Beatriz já não tinha mais dúvidas de que o homem ao seu lado era mesmo Rodrigo. Ela sabia que ele tinha voltado em segurança. Mas, apesar disso, de vez em quando, ela ainda ficava encarando o rosto de Rodrigo. E toda vez que isso acontecia, ele ria e provocava: — Tá me achando bonito demais, é?Beatriz revirava os olhos. Com aquele rosto ainda inchado, bonito era a última coisa que ele estava. Depois de alguns dias internada, Beatriz finalmente recebeu alta. O carro já esperava do lado de fora do hospital. Rodrigo a ajudou a se acomodar no banco e colocou o cinto de segurança para ela. Em seguida, pegou um livro e começou a ler em voz alta, aparentemente para o bebê.— Um feto de menos de um mês não entende nada disso. Você tá lendo pra mim ou pra você mesmo?— Beatriz bufou, impaciente. Rodrigo fechou o livro com um sorriso tranquilo:— Tudo bem, eu paro. Não precisa ficar irritada.Beatriz percebeu o tom áspero em sua voz e, meio sem jeito, apertou de leve a manga da camisa de Rodrigo:
— Homem é tudo igual.— Beatriz resmungou depois de xingar Rodrigo. Ela se recostou preguiçosamente no sofá, pegou um tomatinho e o colocou na boca. Doce, nada azedo, perfeito. Depois de mastigar, voltou ao seu discurso. — Rodrigo, como é que você não sabe nem as noções básicas do dia a dia? Não sabe que roupas de cores diferentes têm que ser lavadas separadamente?— Ela pegou outro tomatinho para aliviar a irritação. Estranho… antes ela olhava para Rodrigo e achava ele perfeito, dos pés à cabeça. Agora, parece que tudo nele está errado. Será que a fase de lua de mel acabou?— Nem lavar roupa você consegue, e ainda faz uma mulher grávida resolver isso! Você sabia fazer antes; está fazendo de propósito, não está?Isso era o ponto crucial. Antes, Rodrigo sabia lavar roupa, lavar lençóis… tudo isso! Ele, sentado friamente do outro lado do sofá, se perguntava por que diabos tinha que fazer todas essas tarefas. Afinal, não era mais fácil contratar uma empregada para resolver tudo? Agora
Rodrigo ficou em silêncio.Thiago, como primo da Vera, mudou de assunto e resmungou: — Você foi muito descuidado. Se não quer continuar com a Vera, pelo menos toma alguma responsabilidade, né?Thiago também tinha várias amantes, mas ele sempre tomava cuidado. Era para o bem de todos.Rodrigo estava sentado numa cadeira, pernas cruzadas, folheando um livro com desprezo enquanto ouvia as reclamações de Thiago.Soltou um riso debochado: — Eu nunca fui pra cama com a sua prima, então esse filho aí não é meu.Se o verdadeiro Rodrigo tivesse se envolvido às escondidas com Vera, ele não queria nem saber. O importante é que ele, pessoalmente, não tinha feito nada disso.Com um toque de malandragem, pensou: ele era Chris, não o verdadeiro Rodrigo.Thiago ficou boquiaberto: — Vocês não... nunca? — É, nunca. — Respondeu com firmeza.A expressão de Thiago mudou na hora. Ele achou que Rodrigo estava tentando se esquivar. Vera era sua prima, afinal. E Rodrigo querer fugir da responsabilidade e aind
— Rodrigo, vai no mercado pra mim e compra umas coisinhas. Vou fazer uma listinha. — Disse Beatriz, tirando a mão dele do ombro com um toque exageradamente lento, quase teatral, enquanto ia pegar papel e caneta.Rodrigo observou a cena e soltou uma risadinha irônica, achando que ela estava exagerando só por estar grávida.Beatriz escreveu uma lista com várias coisas, itens domésticos, frutas e outras bobagens... de forma que ele ia levar pelo menos uma hora no mercado. Quando terminou, entregou o papel para Rodrigo com um sorriso radiante: — Vai logo e volta rápido, tá?Rodrigo, largado no sofá, aceitou a lista, dando uma olhada nos itens. Beatriz, sem tirar os olhos da TV, deu uma leve cutucada na perna dele com uma almofada, insistindo: — Anda logo! Nossa, como você tá preguiçoso agora. Antigamente, você era bem mais ágil!Esse “antigamente” o irritou. Rodrigo revirou os olhos e, meio de saco cheio, pegou a chave do carro: — Tá, tá bom, tô indo.Assim que ele saiu, Beatriz foi para
Vera não conseguia esquecer a cena dele ajudando Beatriz a descer do carro com tanto cuidado. A noite toda ficou se revirando na cama, sem conseguir dormir. Só queria conversar com ele, nada mais. Aproveitando que estava de volta, hoje Vera acompanhou a mãe e a tia para um chá da tarde.Sofia estava animada recentemente, sorrindo de orelha a orelha. Antes mesmo de o carro chegar ao local, ela virou para Vera e perguntou: — O Rodrigo está onde agora?— Na cidade B.— Respondeu Vera, enquanto abaixava a cabeça para responder umas mensagens das amigas que também estavam por lá e combinar de encontrá-las mais tarde.— E quando é que você vai trazer o Rodrigo aqui pra jantar com a gente? Vocês já conversaram sobre casamento? Essas coisas precisam ser decididas, viu?— Sofia disparou uma série de perguntas.Vera piscou rapidamente, seus olhos estremeceram, mas respondeu com tranquilidade: — Mãe, não precisa ter pressa.Do lado esquerdo, Vitória franziu as sobrancelhas e perguntou: — Vera, o Ro
Cláudia estava no banheiro feminino quando ouviu duas garotas conversando do lado de fora.— Eu vi com meus próprios olhos o Lucas e a ex-mulher dele fazendo amor no carro na outra noite.— No carro? Meu Deus, bem ousados!As duas riram e saíram do banheiro.Cláudia enxugou as mãos, intrigada. O que significava aquilo? Será que falavam do filho dela? Ou seria outro Lucas? Se fosse realmente seu filho, então Beatriz estaria traindo Rodrigo! Ela, porém, não deu tanto crédito à conversa e seguiu para a mesa com o grupo, mas aquela ideia permaneceu rondando sua mente.Quando terminou o chá da tarde, Cláudia e Larissa decidiram ir com Vera para um jantar no restaurante novo. No reservado, Larissa estava sentada ao lado esquerdo de Aaron. Quando ele tentou pegar uma taça de vinho, Larissa foi mais rápida e segurou a garrafa primeiro. Suas mãos se tocaram, e ela ficou com as orelhas avermelhadas de vergonha. Aaron, notando, retirou a mão.— Quer beber vinho, Aaron? Eu sirvo pra você.— Oferece
— Bia, eu te amo.Beatriz acordou com os olhos cheios de lágrimas, sem nem perceber. Ela tocou o próprio ouvido, ainda sentindo o sussurro de Rodrigo em seu sonho. Puxou o cobertor até cobrir o rosto e chorou em silêncio ali embaixo. Um mês se passou, e novamente ela notou o homem, que dormia no quarto ao lado, diferente do seu Rodrigo. Que situação miserável.No quarto ao lado, Chris observava a mulher encolhida sob as cobertas, batendo os dedos levemente no celular, pensativo. Estranho... como é que ela começou a desconfiar de novo? Antes do hipnotismo, ela já tinha sido destruída psicologicamente pelos experimentos com a organização de órgãos. Depois, em Cidade B, ela tinha certeza de que sofria de paranoia. Com todo esse trauma, era pra ela estar completamente sob controle depois da hipnose.Chris ligou para Jason:— Jason, vem a Cidade B de novo amanhã.Ao desligar, ele saiu do quarto e foi até o de Beatriz. O clique da maçaneta a fez estremecer. Ela rapidamente puxou o cobertor e
Chris lançou um olhar para Beatriz e foi tomar banho primeiro. Quando saiu do banheiro, viu Beatriz mexendo nas gavetas:— Bia, o que você tá procurando?— Colírio, estranho, eu tinha certeza que deixei aqui. Não tô achando... que coisa.— Tá no quarto. Vou pegar pra você.— Chris arqueou as sobrancelhas e seguiu para o quarto.Beatriz pausou e o observou pelas costas. Como ele sabia onde estava o colírio? Era como se soubesse onde cada coisa ficava naquela casa…Francisca terminou de arrumar a cozinha e apareceu na sala:— Senhora Silva, estou indo embora. Tarde já venho direto do mercado.— Tudo bem. Obrigada.Chris voltou do quarto segurando o colírio:— Esse aqui tá vencido. Vou comprar um novo. Quer aproveitar e pedir mais alguma coisa?Beatriz pensou um instante, depois balançou a cabeça:— Não, obrigada.Foi então que Chris comentou:— Amanhã o Jason vai vir aqui para sua sessão de terapia.Ele disse e foi para o quarto novamente.Beatriz franziu a testa. Terapia o quê? Com a cara fe