Surpresa Inesperada

Capítulo 4. Surpresa Inesperada.

Pérola narrando.

Depois de dias que pareceram meses, eu finalmente posso me mexer sem sentir dores no meu corpo, que está sendo um guerreiro, segundo os próprios médicos.

Aparentemente, e estou feliz com isso, me livrei de algo mais sério, até mesmo de perder a vida por causa do acidente com o cavalo.

Pelo pouco que sei, a esposa do Leonardo morreu dessa maneira, e talvez por isso ele estava tão diferente do seu modo habitual de agir quando veio me visitar há uns dias.

Ele veio e foi o suficiente para mim. Deixou-me feliz e com vontade de sair logo dessa cama.

Foi apenas uma visita que me deu energia para continuar o que eu tinha em mente antes.

Posso ter perdido algumas memórias, mas lembro-me perfeitamente de que estava disposta a fazer o que fosse preciso para ser vista por ele.

Leonardo não precisou mais do que um único olhar rápido em minha direção para chamar a minha atenção.

Na primeira vez em que o vi, meu coração disparou e meu corpo todo se arrepiou, como se estivesse o reconhecendo de alguma forma, foi uma conexão.

Então passei uns dias tentando dizer para mim mesma que era apenas um homem bonito, lindo e mais velho do jeito que eu gosto. Sobretudo, lembrei para mim mesma que se tratava do pai da minha prima, mas não teve jeito.

Quanto mais tentava lutar contra a primeira impressão avassaladora, mais meu coração me levava na direção contrária.

Quanto mais eu tentava me convencer a esquecer o fascínio instantâneo, mais sentia vontade de tentar fazer com que ele me visse como uma mulher, porque Leonardo me olhou durante um segundo e depois começou a agir como se eu fosse invisível.

Apenas uma criança.

Não gostei.

Isso é tudo o que me lembro.

A atração? Não foi afetada pelo acidente.

Eu ainda estou completamente obcecada pelo pai da minha prima.

Diferentemente de como agiu quando nos vimos pela primeira vez e no dia do casamento, o viúvo me tocou e me olhou de um jeito diferente aqui no hospital.

Ou será que é coisa da minha cabeça?

Será que estou me iludindo?

Talvez Leonardo só tenha vindo por consideração a filha.

Ele faz tudo por ela, afinal de contas. Pode até chegar ao ponto de fingir que se importa com sua prima.

Não que eu esteja desanimada. Na verdade, estou pronta para fazer-me ser vista, e então verei o que o futuro tem para nós dois.

É uma clara obsessão, não tenho dúvida disso, e também não tenho medo.

É essa obsessão que me faz agir de forma diferente. Porque não sou uma mulher segura e extrovertida normalmente, mas, quando se trata desse assunto, esqueço até mesmo da timidez e de todos os meus pudores.

É como se nada pudesse ficar no meu caminho, nem eu mesma.

Além da obsessão, estou certa de que foi paixão a primeira vista.

— Você sabe que tenho medo de você quando fica com esse olhar perdido e com um meio sorriso no rosto, não sabe? — Elena cutuca o meu joelho, tirando-me do meu devaneio.

— Por que? Sou um anjo — brinco.

— Anjo caído, só se for — minha irmã gêmea rebate.

— Onde está a mamãe e a tia Juana? — indago.

— Foram para o palácio quando garanti que estava tudo sob controle por aqui — Elena fala, com um ar de mulher responsável.

Ela realmente é. Parece que o casamento com o príncipe deu esse ar de seriedade e ela tem levado a sério o novo status e todas as responsabilidades de se tornar parte da realeza.

Minha linda princesa consorte.

— E está tudo sob controle? — indago, as duas trocam olhares.

Minha prima e minha irmã, minhas duas melhores amiga, estão escondendo algo de mim?

— Com certeza — falam ao mesmo tempo.

Júlia está fazendo a minha mala, guardando os meus pertences, porque hoje finalmente estou deixando o hospital.

Passei tantas semanas na cama que no meu corpo não há mais sequer um hematoma. Deu tempo de sarar por dento e por fora.

— Vá tomar seu banho e se trocar — Elena pede.

— Tudo bem — digo e dou de ombro.

Estou mesmo ansiosa para me livrar de todo esse branco.

Se elas não tivessem trazido o meu celular e leitor digital de livros, eu teria pirado.

Depois de alguns minutos me lavando e me vestindo, saio do banheiro pronta para ir embora, mas sou surpreendida por uma presença inesperada.

Não, não é o meu Leonardo.

Mas é um homem tão bonito quanto ele.

Príncipe Ignácio Vargas. Lindo, frio e distante.

Mas, ao mesmo tempo, ele é gentil e tem um sorriso de derreter cérebros. Provavelmente porque seus sorrisos são raros.

Ele só os mostra para quem merece, eu certamente mereço, porque o homem belo abre um meio sorriso quando me nota.

Todos estavam conversando, mas param quando me veem.

— Finalmente saindo da cama? — Ignácio provoca.

Júlia e Elena olham para ele como se tivesse nascido mais uma cabeça em cima do seu pescoço.

Ele simplesmente não é de fazer provocações.

Porém, Ignácio gosta de mim.

Eu gosto dele.

Não sei explicar como aconteceu.

Lembro-me de gostar dele desde a adolescência. Quando tinha a ilusão de que me casaria com um príncipe, como qualquer outra garota tem, ele era o meu escolhido.

Eu tinha até recortes de revistas com fotos suas no meu diário.

Quando o vi pela primeira vez, fiquei com as bochechas vermelhas como se fosse uma donzela. Ignácio percebeu a minha reação nada discreta e sorriu para mim, como se estivesse me achando divertida.

Mas não foi nada engraçado, porque aconteceu minutos antes de eu ver o pai da minha melhor amiga pela primeira vez e ter uma reação dez vezes mais intensa.

Foi naquele momento que notei que estava substituindo uma paixão platônica por outra, mas com outra mentalidade.

Quando olhei para o Leonardo, consegui até visualizar os nossos bebês.

Meu eu adolescente não foi tão longe com o príncipe Ignácio.

— Se estivesse preocupado com a minha demora para sair da cama, teria vindo me visitar mais vezes — brinco.

Mesmo com seu jeitão mais fechado, e aposto que há uma razão para tanta reserva, Ignácio veio me ver algumas vezes.

Foram visitas rápidas e ele não falou muito, mas veio.

Nos conhecemos há pouco tempo, mas temos uma amizade. Uma amizade meio silenciosa e confortável.

Além do mais, ainda coro como uma adolescente na sua frente, afinal, ele continua sendo a minha primeira paixão infantil. Continua sendo um dos homens mais lindos do w.

Nas revistas bobas que fazem rankings de beleza, Ignácio só está atrás do irmão mais velho e do Leonardo.

— Pare de falar, ou perderá a sua carona — Ignácio fala, e vira as costas para deixar o quarto.

— Esses dois ainda vão se casar. — Ouço Júlia, um silêncio recai no recinto.

Todos paralisam.

Quem aqui não lembra do quanto foi difícil para a Elena ficar com o príncipe Rhuan?

Plebeias e príncipes são como água e óleo na realeza. Para ficarem juntos, Elena e Rhuan foram contra tudo e contra todos, e mesmo assim não foi fácil.

— É melhor a gente ir — digo dessa vez.

Ignácio pisca para mim e deixa a sala.

— Eu não acharia tão improvável se ele não fosse um príncipe — Elena sussurra. — Vocês dois combinam.

Merda!

— Lembra de como você era louca por Ignácio, irmã? — Júlia segue falando.

— Eu era uma menina.

— Sei… mas aposto que seu tolo coração ainda b**e por ele — Elena entra na onda da doida da minha irmã. — Eu acho que Ignácio também tem uma queda por você. Não sei explicar, mas ele te trata de forma diferente.

— Não trata — nego.

— Ele sorri para você. Até então, as pessoas nem tinham certeza de que ele sabia como sorrir.

— Suas bobas! Somos amigos, ou quase isso. Ele não é muito de conversar.

— Acredite, meu cunhado conversa mais com você do que com a maioria dos outros seres humanos — Elena afirma.

Se ela se casou com o maravilhoso príncipe herdeiro Rhuan, ainda deixou para o resto das reles mortais seus dois irmãos, os também príncipes, lindos e cobiçados, Ignácio e Javier.

Javier é o oposto do irmão em personalidade. Por isso minha gêmea está gamada nele.

Sim, fomos três primas que passaram a infância sonhando com príncipes, o diferencial é que eles sempre foram reais e agora estão nas nossas vidas.

Poderia ser mais clichê?

Se fosse um conto de fadas, cada uma de nós se casaria com um dos príncipes.

Elena já fez sua parte.

Se um milagre acontecer, talvez Júlia faça a dela.

Mas eu certamente não farei a minha.

Meu foco é o filho do duque. O viúvo.

****

Na frente do hospital, avisto o carro do Ignácio, e entendo que ele veio exclusivamente para nos buscar.

Não sei se foi um pedido da minha prima, mas estou bem com isso.

A minha mente e coração iludidos fizeram outros planos, mas as coisas são como são, e quem veio me buscar no hospital não foi o Leonardo.

Pensei que teria que voltar para o vilarejo e não tinha mais nenhuma desculpa para pedir para permanecer mais uns dias na capital.

Felizmente, Rhuan e Elena deram a ideia de eu ficar um pouco mais.

Uns dias a mais, apenas para ter certeza de que estou cem por cento bem. Sabemos que estou, mas todos querem previnir.

Elena se casou e obviamente mora no palácio, mas, graças ao destino, seu marido teve que fazer uma viagem diplomática com o rei ontem e ela decidiu passar uns dias na casa do pai e do avô.

Tendo descoberto o próprio pai há apenas alguns meses, Elena passa todo o tempo possível ao lado dele.

Eu aproveito as oportunidades.

Amo quando encontro tempo para vir a visitar, porque sei que provavelmente irá me chamar para ir até a mansão do seu pai.

Para a minha felicidade, serei levada para o lar dos Von Daren, não para o palácio.

Na toca do lobo, terei mais oportunidades de o tentar e de brincar com ele sem o menor medo de ser atacada, porque é isso mesmo que espero que um dia aconteça.

Quando estamos nos aproximando do carro do príncipe, outro veículo de cor preta para logo atrás. À princípio fico confusa, principalmente quando Elena acena.

Então meu coração vai para a boca quando o homem alto, moreno e sexy sai do carro, parecendo que é o dono do mundo.

Leonardo Von Daren.

Ele veio!

O viúvo tira os óculos do rosto e o coloca na camisa azul marinho de botões.

Ele se aproxima com sua expressão séria, passos firmes e seguros.

Juro. Eu vou desmaiar.

Não é brincadeira.

— Pai? O que está fazendo aqui?

— Vim buscar vocês — ele fala, olhando dela para a minha irmã e por último para mim.

Ignora a existência do Ignácio.

— Não precisava ter se incomodado. Vou levá-las — Ignácio fala.

— Insisto, afinal, elas estão indo para a minha casa, príncipe — a última palavra escapa da sua boca de forma desdenhosa.

Ignácio não diz nada, provavelmente por acreditar que não vale a pena comprar essa briga, e apenas acena, antes de sair de cena.

Antes que eu possa respirar aliviada, Ignácio volta a cabeça em minha direção e j**a uma piscadinha para mim. Como não poderia deixar de ser, eu coro.

Olho para o Leonardo e ele tem a expressão séria. Mais uma vez, meu coração dispara e a tontura vem com força.

Sinto que estou prestes a desmaiar, mas Leonardo, como se estivesse atento a todos os meus movimentos, se aproxima e me pega no colo.

Aproveito o momento para deitar minha cabeça no seu peito e quase rolo os olhos para cima de tanto prazer que sinto com o cheiro do seu perfume.

No momento, não me importo com o risco de que Júlia e Elena possam estar nos observando.

Minha melhor amiga nem sonha que o seu pai é o meu ponto fraco.

Com cuidado, Leonardo me coloca no banco do carona e as duas mulheres entram pelas portas de trás.

Na viagem de ida do hospital para a mansão dos Von Daren, que não fica muito distante do palácio, Leonardo mal olha em minha direção.

Ele não abre a boca, aparentemente completamente concentrado em dirigir.

Por outro lado, Elena e Júlia não calam a boca um minuto sequer.

Eu tento a todo custo não derreter com o cheiro do seu perfume e segurar a vontade de colocar a mão em cima da sua coxa, coberta pela calça de linho.

Ao chegarmos na propriedade Von Daren, Leonardo me pega nos braços, antes que eu ou uma das meninas possamos falar qualquer coisa.

Ele age com tanta segurança que faz parecer que fez isso muitas vezes antes, como se tivéssemos essa intimidade.

Ou talvez só esteja mais uma vez me fazendo uma gentileza.

— Vou levá-la para o quarto de hóspedes. Por que vocês não tomam uma água?

— Papai…

Mas o viúvo não espera que a filha complete a frase. Ele apenas entra na mansão comigo nos braços.

— Está tudo bem? — o duque questiona quando passamos por ele, que está na sala lendo o seu jornal.

— Sim.

Leonardo, sempre monossilábico.

Ao entrarmos no quarto, ele me coloca com cuidado com as costas contra a cabeceira da cama.

Então fica parado me observando durante alguns segundos.

Fico com a impressão de que quer falar alguma coisa, mas se impede.

Eles estão escondendo algo de mim. Não tenho a menor dúvida disso.

Enquanto não tirar isso do meu caminho, não terei paz.

— Por que está aí parado? Fale alguma coisa.

— Você… — O homem balança a cabeça de um lado para o outro e deixa o quarto.

— Leonardo — chamo, mas a porta já está fechada.

Mal tenho tempo de pensar na minha frustração, porque logo em seguida Elena e Júlia entram no quarto.

Observo minha irmã gêmea colocando minha mala do lado e depois chamo-as para que cheguem mais perto de mim.

Ambas se sentam na ponta da cama e me olham daquele jeito culpado de que estão mantendo um segredo de mim.

Não somos de esconder nada umas das outras, tanto que, quando Elena estava mantendo sua história de amor com o príncipe em segredo, Júlia e eu sabíamos que ela estava agindo de um jeito diferente e que havia algo errado com ela.

— Vou ser direta na minha pergunta e quero que vocês sejam sinceras. Não mintam para mim — começo. — O que estão escondendo?

— Querida, durma um pouco. Depois a gente conversa — Júlia fala.

— Agora! — ordeno, olhando de uma para a outra. — Vocês sabem que não vou parar até entender o que está acontecendo.

— É melhor falarmos de uma vez, Júlia — Elena diz. Minha irmã, relutante, acena com a cabeça. — Eles queriam ter dado a notícia no hospital há alguns dias, mas mamãe não achou que era o momento certo, porque você ainda estava se recuperando.

O quê?

Notícia?

— Eu vou morrer, é isso? Descobriram nos exames que estou com uma doença grave — fico alarmada e com uma sensação de angústia.

— Não! Se acalme, irmã. Você não vai morrer. Na verdade, está vendendo saúde.

— Então…

Ambas falam ao mesmo tempo.

— Você está grávida!

— O quê? — grito.

Então realmente começo a chorar.

Um choro de dor e desespero.

Choro de desilusão.

Grávida de quem?

Como posso estar esperando um bebê aos vinte anos de idade, quando não faço ideia de quem é o pai?

Eu sou virgem!

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