CAPÍTULO DOIS

Lavínia relaxou e se recostou na cadeira. Agora ela percebia alguns detalhes que lhe passaram despercebidos antes. Cássia devia estar na casa dos trinta e cinco anos mais ou menos, era alta, ela percebera quando veio para lhe cumprimentar e pedir que se sentasse. Era negra de feições delicadas, sobrancelhas muito bem feitas e cabelos estilo Black Power, macio e displicente estava amarrado em um coque abacaxi, usava óculos de grau de hastes finas e leves, branco que contrastava com sua pele negra, dentes pequenos e irregulares que lhe davam um charme extra. Usava uma blusa de seda branca enfiada em uma calça bege acentuando sua cintura fina. Lavínia sentiu segurança em seu rosto calmo e seu consultório sóbrio, sem porta-retratos ou nada que chamasse a atenção. Notou que Cássia usava aliança na mão esquerda, juntamente com um anel solitário fino que deixava suas mãos tão bem manicuradas, ainda mais elegante.

− Eu nem sei na verdade se qualificaria como problema o que estou vivendo. – Começou ela, sem saber por onde deveria começar.

− Vamos começar se perguntando o que a incomoda, simples assim. Há alguma coisa a incomodando? – Perguntou Cássia.

− Bem ... Eu não sei, e esse é o problema. Não sei se está certo o que estou fazendo. respondeu pensativa.

− É algo relacionado ao trabalho, a algum amigo ou família? – Questionou-a para facilitar a jovem a se soltar. – Não tenha pressa Lavínia. Que tal me falar um pouco de você?

− Sim, pode ser ... Bem eu trabalho para a empresa Trans Ritar, como você já sabe e tenho diversos amigos lá. Meu chefe é super amável e adoro as metas mensais e anuais que ele me propõe, pois me é um desafio e com isso, eu passo também metas para o restante dos funcionários. Trabalho lá já há alguns anos, desde que me formei. É a área que escolhi trabalhar e galguei níveis desde que lá entrei. Tenho um ótimo relacionamento com meu pai e sua esposa, adoro minha irmãzinha caçula. Moro sozinha desde os dezenove anos e gosto da minha liberdade e privacidade. Comecei um relacionamento com um rapaz há dois meses.

Ao falar isso, Cássia notou que Lavínia se mexeu na cadeira, como que para se ajeitar.

− Me fale do seu namorado, como ele é?

− Ele é maravilhoso, calmo, inteligente ... Essa foi uma das coisas que me chamou atenção nele, a inteligência. Claro que a beleza também, porque foi a primeira coisa que vi quando nos conhecemos, mas ele é um namorado muito bom. – Finalizou.

− Como vocês se conheceram?

− Eu estava tomando um café em uma cafeteria próxima ao centro e folheando um livro; o percebi logo que entrei na cafeteria, pois ele chama a atenção, mas fiquei na minha e ele simplesmente veio até a mim. Usou o livro como desculpa para abordagem, mas ainda que eu não estivesse lendo, ele teria vindo até a mim ... Essa é outra qualidade dele, não perder tempo ou enrolar. Ele é direto.

− Interessante Lavínia. – Disse Cássia. – Vocês começaram logo a namorar?

− Sim, ele me perguntou o que eu estava lendo e ao responder, ele disse que já havia lido e perguntou se eu queria que ele me contasse o fim. – Lavínia sorriu quando se lembrou dessa parte. – Eu disse que o mataria se ele fizesse aquilo e a conversa fluiu. Falamos sobre várias coisas, ele me disse que trabalhava como contador na empresa da família e falamos sobre nosso trabalho e também sobre nossa família. Ele tem um irmão mais velho que mora em outra cidade e uma irmã mais nova que já é casada e contadora como ele. Ele é mais velho que eu dois anos.

"Marcamos de sair no fim de semana, fomos a uma danceteria e nos divertimos bastante. Ele foi bem cavalheiro, mas me beijou logo na primeira dança e foi o beijo mais gostoso e incrível que eu já tinha dado ... Gostei dele desde o início. Saímos quase todos os dias desde então, e tem sido uma montanha russa sabe?"

− Isso é bom? Digo, esse sentimento de queda livre na montanha russa? – Questionou Cássia, acreditando que ali talvez estivesse o que havia a levado até ali.

− Tem sido bom ... Isso só tem me assustado um pouco...

− Você acha que estão indo rápido demais, é isso? Isso a assusta?

− Não acho que com Gary tenha como ser diferente! Ele é intenso.

− Em que sentido? - Instou - a Cássia. No sexo? Ele foi a primeira pessoa com quem você fez sexo?

− Não, eu já fiz sexo muitas vezes antes dele ... Só não como ele gosta de fazer.

"Ele é diferente sabe? Lógico que o sexo com ele é maravilhoso e intenso, ele não mede esforços para me satisfazer ... Até exagera na verdade. – Disse isso se acomodando na cadeira e corando um pouco. – Vou dizer de uma vez:

"Em nossa terceira vez que transamos, ele estava me enlouquecendo de prazer e eu já quase atingia o orgasmo quando ele pediu que eu imaginasse que enquanto me chupava (era o que ele estava fazendo no momento) eu imaginasse que outro estava me enrabando ... Desculpe a grosseria Cássia!"

Cássia não alterou sua expressão com a verdade exposta de Lavínia, que não deixou de pensar se aquilo era corriqueiro em seu consultório. Sentiu-se envergonhada e exposta, sentiu-se suja.

− Aqui você pode usar o linguajar que lhe aprouver, ok? Estamos apenas batendo um papo, pense assim. E gostaria que se sentisse a vontade para me contar tudo o que julgar necessário.

Lavínia aquiesceu e ela continuou:

− Você não gostou do que ele lhe falou?

− Ao contrário! Eu cheguei ao orgasmo mais rápido e foi muito melhor que das outras duas vezes.

− Então onde está o problema? – Perguntou com voz mansa Cássia. – Ele lhe deu prazer, você gostou. Não há nada de errado nisso ... A não ser que você tenha se sentido culpada.

− Não sei, esse é o problema. Às vezes sinto que estamos agindo errado, ou extrapolando ... Realmente não sei.

− Lavínia, nosso tempo por hoje acabou, mas quero te dizer uma coisa: Não se culpe pelo prazer que sente quando seu namorado lhe dá prazer, a não ser que isso a afete de alguma forma, entende? Você não é obrigada a fazer uma coisa que lhe cause transtorno só para agradá-lo também. Pense nisso e na próxima consulta, vamos falar mais sobre isso.

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