ótimo guardião dos filhos.

— Como Sempre, defendendo o genro preferido, não é mamãe? Não importa o que ele faça de certo ou errado, para a senhora será eternamente perfeito!

— Pense como quiser, Jacira, mas não vou condená-lo sem motivos. Se pretendem tirar minha neta dele que o façam com dignidade, encontrem uma maneira justa de fazer isso, mas não o incriminem com mentiras!

— Certo, gente, chega de revirar o passado, não viemos aqui para entrarmos em discórdia umas com as outras, vamos novamente nos focar na missão de tirar nossa menina daquela casa!

— Ok, e quem poderia nos mostrar uma saída para esse impasse, já que voltamos para a estaca zero?

— Acho que sei como conseguiremos isso!

— Sério? Então nos explique!

— Lembrei-me de algo que considero muito útil para ser usado contra aquele canalha e força-lo a nos entregar minha filha. Acontece que depois da saída dele do ministério, durante a revolta que o fez se jogar na embriaguez, ele passou a acessar as redes sociais e a interagir com todo tipo de pessoas, entre elas mulheres vulgares que lhe enviavam fotos nuas. Diversas vezes acordei pela madrugada e o vi no sofá da sala conversando com elas pelo celular, mandando ou recebendo tais imagens

— E você sabe com certeza se em algum momento ele, também, postou alguma foto dele nu na internet?

— Uma vez acordei a noite e fraguei ele no banheiro, despido, com a câmera do celular ligada. Acho que estava preparando uma foto para enviar a alguém, mas não tenho certeza disso

— Mas é lógico que ele só poderia estar ali com esse propósito, acredito que este é o caminho, vamos investigar e tentar achar algo nas redes sociais que possamos acusa-lo de ser uma pessoa imoral e incapaz de manter uma criança sob sua custódia

— E será que isso vai ser o bastante para que eu possa pedir a guarda definitiva?

— Claro, minha irmã, qual juiz confiaria em deixar uma menina ao lado de um pai, correndo o risco de ser abusada sexualmente?

— Ok, então vamos começar a investigar!

Nas semanas seguintes as três mulheres, contando com a ajuda de outros parentes mais jovens e bem informados sobre como realizar todo tipo de pesquisa na internet, vasculharam as redes sociais à procura de vestígios que lhes possibilitassem obter provas contra Carlos França, no intuito de força-lo a renunciar ao direito à guarda paterna da filha ou ser denunciado por praticar atos libidinosos perante a justiça. Não demorou para encontrarem numa de suas páginas públicas uma forte prova que o colocaria em maus lençóis, caso viesse a ser apresentada às autoridades, e Janaina fez uso disso para chantageá-lo:

— Aqui está a maior prova do tipo de homem que você se tornou, Carlos, um imoral! Encontramos uma quantidade enorme de fotos suas e de outras mulheres, completamente despidos, sem citar que entre elas haviam adolescentes com quem você se relaciona nas redes sociais!

— E por acaso eu sou o único homem no mundo a trocar esse tipo de material com as mulheres na internet? Desde quando você possui algum moral, depois da vida imoral que tem levado desde que nos separamos, para vir aqui me repreender pelas minhas atitudes pessoais, que na realidade não lhe dizem respeito? Talvez eu esteja errado em manter uma relação promíscua com todas essas mulheres, mas faço isso de forma virtual, e você pratica seus atos imorais ao vivo, diretamente nos motéis com seus amantes!

— Agora compreendo as razões que levaram o conselho da igreja a exonera-lo do cargo de pastor, você não passa mesmo de um pedófilo!

— Não seja precipitada em me fazer tal acusação, mulher, hoje posso ser um homem perdido, mas naquela época vivia de forma digna e justa. E se engana ao pensar tal coisa, nunca me envolveria sexualmente com menores

 — Não importam suas explicações, só saiba que pretendo levar minha filha comigo, ela não ficará mais nem um dia nessa casa!

 — Está louca? Nem de longe permitirei tal coisa, nossa filha vai permanecer onde ela sempre esteve, ao meu lado!

 — Sério? Pois se não me entregar a menina por bem levarei o caso à justiça.

 E verei qual juiz irá ter coragem de permitir que fique com a guarda dela depois de ver estas fotos imorais!

 — Isso só pode ser brincadeira, por acaso pirou de vez, mulher? A menina está bem aqui, tem tudo o que precisa, você sequer tem uma casa própria onde possa morar, vive de aluguel e passa os finais de semana pelas festas ou em passeios com seus amigos degenerados, como pensa em poder dar o conforto e a educação que ela merece?

— Ela não ficará comigo, irá morar com a tia

— Que história é essa de tia? Então seu plano é colocar nossa filha aos cuidados de uma de suas irmãs? Por acaso não percebe que elas já possuem os próprios filhos para educar e que essa responsabilidade é minha ou sua?

— Como disse, não possuo a menor condição de educa-la, portanto, passarei essa responsabilidade à Janete. Ela é a tia mais velha, casada, bem estruturada financeiramente e está disposta a aceitar a menina em sua casa até que ela alcance a maioridade e decida com quem quer ficar, se comigo, você ou permanecer com os tios. Mas uma coisa é certa, aqui ela não vai ficar enquanto for menor de idade

A conversa se encerrou sem que os dois entrassem num acordo definitivo, Janaina e Carlos deram uma trégua até que ele decidisse como iria resolver a questão, se apenas entre eles, cedendo às exigências dela ou se diante de um Juiz, o que colocaria em risco sua liberdade, devido a exposição em fotos com menores. Ao pedir orientações a uma amiga advogada foi informado que diante de tais acusações, desde que fossem comprovadas, não somente perderia a guarda da filha, mas dos outros dois menores.

Diante disso, ao chegar em casa sóbrio depois de tantos meses consumido pelo álcool, conversou com Denise e pediu que fosse sincera ao dar sua opinião a respeito da ideia de ir morar com a tia:

 — Me desculpe, pai, mas estou de pleno acordo com mamãe. Não posso mais ficar aqui ao seu lado depois de todo o inferno que vivi todos estes anos nesta casa, antes com o senhor e ela se agredindo, e agora convivendo com essa maldita embriaguez que parece ter lhe dominado completamente! Eu quero ir morar com minha tia Janete, ficar bem longe de todos vocês! Todos, sem exceção!

As palavras de Denise foram duras e feriram profundamente o coração daquele pobre homem que, por não ter obtido forças necessárias para lhe dá com a derrota e o fracasso, sucumbiu dentro de si mesmo e de tempos em tempos parecia estar perdendo tudo o que mais amava. Primeiramente, seu ministério pastoral e o respeito de seus liderados, o amor por si próprio, a esposa e agora sua filha. O que mais de terrível poderia ainda lhe acontecer, ser abandonado pelos outros filhos que ainda lhe restavam? A saúde, o emprego, seus bens e terminar jogado na sarjeta? Quem sabe o Deus que um dia aceitou servir o tivesse desprezado, talvez apoiasse seus inimigos!

Sim, porque nenhum deles foram punidos pela traição com a qual o destruíram, pelo contrário, de acordo com as notícias que lhe chegavam eles só prosperavam. Começou a se revoltar ainda mais ao entender que havia se dedicado em vão a fé que um dia abraçou. Era um homem de grande inteligência e abdicou de cursar várias faculdades, conquistar status sociais e ser naquele momento alguém realmente importante. Quem sabe um político de renome, para dedicar-se a servir uma ideologia vazia a respeito de um Ser sagrado e eterno.

 Que saberia reconhecer seus sacrifícios em prol daquela causa, sim, do evangelho e da salvação dos perdidos. E agora que havia tropeçado nas armadilhas que seus inimigos colocaram diante dele, que se encontrava jogado ao chão, ferido e sangrando. Desprezado por todos aqueles nos quais depositou sua confiança, onde estava o Deus que disse em sua Palavra:

 “Jamais te abandonarei”? Seriam os textos bíblicos inventados, criados e escritos por homens comuns e sem qualquer inspiração divina, como aprendeu durante sua formação teológica e nos estudos das Sagradas Escrituras? Se assim fosse, então significaria ter perdido a maior parte de sua existência crente numa teoria puramente religiosa e humanamente vazia? Uma ilusão criada pelos judeus e suas crenças em uma criatura eterna e perfeita capaz de se importar com meros mortais como o ser humano, repleto de falhas e defeitos?

A dúvida lhe corroía a alma como a ferrugem ao ferro, morria por dentro a cada segundo que passava, se rendeu aos caprichos de Janaina e à vontade de Denise em ir morar com os parentes, o adeus da filha caçula foi a gota d’agua para que ele caísse de vez ao fundo do poço, entrou em depressão e por causa disso os dois filhos mais velhos, com treze e quatorze anos. Decidiram permanecer ao seu lado e rejeitaram a proposta da mãe em ir com ela e deixa-lo em abandono.

Entenderam que, mesmo com seus erros, ele um dia havia sido um ótimo pai e amigo, seria cruel o abandonarem a própria sorte no momento mais difícil de sua vida. Daquele dia em diante Carlos passou a retornar altas horas da noite. embriagado e dando bastante trabalho. Mas eles foram fortes para suportar o estado deplorável do bêbado e o acolhiam em casa.

Inexplicavelmente, na manhã seguinte, no horário de sempre, ele despertava pronto para retornar ao trabalho. Daniel, o filho mais velho, era menos maduro psicologicamente que Danilo.

 E era comandado por ele, que ditava as regras dentro de casa, assumia as rédeas, quando o pai não estava em condições de fazê-lo. Eram, no entanto, unidos e grandes amigos. Desde bem pequenos a mãe lhes acostumou a dormirem juntos, na mesma cama, para obterem espaço no quarto que era bem estreito. E esse hábito perdurou até a adolescência. O pai fez uma reforma na casa e insistiu para que cada um tivesse sua própria cama, mas eles escolheram em continuar dormindo na cama de casal onde estiveram a tantos anos.

Essa amizade entre os filhos que apostaram em sua recuperação lhe alegrava o coração ferido. A permanência deles na fé que ele perdeu, no futuro lhe serviriam como força para alavancar seus pés do profundo buraco em que caiu e fazê-lo novamente se erguer. Como um ébrio no qual se tornou, não possuía amigos, era solitário e amargo no trato com as pessoas. Perdeu a esperança e não confiava em ninguém, passou a odiar os seus semelhantes.

Nas poucas vezes em que este sóbrio, se esforçou para dar atenção aos filhos. Tentou suprir suas necessidades básicas, e logo em seguida entregava-se ao domínio do vício sem forças para se libertar. Se perdeu seu valor como o pastor mais íntegro e justo para os que antes o admiravam, ao ser visto como um prisioneiro do maldito vício perdeu ainda mais a credibilidade popular. As chances de recomeçar sua história noutro campo de trabalho se esgotavam a cada nova manhã.

 Tornou-se um alcóolatra compulsivo, fez do álcool a água que matava sua sede, aos finais de semana amanhecia nas mesas dos bares bebendo bebidas alcóolicas e só retornava para casa ao gastar todo o dinheiro que possuía. Isso fez com que seus filhos tomassem uma imediata providencia de reter parte de seu salário. Dando a ele apenas certa quantia para manter o vício. Por diversas vezes foi abordado por antigos “irmãos na fé” que o incentivava a voltar para a igreja, se reconciliar com Deus, mas sua resposta era dura quanto a essa possibilidade:

  — Hipócritas! Hoje vocês me abordam nas ruas e convidam para voltar, mas onde eu estava antes, senão com vocês? E o que fizeram, quando aqueles traidores me apunhalaram pelas costas, acusando-me das piores coisas? Porventura algum de vocês entraram em minha defesa? Não fui sempre fiel e dedicado no ministério que recebi, visitando as viúvas, cuidando de vossas enfermidades, distribuindo alimentos aos necessitados e cumprindo com todas as minhas obrigações como o pastor de um rebanho? Agora que veem a lama de pecado na qual me lançaram arrependem-se e tentam me ajudar? Fiquem longe de mim, não preciso de suas piedades!

Tal reação levou os cristãos a se distanciar de Carlos e evitar dar a ele conselhos para desvia-lo do mal caminho que seguia cego pela revolta, a cada dia que passava se tornava um homem isolado e com o coração com sede de vingança.

 Desejando devolver na justa medida aos seus inimigos a mesma dose do veneno deles recebido. Seu antigo espírito iluminado por amor e compaixão morreu crucificado na traição que lhe sobreveio repentinamente. O que agora trazia viva dentro de si, ainda que bastante magoada pelas apunhaladas que recebeu.

Era uma alma amargurada e impiedosa, clamando pelo mal dos que o lançaram no fundo do abismo no qual se encontrava. Na escuridão do drama onde o puseram ele não era mais capaz de esquecer a dor sentida ao ver tudo o que construiu com tanto esforço desmoronar diante de seus olhos sem que nada pudesse fazer para evitar.

Aquele grupo de pastores corruptos se uniram com o único propósito de lançar lama sobre seu caráter incorruptível que conquistou a admiração popular no seio da igreja, algo que eles jamais conseguiriam por meios legais ou dignos. Pois suas mentes eram manchadas pela ambição que os conduzia cegamente em busca dos tesouros terrenos. O que certamente corrompeu seus bons costumes e o amor que um dia tiveram dentro de seus corações.

Para pessoas que vivem situações semelhantes as drogas ou o álcool eram as únicas formas encontradas para suportar enorme decepção. Mas como resultado desastroso colhem ainda mais destruição para si mesmos. O sonho de se tornar um reconhecido ministro do evangelho havia se tornado impossível depois de ter seu nome manchado pelas calúnias infames de seus acusadores, olhava em volta e não era mais possível encontrar a menor esperança de recomeço,  perdeu a confiança por parte dos cristãos que antes seriam de segui-lo às cegas.

Enquanto remoía seu fracasso lá fora aumentavam as críticas a seu respeito, comentavam o quanto era triste sua atual situação. O nome Carlos França deixou de ser visto como um exemplo de guia espiritual no meio evangélico e se transformou numa forma de vergonha ou maldição para aqueles mais supersticiosos, eles acreditavam que Deus o havia abandonado por ser verdadeiramente culpado por todas as acusações que lhe foram imputadas.

 Além de seus dois filhos, ninguém lhe dava atenção e apoio, era um condenado à solidão e ao desprezo. Sentado numa calçada úmida pela forte chuva que desceu sobre os telhados na tarde que chegava ao fim, encolhia-se recostado numa parede qualquer com uma garrava de bebida forte presa às mãos, na qual dava fortes goles, tentando apagar suas más recordações através da embriaguez.

A inevitável tontura causada pela cachaça não era suficiente o bastante para transportá-lo a um mundo distante daquela triste realidade, estava condenado a viver em completa vergonha pelo restante de seus dias. Ouvia passos e vozes ao seu redor, parecia que uma multidão circulava por ali apenas para contemplar sua ruína.

Não importava se era exatamente como pensava, mas a presença deles nas proximidades o incomodavam. Sentia-se um lixo humano, sendo pisado por aqueles que julgavam sua causa sem considerar a possibilidade de ele ter um mínimo de razão e inocência diante das acusações que lhe lançaram. Carlos estava derrotado, foi vencido e perdia pouco a pouco a fé nas promessas bíblicas.

 Pois as via como meros enigmas indecifráveis e fantasiosos, sem resultado algum para quem neles confiavam. Quantas vezes leu nas páginas do Livro Sagrado a frase: “Eu nunca te abandonarei” e depositou nisso toda a sua confiança, mas, quando precisou de socorro se viu sozinho e abandonado. Não, a Bíblia e seus dizeres não passam de uma grotesca fantasia que tem iludido a milhares de pessoas em todo o mundo. Era essa sua atual forma de pensar

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