Constante Provação

Capítulo 2. Constante Provação.

Leonardo narrando.

Às vezes me questiono o que fiz em outra vida para merecer tantos castigos.

Por que não me lembro de ter sido um homem tão ruim nos meus mais de quarenta anos de vida para merecer certas provações e perdas.

Filho de um Duque e de uma socialite bondosa, que faleceu quando entrei na fase adulta, nunca tive grandes desafios na vida.

Tive a infância como a de qualquer outra criança que nasceu em uma família com títulos e mais dinheiro do que deveria ter. Estudei nos melhores colégios fora de Solari e namorei bastante.

Quando entrei na universidade, conheci a garota que em alguns anos se tornaria a minha esposa. Com Alicia, a paixão antes foi uma bonita amizade, mas depois que começamos a namorar, nunca mais nos separamos.

Foram meses de namoro, meses de noivado e apenas dois anos casado com a mulher que eu amava, o único relacionamento sério que tive na vida.

Optamos por morarmos na Europa, já que minha esposa era design de joias e por lá ela tinha mais oportunidades de trabalho.

Eu também abri meu escritório de advocacia e fiz carreira fora de Solari, o pequeno país onde nasci. Um país cuja capital curiosamente também se chama Solari Menor.

Em Solari Menor é onde fica o palácio do rei e dos seus três filhos.

As terras e propriedades em volta também são parte da capital. As terras e a mansão do meu pai, o Duque Von Daren, fazem parte da capital.

Alicia e eu estávamos fazendo uma visita para o Duque com a intenção de anunciarmos a chegada do nosso primeiro filho, quando minha esposa teve a ideia de andar à cavalo e acabou caindo.

A justificativa que levou uma mulher habilidosa na montaria a cair foi um pedaço de vidro que entrou no casco do cavalo e a dor o fez empinar o corpo para trás e derrubar minha esposa.

Eu vi de longe e me desesperei com a cena, fui rápido e ágil para pedir ajuda. Infelizmente, ela não resistiu ao impacto da queda e acabou falecendo.

A sensação que durou metade da minha vida foi de que Alicia levou o meu coração com ela.

Ela partiu sem avisar e levou embora o amor, a alegria e todos os planos para o futuro que estávamos fazendo. Ela se foi e levou consigo o nosso bebê.

Estávamos tão felizes com a sua gravidez.

Eu estava preparado para ser pai.

Perdi tudo e meu coração fechado só voltou a bater quando descobri a minha filha.

Com ela percebi que a vida não havia acabado para mim.

A mesma vida que me deu uma rasteira, me deu uma nova oportunidade quando colocou Elena no meu caminho.

Eu ganhei uma filha e uma neta. Uma bebê linda que amo muito.

Quando fiquei viúvo aos vinte e três anos, pensei em ficar morando na Europa, mas olhei para a minha própria dor e me questionei se estaria sendo justo quando lembrei do meu pai, que perdeu mamãe há tanto tempo.

Se eu estava me sentindo sozinho, como o meu velho pai estaria se sentindo.

Quando pensei que poderíamos tornar um ao outro menos solitário, decidi voltar a morar em Solari.

Segui com o coração fechado para qualquer sentimento, mas não mais sozinho.

Passaram-se vinte anos e, depois de tanta espera, o meu coração voltou a bater.

Acreditei que as únicas razões seriam minha neta e minha filha.

Acreditei que ninguém além delas e do meu pai poderia chegar até mim depois de tudo, porque o medo de perder se tornou grande demais para que eu sequer cogitasse arriscar.

Mas a vida mais uma vez me surpreendeu com algo que eu definitivamente não estava contando.

Eu tinha certeza que não havia o menor risco para o meu coração.

Para mim, ele nunca mais seria capaz de bater por outra mulher de forma romântica.

Não procurei por isso, mas aconteceu, porque essa garota, que agora dorme como se não tivesse colocado o meu mundo de cabeça para baixo, se tornou um furacão na minha vida.

Ela tornou impossível a missão de não a enxergar.

Eu não só a enxerguei como me apaixonei ao ponto da obsessão.

Pérola fez isso comigo.

Ela me tornou esse homem que não pode imaginar a vida sem sua presença nela.

Essa garota, tão mais jovem do que eu, mas que é o meu raio de sol, o amor da minha vida.

Essa garota que quase perdi da mesma forma como perdi a primeira mulher que amei e que estou até agora apavorado, com medo de a qualquer momento receber uma notícia ruim, mesmo estando ao seu lado, mesmo tendo falado com ela agora há pouco.

Uma parte de mim está sangrando pelo fato de a Pérola não se lembrar da gente, mas o meu alívio por ela estar bem e consciente depois de semanas é tão grande que não consigo pensar na minha própria angústia nesse momento.

Porque agora estou me apegando as partes boas de toda essa bagunça.

Não importa como vai ser amanhã, o que importa é que ela está aqui e que sei o que somos um para o outro, porque todas as minhas lembranças estão aqui, vívidas como se tudo tivesse acontecido ontem.

Vivemos tanto em um único mês que parece ter sido uma vida de pura felicidade no nosso casulo, onde existia apenas nós dois.

Nada pode tirar isso de mim, nem mesmo o destino, que gosta de puxar o meu tapete.

Enquanto minha mulher descansa e se recupera, volto a pensar em como ela não aceitou ser ignorada por mim, o pai da sua prima e melhor amiga.

Recordo-me de como perdi a guerra contra o meu corpo e coração antes mesmo de realmente começar a lutar.

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