Capítulo 74A sala de reuniões estava mergulhada em um silêncio desconfortável. Todos os Benrouissi estavam presentes, incluindo Dandara, que sentia o peso dos olhares em sua direção. Paco, sentado ao lado dela, mantinha a expressão impassível, mas seus olhos escuros estavam fixos em Jack, como se tentasse antecipar o que estava por vir. Gael estava mais reservado do que o normal, mas sua postura sugeria que estava atento a cada palavra.Jack, no entanto, parecia no controle total, sentado à cabeceira da mesa. Seus dedos tamborilavam levemente contra o tampo de madeira enquanto ele observava os rostos à sua volta. Quando ele finalmente falou, sua voz era baixa, mas carregada de autoridade.— Antes de continuarmos com as discussões sobre os setores e os próximos passos da empresa — ele começou, seus olhos fixando-se diretamente em Dandara — há um assunto de família que precisa ser abordado.Dandara sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ela se endireitou na cadeira, tentando parecer
Capítulo 75A porta do quarto de Dandara se fechou com força, o som ecoando pelo corredor. Suas mãos tremiam enquanto ela se apoiava contra a madeira, tentando recuperar o fôlego. O que havia acabado de acontecer? Como Jack sabia? Como ele poderia conhecer detalhes de um passado que sequer deveria existir?Ela deslizou para o chão, os olhos fixos no nada, enquanto sua mente se agitava com perguntas. Curtis. O casamento. A traição. A morte. Era tudo parte de uma vida que ela havia deixado para trás... ou que pensou ter deixado. Jack havia jogado aquilo na mesa como uma carta de um jogo que ela não sabia estar jogando. E agora, ela precisava descobrir como ele sabia.Enquanto isso, na sala de reuniões, Paco permanecia sentado, a cadeira empurrada para trás como se ele precisasse de mais espaço para respirar. Sua mente estava em caos absoluto, revirando cada palavra que ouvira.Ele pensava em Dandara. No mistério constante que ela parecia carregar, na barreira invisível que sempre separa
Capítulo 76O peso na mansão era tão denso que parecia impregnar o ar, tornando cada respiração um esforço. Dandara estava no corredor, tentando se afastar de tudo — dos olhares inquisitivos, das palavras de Jack que ainda ecoavam em sua mente e, principalmente, de Paco.Suas mãos tremendo levemente enquanto tentava organizar os próprios pensamentos. Seu coração estava pesado, e cada respiração parecia uma luta para manter a calma. Mas antes que pudesse se recompor, passos rápidos ecoaram pelo mármore.Ela virou para o lado apenas para encontrar Paco vindo em sua direção. Seus olhos se encontraram, e naquele instante, ela soube que ele estava procurando por ela. Havia algo no olhar dele — um misto de raiva, confusão e algo que parecia... mágoa.— Precisamos conversar — ele disse, a voz baixa, mas carregada de firmeza.Dandara respirou fundo, sabendo que não tinha como evitar aquele confronto.— Agora não, Paco — ela respondeu, tentando passar por ele.Mas ele se moveu, bloqueando seu
Capítulo 77A mansão estava em silêncio, exceto pelo som da chuva que martelava contra as janelas. Paco caminhava pelo corredor principal, os passos ecoando suavemente pelo mármore. Ainda havia um peso em seus ombros, uma raiva que lutava para controlar.A discussão com Dandara deixara um gosto amargo em sua boca, mas ele sabia que havia passado dos limites. Talvez ela também tivesse, mas a maneira como tudo terminara... Não deveria ter sido daquele jeito.Ele passou pela sala de jantar, depois pela biblioteca. Em cada lugar, esperava vê-la, talvez ainda irritada, mas presente. No entanto, cada sala vazia apenas aumentava o nó em seu estômago. Quando chegou ao escritório principal e também não a encontrou, um pensamento inquietante começou a se formar.Dandara saiu? Na chuva?Ele tentou afastar a ideia, mas ela insistia. "Ela não faria isso," disse a si mesmo. "Não no meio de uma tempestade." Ainda assim, a culpa começou a rastejar em seu peito. Se ela tivesse saído, ele sabia que sua
Capítulo 78A chuva continuava a bater contra o carro, o som abafado preenchendo o silêncio entre Dandara e Gael. O limpador do para-brisa trabalhava freneticamente, mas ainda assim parecia impossível enxergar mais do que alguns metros à frente na estrada.Dandara estava encolhida no assento do passageiro, o corpo tenso e as mãos trêmulas descansando sobre o colo. Suas roupas estavam encharcadas, o cabelo grudado ao rosto, mas o frio da chuva parecia menor comparado ao caos que fervia dentro dela.Gael dirigia em silêncio, os olhos fixos na estrada. Sua expressão era difícil de ler, como sempre, mas havia uma rigidez em seus ombros que indicava o conflito interno que ele tentava esconder.— Você está bem? — ele finalmente perguntou, a voz baixa, mas firme.Dandara levantou os olhos para ele, surpresa pela pergunta. Não esperava gentileza naquele momento.— Não sei mais o que é estar bem, Gael — ela respondeu, sua voz um sussurro quase inaudível.Ele apertou os lábios, desviando o olha
Capítulo 79Gael seguia segurando o volante com força, os olhos fixos na estrada, mas sua mente estava em outro lugar. Cada quilômetro percorrido parecia pesar mais em seus ombros. Ele sabia que precisava tomar uma decisão, mas ainda não conseguia se convencer de qual seria.Ao avistar um posto de gasolina deserto, ele desacelerou e parou o carro ao lado de uma das bombas. O motor desligado trouxe um momento de quietude que só parecia amplificar a tensão no ar. Ele não olhou para Dandara imediatamente, mas sentiu seu olhar sobre ele.— Por que paramos? — ela perguntou, a voz ainda carregada de emoção.— Precisamos de tempo — ele respondeu simplesmente, sem oferecer explicações.Dandara inclinou-se ligeiramente, observando-o com cautela. Ela estava molhada e desconfortável, mas sua mente estava longe dessas preocupações. Em vez disso, ela tentava entender o que estava acontecendo.— Tempo para quê? — ela insistiu, cruzando os braços.Gael suspirou, finalmente virando-se para encará-la.
Capítulo 80No hospital, o cheiro estéril e os passos apressados dos enfermeiros criavam uma atmosfera de constante tensão. Paco estava parado ao lado de Carlito, observando a irmã do rapaz através do vidro do quarto. Pauliny estava em uma cama de hospital, conectada a monitores e respirando com dificuldade. Seu rosto pálido parecia pequeno demais para todo o peso que carregava.Carlito olhava para ela como se sua alma estivesse à beira de um colapso, e Paco sentia o peso da própria culpa ainda mais forte. Ele fechou os olhos por um momento, tentando encontrar uma maneira de organizar os pensamentos.— Você vai resolver isso, não vai, Paco? — Carlito perguntou, sua voz um sussurro quase desesperado.Paco assentiu, mesmo sem saber como.— Vou resolver, Carlito. Eu prometo.Enquanto Carlito se afastava por um momento, Paco recostou-se na parede e sentiu um nó na garganta. Ele pensou na mãe de Carlito e Pauliny. A lembrança era um fantasma constante, assombrando-o a cada decisão que toma
Capítulo 81A chuva havia diminuído, transformando-se em uma garoa fina que salpicava as janelas do carro. Dandara observava o cenário escuro que passava rapidamente do lado de fora. As palavras de Gael ainda ecoavam em sua mente, aquelas poucas confissões fragmentadas que ele havia permitido que escapassem durante a viagem.Ela sentia que havia muito mais para ser dito, mas também sabia que Gael era como uma fortaleza impenetrável, permitindo apenas vislumbres do que estava guardado em suas muralhas internas.— Estamos quase lá — ele disse finalmente, sua voz firme, mas sem a usual frieza.— Lá onde? — Dandara perguntou, o tom uma mistura de curiosidade e cansaço.Gael permaneceu em silêncio por um momento, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras.— Você vai entender quando chegarmos — ele respondeu, desviando o olhar para ela por um instante antes de voltar a focar na estrada.O carro virou por uma estrada cercada de árvores, o asfalto molhado refletindo as luzes ama