Capítulo 79Gael seguia segurando o volante com força, os olhos fixos na estrada, mas sua mente estava em outro lugar. Cada quilômetro percorrido parecia pesar mais em seus ombros. Ele sabia que precisava tomar uma decisão, mas ainda não conseguia se convencer de qual seria.Ao avistar um posto de gasolina deserto, ele desacelerou e parou o carro ao lado de uma das bombas. O motor desligado trouxe um momento de quietude que só parecia amplificar a tensão no ar. Ele não olhou para Dandara imediatamente, mas sentiu seu olhar sobre ele.— Por que paramos? — ela perguntou, a voz ainda carregada de emoção.— Precisamos de tempo — ele respondeu simplesmente, sem oferecer explicações.Dandara inclinou-se ligeiramente, observando-o com cautela. Ela estava molhada e desconfortável, mas sua mente estava longe dessas preocupações. Em vez disso, ela tentava entender o que estava acontecendo.— Tempo para quê? — ela insistiu, cruzando os braços.Gael suspirou, finalmente virando-se para encará-la.
Capítulo 80No hospital, o cheiro estéril e os passos apressados dos enfermeiros criavam uma atmosfera de constante tensão. Paco estava parado ao lado de Carlito, observando a irmã do rapaz através do vidro do quarto. Pauliny estava em uma cama de hospital, conectada a monitores e respirando com dificuldade. Seu rosto pálido parecia pequeno demais para todo o peso que carregava.Carlito olhava para ela como se sua alma estivesse à beira de um colapso, e Paco sentia o peso da própria culpa ainda mais forte. Ele fechou os olhos por um momento, tentando encontrar uma maneira de organizar os pensamentos.— Você vai resolver isso, não vai, Paco? — Carlito perguntou, sua voz um sussurro quase desesperado.Paco assentiu, mesmo sem saber como.— Vou resolver, Carlito. Eu prometo.Enquanto Carlito se afastava por um momento, Paco recostou-se na parede e sentiu um nó na garganta. Ele pensou na mãe de Carlito e Pauliny. A lembrança era um fantasma constante, assombrando-o a cada decisão que toma
Capítulo 81A chuva havia diminuído, transformando-se em uma garoa fina que salpicava as janelas do carro. Dandara observava o cenário escuro que passava rapidamente do lado de fora. As palavras de Gael ainda ecoavam em sua mente, aquelas poucas confissões fragmentadas que ele havia permitido que escapassem durante a viagem.Ela sentia que havia muito mais para ser dito, mas também sabia que Gael era como uma fortaleza impenetrável, permitindo apenas vislumbres do que estava guardado em suas muralhas internas.— Estamos quase lá — ele disse finalmente, sua voz firme, mas sem a usual frieza.— Lá onde? — Dandara perguntou, o tom uma mistura de curiosidade e cansaço.Gael permaneceu em silêncio por um momento, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras.— Você vai entender quando chegarmos — ele respondeu, desviando o olhar para ela por um instante antes de voltar a focar na estrada.O carro virou por uma estrada cercada de árvores, o asfalto molhado refletindo as luzes ama
Capítulo 82O ar no quarto parecia mais denso, como se o tempo estivesse suspenso. Gael olhou para Solène, imóvel na cama, com os aparelhos monitorando a única vida que ainda restava nela. O monitor cardíaco emitia seus bipes lentos e constantes, mas o som que sempre o consolava agora parecia zombar de sua incapacidade de tomar uma decisão.Dandara permanecia em silêncio, sentindo a opressão daquela atmosfera. Ainda havia o desconforto de encarar a mulher diante dela, que era tão parecida consigo. Essa semelhança a perturbava mais do que queria admitir.— Ela está aqui há quanto tempo? — Dandara perguntou, a voz baixa, quebrando o silêncio.Gael não desviou os olhos de Solène.— Quatro anos.Dandara engoliu em seco, assimilando aquela revelação. O olhar de Gael estava perdido, mas sua mandíbula estava tensa, denunciando a luta interna que travava.— É para cá que você sempre vem quando diz que tem suas viagens? — ela questionou.Gael assentiu lentamente.— Todas as semanas. Não import
Capítulo 83Gael continuava de pé ao lado da cama, os olhos fixos em Solène. O conflito interno era evidente em sua postura tensa, no aperto das mãos. Ele respirou fundo antes de se virar para Dandara e Paco, que ainda permaneciam no quarto.— Eu preciso ficar sozinho com ela — disse, a voz baixa, mas carregada de um peso quase insuportável. — Isso é algo que só eu posso decidir.Dandara e Paco trocaram um olhar antes de acenarem, respeitando o pedido. Sem dizer mais nada, ambos deixaram o quarto, o silêncio os acompanhando pelo corredor até a saída do hospital.Lá fora, a noite estava fria, e a chuva havia diminuído para uma garoa fina. Paco colocou as mãos nos bolsos, sua expressão ainda carregada pela tensão acumulada no hospital. Dandara permaneceu em silêncio ao seu lado, lutando para processar tudo o que tinha acontecido naquela noite.Finalmente, Paco parou de andar e virou-se para ela, quebrando o silêncio.— Você viu o que está acontecendo com Gael? — ele começou, a voz rouca
Capítulo 85O silêncio no quarto de hospital era quebrado apenas pelo leve som do monitor cardíaco, marcando o ritmo constante e frágil de Solène. Gael estava sentado ao lado da cama, suas mãos apertadas em punhos sobre o colo. Ele ainda não conseguia tirar os olhos dela. A mulher que amara profundamente, cuja vida estava suspensa em um fio tênue por sua causa."Você está presa aqui porque eu errei, porque eu era um idiota egoísta e te arrastei comigo..."Esses pensamentos o assombravam constantemente, e agora, mais do que nunca, ele sentia o peso de sua indecisão. Era ele quem tinha a chave para libertá-la desse tormento ou deixá-la nesse limbo permanente.Os minutos passavam lentamente enquanto Gael permanecia imóvel, o rosto marcado pela tensão.Finalmente, ele se levantou, aproximando-se da cama. Ele olhou para ela por um longo momento, como se tentasse memorizar cada detalhe de seu rosto — os traços que ele amava, as curvas suaves de suas feições que agora pareciam fantasmagórica
Capítulo 86 Gael voltou ao quarto de Solène com passos mais lentos e mente pesada. Ele fechou a porta atrás de si, inclinando-se contra ela por um momento antes de se aproximar da cama. Já tinha sua decisão.— É isso, então? — murmurou, olhando para ela. — Todos dizem que chegou a hora. Que eu preciso deixá-la ir. Mas o que significa realmente deixar você ir, Solène?Ele puxou uma cadeira para perto da cama e sentou-se, segurando a mão dela. Era fria, como sempre, mas ainda era um contato. Ainda era algo que ele podia segurar enquanto sentia que estava caindo.— Por tanto tempo, eu esperei por uma resposta — continuou ele, a voz baixa. — Por um sinal de que você me perdoaria, ou de que isso faria sentido. E agora... mesmo depois de tudo, eu ainda não sei.Seus olhos encheram-se de lágrimas, mas ele não deixou nenhuma cair. Respirou fundo, os dedos apertando levemente a mão dela.De repente, houve uma batida suave na porta. Gael se levantou de imediato, o corpo rígido como uma mola.
Capítulo 87 A mansão estava envolta em um silêncio estranho quando o carro parou na entrada principal. O retorno foi lento, cada um mergulhado em seus próprios pensamentos. Paco estacionou o veículo e saiu primeiro, lançando um olhar para Dandara e Gael. Ambos estavam visivelmente desgastados, mas era Gael quem parecia carregar o maior peso.Sem dizer nada, os três caminharam até a porta principal, onde Diane, curiosamente ausente de seus comentários usuais, observava da escadaria com uma taça de vinho. Ela os encarou, a expressão intrigada, mas não disse uma palavra.Foi então que Jack apareceu, emergindo do escritório com passos deliberados e a postura tão imponente quanto sempre.— Finalmente — disse ele, com sua voz rouca e cheia de autoridade. — Estava esperando por vocês.Os três pararam, trocando olhares cautelosos. Havia algo no tom de Jack que os deixava alerta.— Tem algo a dizer, Jack? — Paco começou, cruzando os braços, seu tom carregado de impaciência.Jack sorriu de can