Capítulo 7

Desconhecido: Aguardarei a senhorita as dez horas da manhã no Levisky Gourmet.

Releio aquela mensagem pela centésima vez e a cada leitura o nervosismo me consome.

Tudo parecia engraçado demais até não se tornar sério demais e era exatamente isso que estava acontecendo.

Me encontrar com um homem que nunca vi e ainda por cima pagar para me acompanhar a um casamento?! É o fim do desespero de uma pobre alma solitária.

Sorrio nervosa olhando a tela do celular mais do que deveria.

Depois disso minha dignidade nunca mais será a mesma eu tenho certeza.

Tento não focar os pensamentos naquele fatídico fato, mas o nervosismo começava a mexer com cada célula do meu corpo me deixando agitada e desesperada.

Eu não sabia disfarçar, nunca soube, se algo me incomoda fica explícito na minha cara e isso é uma verdadeira merda.

Tento tomar um gole de água mais a tremedeira nas mãos não colabora comigo e aquilo só me deixa ainda mais frustrada.

Tinha menos de doze horas para organizar como seria o meu encontro e na verdade não importa o quanto eu pense nada me acalma, pois não dá para organizar algo que não se tem o controle e a grande verdade é que estou dançando feito uma marionete nas mãos de um desconhecido.

Helena: Como saberei quem é você senhor mistério?

Minha mente já estava em curto sabendo que tinha horas para me acalmar, quando realmente chegar o horário terei uma síncope na porta do restaurante.

Desconhecido: Ansiedade deveria ser o seu nome Helena, se acalme e respire. Você saberá quem eu sou.

Praguejo.

Helena: Como sabe que estou ansiosa?

Era impossível ele ter tanta certeza.

Desconhecido: Você não para de me fazer perguntas.

Acrescenta alguns emoticons rindo e sou obrigada a engolir meu orgulho.

Desconhecido: Quando chegar o momento te enviarei mensagens sobre a minha localização.

Irritada jogo o celular dentro da bolsa com ódio. 

Tenho que deixar claro que odeio esse jogo de mistérios, praguejo focando minha atenção no trabalho e as horas que se arrastam lentamente.

Para o meu descontentamento, Brenda estava em audiência e nem podia enche-las de perguntas e dúvidas que estava me matando. 

Sou obrigada a engolir minha ansiedade e esperar o retorno de Brenda enquanto o relógio parece estar contra mim.

Depois de horas que mais pareciam vidas o expediente acaba e obrigo Brenda a retornar para casa comigo.

Meu encontro seria amanhã e eu tenho certeza que não pregaria os olhos para nada, exatamente nada até o momento de encontrá-lo.

Brenda aceitou o convite, pois me conhecia bem e sabia que eu entraria em curto se ficasse sozinha.

Remoeria o passado, presente e futuro até finalmente me obrigar a me trocar, mas com minha melhor amiga ao meu lado pelo menos conseguia espairecer e rir de suas piadas engraçadas.

***

-Falta meia hora. -Olho para Brenda.

-Estamos adiantadas. - Ela cruza os braços.

- Ele disse que mandaria mensagem vamos esperar um pouco. -Observo o estacionamento do restaurante atenta a cada movimento, até as pombas que voam a nossa volta não escapava no meu olhar.

-Se ele disse vai m****r, se acalme. - Ela suspira, mas estava igualmente nervosa.

-O que inventou para Rogério para sair do escritório? - Pergunto curiosa.

-Disse que você estava com diarreia e vômito e com certeza era uma virose. Deixei claro que havia passado a noite cuidando de você, então ele achou lícito me dar o resto da semana de folga. -Sorri vitoriosa.

-Nunca mais duvidarei das suas táticas de mentiras. Coitado do nosso chefe, ele tem um bom coração. -Afirmo e a tela do meu celular brilha fazendo meu coração bombardear meu peito.

Desconhecido: Helena estou à sua espera na terceira mesa ao lado da janela.

-Ele está lá Brenda. -Praticamente grito mostrando a mensagem para ela.

-Então vamos. - Ela sai do carro e eu faço o mesmo. - Não esqueça de levantar a mão se algo der errado, estarei a algumas mesas de distância.

-Está bom. -Aperto a alça da minha bolsa sentindo que minhas pernas falhariam a qualquer momento.

Mais com uma força que nem mesmo eu sei de onde arrumo caminho em direção aquele restaurante de queixo erguido, não que o que eu estava fazendo fosse algo de se vangloriar, mas situações trágicas pedem medidas drásticas e era exatamente isso que estava acontecendo em minha vida.

Assim que passo pelas portas meus olhos correm pelo local com calma, diferente do meu interior que estava uma verdadeira desordem de sentimentos e desespero.

Dou mais alguns passos e meus olhos param na terceira mesa ao lado da janela, onde vejo um homem sentado analisando o cardápio enquanto tomava um copo de suco.

A boina cinza em sua cabeça tampa parte do seu rosto impedindo que eu consiga vê-lo como gostaria. A camisa social de um tom creme o deixa elegante, ainda mais quando apoia a mão nos lábios analisando o cardápio com atenção.

Caminho em sua direção e ele estava tão absorto em seu mundo que nem mesmo nota a minha presença ao seu lado até que eu pigarreio e seus olhos se voltam para mim me deixando em choque.

-Você? - Pergunto chocada sem conseguir esconder a surpresa.

- Eu? - Ele olha em volta perdido. -O que tem eu? -Me encara como se eu fosse um ser de outro mundo.

-Como se não soubesse. -Cruzo os braços. -Eu não acredito. - Digo abismada.

-Agora um homem não pode mais almoçar em paz nesta cidade? - Ele pergunta irritado.

-Não se faça de bobo, sabe porque eu vim até aqui.

-E porque eu deveria saber? -Ri sem humor.

-Porque foi você quem mandou Jonathan. -Cuspo as palavras com irritação.

- Eu não sei do que você está falando Helena. - Ele deposita o cardápio sobre a mesa me encarnado perdido e eu me sento para não cair, pois minhas pernas estavam bambas demais.

Jonathan

Observo a mulher a minha frente sem entender o que estava acontecendo. Só podia ser brincadeira ou um grande mal entendido, pois não acredito que ela estava me perseguindo pelos lugares, já não bastou me atropelar? Precisamos nos encontrar em cada esquina? Isso é realmente demais para mim.

-Como não? Você mandou eu te encontrar na terceira mesa ao lado da janela. -Me observa cheia de frustração.

-Está maluca? -Acabo rindo e vejo a mágoa se instalar em seus olhos.

- Não estou, você me enviou mensagens e me cobrou mil reais adiantado para me acompanhar ao casamento da minha prima. - Ela pega o comprovante do depósito colocando sobre a mesa com força.

-Está brincando? Isso é maluquice. Eu nem sei do que você está falando. -Seguro o papel em mãos arregalados os olhos ao ver que o depósito havia sido feito em uma das contas da empresa.

-Maluquice, então essa foto também não é sua? -Mostra o celular e arregalo os olhos puxando o aparelho de sua mão.

-Como conseguiu essa foto? Sabia que eu posso te processar? -Rosno sentindo meu alto controle ir por água abaixo.

-Quem pode te processar sou eu, você mentiu para mim e está se fingindo de idiota. Está fazendo isso por que eu te atropelei? Me desculpa, eu não sabia que você ia se jogar na frente do meu caro. -Me alfineta enquanto eu tentava processar aquele monte de informações de uma única vez.

Respiro profundamente tentando associar aquele mar de informações jogados sobre mim de uma única vez.

- Vamos com calma e por partes, pois eu realmente não estou entendendo nada e sim está foto é minha, ninguém tem está foto além de mim. E sim o depósito que você fez foi para uma das contas da minha empresa.

- Sua empresa? -Pergunta com as sobrancelhas franzidas.

-Construtora e Designer Magoga.

Vejo a cor sumir de seu rosto e ela apoia a mão na testa.

-Você é o dono da Magoga? - Ela se encosta na cadeira abalada.

- Sim, me chamo Jonathan Magoga dono e proprietário da construtora e designer Magoga e suas filiais. -Afirmo.

- Eu atropelei você e agora paguei para você ir comigo no casamento da minha prima. -Ri nervosa e chocada.

-Gostaria de visualizar a conversa do seu celular posso? -Tento manter a calma por mais difícil que estava sendo.

Aquilo era uma verdadeira loucura e eu entraria em colapso a qualquer momento.

Ela maneia a cabeça em um sim desbloqueado o celular para que eu posso ver a conversa.

Leio alguns trechos me informando do que se tratava o mal-entendido e ao visualizar a foto de perfil e o número, todo o meu autocontrole escorre por meus dedos e a vontade de socar alguém domina cada meu corpo ralado e dolorido.

-Eric. -Rosno e vejo a mulher a minha frente arregalar os olhos em silêncio.

- Seu irmão? - Apoia a mão na boca trêmula.

Talvez ela estivesse chocada demais para processar tudo o que estava havendo e eu então nem se fala, pois pelo que eu entendi ela estava comprando um acompanhante para o casamento da prima? Isso realmente existe?

Para mim é cúmulo da idiotice e solidão.

Disco o número do meu irmão com tanto ódio que erro algumas vezes sendo obrigado a discar novamente, após alguns toques ele atende.

-John a que devo a honrosa ligação....

-Cala boca seu certinho filho de uma p**a.

- Mais respeito com nossa mãe irmão. -Me repreende na maior naturalidade.

-Respeito? Você lá conhece essa palavra. O que acha que estava fazendo? Helena está na minha frente e eu mal sei o que está acontecendo.

-Só te fiz um favor John, coloquei um pouco de adrenalina em sua vida pacata.

-Adrenalina Eric, acha que tenho tempo para essas palhaçadas. -Ralho e vejo a tristeza se estampar nos olhos da belíssima moça a minha frente, mas no momento não estava com paciência para me importar com os sentimentos dela.

-Seja mais gentil John, basta apenas acompanha-la a um casamento e quem sabe assim seu coração não se abra, estou lhe faze do um favor, olha que belo irmão você tem.

- Você começou essa porcaria, então trate de terminar. Não acompanharei ninguém a casamento nenhum, isso é ridículo, o cúmulo da idiotice, quem em sã consciência contrata alguém para lhe acompanhar a um casamento? Pelo amor de Deus, tenha o mínimo de dignidade e capacidade de arrumar uma pessoa por livre e espontânea vontade, isso vai além da solidão....

Sou interrompido quando Helena se levanta abruptamente da mesa jogando o copo de suco de laranja que estava bebendo em minha cara.

A frustação, vergonha e tristeza estão estampado em seus olhos caramelos que transbordam em lágrimas.

- Eu não preciso da sua ajuda, não vim implorar, paguei por isso, por mais errado que seja eu paguei. Se não quer ir apenas negue, mas me humilhar desta maneira é ridículo demais. - Ela pega o celular de cima da mesa. -Fique com os mil reais para você não me fará falta.

Aperta a bolsa em volta do corpo e sai a passo firmes em direção a porta.

- Você merecia bem mais do que isso irmão, eu no lugar dela teria lhe acertado as bolas e não lhe tacado um copo de suco na cara. -Eric suspira do outro lado do telefone e somente agora vejo ele sentado a duas mesas atrás de mim.

-Resolva toda essa merda. -Desligo o telefone, mas ele caminha até mim descontente. 

-Idiota, egoísta, mesquinho e mal-amado John, é isso que você é. Feriu a garota de propósito para afasta-la, mas sabe que ela mexe com seus sentimentos, talvez por isso está a afastando tanto. Ela faz seu tipo, seu estilo. Eu te conheço Jonathan e você distribuiu ódio gratuito apenas para feri-la, mais saiba que suas palavras podem ter mexido com feridas doloridas demais para ela. -Eric me observa com desdém e aquele olhar me machuca mais do que suas palavras, pois era a primeira vez que o via desistindo de mim daquela maneira.

-Como saberia do passado dela? -Murmuro cansado e com dor de cabeça.

-Fiz pesquisas para lhe ajudar, mas se quer tanto saber procure, porém lhe adianto uma coisa. Ela é solitária sim, muito por sinal, pois viu namorando ser tomado pelo câncer enquanto morria em sua frente sem que ela nada pudesse fazer. Talvez, as atitudes drásticas dela fossem apenas uma válvula de escape. -Eric abaixa o olhar enfiando as mãos dentro do bolso da calça. -Diferente de você ela estava tentando, afinal, Helena é incrivelmente doce. - Ele desliza o celular sobre a mesa com as mensagens aberta. -Mas talvez agora você tenha conseguido matar os pequenos fios de esperanças que a ligavam nesta vida a tornando tão podre quanto você.

Com aquelas palavras Eric me deixa plantado na mesa imerso em pensamentos culpados e eu nem deveria me sentir assim, tudo isso é culpa dele por armar algo tão sem noção e absurdo. 

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